sexta-feira, 18 de agosto de 2017

ORAÇÃO DIANTE DO CRUCIFIXO (SÃO FRANCISCO DE ASSIS)


Summe, gloriose Deus,
illumina tenebras cordis mei
et da mihi fidem rectam, spem certam et caritatem perfectam, 
sensum et cognitionem, Domine,
ut faciam tuum sanctum et verax mandatum. Amen.

 Sumo, glorioso Deus, 
 Ilumina as trevas do meu coração 
 e dá-me uma fé correta, esperança certa e caridade perfeita, 
 bom senso e conhecimento, Senhor, 
 para que eu possa praticar o teu sagrado e verdadeiro mandamento. Amém.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

SOBRE O CONHECIMENTO DE SI MESMO

1. A alma de Cristo que deseja elevar-se até o cimo da perfeição, há de principiar por si mesma, isto é, esquecida de todas as coisas exteriores, deve penetrar no íntimo de sua consciência e ali discutir, examinar e ver, com diligente cuidado, todos os defeitos, todos os hábitos, todas as inclinações, todas as obras, todos os pecados passados e presentes. Se achar em si alguma coisa menos reta, chore-a sem demora na amargura de seu coração. E para melhor chegares a este conhecimento, saiba que todos os nossos pecados e males cometemo-los ou por negligência ou por malícia. Acerca destas três coisas, pois, deve versar o exame de todos os teus males; de outra forma jamais poderás chegar ao perfeito conhecimento de ti mesmo.

2. Portanto, se desejas conhecer-te a ti mesma e chorar os males cometidos, deves primeiro refletir se há ou houve em ti alguma negligência. Examina-te sobre a negligência com que vigias o teu coração, sobre a negligência com que passas o tempo, e examina-te também se em alguma obra não tens intenção pecaminosa. Estas três coisas cumpre observar com o maior cuidado: vigiar bem o coração, empregar utilmente o tempo e prefixar a toda obra um fim bom e conveniente.

Igualmente deves refletir sobre a negligência que tivestes na oração, na leitura e na execução da obra; porque nestas três coisas te deves exercer e aperfeiçoar com afinco, se queres produzir e dar bom fruto a seu tempo. Tão intimamente estas três coisas estão unidas, que de forma alguma é suficiente uma sem a outra. Outrossim, cumpre refletires sobre quanto és ou foste negligente em fazer penitência, em lutar e em progredir; porque é mister chorar, com suma diligência, os males cometidos, repelir as tentações diabólicas, e progredir de uma virtude para outra para que possas chegar à terra prometida. Desta forma, pois, o exame se ocupa com a negligência.

3. Se, porém, desejas conhecer-te melhor, deves, em segundo lugar, refletir se em ti dominou ou domina a concupiscência da voluptuosidade, da curiosidade ou da vaidade. Certamente então reina no homem religioso a concupiscência da voluptuosidade quando deseja coisas doces, isto é, manjares saborosos; quando deseja coisas frouxas; isto é, vestimentas pomposas; quando deseja coisas carnais, isto é, prazeres luxuriosos.

A concupiscência da curiosidade existe quando se deseja saber coisas secretas, quando se deseja ver coisas belas, quando se deseja possuir coisas raras. A concupiscência da vaidade, porém, impera quando deseja o favor dos homens, quando se busca o louvor humano, quando se almeja honra diante dos homens. Como veneno deve a alma fugir a tudo isso, porque tudo isso é a raiz de todo o mal.

4. Em terceiro lugar, se queres ter conhecimento certo de ti mesmo, deves diligentemente refletir se há ou houve em ti a malícia da ira, da inveja e da preguiça. Ouve, caríssima alma, o que te digo solicitamente. No homem religioso existe a ira quando no espírito, no coração, no afeto, nos sinais, no semblante, na palavra ou no clamor mostra a seu próximo indignação do coração, por mais leve que seja, ou rancor.

A inveja reina no homem quando se alegra com a desgraça do próximo e se entristece com a sua prosperidade, quando sente prazer com os males do próximo e se desfalece com a sua felicidade. A preguiça reina no religioso quando se é tíbio, sonolento, ocioso, lerdo, negligente, frouxo, dissoluto, indevoto, triste e tedioso. A tudo isto se deve detestar e fugir como a um veneno mortífero, porque nestas coisas consiste a perdição do corpo e da alma.

