quarta-feira, 5 de julho de 2023

OS MAUS SACERDOTES - TRAIDORES DE DEUS!

Eu sou o Deus que em um tempo fui chamado de o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó. Eu sou o Deus que deu a Lei a Moisés. Esta Lei era como uma vestimenta. Assim como uma gestante prepara o enxoval de seu bebê, Deus também preparou a Lei, que foi como a vestimenta, sombra e sinal das coisas por vir. Eu me vesti e me envolvi a mim mesmo com as vestes da nova Lei. À medida que um menino cresce, suas roupas são substituídas por outras novas. Da mesma forma, quando as vestimentas da Lei Antiga estavam a ponto de serem abandonadas, Eu me vesti com a nova roupa, ou seja, com a Nova Lei e a dei a todos que quisessem ter a mim e ás minhas vestes. Esta roupa não é muito apertada, nem difícil de vestir, mas é bem proporcionada em todas as partes. Não obriga as pessoas a jejuar ou a trabalhar demais, nem a matar-se, nem a fazer nada que esteja além dos limites de suas possibilidades, mas ela é benéfica para a alma e conduz à moderação e mortificação do corpo. Pois, quando o corpo adere demais ao pecado, o pecado o consome. 

Duas coisas podem ser encontradas na Nova Lei. Primeira, uma prudente temperança e o reto uso dos bens físicos e espirituais. Segunda, uma grande facilidade para manter-se na Lei, pelo fato de que, uma pessoa que não pode manter-se em um estado, pode permanecer em outro. Nela, pode-se ver que a pessoa que não conseguia viver o celibato, podia porém, viver um matrimônio honrado, podia levantar outra vez e prosseguir. Entretanto, agora, Minha Lei é rejeitada e menosprezada. As pessoas dizem que a Lei é muito rígida, pesada e sem atrativos. Eles a chamam de rígida, porque ordena a se contentar somente com aquilo que é necessário e evitar o que é supérfluo. Porém, eles querem ter tudo além do razoável e mais do que o corpo pode suportar, como se fossem animais. É por isso que ela lhes parece ser muito rígida ou rigorosa. 

Em segundo lugar, eles dizem que é pesada, pois a Lei diz que a pessoa deve ser indulgente com os desejos de prazer submetendo-os à razão em determinados momentos. Mas, querem ceder aos seus prazeres mais do que lhes convém e além dos limites. Terceiro, dizem que ela não é atrativa, pois a Lei ordena que eles amem a humildade e atribuam todo bem a Deus. Querem ser orgulhosos e exaltarem-se a si mesmos pelos presentes bons que Deus lhes deu. É por isso que ela não é atraente para eles. Veja como eles depreciam as vestes que lhes dei! Eu acabei com as formas antigas e introduzi as novas para durarem até que Eu venha para o Juízo, pois os velhos caminhos eram muito difíceis. Porém, eles, afrontosamente descartaram as vestimentas com as quais Eu cobri a alma, ou seja, uma fé ortodoxa.

Além de tudo isso somaram pecado sobre pecado porque também querem me trair. Davi não disse no salmo: 'Aquele que comeu de meu pão tramou a traição contra mim?' Quero que percebas duas coisas nessas palavras. Primeiro, ele não diz 'trama', mas 'tramou', como se fosse algo já passado. Segundo, ele aponta somente para um homem como traidor. Da mesma forma, Eu digo que são aqueles que no presente me traem, não aqueles que foram ou serão, mas aqueles que ainda estão vivos. Também digo que não se trata de apenas uma pessoa, mas de muitas. Mas tu deves me perguntar: 'Não há dois tipos de pão, aquele invisível e espiritual, do qual os Anjos e os Santos vivem e o outro que pertence a Terra, pelo qual os homens se alimentam? Mas se os Anjos e os Santos não desejam nada que não esteja de acordo com a Tua vontade, e os homens não podem fazer nada que Tu não aceites, como, então, podem Te trair?'

