sábado, 28 de maio de 2022

NO LIMIAR DO SOBRENATURAL (XII)

O Cumbre Vieja é vulcão mais ativo das Ilhas Canárias/Espanha, com erupções registradas em 1585, 1646, 1677, 1712, 1949 e 1971. Mas foi em 2021 que o vulcão manifestou a sua erupção mais intensa, que se prolongou por 85 dias e oito horas, entre 19 de setembro e 13 de dezembro de 2021. Esta intensa e continuada atividade vulcânica resultou na destruição de 1.676 edifícios, dos quais 1.345 eram de uso residencial, sendo que as lavas liberadas cobriram cerca de 1.241 hectares de terreno, dos quais 370 hectares correspondiam a áreas cultivadas.


Após a erupção, cientistas do Instituto Vulcanológico das Ilhas Canárias encontraram pequenas manchas vermelhas de enxofre líquido, que designaram como 'sangue das artérias do vulcão', além de zonas de áreas amareladas, características do enxofre no estado sólido. Além disso, também foram encontrados cristais vulcânicos de enxofre, que se formam quando diferentes gases, como o dióxido de enxofre (SO₂) e o sulfeto de hidrogênio (H₂S), reagem entre si, depositando cristais de enxofre nativo puro em locais de emissão concentrada destes gases.



Muito menos divulgado, entretanto, foi o fato de que a enorme devastação provocada pela erupção, particularmente na área limítrofe à cratera, passou completamente ao largo de um monumento e uma imagem da Virgem de Fátima erigida no local, a apenas  500 metros da cratera do vulcão. Nos dias 13 de maio e 13 de outubro de cada ano, são rezadas missas e o Rosário em honra de Nossa Senhora de Fátima diante o pequeno altar de granito ao pé do monumento. A imagem foi abençoada em 1954 em Portugal e percorreu toda a ilha antes de ser instalada nas vertentes do vulcão. As lavas da erupção de 2021 foram contidas a oitenta metros do cemitério local e a cerca de 500 metros da igreja de São Nicolás. 

sexta-feira, 27 de maio de 2022

OS GRANDES DOCUMENTOS DA IGREJA (VIII)

Carta Encíclica PASCENDI DOMINICI GREGIS [08 de setembro de 1907]

Papa Pio X (1903 - 1914)

sobre os erros do modernismo


Introdução

A missão, que nos foi divinamente confiada, de apascentar o rebanho do Senhor, entre os principais deveres impostos por Cristo, conta o de guardar com todo o desvelo o depósito da fé transmitida aos santos, repudiando as profanas novidades de palavras e as oposições de uma ciência enganadora. E, na verdade, esta providência do Supremo Pastor foi em todo o tempo necessária à Igreja Católica; porquanto, devido ao inimigo do gênero humano nunca faltaram homens de perverso dizer (At 20,30), vaníloquos e sedutores (Tt 1,10), que caídos eles em erro arrastam os mais ao erro (2 Tm 3,13). Contudo há mister confessar que nestes últimos tempos cresceu sobremaneira o número dos inimigos da Cruz de Cristo, os quais, com artifícios de todo ardilosos, se esforçam por baldar a virtude vivificante da Igreja e solapar pelos alicerces, se dado lhes fosse, o mesmo reino de Jesus Cristo. Por isto já não Nos é lícito calar para não parecer faltarmos ao Nosso santíssimo dever, e para que se Nos não acuse de descuido de nossa obrigação, a benignidade de que, na esperança de melhores disposições, até agora usamos.

E o que exige que sem demora falemos, é antes de tudo que os fautores do erro já não devem ser procurados entre inimigos declarados; mas, o que é muito para sentir e recear, se ocultam no próprio seio da Igreja, tornando-se destarte tanto mais nocivos quanto menos percebidos.

Aludimos, Veneráveis Irmãos, a muitos membros do laicato católico e também, coisa ainda mais para lastimar, a não poucos do clero que, fingindo amor à Igreja e sem nenhum sólido conhecimento de filosofia e teologia, mas, embebidos antes das teorias envenenadas dos inimigos da Igreja, blasonam, postergando todo o comedimento, de reformadores da mesma Igreja; e cerrando ousadamente fileiras se atiram sobre tudo o que há de mais santo na obra de Cristo, sem pouparem sequer a mesma pessoa do divino Redentor que, com audácia sacrílega, rebaixam à craveira de um puro e simples homem.

