sexta-feira, 31 de julho de 2020

31 DE JULHO - SANTO INÁCIO DE LOYOLA


Ad Maiorem Dei Gloriam 

Para a Maior Glória de Deus

O fundador da Companhia de Jesus e autor dos 'Exercícios Espirituais' buscou a via da santidade pelo completo despojamento de si, pelo abandono completo de sua vontade aos desígnios da Divina Providência, abstraindo-se de todo comodismo humano na sua caminhada espiritual para Deus. Eis aí a santidade das atitudes extremas, das decisões moldadas por uma fé intrépida, pela ação de um 'sim' sem rodeios ou incertezas. Uma vida de conversão e de entrega generosa a Deus, testemunho eloquente da fé cristã coerente e tenaz, levada às últimas consequências. 

Inácio Lopez nasceu na localidade de Loyola, atual município de Azpeitia, no País Basco/Espanha, em 31 de maio de 1491. De família rica, levou vida mundana até ser ferido gravemente numa perna na batalha de Pamplona. Na longa convalescença e pela leitura da vida de grandes santos, decidiu abandonar os bens terrenos e viver para a glória de Deus, quando tinha então 26 anos. Entre 1522 e 1523, escreveu os chamados 'Exercícios Espirituais', uma síntese de sua própria conversão e método de evangelização para uma vida espiritual em plenitude. Em 1528, ingressou na Universidade de Paris e a 15 de agosto de 1534, com mais seis companheiros, entre eles São Francisco Xavier, fundou a Companhia de Jesus, tornando-se sacerdote e assumindo o cargo de superior-geral da ordem jesuítica em 1540, com a aprovação do Papa Paulo III. Santo Inácio morreu em Roma, em 31 de julho de 1556, aos 65 anos de idade. Foi canonizado em 12 de março de 1622 pelo Papa Gregório XV. Em 1922, o Papa Pio XI declarou Santo Inácio padroeiro dos Retiros Espirituais.

ORAÇÃO DE SANTO INÁCIO DE LOYOLA

Tomai Senhor, e recebei
Toda minha liberdade,
A minha memória também.
O meu entendimento
E toda minha vontade.
Tudo que tenho e possuo,
Vós me destes com amor.
Todos os dons que me destes,
Com gratidão vos devolvo:
Disponde deles, Senhor,
Segundo vossa vontade.
Dai-me somente 
O vosso amor, vossa graça.
Isto me basta,
Nada mais quero pedir.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

UM DIA SEM FIM

(clicar sobre a imagem para melhor visualização)
(O Desbravador - maio/junho de 1999)

quarta-feira, 29 de julho de 2020

SOBRE A PRUDÊNCIA E O DISCERNIMENTO

Numa carta endereçada ao 'povo de Deus', 152 bispos brasileiros manifestaram-se publicamente e de forma contundente sobre o atual governo, numa pregação de linha única e conformada exclusivamente pela crítica, pelo antagonismo, pela negação completa de quaisquer ações ou contribuições potencialmente relevantes ou positivas do governo vigente nos cenários atual e recente do país. Como crítica de linha única e sem anteparos de eventuais contraposições, tende a ser injusta. E, sendo de autoria de bispos da Igreja, resulta em objeto de consternação. Consternação porque evoca a perda de referência nos marcos de sobriedade, prudência e discernimento como virtudes cristãs, pelos quais se faz recordação a seguir de algumas passagens da encíclica Veritatis Splendor (Esplendor da Verdade), publicada pelo papa João Paulo II em 6 de Agosto de 1993: 

… Hoje, porém, parece necessário refletir sobre o conjunto do ensinamento moral da Igreja, com a finalidade concreta de evocar algumas verdades fundamentais da doutrina católica que, no atual contexto, correm o risco de serem deformadas ou negadas. De fato, formou-se uma nova situação dentro da própria comunidade cristã, que experimentou a difusão de múltiplas dúvidas e objeções de ordem humana e psicológica, social e cultural, religiosa e até mesmo teológica, a propósito dos ensinamentos morais da Igreja. Não se trata já de contestações parciais e ocasionais, mas de uma discussão global e sistemática do patrimônio moral, baseada sobre determinadas concepções antropológicas e éticas. Na sua raiz, está a influência, mais ou menos velada de correntes de pensamento que acabam por desarraigar a liberdade humana da sua relação essencial e constitutiva com a verdade. Rejeita-se, assim, a doutrina tradicional sobre a lei natural, sobre a universalidade e a permanente validade dos seus preceitos; consideram-se simplesmente inaceitáveis alguns ensinamentos morais da Igreja; pensa-se que o próprio Magistério possa intervir em matéria moral, somente para 'exortar as consciências' e 'propor os valores', nos quais depois cada um inspirará, de forma autônoma, as decisões e as escolhas da vida.

Em particular, deve-se ressaltar a discordância entre a resposta tradicional da Igreja e algumas posições teológicas, difundidas mesmo nos Seminários e Faculdades eclesiásticas, sobre questões da máxima importância para a Igreja e a vida de fé dos cristãos, bem como para a própria convivência humana… Generalizada se encontra também a opinião que põe em dúvida o nexo intrínseco e indivisível que une entre si a fé e a moral, como se a pertença à Igreja e a sua unidade interna se devessem decidir unicamente em relação à fé, ao passo que se poderia tolerar, no âmbito moral, um pluralismo de opiniões e de comportamentos, deixados ao juízo da consciência subjetiva individual ou à diversidade dos contextos sociais e culturais

Na sequência do texto, encontra-se a seguinte exortação dirigida explicitamente aos bispos da Igreja:

'Ao dirigir-me com esta Encíclica a vós, Irmãos no Episcopado, desejo enunciar os princípios necessários para o discernimento daquilo que é contrário à 'sã doutrina', apelando para aqueles elementos do ensinamento moral da Igreja, que hoje parecem particularmente expostos ao erro, à ambiguidade ou ao esquecimento... Estas e outras questões — como: que é a liberdade e qual a sua relação com a verdade contida na lei de Deus? qual é o papel da consciência na formação do perfil moral do homem? como discernir, em conformidade com a verdade sobre o bem, os direitos e os deveres concretos da pessoa humana? — podem-se resumir na pergunta fundamental que o jovem do Evangelho pôs a Jesus: 'Mestre, que devo fazer de bom para alcançar a vida eterna?'. Enviada por Jesus a pregar o Evangelho e a 'instruir todas as nações (...) ensinando-as a observar tudo' o que Ele mandou (Mt 28, 19-20), a Igreja propõe sempre de novo, hoje também, a resposta do Mestre: esta possui luz e força capazes de resolver inclusive as questões mais discutidas e complexas.

...É sempre nessa mesma luz e força que o Magistério da Igreja realiza a sua obra de discernimento, acolhendo e pondo em prática a admoestação que o apóstolo Paulo dirigia a Timóteo: 'Conjuro-te, diante de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, e em nome da sua aparição e do seu Reino: prega a palavra, insiste oportuna e inoportunamente, repreende, censura e exorta com bondade e doutrina. Porque virá o tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina. Desejosos de ouvir novidades, escolherão para si uma multidão de mestres, ao sabor das paixões, e hão de afastar os ouvidos da verdade, aplicando-os às fábulas. Tu, porém, sê prudente em tudo, suporta os trabalhos, evangeliza e consagra-te ao teu ministério' (2 Tm 4, 1-5; cf Tt 1, 10.13-14).

(destaques em negrito pelo autor do blog)

terça-feira, 28 de julho de 2020

PROFECIA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS

'Célere se aproxima o tempo no qual haverá grandes provas e aflições; perplexidades e discórdias, tanto espirituais como temporais, virão em abundância; a caridade de muitos esfriará, enquanto a malícia dos ímpios aumentará.

Os demônios deterão um poder incomum; a imaculada pureza de nossa Ordem, e de outras, será tão enegrecida que bem poucos cristãos ainda obedecerão ao verdadeiro Pontífice Soberano e à Igreja Romana com corações leais e caridade perfeita. Na época dessa tribulação, um homem não canonicamente eleito será elevado ao pontificado e, com a sua astúcia, empenhar-se-á em levar muitos ao erro e à morte.

Então escândalos se multiplicarão, nossa Ordem se dividirá, e muitas outras serão totalmente destruídas, porque aprovarão o erro ao invés de combatê-lo. Haverá uma tal diversidade de opiniões e cismas entre as pessoas, os religiosos e o clero, que, se aqueles dias não fossem abreviados, segundo as palavras do Evangelho, até os eleitos seriam levados ao erro, se não fossem guiados, em meio a tão grande confusão, pela imensa misericórdia de Deus.

Então nossa Regra e nosso modo de vida serão violentamente combatidos por alguns, e provas terríveis virão contra nós. Os que permanecerem fiéis receberão a coroa da vida; mas ai dos que, confiando somente em sua Ordem, caírem em mornidão, pois não serão capazes de suportar as tentações permitidas como teste para os eleitos.

Os que perseverarem em seu fervor e mantiverem sua virtude com amor e zelo pela verdade sofrerão injúrias e perseguições como rebeldes e cismáticos; pois seus perseguidores, instigados por espíritos malignos, dirão que prestam um grande serviço a Deus eliminando aqueles homens pestilentos da face da terra; mas o Senhor será o refúgio dos aflitos, e salvará todos que nEle confiarem. E a fim de se assemelharem com sua Cabeça [Cristo], esses eleitos agirão com total confiança e, com sua morte, obterão para si mesmos a vida eterna; escolhendo obedecer a Deus e não aos homens, eles não terão medo de nada e preferirão perecer a aprovar a falsidade e a perfídia.

Alguns pregadores manterão silêncio sobre a verdade, e outros a calcarão sob os pés e a negarão. A santidade de vida será desprezada até pelos que exteriormente a professam, pois naqueles dias Jesus Cristo lhes dará não um verdadeiro pastor, mas um destruidor'.

(São Francisco de Assis, em Works of the Seraphic Father St. Francis of Assisi)

segunda-feira, 27 de julho de 2020

DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA (VIII)


CONGREGAÇÃO RELIGIOSA

É uma sociedade aprovada pela legítima autoridade eclesiástica, na qual os associados se regem por leis próprias da mesma sociedade, tendendo à perfeição evangélica por meio dos votos simples, quer perpétuos quer temporários. Há congregações de direito pontifício, são as que obtêm aprovação ou ao menos decreto de louvor da Santa Sé e há congregações de direito diocesano, as que, eretas pelo bispo, não obtiveram aquele decreto de louvor. Qualquer congregação religiosa, ainda que somente diocesana, uma vez legitimamente estabelecida, não pode ser suprimida senão pela Santa Sé.

CONSAGRAÇÃO

É o ato litúrgico por virtude do qual uma pessoa ou uma coisa ica dedicada ao serviço de Deus. A consagração é função reservada ao bispo ou a quem tenha Indulto Apostólico para isso. As coisas consagradas devem ser tratadas com reverência, e não podem servir para usos profanos ou impróprios, embora pertençam a pessoas particulares. Quando já não servem ao fim para que foram consagradas, devem ser queimadas e lançadas as cinzas em lugar decente, por causa da consagração. Os lugares sagrados são isentos da jurisdição da autoridade civil e a legítima autoridade da Igreja exerce neles livremente a sua jurisdição. A consagração é também a parte da Missa em que o sacerdote consagra a hóstia e o vinho para ficar sobre o altar o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo.