Na presença de minha Corte Celestial que sabe e vê todas as coisas em mim, Eu respondo por teu bem, de forma que possas compreender: De fato, há dois tipos de pão. Um é aquele dos Anjos, que comem meu pão no meu Reino e são preenchidos com a minha glória indescritível. Eles não me traem, pois não querem nada que não seja aquilo que Eu quero. Mas aqueles que comem meu pão no altar me traem. Eu Sou verdadeiramente esse Pão. É possível perceber três coisas nesse Pão: a forma, o sabor e a circularidade. De fato, Eu sou esse Pão e, como tal, tenho três coisas em mim: sabor, forma e circularidade. Sabor, porque tudo é insípido, insubstancial e carente de sentido sem mim, assim como uma refeição sem pão não tem sabor e não é nutritiva. Eu também tenho a forma do pão enquanto me considero da terra. Vim da Virgem, minha Mãe é a de Adão, Adão é da Terra. Também tenho circularidade onde não há princípio nem fim, porque Eu não tenho princípio nem fim. Ninguém pode encontrar um fim ou um princípio na minha sabedoria, no meu poder e na minha caridade. Eu estou em todas as coisas, sobre todas as coisas e além de todas as coisas. Mesmo se alguém voasse perpetuamente como uma flecha, sem parar, nunca encontraria um final ou um limite ao meu poder e à minha força. 

Através dessas coisas, sabor, forma e circularidade, Eu sou o Pão que parece e tem sabor de pão no altar, mas que se transforma em meu corpo que foi crucificado. Do mesmo modo que qualquer madeira facilmente inflamável é rapidamente consumida quando se coloca no fogo, e não resta nada da forma da madeira, pois toda se converte em fogo, assim também acontece quando estas palavras são ditas: 'Este é o meu Corpo…'; o que antes era pão imediatamente torna-se meu corpo. Faz-se uma chama, não como o fogo com a madeira, mas pela minha divindade. Por isso, aqueles que comem meu pão me traem. Que tipo de crime pode ser mais horrível do que quando alguém mata a si mesmo? Ou que traição poderia ser pior do que quando duas pessoas unidas por um vínculo indissolúvel, como um casal, um trai o outro? O que um dos dois faz para trair o outro? Ele diz a ela enganando: 'Vamos a tal e tal lugar de forma que eu passe meu futuro contigo!' Ela vai com ele com toda simplicidade, pronta para satisfazer qualquer desejo de seu marido. Mas, quando ele encontra a oportunidade e o lugar, lança contra ela três armas traiçoeiras. Ou utiliza algo suficientemente pesado para matá-la com um único golpe, ou afiado o suficiente para cortar exatamente seus órgãos vitais, ou, algo asfixiante que sufoca diretamente nela o espírito de vida. Então, quando ela morre, o traidor pensa consigo mesmo: 'Agora eu fiz mal. Se meu crime for descoberto e tornar-se público, serei condenado à morte'. Então, ele leva o corpo da mulher em um lugar escondido, de forma que seu pecado não seja descoberto. 

Esta é a forma com que sou tratado pelos meus sacerdotes, que são meus traidores. Pois eles e Eu estamos ligados por um único vínculo quando tomam o pão e, pronunciando as palavras, o transformam em meu verdadeiro Corpo, que recebi da Virgem. Nenhum dos Anjos pode fazer isto. Eu dei somente aos sacerdotes essa dignidade e os selecionei dentre as mais altas ordens. Mas eles me tratam como traidores. Fazem uma cara feliz e complacente para mim e me levam a um local escondido onde possam me trair. Estes sacerdotes fazem cara de felicidade aparentando ser bons e simples. Eles me levam a uma câmara escondida quando se aproximam do altar. Ali Eu sou como a noiva ou a recém casada, disposta a realizar todos os seus desejos e, em vez disso, eles me atraiçoam. Primeiro, me batem com algo pesado quando o Ofício Divino, que recitam para mim, se torna triste e pesado para eles. De bom grado diriam cem palavras para o bem do mundo do que uma só em minha honra. Antes dariam cem lingotes de ouro para o bem do mundo do que um só centavo em minha honra. Trabalhariam cem vezes por seu próprio benefício do que uma só vez em meu favor. Eles me pressionam tanto com este pesado fardo que é como se eu estivesse morto em seus corações. 

Em segundo lugar, me transpassam com uma lâmina afiada que penetra em meus órgãos vitais cada vez que um sacerdote sobe ao altar, sabendo que pecou e arrependeu-se, mas está firmemente decidido a voltar a pecar, uma vez que tenha terminado seu Oficio. Este diz consigo mesmo: 'Eu de fato me arrependo do meu pecado, mas não penso deixar a mulher com a qual pequei, até que já não possa mais pecar'. Isto me corta como a mais afiada das lâminas. Terceiro, é como se eles asfixiassem meu Espírito quando pensam: 'É bom e prazeroso estar no mundo, é bom ser indulgente com os desejos e não me posso conter. Farei isto enquanto for jovem e quando me fizer mais velho, irei me abster e emendarei meus caminhos'. E, através desse perverso pensamento, eles sufocam o espírito da vida. Mas como isso acontece? Pois bem, o coração destes se torna tão frio e tíbio em relação a mim e a cada virtude que nunca mais pode ser estimulado ou renascer no meu amor. Assim como o gelo não pega fogo, mesmo quando mantido sobre uma chama, mas apenas derrete, da mesma maneira mesmo que Eu lhes dê a minha graça e eles ouçam palavras de advertência, não melhoram no modo de vida, mas apenas crescem estéreis e frouxos a respeito de cada uma das virtudes. 