Pasmem, embora homens de tal casta, que Nós os ponhamos no número dos inimigos da Igreja; não poderá porém, pasmar com razão quem quer que, postas de lado as intenções de que só Deus é juiz, se aplique a examinar as doutrinas e o modo de falar e de agir de que lançam eles mão. Não se afastará, portanto, da verdade quem os tiver como os mais perigosos inimigos da Igreja. Estes, em verdade, como dissemos, não já fora, mas dentro da Igreja, tramam seus perniciosos conselhos; e por isto, é por assim dizer nas próprias veias e entranhas dela que se acha o perigo, tanto mais ruinoso quanto mais intimamente eles a conhecem. Além de que, não sobre as ramagens e os brotos, mas sobre as mesmas raízes que são a Fé e suas fibras mais vitais, é que meneiam eles o machado. 

Batida pois esta raiz da imortalidade, continuam a derramar o vírus por toda a árvore, de sorte que coisa alguma poupam da verdade católica, nenhuma verdade há que não intentem contaminar. E ainda vão mais longe; pois pondo em obra o sem número de seus maléficos ardis, não há quem os vença em manhas e astúcias: porquanto, fazem promiscuamente o papel ora de racionalistas, ora de católicos, e isto com tal dissimulação que arrastam sem dificuldade ao erro qualquer incauto; e sendo ousados como os que mais o são, não há consequências de que se amedrontem e que não aceitem com obstinação e sem escrúpulos. Acrescente-se ainda, coisa aptíssima para enganar o ânimo alheio, uma operosidade incansável, uma assídua e vigorosa aplicação a todo o ramo de estudos e, o mais das vezes, a fama de uma vida austera. Finalmente, e é isto o que faz desvanecer toda esperança de cura, pelas suas mesmas doutrinas são formadas numa escola de desprezo a toda autoridade e a todo freio; e, confiados em uma consciência falsa, persuadem-se de que é amor de verdade o que não passa de soberba e obstinação. Na verdade, por algum tempo esperamos reconduzi-los a melhores sentimentos e, para este fim, a princípio os tratamos com brandura, em seguida com severidade e, finalmente, bem a contragosto, servimo-nos de penas públicas.

Mas vós bem sabeis, Veneráveis Irmãos, como tudo foi debalde; pareceram por momento curvar a fronte, para depois reerguê-la com maior altivez. Poderíamos talvez ainda deixar isto desapercebido se tratasse somente deles; trata-se porém das garantias do nome católico. Há, pois, mister quebrar o silêncio, que ora seria culpável, para tornar bem conhecidas à Igreja esses homens tão mal disfarçados.

E visto que os modernistas (tal é o nome com que vulgarmente e com razão são chamados) com astuciosíssimo engano costumam apresentar suas doutrinas não coordenadas e juntas como um todo, mas dispersas e como separadas umas das outras, afim de serem tidos por duvidosos e incertos, ao passo que de fato estão firmes e constantes, convém, Veneráveis Irmãos, primeiro exibirmos aqui as mesmas doutrinas em um só quadro, e mostrar-lhes o nexo com que formam entre si um só corpo, para depois indagarmos as causas dos erros e prescrevermos os remédios para debelar-lhes os efeitos perniciosos... 

Versão Completa Disponível em: 

Consequência direta dessa encíclica foi a promulgação pelo papa  São Pio X  do chamado Juramento Anti-Modernista, como uma IURISIURANDI FORMULA, incluído no Motu Proprio SACRORUM ANTISTITUM de 01/09/1910, estabelecido então em grau mandatório de obrigação de concordância e cumprimento por parte de todos os clérigos, teólogos e docentes da Santa Igreja, até ser rescindido em 1967 pelo papa Paulo VI (tradução em português abaixo).

