quinta-feira, 14 de julho de 2022

PARA SER UM HOMEM ETERNO... (II)

  ... SEJA UM HOMEM MOLDADO PELO SOFRIMENTO


Queremos o prazer, e tão somente. Queremos o riso solto das manhãs de sol, todo dia, toda hora, a cada momento. Como se a fonte do prazer fosse o oráculo de todas as vontades, moldada numa fotografia única e eclipsada na memória. Viver e desfrutar a vida como donos e senhores do tempo. A felicidade torna-se uma porta escancarada pela qual queremos adentrar de corpo e alma, como um direito e um privilégio que nos bastaria por completo.

Chamemos isso de insensatez do riso. Há um desejo - um paroxismo da vontade - na busca desenfreada de uma existência feliz e de uma felicidade perfeita, que não existem. Mas não existem pessoas mais crentes do que as insensatas. Elas creem insensatamente, na sua insensatez medonha, que podem almejar horizontes de felicidade sem fim e curtir prazeres sem conta, sem sequelas ou contrariedade alguma.

Hoje, como nunca, não há espaço para o sofrimento. O sofrimento não é tolerado, não é aceito, não é compartilhado, não é tomado como uma inexorável condição humana. Nós aprendemos a aliviar as nossas dores e a eliminar o sofrimento com muitos medicamentos, com muitas cirurgias, com muita anestesia. Quem sabe o torpor de uma cólica renal sabe bem como vale a pena decantar os frutos conquistados pela ciência humana. Precisamos da saúde do corpo. Mas precisamos também da saúde da alma.

E, paradoxalmente, a saúde da alma não pode prescindir do sofrimento. Porque é o sofrimento que molda a alma do homem eterno. A alma não tem gênero, a alma possui graus de santidade. O espelho da alma do homem eterno é a Cruz de Cristo, e nela estão sublinhados e sublimados todas as virtudes e todas as graças divinas. Buscar a Cruz, subir o Calvário: eis a mais ditosa das metas, eis o caminho das conquistas eternas! Neste contexto, o pão, a água, o ar que se respira, o passo que se dá, o olhar que se alevanta - tudo, tudo mesmo, deve ser moldado pelo sofrimento.

A alma se alimenta e se molda pelo sofrimento. O sofrimento que a ensina quão frágeis e apequenados somos nós, diante das realidades inevitáveis das dificuldades, das injustiças, das doenças, dos acidentes, das perseguições, dos crimes, da morte. O sofrimento que a fortalece para além do homem de uma vida, que a prepara para uma caminhada que tem por destino a eternidade com Deus. Quando se busca extinguir o sofrimento como realidade humana, impõe-se a aniquilação da alma. Matar o sofrimento impõe estabelecer leis que eliminem também as vítimas (a eutanásia é o preço macabro dessa orgia) e a matar Deus nas almas. 

Para ser um homem eterno... seja um homem moldado pelo sofrimento. Não há escondimento possível: Cristo padeceu na Cruz também as suas dores. As suas, as minhas, as de todos os homens. Cristo é o homem das dores, o Deus moldado pelo sofrimento, imposto pelos pecados de todos nós. A redenção de sua alma, conquistada por Cristo na Cruz, tem o seu preço medido não pelo tamanho de suas dores, mas pelo quanto a alma escolhida é capaz de oferecer e de compartilhar as suas dores com Cristo.

Compartilhadas com Cristo. Unidas a Cristo no seu Caminho de Cruz. Moldadas pelo Calvário. Que adianta as suas dores lançadas aos ventos? Não tem valor algum o sofrimento que é desenhado na areia. Que peso tem a sua dor que espuma revolta e desespero? A dor que se mede, a dor que pesa, a dor que conta é toda dor - suas pequenas ou grandes dores - que é colocada no Coração de Cristo subindo o Calvário. Homem eterno, aprenda de uma vez por todas a escancarar para si os portões dos Céus, sendo um homem das dores: 'Eu vos ofereço, Senhor, esta minha dor para que ela não seja toda Vossa!'

quarta-feira, 13 de julho de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (158/160)


158. CASTIGUE-ME!

Chegou a uma vila uma professora que não acreditava em Deus. E querendo corromper as alunas, disse-lhes:
➖ Vamos ao ditado; escrevei! E ditou-lhes despudoradamente: 'Não existe Deus; os que creem nele são uns bobos, aos quais se deveriam por orelhas de burro'.