CONSELHOS EVANGÉLICOS 

São incitamentos contidos no santo Evangelho, induzindo à prática mais perfeita da religião cristã em ordem ao fim último. São assim chamados estes três: pobreza voluntária, que consiste em renunciar à posse dos bens materiais; obediência inteira, que consiste em renunciar ao império da própria vontade; castidade perpétua, que consiste em renunciar ao gozo dos prazeres da carne. Os conselhos não obrigam como os preceitos, mas são necessários para viver com maior perfeição.

CONSISTÓRIO

É a Assembléia dos cardeais residentes em Roma, sob a presidência do papa. É secreto, se só os cardeais assistem. É público, se, além dos cardeais, podem também assistir outros prelados e representantes dos chefes das nações.

CONTINÊNCIA 

É a abstenção de toda a deleitação venérea. Para conservar a continência, é eficaz a mortificação da carne com a abstinência da comida e da bebida e com o trabalho corporal.

CONTRIÇÃO

É o arrependimento e detestação do pecado cometido, com o propósito de não tornar a pecar. A contrição é um ato de vontade, uma impressão desagradável de ter ofendido a Deus. A contrição é perfeita quando a causa do arrependimento é ser o pecado uma ofensa a Deus, Bondade infinita, nosso Pai e Benfeitor e, nesse caso, obtém-se o perdão dos pecados, mesmo sem a confissão sacramental, se há impossibilidade de a fazer; é imperfeita quando a causa do arrependimento é o pecador merecer o castigo do inferno ou a privação do Céu. Para obter o perdão dos pecados na confissão sacramental, basta a contrição imperfeita, também chamada atrição. A contrição é de tal modo necessária para obter o perdão dos pecados que sem ela, diz Santo Tomás, nem mesmo o pecado venial pode ser perdoado. Que a contrição é necessária para obter o perdão ensina-o a Sagrada Escritura, dizendo: 'Arrependei-vos e convertei-vos para que os vossos pecados sejam perdoados' (At 3, 19).

CORO

É a parte da capela-mor, onde o clero assiste às funções litúrgicas. Deve estar separado do corpo da igreja por uma balaustrada que, coberta com uma toalha branca, serve de mesa de comunhão para os fiéis. Também se dá o nome de coro a uma espécie de palanque elevado à entrada da igreja, para os músicos tocarem ou um grupo de fiéis cantar nas solenidades religiosas.

CORPO MÍSTICO DE CRISTO 

É a Igreja, de que são membros todos os fiéis, de que é Cabeça Jesus Cristo e de que é alma o Espírito Santo, cujos dons misteriosos circulam nas veias dos membros unidos entre si e à única cabeça que é Jesus Cristo, representado na terra pelo seu vigário, o Papa. De sorte que a Igreja não é um mero agregado moral como qualquer outra sociedade natural; é o corpo místico de Jesus Cristo.

CREDÊNCIA

É uma pequena mesa que deve estar ao lado do altar — lado da epístola — sobre a qual se colocam os objetos necessários para o serviço do altar (galhetas, etc). Deve estar coberta com uma toalha branca sem renda e descida até ao chão.


CRISTIANISMO

É a religião que Jesus Cristo instituiu e confiou à sua Igreja, cujo chefe é o papa, sucessor do Apóstolo São Pedro. É a Igreja Católica que conserva e ensina o Cristianismo como Jesus Cristo o deixou no mundo para os homens o conhecerem e o viverem, e por meio dele se salvarem do inferno e poderem gozar o Céu.

CÚRIA DIOCESANA 

É constituída por pessoas que o bispo nomeia para o auxiliarem no governo da diocese, dando despacho e solícita expedição aos negócios eclesiásticos. Fazem parte da cúria: os censores de livros, o conselho de vigilância doutrinal, a comissão de vigilância para a pregação, o conselho de administração diocesana, os examinadores sinodais, os párocos consultores e a comissão disciplinar do seminário.

CÚRIA ROMANA 

É constituída pelas Sagradas Congregações, Tribunais e Ofícios, aos quais compete tratar dos negócios eclesiásticos que são determinados pelo Direito Canônico.

CUSTÓDIA 

É um objeto de metal, em que se coloca a sagrada Hóstia na meia lua ou lúnula, de ouro ou de prata dourada, para a exposição solene do Santíssimo Sacramento.

(Verbetes da obra 'Dicionário da Doutrina Católica', do Pe. José Lourenço, 1945)

domingo, 26 de julho de 2020

26 DE JULHO - SÃO JOAQUIM E SANTA ANA

Sagrada Família com São Joaquim e Santa Ana (Nicolás Juarez, 1699)

De acordo com a Tradição Católica e documentos apócrifos antigos, os pais de Maria foram São Joaquim e Santa Ana. Ana, em hebraico Hannah, significa 'Graça' e Joaquim equivale a 'Javé prepara ou fortalece'. Ambos os nomes indicam, portanto, a  missão divina de realização das promessas messiânicas, com o nascimento da Mãe do Salvador. Segundo a mesma Tradição, os pais de Maria teriam nascido na Galileia, transferindo-se depois para jerusalém, onde Maria nasceu e onde ambos morreram e foram enterrados.

O culto aos pais de Maria Santíssima é antiquíssimo na Igreja Oriental (como revelados nos escritos de São Gregório de Nissa e Santo Epifânio, em hinos gregos e em homilias dos Santos Padres). Os túmulos de São Joaquim e Santa Ana em Jerusalém foram honrados até o final do Século IX, numa igreja construída no local onde viveram. No Ocidente, o culto de Santa Ana é muito mais recente, com sua festa litúrgica tendo início na Idade Média, sendo formalizada no Missal Romano apenas em 1584, no tempo de Gregório XIII. A devoção a São Joaquim foi ainda mais tardia no Ocidente.