JURAMENTO ANTI-MODERNISTA
(Iurisiurandi Formula)

Eu, N..., firmemente abraço e aceito cada uma e todas as definições feitas e declaradas pela autoridade inerrante da Igreja, especialmente estas verdades principais que são diretamente opostas aos erros deste dia.

Antes de mais nada eu professo que Deus, a origem e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão a partir do mundo criado (cf Rm 1,90), ou seja, dos trabalhos visíveis da Criação, como uma causa a partir de seus efeitos, e que, portanto, a sua existência também pode ser demonstrada.

Segundo: eu aceito e reconheço as provas exteriores da revelação, ou seja, os atos divinos e especialmente os milagres e profecias como os sinais mais seguros da origem divina da religião cristã e considero estas mesmas provas bem adaptadas à compreensão de todas as eras e de todos os homens, até mesmo os de agora.

Terceiro: eu acredito com fé igualmente firme que a Igreja, guardiã e mestra da Palavra Revelada, foi instituída pessoalmente pelo Cristo histórico e real quando Ele viveu entre nós, e que a Igreja foi construída sobre Pedro, o príncipe da hierarquia apostólica, e seus sucessores pela duração dos tempos.

Quarto: eu sinceramente mantenho que a Doutrina da Fé nos foi trazida desde os Apóstolos pelos padres ortodoxos com exatamente o mesmo significado e sempre com o mesmo propósito. Assim sendo, eu rejeito inteiramente a falsa representação herética de que os dogmas evoluem e se modificam de um significado para outro diferente do que a Igreja antes manteve. Condeno também todo erro segundo o qual, no lugar do divino depósito que foi confiado à esposa de Cristo para que ela o guardasse, há apenas uma invenção filosófica ou produto de consciência humana que foi gradualmente desenvolvida pelo esforço humano e continuará a se desenvolver indefinidamente.

Quinto: eu mantenho com certeza e confesso sinceramente que a fé não é um sentimento cego de religião que se alevanta das profundezas do subconsciente pelo impulso do coração e pela moção da vontade treinada para a moralidade, mas um genuíno assentimento da inteligência com a verdade recebida oralmente de uma fonte externa. Por este assentimento, devido à autoridade do Deus supremamente verdadeiro, acreditamos ser verdade o que foi revelado e atestado por um Deus pessoal, nosso Criador e Senhor.

Além disso, com a devida reverência, eu me submeto e adiro com todo o meu coração às condenações, declarações e todas as proibições contidas na encíclica Pascendi [carta encíclica Pascendi Dominici Gregis, de 08 de setembro de 1907] e no decreto Lamentabili [decreto Lamentabili Sine Exitu, de 03 de julho de 1907], especialmente as que dizem respeito ao que é conhecido como a história dos dogmas.

Também rejeito o erro daqueles que dizem que a Fé mantida pela Igreja pode contradizer a história, e que os dogmas católicos, no sentido em que são agora entendidos, são irreconciliáveis com uma visão mais realista das origens da Religião cristã.

Também condeno e rejeito a opinião dos que dizem que um cristão erudito assume uma dupla personalidade - a de um crente e ao mesmo tempo a de um historiador, como se fosse permissível a um historiador manter coisas que contradizem a fé do crente, ou estabelecer premissas que, desde que não haja negação direta dos dogmas, levariam à conclusão de que os dogmas são falsos ou duvidosos.

Do mesmo modo, eu rejeito o método de julgar e interpretar a Sagrada Escritura que, afastando-se da Tradição da Igreja, da analogia da fé e das normas da Sé Apostólica, abraça as falsas representações dos racionalistas e sem prudência ou restrição adota a crítica textual como norma única e suprema.

Além disso, eu rejeito a opinião dos que mantém que um professor ensinando ou escrevendo sobre um assunto histórico-teológico deve antes colocar de lado qualquer opinião preconcebida sobre a origem sobrenatural da tradição católica ou a promessa divina de ajudar a preservar para sempre toda a Verdade Revelada; e que ele deveria então interpretar os escritos dos Padres apenas por princípios científicos, excluindo toda autoridade sagrada, e com a mesma liberdade de julgamento que é comum na investigação de todos os documentos históricos profanos.