E assim me traem, naquilo que fingem ser simples quando na realidade não o são, e ficam tristes e desgostosos na hora de dar-me a glória em vez de regozijar-se e também naquilo que pretendem pecar e continuam pecando até o final. Eles também me escondem, por assim dizer, e me colocam em um local oculto quando pensam: 'Sei que pequei. Mas se me abstiver de realizar o Oficio, ficarei envergonhado e todos irão me condenar'.  E assim, imprudentemente, sobem ao altar e tocam em mim, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Fico como se estivesse em um lugar escondido, uma vez que ninguém sabe e nem se dá conta de quão corruptos e sem vergonha eles podem ser. Eu, Deus, permaneço ali, diante deles, como em uma dissimulação, porque, mesmo quando o sacerdote é o pior dos pecadores e pronuncia estas palavras 'Este é o meu corpo', ele ainda consagra meu Verdadeiro Corpo, e Eu, verdadeiro Deus e Homem, permaneço ali diante dele. Quando me põe em sua boca, entretanto, Eu já não estou presente para ele na graça das minhas naturezas divina e humana - só resta para ele a forma e o sabor do pão - não porque Eu não esteja realmente presente para os maus como para os bons devido à instituição do sacramento, mas porque os bons e os maus não o recebem com o mesmo efeito. 

Olhe, estes sacerdotes não são meus sacerdotes, e sim na realidade, meus traidores! Eles também me vendem e me traem como Judas. Olho para os pagãos e judeus, mas não vejo ninguém pior que estes sacerdotes, já que caíram no pecado de Lúcifer. Agora, deixe-me dizer-te sua sentença e a quem se assemelham. Sua sentença é a condenação. Davi condenou aqueles que desobedeciam a Deus, não por ira, ou má vontade nem por impaciência, senão devido à justiça divina, pois ele era um honrado profeta e rei. Eu, também, que sou maior que Davi, condeno estes sacerdotes, não pela ira nem pela má vontade, mas pela justiça. Maldito seja tudo o que retiram da Terra para seu próprio proveito, pois eles não louvam seu Deus e Criador que lhes deu estas coisas. Maldito seja o alimento e a bebida que entra em suas bocas e que alimenta seus corpos para que se convertam em alimento dos vermes e destinem suas almas ao inferno. Malditos sejam seus corpos que se levantarão novamente no inferno para ser queimados eternamente. Malditos sejam os anos de suas vidas inúteis. Maldita seja sua primeira hora no inferno, que nunca terminará. Malditos sejam por seus olhos que viram a luz do Céu. Malditos sejam por seus ouvidos que ouviram minhas palavras e permaneceram indiferentes. Malditos sejam por seu paladar, pelo qual experimentaram meus manjares. Malditos sejam por seu tato, pelo qual me tocaram. Malditos sejam, por seu olfato, pelo qual sentiram aromas agradáveis e se descuidaram de mim, que sou o mais agradável de todos. 

Agora, como são exatamente amaldiçoados? Pois bem, sua visão está amaldiçoada porque não desfrutará da visão de Deus em si, mas apenas verão sombras e os castigos do inferno. Seus ouvidos estão amaldiçoados porque não ouvirão minhas palavras, senão somente o clamor e os horrores do inferno. Seu paladar está amaldiçoado porque não experimentarão os bens e o gozo eternos, mas sim a amargura eterna. Seu tato está amaldiçoado porque não conseguirão tocar-me, senão somente o fogo perpétuo. Seu olfato está amaldiçoado, porque não sentirão esse doce perfume do meu Reino, que supera todas as essências, mas terão apenas o fedor do inferno que é mais amargo do que a bílis e pior que o enxofre. Sejam malditos pela Terra e o Céu e por todas as feras. Essas criaturas obedecem e glorificam a Deus, enquanto que eles me evitaram. Por isto eu prometo pela verdade, Eu que sou a Verdade, que se eles morrerem assim, com essa disposição, nem meu amor nem minha virtude os salvará. Ao contrário, estarão condenados para sempre.

