segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

COMPÊNDIO DE SÃO JOSÉ (V)


21. Os artistas também contribuíram para uma representação de José idoso? 

Sim. Os artistas, influenciados pelos apócrifos, disseminaram a representação plástica de José idoso e de cabelos brancos, a fim de melhor salvaguardar a virgindade de Maria e, com isso, não se levou também em conta que o evangelista Lucas testemunha que Jesus 'era tido como filho de José (Lc 3,23). Felizmente, e graças à Josefologia, ultimamente o guarda do Redentor é representado na arte como um jovem cheio de vigor. 

22. Como era o costume da celebração do matrimônio no tempo de José? 

Não era muito diferente do costume de hoje. A cerimônia era constituída por duas etapas: o noivado e o matrimônio propriamente dito. A cerimônia do noivado era bastante simples e normalmente se realizava na casa do pai da noiva, onde o noivo pagava ao futuro sogro uma certa quantia baseada naquilo que ele possuía, ou podia, e isto era devido ao fato que uma mão de obra o pai a entregava ao genro. De fato, a partir desta cerimônia, a mulher passava a pertencer ao marido, de direito e de dever, embora ainda continuasse morando na casa paterna. Era, desta forma, selado o verdadeiro matrimônio, pois com o noivado os contraentes tinham direitos de esposos. O nascimento de um filho durante o noivado era tido como legítimo e se a noiva fosse infiel neste período era tratada como adúltera e sujeita aos castigos, inclusive de apedrejamento. 

23. Como se procedia à segunda etapa de celebração matrimonial? 

Esta era celebrada com mais solenidade, quando a noiva, na casa do pai, esperava o seu noivo toda enfeitada e coroada com flores na cabeça, acompanhada por suas amigas. O noivo dirigia-se à noite  e acompanhado por seus amigos para a casa da noiva. Ali, na presença dos convidados, dava-se o início à cerimônia onde o noivo dirigia-se à noiva com estas palavras: 'És minha esposa e eu sou teu esposo de hoje para sempre'. Em seguida começava a festa que podia durar até uma semana. 

24. Se José conduziu Maria para sua casa, então a anunciação do Anjo a Maria deu-se depois que tinham celebrado a segunda parte do matrimônio? 

Alguns afirmam que José e Maria não dividiam o mesmo teto na ocasião da anunciação do Anjo fundamentando-se nas palavras do Anjo: 'Antes de coabitarem, aconteceu que ela concebeu por virtude do Espírito Santo' (Mt 1,18). Porém, segundo os estudiosos, na interpretação exata deste versículo deve-se afirmar que 'antes que tivessem relações sexuais'. Lendo o texto de Mateus (Mt 1,20): 'Não temas receber Maria como tua esposa', alguns entenderam que Maria estava ainda na casa de seus pais, constatando, portanto, a gravidez de Maria antes da segunda parte do matrimônio. Porém, segundo a interpretação de grandes exegetas, as palavras do Anjo a José foram para tranquilizá-lo e devem ser entendidas como: 'Não temas ficar ou estar ao lado de tua esposa', ou seja, referem-se a algo que José já havia feito. Portanto a anunciação do Anjo a Maria deu-se dentro do clima familiar de convivência com José. 

25. Se Maria convivia com José, sob o mesmo teto, quando recebeu o anúncio do Anjo sobre sua maternidade divina, como entendemos o anúncio do Anjo a José diante de sua dúvida? 

O evangelista Mateus (Mt 1,20-25) relata que enquanto pensava assim, um Anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e lhe disse: 'José, filho de Davi, não temas receber Maria como esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo…'; despertando do sono, José fez como o Anjo lhe havia mandado e recebeu sua esposa em sua casa, e sem ter relações com ela, Maria deu à luz um filho, e José deu a ele o nome de Jesus. Portanto, confirma para José a sua vocação de esposo e de pai de Jesus, realçando o exercício da maternidade de Maria (v. 23-25) e sua cooperação como pai putativo de Jesus (v. 25) com a intervenção da força divina (v. 20). Desta forma, fica esclarecido que o encontro do divino com o humano, ou seja, a encarnação de Jesus, aconteceu dentro da instituição da família. Daqui conclui-se a importância do matrimônio de José e Maria e a função indispensável de sua paternidade (v. 21-25). No momento culminante da história da salvação, José é o 'filho de Davi' (v. 20), preparado por Deus para ser esposo da Mãe de Jesus (v 20) e para dar o nome ao Menino (v. 21-25) que fora concebido pelo Espírito Santo (v. 18-20). Neste anúncio do Anjo, 'José, filho de Davi' garante desta forma a messianidade de Jesus e também a virgindade de Maria, a qual depende do fato de ela ser a esposa de José.

('100 Questões sobre a Teologia de São José', do Pe. José Antonio Bertolin, adaptado)