Finalmente, declaro que sou completamente oposto ao erro dos modernistas, que mantém nada haver de divino na tradição sagrada; ou, o que é muito pior, dizer que há, mas em um sentido panteísta, com o resultado de nada restar a não ser este fato simples - a colocar no mesmo plano com os fatos comuns da história - o fato, precisamente, de que um grupo de homens, por seu próprio trabalho, talento e qualidades continuaram ao longo dos tempos subsequentes uma escola iniciada por Cristo e por seus Apóstolos.

[Em posição de joelhos e estendendo-se a mão direita sobre os Santos Evangelhos, conclui-se o juramento, dizendo:]

Prometo que manterei todos estes artigos fielmente, inteiramente e sinceramente e os guardarei inviolados, sem me desviar deles de nenhuma maneira por palavras ou por escrito. Isto eu prometo, assim eu juro, para isso Deus me ajude, e os Santos Evangelhos de Deus que agora toco com minha mão.

quinta-feira, 26 de maio de 2022

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (VII)

Deus Filho Redentor do Mundo, tende piedade de nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Ó Jesus, meu divino Esposo! Que eu jamais perca a segunda veste de meu batismo! Tira-me desse mundo antes que cometa a mais leve falta voluntária. Que sempre procure e encontre só a ti. Que as criaturas nada sejam para mim, e eu nada seja para elas, mas que Tu, meu Jesus, seja tudo!... Não possam as coisas da terra jamais conturbar minha alma. Nada conturbe minha paz! Jesus, não te peço senão a paz e também o amor, o amor infinito, sem outro limite senão Tu mesmo... Amor que já não seja eu, mas que sejas Tu, meu Jesus. Por ti, Jesus, morra eu mártir, o martírio do coração ou do corpo, antes, de ambos... Faze cumprir meus votos em toda a sua perfeição, e leva-me a compreender o que uma esposa tua deve ser. Faze que nunca seja molesta à comunidade e que ninguém se desvele por mim; que eu seja tida, espezinhada, qual grãozinho de areia que a ti pertença, Jesus. Faça-se em mim a tua vontade de uma maneira perfeita. Possa alcançar a mansão que antecipadamente me foste preparar... Deixa-me, Jesus, salvar muitas almas; que no dia de hoje não seja condenada nenhuma. e sejam salvas todas as almas do purgatório... Perdoa-me, Jesus, se digo que não devo dizer. Só quero alegrar-te e consolar-te'.

(Santa Teresa de Lisieux)

quarta-feira, 25 de maio de 2022

AS DUAS FACES DA FÉ

A fé tem um só nome, mas duas maneiras de ser. Há um gênero de fé que se relaciona com os ensinamentos de Cristo, inclui a elevação de uma pessoa e sua concordância sobre determinado assunto; diz respeito ao interesse pessoal, conforme disse o Senhor: 'Quem ouve minhas palavras e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não incorre em condenação' (Jo 5,24); ou ainda: 'Quem crê no Filho não será condenado...'; 'Aquele que crê no Filho tem a vida eterna' (Jo 3,18.36).

Ó bondade imensa de Deus para com os homens! Com efeito, os justos foram agradáveis a Deus pelo trabalho de muitos anos. Mas aquilo que alcançaram entregando-se corajosamente e por muitos anos ao serviço de Deus, isto mesmo em uma simples hora, Jesus te concede. Porque se creres que Jesus Cristo é o Senhor e que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo e levado ao paraíso por aquele que nele introduziu o ladrão. E não hesites em acreditar ser isto possível, pois quem salvou o ladrão neste santo Gólgota, pela fé de uma só hora, pode também salvar-te a ti, se creres.

O outro gênero é a fé que Cristo concede por graça especial. Pois a uns pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria, a outros a palavra da ciência, segundo o mesmo Espírito. A outros a fé, no mesmo Espírito, a outros o dom de curar (1Cor 12,8-9). Este carisma da fé dado pelo Espírito não se relaciona apenas com a palavra; torna ainda capaz de realizar coisas acima das forças humanas. Quem tiver uma fé assim, dirá a esta montanha: 'Transporta-te daqui para lá, e ela irá' (Mt 17,20). Quando, pois, pela fé, alguém disser isto, crendo que acontecerá sem hesitar em seu coração, então é sinal de que recebeu esta graça.