(Excertos da obra 'Profecias e Revelações de Santa Brígida', Livro I - Cap. 47)


terça-feira, 4 de julho de 2023

PALAVRAS ETERNAS (XVII)


'Meus filhos, esta é a última hora. Vós ouvis­tes dizer que o Anticristo vem. Eis que já há muitos anticristos, por isso conhecemos que esta é a última hora' (1Jo 2,18)

segunda-feira, 3 de julho de 2023

DECÁLOGO SOBRE A INVEJA

1. A inveja é um mal sem fim. Os outros males têm um término; porém, a inveja não o tem; é um mal que sempre é mal, é um pecado que não tem fim (São Cipriano).

2. A inveja foi o que afastou o Anjo do Céu e o homem do Paraíso terrestre; foi ela que matou Abel; que muniu aos irmãos de José; lançou Daniel na cova dos leões; crucificou a Jesus Cristo, e enforcou a Judas. Ó meus irmãos, pregai em alta voz que a inveja é o animal feroz que arrebata a fé, destrói a concórdia, aniquila a justiça, e gera todos os males. Foi ela que destruiu os muros de Jerusalém, despovoou Roma, arrasou a Cartago e devastou a cidade de Tróia (Santo Agostinho).

3. Fujamos da inveja como de um mal intolerável, como sendo o resultado da ordem dada pela Serpente, a invenção do demônio, o alimento de nosso inimigo, o penhor do castigo, um obstáculo para a piedade e o caminho do Inferno. Os invejosos convertem em vícios até as mais belas virtudes (São Basílio).

4. Ó inveja, manancial da morte, enfermidade que contém todas as enfermidades, e agudíssima lança que atravessa o coração! (São João Crisóstomo).

5. A inveja não tem perdão. O lascivo, com efeito, pode dar uma desculpa pela força da concupiscência; o ladrão, por sua vez, pode alegar a necessidade e a pobreza; o assassino pode desculpar-se com sua ira. Porém, vós, ó invejosos, dizei-me, qual desculpa podereis dar? Este vício é pior que a fornicação e até mesmo que o adultério porque o furor do vício impuro encontra limites na mesma ação; porém, o furor e os estragos da inveja destroem a Igreja e o mundo inteiro. Pela inveja, o demônio matou ao gênero humano na pessoa de Adão (São Cipriano).

6. A inveja é um açoite espantoso que se estende pelo mundo inteiro, assolando tudo. Daí, provém a injustiça, as feridas, os ódios e a avareza (São João Crisóstomo).

7. Ó inveja, tu és a mais justa e a mais injusta de todas as paixões! Injusta certamente porque afliges aos inocentes; porém, justa também, por outro lado, porque castigas os culpáveis. Injusta, porque atormentas a todo o gênero humano; porém, soberanamente justa, porque começas tua obra maligna pelo coração que te concebe (São Gregório Nazianzeno).

8. Os invejosos amam o mal, e sentem e choram o bem; ardem em inimizade gratuita, e estão plenos de hipocrisia; sempre cheios de amargura, sempre vacilantes, são os amigos do demônio, e os inimigos de Deus, da sociedade e de si mesmos; são odiosos a todos os homens, atormentam-se pelo que deveria ser seu consolo, e transbordam de alegria quando deveriam chorar amargamente. Perversos e cruéis para si mesmos, eles o são também para os demais (São Próspero).

9. A inveja excita a ambição, o desprezo de Deus e de seu serviço; excita o orgulho, a perfídia, a prevaricação, os acessos de ira, as discórdias e crueldade; a inveja não aguenta sofrer nem conter-se quando encontra a autoridade em seu caminho. Ela rompe os laços da paz e da caridade; ela corrompe a verdade, destrói a unidade, e encaminha-se diretamente ao cisma e à heresia. Que crime mais horrível por existir que ter inveja da virtude e da felicidade dos outros, e detestar neles seus méritos naturais e sobrenaturais! Que pecados converter em mal o bem dos demais, não poder suportar o progresso dos outros, e experimentar um atroz tormento pela felicidade alheia. Que loucura e que furor o dar entrada em nosso peito a tal carrasco, a um tirano que nos rasga as entranhas! (São Cipriano).