Ao recolher e corrigir os ditados, viu que uma menina escrevera:
➖ Eu creio que Deus existe.
➖ Por que escreveste isto, senhorita? Olha que te castigarei.
➖ Minha mãe - disse a menina - ensinou-me que existe Deus, e acrescentou que é preferível deixar-se matar a ofender a Deus, nosso Criador. Se a senhora quiser castigar-me, castigue-me; Deus e minha mãe estarão contentes comigo.

Comoveu-se então a professora diante daquelas palavras pronunciadas por sua alunazinha, e mais tarde converteu-se.

159. NA MINHA FÁBRICA NÃO SE TRABALHARÁ

Um comerciante tinha em sua fábrica centenas de operários, cujo trabalho devia ser contínuo e uma suspensão do mesmo em dias festivos acarretava a perda de grandes lucros. Apresentou-se ao bispo e perguntou se podia considerar razão suficiente para trabalhar em dias festivos a considerável perda que sofria, e em consciência pedia-lhe licença para trabalhar depois que os operários tivessem ouvido missa.

O bispo disse-lhe que escrevesse ao papa. Ele o fez e a resposta favorável foi enviada ao próprio bispo, que foi encarregado de comunicá-la ao comerciante. Chamou-o e disse-lhe:
➖ O papa outorgou-vos a dispensa solicitada; mas o vosso exemplo há de influir nos outros, os quais nunca entenderão suficientemente o motivo da dispensa, pois o público não raciocina e só verá um favor concedido a um rico. Vede se quereis tomar sobre vós essa responsabilidade e se, na hora da morte, não tereis de arrepender-vos de haver dado motivo para que outros faltassem contra a lei de Deus.
➖ Está bem, senhor bispo; na minha fábrica não se trabalhará em nenhum dia de festa. Prefiro perder bom dinheiro a arcar com tanta responsabilidade.

160. ASSIM CONTA UM MISSIONÁRIO

Um missionário foi chamado para assistir a um velho moribundo que vivia numa casinha perdida numa vasta planície. Levou consigo o necessário para celebrar a missa. Tratava-se de um senhor de origem francesa que há quarenta anos vivia na região de Filadélfia e fazia vinte anos que não vira mais um sacerdote.

O missionário atendeu ao enfermo, celebrou a missa para dar-lhe a comunhão e, terminada a ação de graças, perguntou ao doente:
➖ Que prática especial fez o senhor durante a sua vida para merecer a assistência de Deus nos seus derradeiros instantes?
O velho pensou um pouco e disse:
➖ O único bem que fiz foi caminhar todos os sábados sessenta quilômetros para ir à vila confessar-me, comungar e ouvir a missa no domingo. Isto fiz sempre até que meus incômodos me impediram.

Pois foi isso precisamente que o fez merecer a graça de receber os últimos sacramentos.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XXVI)

 

VIRGEM PODEROSA, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

terça-feira, 12 de julho de 2022

SER CRISTÃO É SER CATÓLICO

Para os esquecidos ou que fingem ser esquecidos: Jesus Cristo estabeleceu uma única religião, uma única Igreja e uma só Verdade e, portanto, sempre houve e sempre haverá um único cristianismo: o único meio de ser cristão é ser católico. Ser cristão é ser católico; qualquer coisa além disso, é pura e simples heresia.


(Catecismo de São Pio X)

segunda-feira, 11 de julho de 2022

NÃO HÁ PAZ PARA QUEM PRATICA O MAL

'Escutai bem, povo insensato e sem inteligência: vós que tendes olhos para não ver e ouvidos para não ouvir: 

Não temeis a minha face? – oráculo do Senhor. Não tremeis diante de mim, eu que fixei a areia como limite ao mar, barreira eterna que não será ultrapassada? Por mais que se lhe agitem as ondas, são impotentes, murmuram, mas não vão além; 

... Foram vossas iniquidades que alteraram essa ordem, vossos pecados que vos privaram desses bens. 