5. Se, portanto, ó caríssima alma, queres chegar ao perfeito conhecimento de ti mesma, 'torna a ti mesma, entra no teu coração, aprende a conhecer o teu espírito. Vê o que és, o que foste, o que devias ser, o que podias ser: o que foste pela natureza, o que agora és pela culpa, o que devias ser por teu trabalho, o que ainda podes ser pela graça'.

Ouve, ó caríssima alma, ouve o profeta Davi, como ele se faz o teu exemplo: 'Meditei', diz ele, 'de noite no meu coração, exercitei-me e espanei o meu espírito' (Sl 76,7) Meditava ele no seu coração; medita também tu no teu coração. Espanava ele o seu espírito; espana também tu o teu espírito. Trabalha nesse campo, presta atenção a ti mesmo. Se com insistência fazes este exercício, sem dúvida acharás um precioso tesouro escondido. Pois em virtude deste exercício cresce a plenitude do ouro, a ciência é multiplicada e aumentada a sabedoria.

Com este exercício, purificam-se os olhos do coração, aguça-se o engenho, dilata-se a inteligência. De nada adianta um reto juízo a quem não se conhece a si mesmo, quem não pensa na sua dignidade. Desconhece por completo que opinião deva fazer do espírito angélico e do divino quem não reflete antes sobre o seu próprio espírito. Se ainda não és capaz de entrar em ti mesmo, como serás capaz de elevares-te às coisas que estão acima de ti? Se ainda não és digna de entrar no primeiro tabernáculo, com que razão presumes entrar no segundo tabernáculo? (Ex 25, 28).

6. Se desejas elevar-te, como São Paulo, ao segundo e terceiro céu, hás de passar pelo primeiro, isto é, pelo teu coração. O modo como deves fazê-lo, ensinei-o acima. Mas também São Bernardo otimamente te informa quando diz: 'Se queres conhecer o estado de tua perfeição, examina, em discussão constante, a tua vida, e reflete diligentemente, quanto te adiantas e quanto te atrasas, quais são os teus costumes, quais as tuas inclinações, quão semelhante ou dessemelhante és a Deus, quão perto ou quão longe dEle estás'.

Ó como é grande o perigo do religioso que quer saber muitas coisas, mas não tem verdadeiro e sincero desejo de conhecer-se a si mesmo! Ó como está prestes a perder-se o religioso que é curioso em conhecer as coisas, solícito em julgar as consciências dos outros, mas ignora e desconhece a própria! Ó meu Deus, donde tanta cegueira num religioso? Eis, a causa é patente, ouve-a. Porque a mente do homem é distraída pelos cuidados, não volta a si pela memória; porque é obnubilada por fantasias e não volta a si pela inteligência; porque é arrastada por concupiscências ilícitas e não se restaura pelo desejo da suavidade intima e da alegria espiritual.

Por isto jaz totalmente submerso nessas coisas sensíveis, é incapaz de entrar em si mesmo e penetrar até à imagem de Deus no seu íntimo. Desta forma o espírito se lhe reduz à miséria; ignora e desconhece-se a si mesmo. Procura, pois, lembrares de ti e conheceres primeiro a ti mesmo, deixando de lado tudo o mais. Isto pedia também São Bernardo, dizendo: 'Deus me dê a graça de não saber outra coisa senão que me conheça a mim mesmo'.

(São Boaventura)

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (XVIII)

A 17ª objeção* é fenomenal e contradiz a própria doutrina e o próprio uso protestantes. Desta vez, o protestante protesta contra si mesmo, contra Lutero e contra inúmeras seitas protestantes. Protesta porque a Igreja Católica afirma que o pecado original existe e que é remido pelo batismo. Basta esta afirmação para o nosso amigo protestante exigir: um texto que prove que o batismo lava o pecado original, nos faz cristãos, filhos de Deus, herdeiros do reino de Deus. Vamos, de novo, satisfazer as exigências do nosso amigo crente.

I. Sacramento e Lei

O batismo é um sacramento do Novo Testamento, instituído por Jesus Cristo, para apagar o pecado original. Jesus disse: 'se alguém não for regenerado pela água e o Espírito Santo, não poderá entrar no reino de Deus' (Jo 3,5). Esta regeneração é o batismo. Conforme as palavras do salvador, a salvação é impossível sem o batismo.