10. A inveja é a mais baixa, a mais odiosa e a mais vituperada de todas as paixões (Bossuet).

domingo, 2 de julho de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'De todos os temores me livrou o Senhor Deus(Sl 33)

Primeira Leitura (At 12, 1-11) - Segunda Leitura (2Tm 4,6-8.17-18)  -  Evangelho (Mt 16,13-19)

 02/07/2023 - Solenidade de São Pedro e São Paulo Apóstolos

32. AS COLUNAS DA IGREJA

Neste domingo, a liturgia católica celebra a Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, primícias da fé, fundamentos da Igreja. De toda a fundamentação bíblica do primado de Pedro, é em Mt 16, 18-19 que aflora, mais cristalina do que nunca, a água viva que brota e transborda das Palavras Divinas as primícias do papado e da Igreja, nascidos juntos com São Pedro: 'Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la' (Mt 16, 18). Esta será a Igreja Militante, a Igreja Temporal, A Igreja da terra, obra temporária a caminho da Igreja Eterna do Céu. Mas ligada a Pedro e aos sucessores de Pedro, sumos pontífices herdeiros da glória, poder e realeza de Cristo.

(Cristo entrega as chaves a São Pedro - Basílica de Paray-le-Monial, França)

E Jesus vai declarar, em seguida e sem condicionantes, o poder universal e sobrenatural da Santa Igreja Católica Apostólica e Romana: 'Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus' (Mt 16, 19). Ligado ou desligado. Poder absoluto, domínio universal, primado da verdade, Cátedra de Pedro. Na terra árida de algum ermo qualquer da 'Cesareia de Felipe', erigiu-se naquele dia, pela Vontade Divina, nas sementeiras da humanidade pecadora, a Santa Igreja, a Videira Eterna.

Com São Paulo, a Igreja que nasce, nasce com um gigante do apostolado e se afirma como escola de salvação universal. Eis aí a síntese do espírito cristão levado à plenitude da graça: Paulo se fez 'outro Cristo' em Roma, na Grécia, entre os gentios do mundo. No apostolado cristão de São Paulo, está o apostolado cristão de todos os tempos; a síntese da cristandade nasceu, cresceu e se moldou nos acordes pautados em suas epístolas singulares proferidas aos Tessalonicenses, em Éfeso ou em Corinto. Síntese de fé, que será expressa pelas próprias palavras de São Paulo: 'Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé' (2Tm 4,7).

(São Paulo Apóstolo - Basílica de Alba, Itália)

São Pedro foi o patriarca dos bispos de Roma, São Paulo foi o patriarca do apostolado cristão. Homens de fé e coragem extremadas, foram as colunas da Igreja. São Pedro morreu na cruz, São Paulo morreu por decapitação pela espada. Mártires, percorreram ambos os mesmos passos da Paixão do Senhor. E se ergueram juntos na Glória de Deus pela Ressurreição de Cristo.

sábado, 1 de julho de 2023

OS GRANDES SINAIS PRECURSORES DO JUÍZO FINAL (VII)

     

Et tunc parebit signum Filii hominis in cælo et tunc plangent omnes tribus terræ et videbunt Filium hominis venientem in nubibus cæli cum virtute multa et majestate

Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem. Todas as tribos da terra baterão no peito e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu cercado de glória e de majestade' (Mt 24,30)

Introdução

Até aqui temos considerado os sinais que precederão o fim do mundo e o dia do Juízo Geral, e também a perseguição que será levada a cabo pelo Anticristo, que afastará quase todo o mundo de Jesus Cristo, em troca de bens, honras e prazeres mundanos como suborno, enganando as pessoas com falsos milagres e hipocrisia, e forçando-as a adotar os seus pontos de vista, ainda que sendo por meio de torturas cruéis. Vimos também o que devemos aprender com tudo isto. Em outro sermão, consideramos os sinais terríveis que serão vistos no sol, na lua e nas estrelas, e a perturbação que deve ocorrer em todos os elementos, sinais que encherão os ímpios de medo e os bons de consolação; e o mesmo deve ser entendido das calamidades públicas que afligem o mundo em nossos tempos. No domingo passado vimos que esses sinais são provas e efeitos da misericórdia e da bondade divinas para com os pecadores, a fim de que, atemorizados, recolham-se em si mesmos, façam penitência e escapem à cólera de Deus no último dia; assim também as calamidades de que sofremos hoje em dia são vozes de advertência vindas da bondade e da misericórdia de Deus, para nos castigar pelos nossos pecados, induzir-nos a emendarmo-nos e, assim, ajudar-nos a escapar ao castigo eterno do inferno. 