Dela se disse: 'Se tiverdes fé como um grão de mostarda' (Mt 17,20). Como o grão de mostarda, tão pequenino, possui uma força de fogo, e semeado em estreito pedaço de terra produz grandes ramos que, depois de crescidos, podem dar sombra às aves do céu, assim também, num abrir e fechar de olhos, a fé realiza as maiores coisas na pessoa. Porque lhe dá uma ideia sobre Deus e o vê tanto quanto é capaz, inundada pela luz da fé. Percorre os confins da terra; e antes da consumação do mundo, já prevê o juízo e a entrega das recompensas prometidas.

Guarda então a fé que de ti depende e que te leva ao Senhor; para que recebas de suas mãos também aquela que age muito além das forças humanas.

(Das catequeses de São Cirilo de Jerusalém)

terça-feira, 24 de maio de 2022

A VIDA OCULTA EM DEUS: PODER, SABEDORIA E BELEZA DE DEUS


Deus se revela pouco a  pouco à alma interior. Dá-lhe um vislumbre do Poder e da Sabedoria com os quais Ele governa o mundo. Suas mãos tem a robustez de um trabalhador vigoroso e a flexibilidade de um artista genial. Nada escapa dessas mãos divinas e nada lhe resiste. Elas tudo governam, homens e coisas, para onde querem. Maravilhas procedem dessas mãos, que são tão diversas como as pedras preciosas que as adornam. 

A alma interior está ciente de como opera o Divino Trabalhador em certas almas, das obras primas que sabe extrair do barro humano. E a alma fica tomada de admiração diante de tudo isso. Afinal, o que poderia ser mais belo, meu Deus, do que a visão do amor divino confrontando-se com uma alma? Que artifícios, que encantos e, às vezes, é verdade, que impulsos tremendos para libertá-la de tudo! Que paciência para purificá-la completamente, que generosidade e que estratagemas para embelezá-la, que ardor para abraçá-la, que influxo poderoso para elevá-la acima de tudo, até de si mesma, para amá-la sem medidas e doutriná-la sem receios... O que pode ser mais belo do que uma alma santa? Não foi Deus quem assim a criou pelo poder de sua graça? Bem-aventurado aquele que pode ver as mãos de Deus trabalhando neste mundo!

Basicamente, a matéria prima desta obra divina é a mesma. No entanto, o estado inicial desta matéria é essencialmente distinto, dependendo de cada caso. Há almas que nunca conheceram o pecado, pelo menos o pecado grave. Há outras que foram submetidos à sua tirania, mas por pouco tempo. Finalmente, há aquelas que desceram todos os graus do abismo e nele permaneceram por longos e tristes anos. Mas isso não afeta o poder divino que tudo domina. Deus pode gerar santos tanto de um pecador obstinado com de uma alma inocente, e às vezes Ele assim o faz. Não há nada mais belo do que contemplar as mãos divinas em ação. Elas exploram a lama humana e daí lavam, purificam, esculpem, moldam, desbastam, transformam. E operam exteriormente mas, especialmente, por dentro. A matéria prima é a alma. Mesmo quando Deus usa um outro instrumento, na verdade é a própria alma quem trabalha com Ele e para Ele.

É maravilhoso ver como as almas se transformam pouco a pouco sob a ação divina. São como tantas outras maravilhas que saem dos dedos hábeis do Divino Trabalhador, como pedras preciosas destinadas a adornar a Jerusalém Celeste, tão numerosas e tão diversas em sua forma e em suas nuances, tudo de uma beleza indescritível. Aqui, nesta terra, conhecemos apenas algumas destas maravilhas e as conhecemos mal. Para que a sua beleza seja realmente revelada, é necessária a luz do céu. E só então poderíamos admirar toda a riqueza e todas as graças emanadas de mãos tão ternas e poderosas.

