segunda-feira, 8 de novembro de 2021

ATÉ QUANDO SENHOR?


'Os adversários rugiam no local de vossas assembleias, 
como troféus hastearam suas bandeiras. 

Pareciam homens a vibrar o machado na floresta espessa. 

Rebentaram os portais do templo com malhos e martelos, 

atearam fogo ao vosso santuário, profanaram,
 arrasaram a morada do vosso nome. 

Disseram em seus corações:
 'Destruamo-los todos juntos; incendiai todos os lugares santos da terra'. 

Não vemos mais nossos emblemas, 
já não há nenhum profeta e ninguém entre nós que saiba até quando...

Ó Deus, até quando nos insultará o inimigo?'

(Salmo 73, 4 -10)

domingo, 7 de novembro de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

'É assim a geração dos que procuram o Senhor!' (Sl 23)

 07/11/2021 - Solenidade de Todos os Santos

50. AS BEM AVENTURANÇAS


Neste domingo da Solenidade de Todos os Santos, nós somos por inteiro a Santa Igreja de Deus, o Corpo Místico de Cristo: almas peregrinas do Céu da Igreja Militante, almas sob a justiça divina da Igreja Padecente, almas santificadas da Igreja Triunfante, testemunhas da Visão Beatífica e cidadãos eternos da Jerusalém Celeste, nem mais peregrinos e nem mais sujeitos à Santa Justiça, mas tornados eleitos do Pai e herdeiros da Glória de Deus.

Com efeito, Filhos de Deus já o somos desde agora, como peregrinos do Céu mergulhados nas penumbras da fé e nas vertigens das realidades humanas... 'mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é (1 Jo 3, 2). Filhos de Deus, gerados para a eternidade da glória de Deus, seremos os vestidos de roupas brancas, enquanto perseverantes na fé e revestidos da luz de Cristo: 'Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro' (Ap 7, 14).

Na solenidade de Todos os Santos, os que seremos santos amanhã se confortam dessa certeza nos que já são santos na Glória Celeste, vivendo a felicidade perfeita, e indescritível sob o ponto de vista das palavras e pensamentos humanos. Jesus nos fala dessa realidade transcendente na comunhão dos santos e na unidade da família de Deus: 'Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus' (Mt 5, 12). Em contraponto à fidelidade e à fé dos que almejaram ser santos, Deus os recompensará com limites insondáveis de graça, as chamadas bem-aventuranças de Deus (Mt 5, 3 - 11).

Bem-aventurados os pobres de espírito, os simples de coração. Bem-aventurados os aflitos que anseiam por consolação. Bem-aventurados os mansos que se espelham no Coração de Jesus. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. Bem-aventurados os misericordiosos, filhos prediletos da caridade. Bem-aventurados os puros de coração, transformados em novas manjedouras do Sagrado Coração de Jesus. Bem-aventurados os que promovem a paz e os que são perseguidos por causa da justiça. E bem-aventurados os que foram injuriados e perseguidos em nome da Cruz, do Calvário, dos Evangelhos e de Jesus Cristo porque serão os santos dos santos de Deus!

sábado, 6 de novembro de 2021

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

A imitação é inseparável do amor. Todo aquele que ama quer imitar e este é o segredo da minha vida: perdi o meu coração por este Jesus de Nazaré crucificado há 1900 anos e passo a minha vida a procurar imitá-lo. Segui-lo é imitá-lo é imitar Jesus em tudo, partilhar a sua vida como o faziam a Santíssima Virgem, São José, os apóstolos, isto é, por um lado, conformar como eles a nossa alma à dEle, convertendo o mais possível a nossa alma à sua alma infinitamente perfeita; por outro lado, conformar como eles a nossa vida exterior à dEle, partilhando como eles fizeram, a sua pobreza, a sua humilhação, os seus trabalhos, os seus cansaços, enfim tudo o que foi a parte visível de sua vida... Na dúvida de fazer ou não alguma coisa, perguntar-se o que teria feito Jesus em nosso lugar e fazê-lo... Fazer tudo o que for possível pela oração e pelas obras para ser semelhante a Jesus no interior e no exterior, neEle, por Ele e para Ele.

(Beato Carlos de Foucault)

PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS

 

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

A VIDA OCULTA EM DEUS: INTIMIDADE


Quando se encontra Deus, a posse começa. E não mais na ordem do próprio ser, mas na ordem do conhecimento e do amor, uma vez que a alma e Deus constituem nada mais do que uma unidade. São duas naturezas unidas no mesmo espírito e no mesmo amor, que resulta em uma intimidade profunda, comunhão perfeita, fusão sem mistura e sem qualquer perturbação. 