Como pais de Nossa Senhora, São Joaquim e Santa Ana são nossos avós espirituais e o calendário litúrgico instituiu a festa conjunta destes dois santos em 26 de julho, que ficou também conhecida como 'dia dos avós'. Eles são também os santos protetores da Ordem dos Carmelos Descalços (fundada no Século XVI por Santa Teresa de Ávila). No dia dos avós, o blog presenteia os nossos irmãos mais velhos com estas duas orações.

Oração a Santa Ana

Santa Ana, mãe da Santíssima Virgem, pela intercessão da Vossa Filha e do Meu Salvador, dai-me obter a graça que Vos peço, o perdão dos meus pecados, a força para cumprir fielmente os meus deveres de cristão e a perseverança eterna no amor de Jesus e de Maria. Amém.

Oração a São Joaquim

Senhor! Pela intercessão de São Joaquim, pai da Santíssima Virgem, velai pelos Vossos filhos idosos, especialmente... (nomes) que, tendo cumprido na Terra uma vida longa, possa(m) merecer de Vós a Vida Eterna no Céu. Senhor, dai-lhes o conforto de uma idade avançada, saúde do corpo e da alma, a sabedoria de envelhecer e um coração inquieto enquanto não repousar em Vós. Amém.  

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Deus disse a Salomão: Já que pediste esses dons e não pediste para ti longos anos de vida, nem riquezas, nem a morte de teus inimigos, mas sim sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu pedido; dou-te um coração sábio e inteligente, como nunca houve outro igual antes de ti nem haverá depois de ti(1Rs 3, 11-12)

sábado, 25 de julho de 2020

A VIDA OCULTA EM DEUS: A FÉ


Agradar a Deus é tudo o que importa para nós. Mesmo se tivéssemos todas as riquezas do mundo, mesmo se fôssemos admirados por todos, se não agradássemos a Deus, todas essas honras e admirações seriam inúteis. Mas se Ele está feliz conosco, se ele gosta de vir nos visitar e descansar em nossos corações, se ele está satisfeito conosco ... oh, então, tudo é ganho, e as coisas deste mundo, por sua vez, não valem nada.

Nossa maior sabedoria deve ser, portanto, tentar agradar a Deus em tudo, sempre e em todos os lugares, mais e mais, de maneira que Ele possa ser cativado pelo encanto de nossa alma. Como fazer isso? São Paulo nos diz, ou pelo menos, nos indica um dos meios indispensáveis: 'sem a fé, é impossível agradar a Deus'. Quando queremos empreender a conquista de Deus, temos que começar pela fé.

A fé é a firme adesão de nossas mentes à palavra de Deus. Pela fé, submetemos nossa mente, nosso coração e nossa vontade. Proclamamos que Deus é a própria verdade, palavra verdadeira e infalível, pelo que assim o agradamos e, pela fé, O honramos. Um mestre se alegra quando os seus discípulos acreditam nele, mesmo quando não entendem o que lhes é dito. Um pai está feliz quando seus filhos confiam nele. E que enriquecimento isso representa para a nossa inteligência, que comunhão é essa da verdadeira ciência de Deus! Ele vê, nós acreditamos!

Se uma alma verdadeiramente iluminada pela fé repousa em tudo nos braços do Pai e vê a Vontade de Deus em cada um dos pequenos deveres do momento presente, como pode não agradar a Deus? Durante todo o tempo, ela se põe à procura de descobri-lo nas mil ninharias, nos mil detalhes que compõem a sua vida. É de se supor que essa alma alcance diretamente a Deus, escondido sob as espécies dos pequenos deveres cotidianos. Seu olhar não se detém no plano das criaturas, mas ascende às Mãos que tudo sustentam e que tudo governam suave e firmemente; para essa alma, o mundo é apenas uma espécie de transparência, que reflete em cada momento a vontade de Deus. Como essa alma pode não agradar a Deus?

Vamos dar outro exemplo. A fé nos diz que toda alma em estado de graça possui a Santíssima Trindade no fundo de seu coração. Bem, aqui temos, portanto, uma alma que vive na fé. Se ela orar, irá diretamente ao santuário interior onde Deus se esconde e se entrega, à Santíssima Trindade que nela faz morada. Ela vai adorar, louvar, amar, ouvir o seu Deus, e falará com Ele; tentará, ainda, à sua medida, ter comunhão nesta vida divina, dizer a Palavra junto com o Pai, exalar o Espírito de Amor que procede do Pai e do Filho, e retornar ao Pai e ao Filho com o mesmo Espírito divino. Ela esquecerá a si mesma, esquecerá o mundo e, libertada das criaturas, terá prazer nesta comunhão, gostará de viver nela e não a deixará, exceto com dor, às vezes sem ter experimentado nada mas, na maioria das vezes iluminada, reanimada, fortalecida. Ela soube como agradar a Deus.

Que força incomparável é a nossa vontade de saber que o menor dos nossos sofrimentos e que a menor das nossas orações não poderá ser perdida! Veja a diferença entre uma alma de fé tíbia e uma que acredita no valor do silêncio, no poder da lembrança, na possibilidade de união íntima com Deus, em um grande escondimento, sem pretensões e sem orgulho. No primeiro caso, como que se rasteja; no segundo, a nossa alma voa e torna-se cada vez mais agradável a Deus, porque o que mais lhe agrada não é que apenas escutemos seus mandamentos, mas que os cumpramos. Se queremos agradar a Deus, sejamos almas de fé, de fé simples, que nos aviva completamente. Vamos julgar os acontecimentos à luz da fé, tanto quanto no caso das provações e alegrias. Toda fraqueza na vida espiritual vem da falta do espírito de fé. Quando você se sente desanimado, quando se fica menos recolhido ou menos mortificado e, assim, menos generoso no serviço de Deus, é porque o espírito de fé enfraqueceu. Urge redescobri-lo desde os fundamentos.