Porquanto perversos se encontram no seio de meu povo, que espreitam, de tocaia, como caçadores de pássaros, armando laços para apanhar os homens. 

...Como não repreender tamanhos excessos – oráculo do Senhor – e não vingar-me de semelhante nação? 

Coisas horríveis, espantosas, ocorreram nesta terra: 

mentem os profetas em seus oráculos, os sacerdotes dominam pela força. E meu povo mostra-se satisfeito! Que fareis vós, quando chegar o fim?'
(Jr 5, 21 - 31)

Os falsos profetas proclamam: paz, paz! Proclamam o que não podem dar, saciam os seus devotos com aquilo que não os alimentam. Esta falsa paz, essa falsa tranquilidade que diz que está tudo bem, que tudo é apenas o resultado previsível das conquistas sociais do homem, que não há pecados, que não há inferno. Estes falsos profetas, vestidos ou travestidos em cores e profanadores da sã doutrina de Deus, buscam entorpecer a consciência dos ímpios e promover o indiferentismo aos justos, ao lhes garantir um reinado da iniquidade ou da tibieza sem quaisquer sobressaltos ou consequências: paz, paz, paz!!! Bebem do veneno que espalham como néctar, vivem como sepulcros caiados e nunca terão a verdadeira paz, porque 'tribulação e angústia sobrevirão a todo aquele que pratica o mal' (Rm 2,9).

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XXV)

 

VIRGEM LOUVÁVEL, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

domingo, 10 de julho de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

'Os preceitos do Senhor são precisos, alegria ao coração(Sl 18B)

 10/07/2022 - Décimo Quinto Domingo do Tempo Comum 

33. O BOM SAMARITANO


'Quem é o meu próximo?' (Lc 10, 29). Diante da pergunta capciosa do mestre da lei, Jesus não responde diretamente. Era preciso um ensinamento maior: para quem pratica a caridade, o próximo são todas as outras pessoas; para quem se exalta na malícia do pecado, o próximo é algo tão intangível quanto a enorme soberba do douto perscrutador do evangelho deste domingo, tão cheio de artimanhas, tão farto de arrogância.

E Jesus, então, lhes conta uma pequena história: 'Certo homem descia de Jerusalém para Jericó...' (Lc 10, 30). Um certo homem... provavelmente um judeu como eles, deslocando-se de Jerusalém para Jericó, a cerca de 30 km e em altitude bem mais baixa que Jerusalém. Sem dúvida, tratava-se de um homem de posses e descuidado de sua segurança, pois viajava sozinho. E eis que, então, o homem é assediado por assaltantes, tem os seus bens saqueados e, mais que isso, é espancado e ferido brutalmente, até ser abandonado semimorto à beira da estrada.

E no local da encenação deste drama comovente, vão passar três personagens singulares: um sacerdote, um levita e um samaritano. Os dois primeiros, anestesiados pelos seus interesses e preocupações mundanas e imbuídos do frio calculismo dos incômodos e perturbações que uma tal ação de socorro poderia lhes causar, vão passar insensíveis ao largo do homem ferido. Muito diferente será a reação do viajante samaritano que, não apenas pára para socorrer o pobre homem, como alivia as suas dores e, mais ainda, assume a responsabilidade pelo completo restabelecimento da sua saúde e pela cura dos seus ferimentos.

'Quem é o meu próximo?' não foi, afinal, a pergunta certa feita pelo mestre da lei, o mesmo que antes dera resposta correta a outra pergunta de Jesus: 'Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!' (Lc 10, 27). 'Amar o próximo como a ti mesmo' significa em todos 'amar a Deus com todo o coração e com toda a alma'. Todos são próximos de todos. Os dons e os talentos de cada um devem ser compartilhados com todos. E esta partilha se faz com as mãos estendidas da humildade e da misericórdia. Este é o legado de Jesus para nós: 'Vai e faze a mesma coisa' (Lc 10, 37). Fazendo a mesma coisa, todos os outros serão apenas um: o próximo, que nos coloca dentro do Coração de Deus!