E o que é que deve acontecer depois de todos estes sinais e presságios, meus queridos irmãos? 'Então verão o Filho do Homem'; então virá o último dia e Jesus Cristo, com toda a sua majestade e glória, aparecerá no vale de Josafá para julgar os vivos e os mortos. Mas quando? Imediatamente após esses sinais ou muito tempo depois? Mas quem nos pode dizer isso? É inútil perguntar porque ninguém o sabe. Tudo o que sabemos com certeza é que o último dia virá sobre os homens de forma inesperada e, portanto, devemos estar sempre preparados para ele. É este o tema do meu sermão de hoje.

Plano do Discurso

Após o aparecimento dos sinais, o último dia de julgamento virá sobre os homens de forma repentina e inesperada. É o que mostrarei brevemente nesta primeira parte. Portanto, devemos estar preparados para ele a cada hora de nossas vidas: 'Endireitai o caminho do Senhor': esta conclusão eu provarei na segunda parte. Para que possamos observá-la cuidadosamente, ajudai-nos com a vossa graça, ó futuro Juiz dos homens! Nós vos pedimos isto por intercessão de Maria e dos nossos santos anjos da guarda.

Primeira Parte

Que o dia do juízo virá sobre os homens inesperadamente é evidente pelo fato de que Deus reservou o conhecimento deste dia somente para si mesmo, e não o revelou nem o revelará a nenhum dos Profetas ou a qualquer outro mortal. Houve muitos santos amigos de Deus a quem Ele revelou o dia, ou mesmo a hora, de sua morte; houve pecadores iníquos cujo tempo de morte e condenação eterna foi predito pelos Profetas. A Jerusalém Celeste foi mostrada a São João Evangelista. São Paulo foi arrebatado até ao terceiro céu, onde, como ele próprio nos diz, viu mistérios que não podem ser revelados aos homens. Jesus Cristo falou muitas vezes aos seus discípulos do reino de Deus, das alegrias indescritíveis que aí os esperavam como recompensa dos seus trabalhos: 'Mas eu vos chamei amigos porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer'¹. Mas a respeito do tempo do fim do mundo e da vinda do Juiz, ninguém, nem no céu nem na terra, ouviu jamais uma palavra. 'Mas daquele dia ou daquela hora' - diz Nosso Senhor expressamente aos seus discípulos, depois de lhes ter falado dos sinais que hão de anunciar o último dia - 'ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão o Pai'². Com estas palavras, Ele refreou a curiosidade dos seus discípulos a respeito do tempo do julgamento final, como se lhes dissesse: 'porque haveríeis de querer saber o que está oculto aos anjos e até ao próprio Filho do Homem?'

Mas, caríssimo Senhor, como Vós não sabeis disso? Não sois Vós o Juiz dos vivos e dos mortos, a quem o Pai confiou o poder supremo de decidir a sorte dos mortais no último dia e, portanto, não compete a Vós fixar a data e determinar quando se realizará o julgamento? E como podeis Vós não saber nada sobre isso embora, segundo o testemunho do Apóstolo, todos os tesouros da sabedoria e da ciência de Deus estejam escondidos em Vós? Estas palavras de Nosso Senhor, meus caros irmãos, são interpretadas de diferentes maneiras pelos grandes sábios e doutores da Igreja, entre os quais São Gregório, Santo Ambrósio, São Hilário e Santo Agostinho. Dizer que o Filho do Homem não sabe nada sobre o último dia não equivale a ignorar isso em absoluto, mas apenas que não o quer revelar a nenhuma criatura; isto é, Jesus não tem disso um conhecimento que possa comunicar a outros. Da mesma forma, um sacerdote, se lhe perguntarem o que uma tal pessoa lhe disse em confissão, pode responder com a verdade: 'Não sei'. Porque, em tais circunstâncias, as palavras significam simplesmente: 'não o sei por um conhecimento que possa comunicar a outros'; ou então 'tenho tão pouca liberdade para falar disso como se o ignorasse absolutamente'. Assim, o conhecimento do tempo do último dia é mantido estritamente fora do alcance dos homens e, portanto, esse dia virá inesperadamente e cairá sobre os homens quando eles menos estiverem pensando nisso.