Vamos aperfeiçoar o nosso espírito de fé. Em vez de nos deixarmos levar pela pura razão e, às vezes, pela sensibilidade, retifiquemos pela fé as impressões de nossos sentidos. Quando aquela luz, que atinge com seus raios as últimas fibras do nosso coração, nos levar a uma plena transformação, teremos então em nós o triunfo da fé. E a fé inspirada pela caridade nos molda à imagem e à semelhança de Jesus, a ponto de fazer Deus julgar que Ele, ao nos ver, vê o seu Filho.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte I -  O Esforço da Alma; tradução do autor do blog)

sexta-feira, 24 de julho de 2020

INQUIETO ESTÁ O MEU CORAÇÃO...

Grande és tu, Senhor, e sumamente louvável: grande é a tua força, e a tua sabedoria não tem limites! Ora, o homem, esta parcela da criação, quer te louvar, este mesmo homem carregado com sua condição mortal, carregado com o testemunho de seu pecado e como testemunho de que resistes aos soberbos. Ainda assim, quer louvar-te o homem, esta parcela de tua criação! Tu próprio o incitas para que sinta prazer em louvar-te. Fizeste-nos para ti e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em ti. 

Dá-me, Senhor, saber e compreender o que vem primeiro: o invocar-te ou o louvar-te? Começar por conhecer-te ou por invocar-te? Mas quem te invocará sem te conhecer? Por ignorância, poderá invocar alguém em lugar de outro. Será que é melhor seres invocado, para seres conhecido? Como, porém, invocarão aquele em quem não creem? ou como terão fé, sem anunciante?

Louvarão o Senhor aqueles que o procuram. Quem o procura encontra-o e tendo-o encontrado, louva-o. Buscar-te-ei, Senhor, invocando-te; e invocar-te-ei, crendo em ti. Tu nos foste anunciado; invoca-te, Senhor, a minha fé, aquela que me deste, que me inspiraste pela humanidade de teu Filho, pelo ministério de teu pregador. Invocarei o meu Deus, o meu Deus e Senhor: mas como? Porque ao invocá-lo eu o chamarei para dentro de mim. Que lugar haverá em mim, aonde o meu Deus possa vir? Aonde virá Deus em mim, o Deus que fez o céu e a terra? Há, então, Senhor, meu Deus, algo em mim que te possa conter? O céu e a terra, que fizeste e nos quais me fizeste, são eles capazes de te conter? Ou, se sem ti nada existiria de quanto existe, é porque tudo quanto existe te contém?

Portanto eu, que também existo, que tenho de pedir tua vinda em mim, em mim que não existiria se não estivesses em mim? Ainda não estou nas profundezas da terra e, no entanto, ali também estás. Pois, mesmo que desça às profundezas da terra, ali estás. Não existiria, pois, meu Deus, de forma alguma existiria, se não estivesses em mim. Ou melhor, não existiria eu se não existisse em ti, de quem tudo, por quem tudo, em quem todas as coisas existem? É assim, Senhor, é assim mesmo. Para onde te chamo, se já estou em ti? Ou donde virás para mim? Para onde me afastarei, fora do céu e da terra, para que lá venha a mim o meu Deus, que disse: 'Eu encho o céu e a terra'?

Quem me dera descansar em ti! Quem me dera vires a meu coração, inebriá-lo a ponto de esquecer os meus males, e abraçar-te a ti, meu único bem! Que és para mim? Perdoa-me, se falo. Que sou eu a teus olhos, para que me ordenes amar-te e, se não o fizer, te indignares e ameaçares com imensas desventuras? É acaso pequena desventura não te amar?

Ai de mim! Dize-me, por compaixão, Senhor meu Deus, o que és tu para mim. Dize à minha alma: Sou tua salvação. Dize de forma a que ela te escute. Os ouvidos de meu coração estão diante de ti, Senhor. Abre-os e dize à minha alma: Sou tua salvação. Correrei atrás destas palavras e segurar-te-ei. Não escondas de mim tua face. Morra eu, para que não morra, e assim possa contemplá-la!

(Excertos da obra 'Dos Livros das Confissões', de Santo Agostinho)

FOTO DA SEMANA

'O insensato diz em seu coração: não há Deus' (Sl 13,1)

quinta-feira, 23 de julho de 2020

10 VIAS DE PENITÊNCIA PELOS PECADOS


Santo Antônio nos apresenta 10 maneiras de se fazer verdadeira penitência e contrição pelos pecados cometidos:

1. Renunciar à própria vontade

2. Praticar a abstinência de comida e de bebida

3. Prescrever o rigor do silêncio

4. Fazer vigílias de oração durante a noite

5. Derramar lágrimas (muitas lágrimas)

6. Dedicar um bom tempo à leitura

7. Praticar trabalho físico exigente

8. Ajudar generosamente os outros

9. Aprender a vestir-se com modéstia

10. Desprezar a própria vaidade

(Santo Antônio de Lisboa)

quarta-feira, 22 de julho de 2020

22 DE JULHO - SANTA MARIA MADALENA


Maria Madalena. Para se fazer distinção do nome Maria tão comum entre os habitantes de Israel (esse era o nome, por exemplo, da irmã de Moisés), os textos bíblicos nomeavam as diferentes Marias por um acréscimo singular do personagem - assim, Maria Madalena é a Maria de Magdala, povoado situado às margens do Lago da Galileia e próximo à cidade de Tiberíades. Eis as pouquíssimas referências a ela nas Sagradas Escrituras:

[Lc 8, 2-3]: 'Os Doze estavam com ele, como também algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos malignos e curadas de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes; Susana e muitas outras, que o assistiram com as suas posses'.