Além de o batismo ser absolutamente necessário, há também uma lei que obriga a recebê-lo. As próprias palavras da promulgação o afirmam: 'ide, ensinai a todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo' (Mt 28, 19). Até aqui o amigo protestante deve estar de acordo conosco. Tiremos disso uma conclusão lógica: Jesus Cristo nada fez de inútil, tudo o que fez e disse tem uma razão de ser. Se, pois, ele exige tão rigorosamente a recepção do batismo, é porque o batismo para qualquer coisa, produz um efeito que só ele pode produzir. E qual é este efeito?

II. Efeitos do Batismo

É a Sagrada Escritura que nos vai indicar claramente: 'aquele que crer e for batizado será salvo', diz o próprio Jesus Cristo (Mc 16, 16). Eis já o que é claro e positivo: a fé e o batismo são as chaves da nossa salvação. Ora, para ter precisão de salvação, é preciso estar perdido; são dois termos correlativos: um supõe o outro. O homem estava, pois, perdido. Como? Pelo pecado original transmitido por Adão e Eva a todos os seus descendentes.

Isto é provado claramente pelo testemunho do apóstolo: 'por um homem só entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte; assim também a morte passou a todos os homens, por isso todos pecam num só' (Rm 5, 12). Eis o que é bem claro. Antes do apóstolo, o santo rei Davi já tinha dito a mesma verdade: 'fui gerado na iniquidade, e minha mãe concebeu-me no pecado' (Sl 50, 7). Eis, pois, duas verdades bem provadas: o pecado original foi cometido pelos nossos primeiros pais. Este pecado é transmitido a todas as gerações humanas, sendo assim um pecado universal.

Procuremos agora um remédio para esta mal universal. É São Pedro quem no-lo ensina: 'fazei penitência e cada de um de vós se faça batizar em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos seus pecados' (At 2, 38). O batismo é pois um meio de remir os pecados. E quais são estes pecados? O batismo pode ser recebido em qualquer idade. A criança, não sabendo distinguir entre o bem e o mal, é incapaz de cometer pecado. Deve pois existir qualquer pecado que não seja cometido pessoalmente por nós, mas é transmitido pela geração. Tal pecado é o pecado original.

São Paulo dissipa as últimas dúvidas e, num rasgo sublime, projeta sobre o batismo uma luz toda divina. Escute estas passagens, caro protestante: 'Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como vivemos ainda nele? Ou não sabes que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? De modo que estamos sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se fomos plantados juntamente com ele, na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição' (Rm 6, 1-6). Que sublime página de teologia sobre os efeitos do batismo! Se os amigos protestantes soubessem compreender um pouco a Bíblia, ficariam envergonhados das ineptas objeções que levantam.

São Paulo dá a resposta completa à objeção protestante e prova a exposição católica que afirma que o batismo: (i) Lava-nos do pecado original; (ii) Faz-nos filhos de Deus; (iii) faz-nos herdeiros do céu. Somos batizados na morte de Jesus Cristo, diz São Paulo. Ora, esta morte é a destruição do pecado. Não havendo pecado em nós, tornamo-nos filhos de Deus, ressuscitados da morte do pecado, como Cristo ressuscitou da morte do túmulo.

Semelhantes a Cristo pelo batismo, ressuscitados como ele, tornamo-nos participantes da glória do céu. Somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Jesus Cristo, diz São Paulo (Rm 8, 17). Ora, esta herança é graça na terra e a glória no céu. 'Justificados pela graça', diz o Apóstolo, 'seremos herdeiros segundo a herança da vida eterna' (Tt 3, 7).

III. Conclusão

Concluamos, mostrando aos pobres protestantes como eles são ilógicos, e como estão em contradição com a Bíblia e com os seus próprios costumes. Os protestantes administram o batismo para os seus próprios adeptos e, entretanto, não acreditam no próprio batismo. Fazem objeção contra o batismo e o conservam como obrigatório, para ser cristão, e até para ser protestante. De outro lado, sendo consequentes, não deveriam admitir o batismo. É um princípio por eles admitido que ninguém pode ser justificado sem um ato de fé em Jesus Cristo. Ora, as crianças não são capazes de fazer este ato. Logo, o batismo das crianças é inútil.

Outro argumento contra eles: é também um princípio protestante que nada se deve fazer que não seja autorizado por um exemplo tirado da Bíblia. Ora, não há nela nenhum exemplo de batismo de criança. Logo, os protestantes deveriam rejeitar o batismo de crianças, como contrário à Bíblia. Até a escritura pode ser interpretada como favorável ao batismo de pessoas adultas, antes que das crianças. 'Aquele que crer e for batizado será salvo' (Mc 16, 16).