Estamos em Deus e Ele está em nós. Somos tudo o que Ele é. Temos tudo o que Ele tem. Nós o conhecemos, quase o vemos. Nós o sentimos, provamos e desfrutamos e nEle vivemos e morremos.  Seria com efeito a hora da nossa morte, se Ele não quisesse que continuássemos vivendo aqui nessa terra. A vida que vivemos tem que ser doada e, por isso e para isso, aqui permanecemos. Até que a obra divina seja concluída e o último véu seja desvelado, para enfim se obter a posse plena e perfeita de uma vida sem fim.

Quanto mais avançamos nesse propósito, mais saboreamos a perfeição de Deus. É como uma investida contínua envolta em períodos de aparente estagnação. Então vem uma nova onda que se projeta ainda mais longe do que a primeira e parece provir de maior profundidade. Nada é tão suavemente impressionante quanto esta projeção da ação divina que se difunde desde o mais íntimo da alma e toma posse até mesmo das suas fronteiras mais extremas com o mundo sensível. Uma oração ardente brota então dos nossos corações: 'Se é verdade, ó meu Deus, que Vos possuo, dá-me a graça de me infundir completamente em Vós!' Parece então como se as mãos pudessem compartilhar de um tesouro interior com graças sem fim. Ó bem-aventurança! 

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

PORQUE NÃO SOMOS UM

A redenção de Cristo é uma herança da misericórdia destinada a toda a humanidade, a todos os homens, de toda raça, língua e nação. Mas, pelo atributo do livre arbítrio, grande parte desta mesma humanidade não apenas revogou contra si essa graça extraordinária, como aliou-se de corpo e alma num mergulho sem volta aos porões do abismo. E a única coisa que move toda essa gente é angariar, sufocar, escravizar e corromper ainda muita mais gente no caminho do desvario absoluto.

Perdemos as referências, o conceito do bem e do mal, a transparência das águas tranquilas. Tudo é movido agora pelo embate, pelo ódio enraizado, pela gana dos sentidos, pelo aviltamento do outro. Nada é mais relativo do que a opinião que não se omite, nada é mais afrontoso do que o pensamento de quem ousa confrontar o vazio. Não somos mais criaturas de Deus em terreno baldio nessa terra de lágrimas, somos semideuses demolidores da própria criação, incluindo nós mesmos.

Tudo isso conforma por completo o que há muito deixamos de agir como criaturas de Deus e vivemos exclusivamente sob a força dos impulsos humanos. O homem passou a querer ser apenas a obra do homem. Na verdade, do homem - tecapto, que, paradoxal em tudo, em vez de nos remeter a uma ancestralidade anêmica, projeta agora todas as suas sombras e tentáculos sobre a crença de que serão apenas névoas e fantasmas que se nutrem de vazios quando já não mais se nutrirem de vida. Respiram e procriam como homens, vivem como homens, morrem como homens - sem Deus.

Deus nos criou como criaturas e como herdeiros do Reino dos Céus. E nos dotou de uma alma - epicentro da sua graça infinita de consolação e amor eterno. A redenção de Cristo é um plano de salvação divina para os homens destinados à eternidade com Deus. Não há meio termo possível entre aquele que presta culto a Deus com aquele que se opõe a Deus; não há caminho comum possível e nem direção certa para quem anda em sentidos opostos; não há rota e nem porto seguro para quem se sustenta nas vertigens de senhores das marés; não há Deus como meta possível onde possam almejar descanso os homens que vivem apenas como homens.

Essa é a distância incomensurável sobre dois abismos - Deus e o mundo dos homens. O ecumenismo é um fantoche sem alma, a irmandade universal é uma falácia gongórica, o grito por uma humanidade única é o estertor do magma. Não somos TODOS, nunca seremos TODOS, nem TODOS serão UM. O que devemos - e como devemos crer nisso! - é que podemos ser MUITOS e, pelos frutos de um apostolado de vida inteira, ainda MUITOS de MUITOS mais.

O maior erro do cristão no mundo é querer ponderar os frutos do seu apostolado com as dimensões do mundo; essa visão anêmica e distorcida da graça divina recai comumente na tibieza, no indiferentismo e na inércia diante de uma missão gigantesca - que, na verdade, é impossível porque não existe. Deus nos pede obras humanas - simples, pequenas, inexpressivas - para fazer novos céus e nova terra. É no barro humano que se constroem as grandes maravilhas de Deus.

Que não se lamente o mal alastrante como fogo em mata seca e nem se corrompa a fé genuína na lama circundante, porque nem TODOS serão UM. A porta é estreita, mas a redenção de Cristo é e sempre será o caminho seguro para MUITOS. Caminho formado por pedras talhadas por obras humanas das criaturas de Deus - apequenadas e aparentemente inúteis. Das minhas obras, das suas obras, das obras de MUITOS.