Capítulo LV
Auxílio às Santas Almas - A Santa Missa - Padre Gerard e as Três Conversões - As Trintas Missas de São Gregório
Vamos agora considerar os efeitos sobrenaturais da Missa de uma outra forma, mas que provam não menos claramente a eficácia do Santo Sacrifício quando oferecido pelos defuntos. Nós os encontramos nas Memórias do Padre Gerard, um jesuíta inglês e confessor da fé durante as perseguições religiosas na Inglaterra no século XVI.
Depois de relatar como recebeu a abjuração de um cavalheiro protestante, casado com uma de suas primas, padre Gerard acrescenta: 'Esta conversão levou a outra nas circunstâncias mais extraordinárias. Meu novo convertido foi ver um de seus amigos que estava gravemente doente. Este era um homem justo, detido na heresia mais por ilusão do que por qualquer outro motivo. O visitante exortou-o com urgência a se converter e a pensar em sua alma; e obteve dele a promessa de que faria a sua confissão. Neste sentido, instruiu-o em tudo e o ensinou a se preparar na contrição dos seus pecados, enquanto foi procurar um padre. Mas ele teve grande dificuldade em encontrar um, e nesse ínterim o doente morreu. Quando estava prestes a expirar, o pobre moribundo perguntava frequentemente se o amigo ainda não havia voltado com o 'médico' que ele havia prometido trazer; era assim que ele chamava o padre católico.
O que se seguiu mostrou que Deus aceitou a boa fé do falecido. Nas noites seguintes à sua morte, sua esposa, protestante, viu uma luz movendo-se em seu quarto e até passando através das cortinas de sua cama. Com medo, ela chamou uma de suas criadas para dormir com ela no quarto, mas esta não via nada, embora a luz continuasse visível aos olhos de sua senhora. A pobre senhora mandou chamar então o amigo cujo regresso o marido tanto esperara, contou-lhe o sucedido e perguntou o que devia ser feito. Este amigo, antes de dar uma resposta, consultou um padre católico. O padre lhe disse que a luz era, para a esposa do falecido, um sinal sobrenatural pelo qual Deus a convidava a retornar à Verdadeira Fé. A senhora ficou profundamente impressionada com essas palavras e abriu então o seu coração à graça e, por sua vez, foi convertida.
Uma vez convertida, mandou celebrar a missa em seu quarto por algum tempo, mas a luz sempre voltava. O padre, considerando essas circunstâncias diante de Deus, refletiu que o falecido, embora salvo por seu arrependimento acompanhado pelo desejo de confissão, estava no purgatório e, portanto, precisava de orações. Aconselhou à sua senhora que mandasse rezar missa pela alma dele durante trinta dias, segundo um antigo costume dos católicos ingleses. A boa viúva seguiu este conselho e, no trigésimo dia, em vez de uma luz, viu três, sendo que duas delas pareciam apoiar a terceira. As três luzes pairaram sobre a sua cama, depois elevaram-se até o teto e desapareceram, para nunca mais voltar. Essas três luzes parecem ter significado as três conversões e a eficácia do Santo Sacrifício da Missa para abrir o Céu às almas que partiram'.
As trinta missas que eram rezadas por trinta dias consecutivos não é um costume apenas inglês, como é chamado pelo padre Gerard, mas também é amplamente difundido na Itália e em outros países cristãos. Essas missas são chamadas as Trinta Missas de São Gregório, porque o piedoso costume parece remontar a este grande papa. Assim é relatado em seus Diálogos (Livro 4, cap. 40): Um religioso, chamado Justus, havia recebido e guardado para si três moedas de ouro. Esta foi uma falta grave contra seu voto de pobreza. Ele foi descoberto e excomungado. Esta pena salutar o fez entrar em si mesmo e, algum tempo depois, morreu com verdadeiros sentimentos de arrependimento. No entanto, São Gregório, para inspirar aos irmãos um vivo horror ao pecado da avareza em um religioso, não retirou a sentença de excomunhão. Justus foi enterrado separado dos outros monges e as três moedas foram jogadas na sepultura, enquanto os religiosos repetiam todos juntos as palavras de São Pedro a Simão, o Mago: Pecunia tua tecum sit in perditionem – Pereça contigo o teu dinheiro! (At 8,20).
Algum tempo depois, o santo Abade, julgando que o escândalo estava suficientemente reparado e movido de compaixão pela alma de Justus, chamou o sacristão [monge responsável pelos serviços religiosos do mosteiro] e disse-lhe com tristeza: 'Desde o momento de sua morte, nosso irmão é torturado pelas chamas do Purgatório; devemos por meio da caridade fazer um esforço para libertá-lo. Vá, então, e cuide para que, de agora em diante, o Santo Sacrifício seja oferecido em sua intenção por trinta dias; não deixe passar uma manhã sem que a Vítima da Salvação seja oferecida para a sua libertação'. O sacristão obedeceu prontamente. As trinta missas foram celebradas ao longo de trinta dias consecutivos. Quando chegou o trigésimo dia e terminou a trigésima missa, o defunto apareceu a um irmão chamado Copiosus, dizendo: 'Bendito seja Deus, meu querido irmão, hoje fui libertado e admitido na sociedade dos santos'. Desde então estabeleceu-se este piedoso costume de celebrar trinta missas em intenção das almas dos defuntos.
Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.