[Jo 19, 25]: 'Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena'.

[Mc 15,40-41; 47]: 'Achavam-se ali também umas mulheres, observando de longe, entre as quais Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé, que o tinham seguido e o haviam assistido, quando ele estava na Galileia; e muitas outras que haviam subido juntamente com ele a Jerusalém... Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde o depositavam'.

[Mc 16, 1; 5-6; 9-10]: 'Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ungir Jesus... Entrando no sepulcro, viram, sentado do lado direito, um jovem, vestido de roupas brancas, e assustaram-se. Ele lhes falou: Não tenhais medo. Buscais Jesus de Nazaré, que foi crucificado. Ele ressuscitou, já não está aqui. Eis o lugar onde o depositaram... Tendo Jesus ressuscitado de manhã, no primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria de Magdala, de quem tinha expulsado sete demônios. Foi ela noticiá-lo aos que estiveram com ele, os quais estavam aflitos e chorosos'.

[Jo 20, 1-2; 18]: 'No primeiro dia que se seguia ao sábado, Maria Madalena foi ao sepulcro, de manhã cedo, quando ainda estava escuro. Viu a pedra removida do sepulcro. Correu e foi dizer a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava: Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram! ... Maria Madalena correu para anunciar aos discípulos que ela tinha visto o Senhor e contou o que ele lhe tinha falado'.

Ela é a figura bíblica 'Maria de Magdala', da qual Jesus havia expulsado sete demônios. Esta acepção não implica a interpretação direta de 'uma grande pecadora'. O fato de ter-se livrado de 'sete demônios' (sete é o número da perfeição, da plenitude) implica que ela foi curada de todos os seus males tanto físicos (enfermidades) como espirituais (pecados, estes de naturezas quaisquer). É absolutamente forçada e despropositada a conjectura de que Maria Madalena pudesse ter sido uma 'prostituta' na sua condição pregressa antes do seu encontro com Jesus. Desta interpretação espúria, nasceram inúmeras outras lendas e desdobramentos fantasiosos da participação e do envolvimento desta mulher singular na vida pública de Jesus e dos seus apóstolos. 

terça-feira, 21 de julho de 2020

BREVIÁRIO DIGITAL - ILUSTRAÇÕES DE DORÉ (XV)

PARTE XV (Mt 2 - Mt 28)

[Os reis magos são guiados por uma estrela (Mt 2, 9)]

 [A fuga da Sagrada Família para o Egito (Mt 2, 14)]

 [O massacre dos inocentes (Mt 2, 16)]

 [O Sermão da Montanha (Mt 5, 6 e 7)]

[Jesus cura um possesso cego e mudo (Mt 12, 22)]

 [A cabeça de João Batista é trazida à filha de Herodíades (Mt 14,11)]

 [Jesus alimenta a multidão com pães e peixes (Mt 14,19)]

 [Jesus cura diversos enfermos (Mt 15, 30)]

 [Jesus expulsa o demônio de um menino possesso (Mt 17,18)]

 [A multidão aclama a entrada de Jesus em Jerusalém (Mt 21, 9)]

 ['Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus' (Mt 22,21)]

 [A oração de Jesus no Getsêmani (Mt 26, 39)]

 [O escárnio dos soldados a Jesus com uma coroa de espinhos (Mt 27, 29)]

 [Os sacerdotes, escribas e anciãos zombam de Jesus (Mt 27, 41)]
 
 [Jesus morre na Cruz, crucificado entre dois ladrões (Mt 27, 50)]

 [O Anjo do Senhor fala a Maria e a Maria Madalena (Mt 28, 5-7)]

segunda-feira, 20 de julho de 2020

CANTOS DA MISSA TRADICIONAL (VI): GAUDEAMUS

Na missa tradicional, o introito muda a cada missa e constitui um esboço da natureza da missa que será rezada. O canto litúrgico a seguir é específico para a missa da Festa de Todos os Santos.

Introito - Festa de Todos os Santos

Gaudeamus


Gaudeamus omnes in Domino, diem festum celebrantes sub honore sanctorum omnium: de quorum solemnitate gaudent angeli, et collaudant Filium Dei. Exsultate, justi, in Domino: rectos decet collaudatio. Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto sicut erat in principio, et nunc, et semper et in saecula saeculorum. Amen. 
Gaudeamus... Filium Dei (Sl 32,1)

Alegremo-nos todos no Senhor, festejando este dia em honra de todos os Santos; por sua solenidade se regozijam os Anjos e glorificam o Filho de Deus. Exultai, ó justos, no Senhor; louvem-no os retos de coração. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amém. 
Alegremo-nos... Filho de Deus (Sl 32,1)

domingo, 19 de julho de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'O Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis. E aquele que penetra o íntimo dos corações sabe qual é a intenção do Espírito. Pois é sempre segundo Deus que o Espírito intercede em favor dos santos(Rm 8, 26-27)

sábado, 18 de julho de 2020

CINCO REMÉDIOS CONTRA A TRISTEZA (São Tomás de Aquino)


Primeiro Remédio: conceder um prazer a si mesmo

Sabemos hoje que o chocolate é antidepressivo. Talvez pareça uma ideia materialista, mas é evidente que uma jornada cheia de amarguras pode terminar bem com uma boa cerveja. Que algo assim seja contrário ao Evangelho é dificilmente demonstrável: sabemos que o Senhor participava com gosto em banquetes e festas, e tanto antes como depois da Ressurreição desfrutou com gosto das coisas belas da vida. Inclusive, um salmo afirma que o vinho alegra o coração do homem (apesar de que é preciso esclarecer que a Bíblia condena claramente os excessos). 