A mesma verdade é provada sem reservas pelas palavras de Nosso Senhor no Evangelho de São Mateus: 'Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e ilumina até o ocidente, assim será também a vinda do Filho do Homem'³. O relâmpago, como sabemos, aparece de repente e, antes que alguém se aperceba dele, emerge das nuvens e brilha diante dos nossos olhos e 'assim será também a vinda do Filho do Homem'. Ele aparecerá aos homens antes que eles tenham tempo de pensar na sua vinda. São Paulo diz: 'Mas, irmãos, quanto aos tempos e momentos, não necessitais de que vos escrevamos. Porque vós mesmos sabeis perfeitamente que o dia do Senhor virá como um ladrão de noite'⁴. Quase idênticas são as palavras que lemos na Epístola de São Pedro: 'o dia do Senhor virá como um ladrão'⁵. Um ladrão nunca se atreveria a entrar numa casa quando sabe que os seus habitantes estão de guarda. Não; aquele que é roubado só se apercebe disso quando vê que as suas coisas desapareceram. Como um ladrão na noite, o dia do Senhor chegará inesperadamente. A partir das palavras de São Paulo, São Crisóstomo conclui que a vinda do Juiz terá lugar durante a noite, quando os homens estiverem a dormir e nem sequer puderem pensar nisso.

De outra forma, a mesma verdade é confirmada em termos equivalentes por Nosso Senhor no Evangelho de São Lucas para descrever a maneira pela qual os homens daqueles tempos viverão. E como é que as pessoas agiam nessa altura? 'E como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do Homem. Comiam e bebiam; casavam e davam-se em casamento até ao dia em que Noé entrou na arca. E veio o dilúvio, e destruiu-os a todos'⁶. Tremenda foi a cegueira e a estupidez dos homens daqueles dias; não deram a menor atenção aos recorrentes avisos do Patriarca Noé.

Durante cem anos, dedicou-se à construção da arca e o povo foi ver a sua obra; perguntaram-lhe, sem dúvida, para que servia a enorme estrutura, por que razão continha tantas divisões, alas, divisórias e estábulos. Noé lhes disse: 'Fazei penitência; não pequeis mais; aplacai a ira de Deus; dentro de poucos anos o mundo inteiro será destruído, porque as águas subirão mais alto do que a montanha mais alta e não restará terra seca suficiente para um passarinho repousar; convertei-vos, pois, a Deus'. 'Ó quão tolo és! - diziam-lhe - quem te meteu na cabeça essa insensatez? Por que te atormentas tanto com esse trabalho inútil? Diverte-te como nós; come, bebe e alegra-te'. Entretanto, chegou o momento do dilúvio: o céu escureceu, as nuvens começaram a acumular-se, o mar aprumou-se e invadiu a terra. Pobres mortais, ainda vos recusais a acreditar? Sim; não se sentem nem um pouco perturbados; continuam como antes, como se estivessem ainda na idade do ouro e não tivessem nenhum perigo a temer. Não faziam outra coisa senão comer, beber, dançar e cantar; divertiam-se em festas de casamento e outros festejos a valer: 'E veio o dilúvio, e destruiu-os a todos', pois enquanto viviam no meio dos seus pecados, abriram-se as comportas do céu e a água arrastou-os a todos. 'Do mesmo modo' - continua o Evangelista - 'aconteceu nos dias de Lot: todos comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam e no dia em que Lot saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu, e destruiu-os a todos'⁷.

'Assim será no dia em que o Filho do Homem se manifestar'⁸. Não deveríamos pensar que tantos sinais e presságios - guerras, fomes, pestes, terremotos, as perseguições do Anticristo, a perturbação dos elementos - seriam suficientes para tornar os homens daquele tempo atentos e vigilantes? Mas não! Quando o medo e o terror causados pelos sinais terminarem, eles retomarão o seu antigo modo de vida. Seguindo a opinião de São Jerônimo, que assim escreve sobre as palavras de São Paulo: 'Quando disserem paz e segurança, então virá sobre eles uma destruição súbita'⁹: eu sustento que, quando os sinais tiverem desaparecido, os homens viverão em paz e sossego durante algum tempo (quanto tempo ninguém pode dizer) e continuarão no seu modo de vida anterior; embora a verdadeira fé seja então proclamada em todo o mundo, ainda haverá pecadores que levarão uma vida muito má e cristãos tíbios que levarão uma vida muito preguiçosa. 

Nessas circunstâncias então, quando menos esperarem, 'num abrir e fechar de olhos'¹⁰ - como diz o Apóstolo - cairá fogo do céu e o mundo será reduzido a cinzas; então a terrível trombeta ressoará em todos os lugares e a voz do anjo será ouvida clamando: 'Levantai-vos, ó mortos, e vinde ao Juízo!' Aqui, meus caros irmãos, temos toda a preparação que será feita para introduzir o grande dia do julgamento final. E que conclusão devemos tirar disso? 'Endireitai o caminho do Senhor', ou seja, devemos preparar-nos cuidadosamente para esse dia desde agora, como vamos mostrar na Segunda Parte.