A Igreja Católica manda batizar as crianças, não por indicação da Bíblia, mas pela interpretação do texto sagrado, pela tradição constante dos séculos, desde os apóstolos até hoje. Eis umas citações antiquíssimas a esse respeito: Dionísio Aeropagita, do século II, diz: 'É uma tradição que nos vem dos apóstolos, que as crianças devem ser batizadas' (Eccl. hier, cult.). Santo Irineu, também do século II, diz: 'todos aqueles que são regenerados em Jesus Cristo, isto é, crianças, jovens, velhos, serão salvos' (Sup. S. Luc.). Orígenes repete a mesma verdade. 'É na Igreja uma tradição, provinda dos apóstolos, dar o batismo às crianças' (Leb. 5, c. 6). São Cipriano, ainda no mesmo século, escreve: 'parece-me bom e a todo o concílio que as crianças sejam batizadas, mesmo antes dos oito dias' (Lev. 3, ep. ad Fidum). Eis testemunhos autênticos dos primeiros séculos, atestando sempre ter sido uso na Igreja batizar as crianças.

Eis como cai a objeção protestante e vira contra eles, mostrando como estão em contradição consigo mesmos: fazendo o que não acreditam e acreditando no que não fazem. No primeiro caso, não deviam batizar crianças como o fazem. No segundo, não podiam atacar o batismo, nem pedir textos para provar que o batismo apaga o pecado original e nos faz filhos de Deus. É a eterna mania de protestar... até contra eles mesmos!

* Estas 'objeções' foram propostas por 'um crente' como um desafio público ao Pe. Júlio Maria e que foi tornado público durante as festas marianas de 1928 em Manhumirim, o que levou às refutações imediatas do sacerdote, e mais tarde, mediante a inclusão de respostas mais abrangentes e detalhadas, na publicação da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', ora republicada em partes neste blog.

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)

terça-feira, 15 de agosto de 2017

GLÓRIAS DE MARIA: ASSUNÇÃO AO CÉU

A Assunção de Maria - Palma Vecchio (1512 - 1514)

"Pronunciamos, declaramos e de­finimos ser dogma de revelação divina que a Imaculada Mãe de Deus sempre Virgem Maria, cumprido o curso de sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à Glória celeste”.

                            (Papa Pio XII, na Constituição Dogmática  Munificentissimus Deus, de 1º de novembro de 1950)


A solenidade da Assunção da Virgem Maria existe desde os primórdios do catolicismo e, desde então, tem sido transmitida pela tradição oral e escrita da Igreja. Trata-se de um dos grandes e dos maiores mistérios de Deus, envolto por acontecimentos tão extraordinários que desafiam toda interpretação humana: 

1. Nossa Senhora NÃO PRECISAVA morrer, uma vez que era isenta do pecado original;

2. Nossa senhora QUIS MORRER para se assemelhar em tudo ao seu Filho, pela aceitação de sua condição humana mortal e para mostrar que a morte cristã é apenas uma passagem para a Vida Eterna;  

3. Nossa Senhora NÃO PODIA passar pela podridão natural da carne tendo sido o Sacrário Vivo do próprio Deus;

4. A morte de Nossa Senhora foi breve (é chamada de 'Dormição') e ela foi assunta ao Céu em corpo e alma;

5. Aquela que gerou em si a vida terrena do Filho de Deus foi recebida por Ele na glória eterna;

6. Nossa Senhora foi assunta ao Céu pelo poder de Deus; a ASSUNÇÃO difere assim da ASCENSÃO de Jesus, uma vez que Nosso Senhor subiu ao Céu pelo seu próprio poder.


Louvor a Ti, Filha de Deus Pai,
Louvor a Ti, Mãe do Filho de Deus,
Louvor a Ti, Esposa do Espírito Santo,
Louvor a Ti, Maria, Tabernáculo da Santíssima Trindade!