Deus é soberanamente Belo e a própria Beleza imanente, o Ser único que nada carece de complemento, que sempre foi infinitamente perfeito e em quem tudo é ordem, unidade, simplicidade, pois todas as perfeições possíveis e imagináveis ​​formam nele uma única e mesma realidade em sua essência. Deus encontra no conhecimento que Ele tem de si mesmo um prazer infinito. Ele é o eterno admirador de sua eterna e própria Beleza e, assim, é a fonte verdadeira e modelo de toda beleza.

Quando me deixo distrair de Vós, ó meu Deus, parece-me que deixo a região da luz para adentrar na dimensão das trevas. Tudo o que não sois Vós macula e fere os meus olhos! Para quem Vos contemplou ainda que uma só vez  em luz inacessível, tudo o mais está corrompido e disforme! Mesmo as criaturas que melhor possam ser vossos reflexos tornam-se dolorosas de se conviver. Porque não podem ser como Vós, ó meu Deus! E é a Vós que a alma quer contemplar cada vez mais, cada vez mais profundamente, murmurando repetidas vezes as doces palavras de Santo Agostinho: 'Ó Beleza sempre antiga e sempre nova, eu te conheci tarde demais, eu te amei tarde demais!'

Sim, ó meu Deus, Vós sois toda Bondade, toda Beleza e toda Graça. Vós criastes muitas criaturas belas e, no entanto, a beleza delas não pode nem de longe ser comparada à vossa. Todo bem e tudo o que é belo emana de Vós. E aquilo que dais, não se perde, porque tudo possuís infinitamente. Fazei-me compreender, a mim que almejo ser feliz, que toda felicidade e toda alegria emanam de Vós. E que eu aprenda a ir até Vós, para impregnar-me da vossa Beleza, para alimentar-me com a vossa Bondade, para alegrar-me com a vossa Alegria e para deleitar-me sem medidas da vossa Felicidade! Porque tudo isso é possível, tudo isso é verdade, tudo isso é necessário: 'Amarás...' e, assim, serei bom com a vossa Bondade, serei belo com a vossa Beleza, serei feliz com a vossa Felicidade. Ó meu Deus, que isso seja agora, agora e sempre!

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)

segunda-feira, 23 de maio de 2022

VERSUS: SOBRE A BELEZA FEMININA

1. Não tenhas ciúme da mulher que repousa no teu seio, para que ela não empregue contra ti a malícia que lhe houveres ensinado. 

2. Não entregues tua alma ao domínio de tua mulher, para que ela não usurpe tua autoridade e fiques humilhado. 

3. Não lances os olhos para uma mulher leviana, para que não caias em suas ciladas.

4. Não frequentes assiduamente uma dançarina, e não lhe dês atenção, para que não pereças por causa de seus encantos.

5. Não detenhas o olhar sobre uma jovem, para que a sua beleza não venha a causar tua ruína. 

6. Nunca te entregues às prostitutas, para que não te percas com os teus haveres. 

7. Não lances os olhos daqui e dali pelas ruas da cidade, não vagueies pelos caminhos. 

8. Desvia os olhos da mulher elegante, não fites com insistência uma beleza desconhecida. 

9. Muitos pereceram por causa da beleza feminina, e por causa dela inflama-se o fogo do desejo. 

10. Toda mulher que se entrega à devassidão é como o esterco que se pisa na estrada. 

11. Muitos, por haver admirado uma beleza desconhecida, foram condenados, pois a conversa dela queima como fogo. 

12. Nunca te sentes ao lado de uma estrangeira, não te ponhas à mesa com ela; 

13. não a provoques a beber vinho, para não acontecer que teu coração por ela se apaixone, e que pelo preço de teu sangue caias na perdição.

(Eclesiástico 9, 1-13)


1. Vós, também, ó mulheres, sede submissas aos vossos maridos. Se alguns não obedecem à palavra, serão conquistados, mesmo sem a palavra da pregação, pelo simples procedimento de suas mulheres,

2. ao observarem vossa vida casta e reservada. 

3. Não seja o vosso adorno o que aparece externamente: cabelos trançados, ornamentos de ouro, vestidos elegantes; 

4. mas tende aquele ornato interior e oculto do coração, a pureza incorruptível de um espírito suave e pacífico, o que é tão precioso aos olhos de Deus.

(I Pedro 3, 1-4)