1. Vos autem dixi amicos, quia omnia quaecumque audivi a Patre meo, nota feci vobis (Jo 15,15).
2. De die autem illo vel hora nemo scit, neque angeli in caelo, neque Filius, nisi Pater (Mc 13,32).
3. Sicut enim fulgur exit ab Oriente, et Paret usque in Occidentem, ita erit et adventus Filii hominis (Mt 24,27).
4. De temporibus autem, et momentis, fratres, non indigetis ut scribamus vobis. Ipsi enim diligenter scitis, quia dies Domini, sicut fur in nocte, ita veniet (I Ts 5, 1-2).
5. Adveniet autem dies Domini ut fur (II Pd 2,10).
6. Sicut factum est in diebus Noe, ita erit et in diebus Filii hominis. Edebant, et bibebant; uxores ducebant et dabantur ad nuptias, usque in diem, qua intravit Noe in arcam; et venit diluvium, et perdidit omnes (Lc 17,26-27).
7.Similiter sicut factum est in diebus Lot: edebant, et bibebant; emebant, et vendebant; plantabant, et aedificabant; Qua die autem exiit Lot a Sodomis, pluit ignem et sulphur de caelo, et omnes perdidit (Lc 17,28-29).
8. Secundum haec erit qua die Filius hominis revelabitur (Lc 17,30).
9. Cum enim dixerint: Pax et securitas, tunc repentinus eis superveniet interitus (I Ts 5,3).
10. In ictu oculi (I Cor 15,52).

(Excertos da obra 'Sermons on the Four Last Things' - Sermon 30, do Rev. Francis Hunolt /1694 -1746/, tradução do autor do blog)

PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS

      

DEVOÇÃO DOS CINCO PRIMEIROS SÁBADOS  

sexta-feira, 30 de junho de 2023

SOBRE AS VERDADES ETERNAS

Jesus: 'Não te deixes cativar pela elegância e sutileza dos dizeres humanos, porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas na virtude (1 Cor 2,4). Atende às minhas palavras, que inflamam o coração, iluminam o espírito, levam à compunção e produzem muitas consolações. Nunca leias minha palavra com o fim de pareceres mais douto ou sábio. Aplica-te a mortificar teus vícios, porque isso te traz mais proveito que o conhecimento das mais difíceis questões.

Por muito que estudes e aprendas, terás que referir-se a tudo sempre ao único princípio. Sou eu que ensino ao homem a ciência, e dou aos pequeninos mais clara compreensão do que os homens são capazes de ensinar. Aquele a quem eu ensinar, depressa será sábio e muito aproveitará espiritualmente. Ai daqueles que indagam dos homens muitas coisas curiosas e tratam pouco dos meios de me servir. Tempo virá em que aparecerá o Mestre dos mestres, Cristo, Senhor dos anjos, para tomar lições de todos, isto é, para examinar a consciência de cada um. E com a lâmpada na mão perscrutará então Jerusalém e revelará o segredo das trevas, fazendo calar as objeções das línguas humanas.

Eu sou o que levanta num instante o espírito humilde, de maneira que compreenda melhor as razões das verdades eternas, do que se houvera estudado dez anos nas escolas. Eu ensino sem ruído de palavras, sem confusão de opiniões, sem espalhafato, sem contenda de argumentos. Eu sou o que ensina a desprezar as coisas terrenas, a aborrecer as coisas presentes, a buscar e apreciar as eternas, a fugir às honras, sofrer as injúrias, por em mim toda esperança, a não desejar coisa alguma fora de mim e amar só a mim, com todo fervor, acima de tudo.

Alguns, amando-me inteiramente, aprenderam com isso coisas divinas e falavam coisas maravilhosas. Mais aproveitaram em deixar tudo do que em estudar questões sutis. A uns, porém, falo coisas comuns, a outros, mais particulares; a alguns revelo-me docemente em sinais e figuras, a outros descubro os meus mistérios com muita luz. A mesma voz fala em todos os livros, mas não ensina a todos da mesma maneira; pois eu sou o que interiormente ensina a verdade, perscruta o coração, penetra os pensamentos e inspira as ações, distribuindo a cada um segundo me apraz'.

(Da 'Imitação de Cristo', de Tomás de Kempis)