15 DE AGOSTO - NOSSA SENHORA DO PILAR



A devoção a Nossa Senhora do Pilar tem origem na Espanha. Segundo a Tradição, o apóstolo São Tiago Maior, enviado à Espanha para anunciar o Evangelho, estava frustrado pelos resultados limitados de sua atuação, quando teve uma visão da Virgem incentivando-o no cumprimento de sua missão. Nossa Senhora lhe apareceu encimando uma coluna (pilar), às margens do Rio Ebro, na região de Saragoza. Nossa Senhora do Pilar é invocada como sendo o Refúgio dos Pecadores e a Consoladora dos Aflitos. Na Espanha e nos países ibéricos, a festa é comemorada em 12 de outubro.  

Nossa Senhora do Pilar é Padroeira da cidade de Ouro Preto/MG, maior acervo arquitetônico barroco do Brasil e patrimônio cultural da humanidade. A festa de Nossa Senhora do Pilar em Ouro Preto é comemorada em 15 de agosto, data de sua entronização. Eu visitei e conheço bem a Igreja do Pilar, a mais imponente e mais rica de Minas Gerais. Recentemente (2012), a Paróquia do Pilar em Ouro Preto comemorou 300 anos como comunidade paroquial (1712 - 2012), 300 anos com Maria, a Senhora do Pilar. À cidade histórica mais importante do Brasil, a minha homenagem nestes versos à sua Padroeira.

Nossa Senhora do Pilar

Estão abertas as portas da Igreja do Pilar.
Entro. E logo nos meus primeiros passos,
meu olhar encontra no mais alto do altar
a Santa Virgem com Jesus nos braços.


Hesito. Diante da bela imagem da Senhora,
de repente, imensa inquietude me possui:
pois o homem que inda sou traz lá de fora
o pobre pecador que eu sempre fui.

Mas, do Vosso olhar materno não viceja
revolta alguma, nada de condenação:
Este caminho que atravessa a igreja
É uma via crucis que só tem perdão!

Sob o Vosso olhar de Mãe na minha fronte,
avanço sem medo a tão grande tesouro:
Sois Porta da terra, aberta para o horizonte,
Sois Pilar do Céu, entronizada em ouro.


Se inda há algo em mim que me pertença,
por mais louvável, quanto mais profano,
que seja apenas o tênue fio da presença,
do amor que pulsa no meu peito humano.


E, assim, diante do Vosso altar, prostrado,
Padroeira de Ouro Preto, ouso suplicar:
que eu seja por Vosso Filho muito amado,
como eu Vos amo, ó Senhora do Pilar!

(Arcos de Pilares)

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

14 DE AGOSTO - SÃO MAXIMILIANO MARIA KOLBE

 

São Maximiliano Maria Kolbe (08/01/1894 - 14/08/1941)

Quando tinha apenas 10 anos, Raimundo Kolbe recebeu uma dura repreensão de sua mãe: 'Se aos dez anos você é tão mau menino, briguento e malcriado, como será mais tarde?' Estas palavras doeram fundo na alma da criança e, muito perturbado por tal admoestação, prostrou-se aflito diante da imagem de Nossa Senhora: 'Que vai acontecer comigo?' A Mãe de Deus apresentou-se, então, diante dele, trazendo nas mãos duas coroas, uma branca e outra vermelha e lhe perguntou, sorrindo, qual delas ele escolhia para a sua vida. O pequeno escolheu as duas. A coroa branca lhe assegurou a castidade; a coroa vermelha lhe outorgou a glória do martírio. Assim nascem os santos, assim se forjam os mártires.

Assumindo a sua vocação religiosa, decidiu ser capuchinho franciscano com o nome de Maximiliano e fez os solenes votos do sacerdócio em 01 de novembro de 1914, acrescentando o nome de Maria aos seu nome religioso. Quase 40 anos após a visão da Santa Virgem, ele receberia a coroa do martírio. Em fevereiro de 1941, o padre Kolbe foi levado à prisão de Pawiak, em Varsóvia para interrogatório, tornando-se em seguida o prisioneiro de número 16670 do campo de concentração de Auschwitz durante a II Grande Guerra Mundial. Mais do que nunca, exerceu ali o seu apostolado de oração e pela conversão daqueles condenados. No final de julho de 1941, foi transferido para o Bloco 14 do campo, cujos prisioneiros faziam trabalhos agrícolas. Numa dada oportunidade, ocorreu a fuga de um deles e, como castigo, dez outros foram sorteados para morrer de fome e de sede num abrigo subterrâneo. 