Segundo Remédio: o pranto

Muitas vezes, um momento de melancolia é mais duro se não se consegue encontrar uma via de escape, e parece como se a amargura se acumulasse até impedir de levar a cabo a menor tarefa. O pranto é uma linguagem, um modo de expressar e desfazer o nó de uma dor que às vezes nos pode asfixiar. Lembremos que também Jesus chorou.

Terceiro remédio: a compaixão dos amigos 

Vem à cabeça o personagem do amigo de Renzo, no famoso livro 'Os Noivos' que, numa grande casa desabitada, por causa da peste, vai enumerando as grandes desgraças que sacudiram a sua família: 'São feitos horríveis, que eu jamais creria que chegaria a ver; coisas que tiram a alegria para toda a vida; mas falá-las entre amigos é um alívio'. É algo que é preciso experimentar para perceber. Quando alguém se sente triste tende a ver tudo cinzento. Nessas ocasiões, é muito eficaz abrir a alma com algum amigo. Às vezes, basta uma mensagem ou uma breve chamada telefônica e o horizonte ilumina-se de novo. 

Quarto Remédio: a contemplação da verdade

É o chamado fulgor veritatis de que fala Santo Agostinho. Contemplar o esplendor das coisas, na natureza ou uma obra de arte, escutar música, surpreender-se com a beleza de uma paisagem… pode ser um eficaz bálsamo contra a tristeza. 

Quinto Remédio: dormir e tomar um banho

O quinto remédio proposto por São Tomás de Aquino é o que talvez menos se poderia esperar de um mestre medieval. O teólogo afirma que um remédio fantástico contra a tristeza é dormir e tomar um banho. A eficácia do conselho é evidente. É profundamente cristão compreender que, para remediar um mal espiritual, às vezes, é necessário um alívio corporal. Desde que Deus se fez Homem, e portanto assumiu um corpo, o mundo material superou a separação entre matéria e espírito. Um preconceito muito difundido é que a visão cristã do homem se baseia na oposição entre alma e corpo, e este último seria sempre visto como uma carga ou obstáculo para a vida espiritual. Na verdade, o humanismo cristão considera que a pessoa (alma e corpo) acaba completamente espiritualizada quando procura a união com Deus. 

Com a ajuda destes cinco remédios, poderá realizar-se então a promessa de Jesus: 'Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria'! (Jo 16, 20)

sexta-feira, 17 de julho de 2020

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (LIV/Final)

LII

DO SUPLÍCIO ETERNO

A sentença contra os réprobos será executada pela mão dos demônios?
Sim, senhor; apenas pronunciada a sentença, ficarão relegados à ação dos demônios que, superiores a eles por natureza e acostumados a fazer-se obedecer neste mundo, continuarão, como justo castigo, exercendo sobre aqueles desditosos, durante toda a eternidade, o império de seu ominoso e tirânico poder (LXXXIX, 4)*.

É causa de novo suplício para os condenados o haverem-se unido aos seus corpos e arrastá-los ao inferno?
Sim, senhor; porque, para o futuro não só padecerão os tormentos da alma, mas também os do corpo (XCVII).

Será geral e muito intensa a tortura do corpo?
Sim, senhor; porque o lugar que ocupam estará disposto para atormentar cruelmente todos os sentidos e potências, apesar do que nem todos padecerão iguais suplícios, mas os que corresponderem ao número e gravidade dos seus pecados (XCVII, 1, 5, ad 3).

O suplício dos condenados se mitigará com o tempo?
Não, senhor; porque, dada a sua inquebrantável obstinação no mal, não diminui, nem se atenua a perversidade de ânimo em que os surpreendeu a morte e o juízo particular (XCVIII,1, 2; XCIX, 1).

A obstinação com que a sua vontade adere a todo o mal implica ódio universal ao quanto existe?
Sim, senhor; de forma que não pensarão nem em coisa nem em pessoa, seja criatura, seja o próprio Criador, sem experimentar um acesso de ódio reconcentrado e desesperada raiva; detestam tudo; quereriam ver a Deus e a todos os seus santos padecendo com eles os suplícios do inferno e, nos paroxismos ao desespero, chamarão e buscarão a morte, seguros de não alcançar tão triste consolo, pois sabem muito bem que sobre eles pesará eternamente a maldição divina, e que estão condenados, sem possibilidade de remissão, a padecer tormentos que jamais terão fim (XCVIII, 3, 4, 5).

LIII

DA VIDA ETERNA

Ao mesmo tempo que são entregues os réprobos ao poder e à ação dos demônios para que os conduzam ao seu destino, que efeito produzirá a sentença do Juiz Supremo, em favor dos justos?
O de abrir as portas do reino celestial, para eles preparado desde o princípio do mundo.

Entrarão imediatamente nele?
Sim, senhor; entrarão após Jesus Cristo, seu Rei, que consigo os levará para fazê-los participantes da glória e bem estar do seu reino.

Acrescerá a felicidade dos bem-aventurados por terem-se juntado aos seus corpos?
Sim, senhor; pois, ainda que na visão beatífica saboreavam doçuras e bem estar quase infinitos, todavia aumentarão em indizível proporção com o prazer de haverem achado de novo os seus corpos (XCIII, 1).

Haverá no céu diversos graus e categorias, e contribuirá para a beleza e harmonia do conjunto, a sua própria diversidade e perfeita subordinação?
Sim, senhor; pois que o grau de glória corresponde ao da graça e caridade; porém, a mesma caridade cuja posse, ainda que em grau mínimo, é suficiente para entrar na glória, fará que todos, de certo modo, se comuniquem e façam participantes aos outros da sua própria felicidade e que cada um se sinta mais feliz ao ver que os outros o são (XCIII, 2, 3).

Possuirão os homens alguma coisa a que os anjos não tenham idêntico direito?
Sim, senhor; visto que propriamente só aos homens compete formar a Igreja Triunfante, esposa de Jesus Cristo, com a qual celebrará, cheia de inefáveis delícias, o eterno banquete das suas núpcias espirituais (XCV, 1, 2).