O sargento Franciszek Gajowniczek do exército polonês foi um dos dez escolhidos e suplicou pela sua vida, por ser pai de uma família ainda de pequenos. Padre Kolbe se ofereceu para substitui-lo no 'bunker da morte' e assim foi feito. Desnudos, os dez homens padeceram o suplício da fome e da sede no subterrâneo confinado. Pe. Kolbe lhes deu toda a assistência espiritual possível neste período de martírio. Ao final de três semanas, 4 ainda estavam vivos e receberam, então, injeções letais de ácido muriático. Era o dia 14 de agosto de 1941, véspera da Festa da Assunção de Nossa Senhora. Pe. Kolbe foi o último a morrer. Sua festa religiosa é celebrada em 14 de agosto. Foi canonizado pelo papa João Paulo II em 10 de outubro de 1982.



'Não tenham medo de amar demasiado a Imaculada; jamais poderemos igualar o amor que teve por Ela o próprio Jesus: e imitar Jesus é nossa santificação. Quanto mais pertençamos à Imaculada, tanto melhor compreenderemos e amaremos o Coração de Jesus, Deus Pai, a Santíssima Trindade'.


(o 'bunker da morte')

Mas o que aconteceu com Gajowniczek - o homem que Padre Kolbe salvou? Depois da guerra, retornou à sua cidade natal, reencontrando a sua esposa. Seus dois filhos tinham sido mortos durante a guerra. Todos os anos, no dia 14 de agosto, ele retornou à Auschwitz e divulgou durante toda a vida o ato heroico do Pe. Kolbe. Morreu aos 95 anos, em 13 de março de 1995, em Brzeg, na Polônia, quase 54 anos depois de ter sido salvo da morte por São Maximiliano Kolbe. 


(Franciszek Gajowniczek)

domingo, 13 de agosto de 2017

'VEM!' (JESUS ANDANDO SOBRE AS ÁGUAS)

Páginas do Evangelho - Décimo Nono Domingo do Tempo Comum


Jesus, antes de despedir a multidão às margens do mar de Tiberíades, ordena aos apóstolos que entrem na barca e façam sozinhos a travessia para a outra margem. Aquele que, momentos antes, fizera a multiplicação dos pães e dos peixes, não se comprazia com o ardor da turba admirada pelo extraordinário milagre, mas refém de um messianismo enganoso e deturpado. Esse mesmo brilho enganoso poderia ter perpassado nos olhos de alguns de seus discípulos. Jesus, ciente destes desvios e interpretações ruinosas, liberta-se dos homens e se isola em oração fervorosíssima em lugar isolado, muito provavelmente para pedir e suplicar ao Pai o pleno cumprimento de sua missão salvífica e redentora, muito além das comoções humanas.

Então, já noite alta, os apóstolos sentiram medo e aflição, sozinhos na barca que se agitava perigosamente nas águas revoltas pelos ventos impetuosos. E o medo se transformou em terror quando julgaram ver um fantasma andando sobre as águas, em direção à barca. Jesus se revelou, então, a eles: 'Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!' (Mt 14, 27). Mas a incerteza e a desconfiança ainda imperavam naquela barca à mercê dos ventos, expressas pelo grito de Pedro: 'Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água' (Mt 14, 28). Ao que Jesus respondeu: 'Vem!' (Mt 14, 28).

'Vem!' Eis o chamado de Jesus a Pedro, aos seus discípulos, a cada um de nós. Ir ao encontro de Jesus, e em Jesus colocar toda a nossa confiança e certeza, é o caminho da plenitude da graça. Ir ao encontro de Jesus, quaisquer que sejam os obstáculos, as provações e as tempestades do mundo, mesmo que pareça que estamos despojados de tudo e de todos, ainda que se tenha de andar sobre as águas de um mar tenebroso. Basta-nos a fé. A fé que faltou, então, a Pedro, quando distanciou o seu olhar do Senhor e se fixou nas marolas do mundo, afundando-se no mar. Mas 'Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?” (Mt 14, 3'). E subiram ambos ao barco. 

A frágil embarcação no meio do nada e em completa escuridão é agora o templo de Deus: 'Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!' (Mt 14, 33). Jesus está junto aos seus discípulos, e lhes dá a sua paz. Paz que faz serenar os ventos e as águas, paz que afasta os temores e aflições, paz que inunda os corações da graça divina. Paz que nos foi legada também como desígnio de salvação; tesouro que se encontra quando, na inquietude dos conflitos e incertezas do mundo, somos passageiros da grande Barca (Santa Igreja) que ruma confiante ao encontro do Senhor que Vem.