Estarão excluídos os anjos deste banquete?
Certamente que não, ainda que, não fazendo parte da Igreja Triunfante, não terão com Jesus Cristo, seu Rei, as mesmas conexões que a porção desta Igreja formada pelos homens (XCV, 4).

Por que?
Porque os homens e não os anjos se assemelham com Jesus Cristo em ter a mesma natureza humana; por isso terão com Ele relações de amizade e confiança que, com igual título, não correspondem aos anjos, se bem que a intimidade com o Verbo na visão beatífica, corresponde a todos com o mesmo direito (XCV, 1, 4).

Que se segue desta doutrina?
Que, à semelhança do que ocorre nos desposórios deste mundo, no dia, em que a Igreja, esposa de Cristo, entrar no céu, a Santíssima Trindade a dotará com bens e presentes de incalculável valor para que dignamente possa apresentar-se e contrair eternas núpcias com seu Esposo Celestial (XCV, 1).

Serão estes regalos e presentes o que se conhece com o nome de dotes dos bem-aventurados?
Sim, senhor.

Quantos são?
Três, que da alma transbordarão para o corpo comunicando-lhe as quatro qualidades de que temos falado (XCV, 5).

Em que consistem?
Numa como envoltura luminosa de extremada e delicadíssima sensibilidade para gozar do bem infinito com tal intensidade, que nenhum prazer da terra pode dar ideia aproximada do delicado e supremo deleite de que se desfrutará nos atos da visão, possessão e fruição. Isto queria expressar o Apóstolo São Paulo depois de contemplar o terceiro céu, isto é, o céu dos bem-aventurados: 'nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem o coração humano jamais pôde sentir, o que Deus tem reservado para os que o amam' (Ibid).

Não se conhece também com o nome de reino dos céus o conjunto dos eleitos, e a bem aventurança de que desfrutam, comparável, como dissemos, a um banquete eterno de bodas espirituais?
Sim, senhor; e dá-se-lhe este nome para indicar que formam um congresso de reis, não só por não terem outro superior senão Deus, mas também porque cada um deles está revestido da dignidade real no sentido mais elevado da palavra (XCVI, 1).

Como é possível que se achem todos investidos da dignidade real?
Porque a visão beatífica que os une a Deus e constitui, em sentido próprio, a vida eterna, os faz participantes da Divindade e, por conseguinte, sendo Deus Rei imortal, a quem toda glória é devida, participam os justos da sua glória e realeza (Ibid).

Não se fala também de auréolas dos justos?
Sim, senhor; porém, a auréola só a alguns corresponde, ao passo que a coroa é atributo de todos.

Por que tal diferença?
Porque a coroa é o brilho ou emanação luminosa, produzida pela bem-aventurança essencial, ou visão beatífica, que a título de recompensa desfrutam todos, e a auréola é uma radiação acidental, procedente da complacência ou gozo com que Deus premia a alguns eleitos por ações meritórias especiais (Ibid).

Podem os anjos cingir auréola?
Não, senhor; porque não são do seu ministério as obras que dão direito a possuí-la (XCVI, O).

Quais são as obras meritórias que Deus recompensa com a auréola?
O Martírio, a Virgindade e o Apostolado da doutrina (XCVI, 5,6, 7).

Por que?
Porque imprimem em quem as executa especial semelhança com Jesus Cristo, perfeito e soberano vencedor dos três inimigos da alma: mundo, demônio e a carne (Ibid).

Logo a auréola é o distintivo ou condecoração dos vencedores?
Sim, senhor; e neste sentido, podemos aplicar especialmente aos mártires, virgens e apóstolos, as palavras que Deus pronunciou, falando dos predestinados em geral: 'o que vencer possuirá estas coisas, eu serei seu Deus e ele será meu filho'.

Há na Sagrada Escritura alguma frase que compendie tudo o que se refere à felicidade dos justos no céu?
Sim, senhor: aquela do Apocalipse de São João, Capítulo XX, v. 5: 'O Senhor será a sua luz e reinarão durante perpétuas eternidades'.

EPÍLOGO

Podereis, ao terminar a exposição catequética da Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino, ensinar-nos alguma oração para pedir a Deus que nos conceda praticar e conseguir o aprendido em tão admirável doutrina?
Sim, senhor; eis aqui uma.

ORAÇÃO A NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Ó meu Jesus, filho amoroso da Santíssima Virgem Maria e ao mesmo tempo Filho único de Deus; Deus verdadeiro e eterno, junto com o Pai que, no seio de sua natureza infinita, vos formou, dando-vos o seu próprio ser, e com o Espírito Santo, procedente do Pai e de Vós, espírito de ambos e subsistente amor vosso, eu vos adoro e reconheço por meu único e verdadeiro Deus, Criador do Universo ao qual conservais e governais com infinita sabedoria, bondade soberana e supremo poder! Suplico-vos, Senhor, pelos méritos de Vossa Sacratíssima humanidade, que me purifiqueis com o vosso sangue, de todos os meus pecados; que derrameis sobre mim a abundância do Vosso Espírito junto com as virtudes e os dons; que me concedais a graça de crer e esperar em Vós, de amar-vos sobre todas as coisas, de que todas as minhas ações sejam merecedoras de vida eterna e a graça, sobre todas apreciável, de possuir-vos eternamente na glória com os vossos anjos e santos. Amém.

(Por decreto de Santo Ofício, de 22 de janeiro de 1914, sua santidade o papa Pio X dignou conceder in perpetuum 100 dias de indulgência, aplicáveis em sufrágio às almas do purgatório, a todos os fiéis que, devotos e contritos, rezarem uma vez ao dia a oração anterior)

FINIS.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)