quinta-feira, 12 de março de 2020

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XLVII)

XXXVI

DO SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA

Que entendeis por celebração do Santo Sacrifício da Missa?
Que o ato pelo qual se efetua o Sacramento da Eucaristia constitui um verdadeiro sacrifício ou imolação ritual, o único da religião católica, cujo culto, com exclusão dos demais, é agradável a Deus (LXXXIII, 1)*.

Por que o ato de que falamos constitui um verdadeiro sacrifício?
Porque consiste na imolação do mesmo Jesus Cristo, única vítima aceita aos olhos de Deus.

Por que é a imolação de Jesus Cristo?
Porque é o sacramento ou sinal da paixão com que o Redentor foi sacrificado no Calvário(LXXXII, 1).

Que entendeis quando afirmais que é sacramento ou sinal da paixão de Jesus Cristo?
Que assim como se separaram realmente o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo quando morreu na Cruz para redimir-nos do pecado, assim também, mediante o ato de consagrar primeiro o pão e depois o vinho, se separam sacramentalmente o Corpo e o Sangue de Cristo.

O que se conclui disso?
Que o sacrifício da missa é o mesmo sacrifício da Cruz.

Pode chamar-se reprodução daquele?
Propriamente, não, Senhor; porque o Sacrifício da Cruz teve lugar uma só vez e não se reproduz, e a missa não é reprodução, mas o mesmo sacrifício.

Pode chamar-se a missa representação do sacrifício da Cruz? 
Se com isso se intenta dizer que é só a sua imagem, não, Senhor, porque é o mesmo sacrifício; se bem que pode chamar-se representação, no sentido de que ele se nos apresenta diante dos olhos, para que de novo o presenciemos.

Como pode, pois, ser o mesmo sacrifício da Cruz, se ele já passou e se, além disso, Jesus Cristo então derramou o seu sangue e morreu e agora nem pode derramá-lo e nem morrer?
Porque da mesma maneira que o próprio Jesus Cristo que está nos céus, sem alteração nem mutação por sua parte, se faz presente na Eucaristia, ainda que com a aparência e forma exteriores das espécies sacramentais, assim também a paixão ou imolação que há tempo teve lugar no Calvário é a mesma que presenciamos no sacrifício, não com exterioridade de martírio cruento como aquela, mas em forma de sacramento; isto é, no altar se nos apresenta, no estado de separação indispensável para que haja sacrifício, o mesmo corpo e o mesmo sangue imolados e, portanto, separados na Cruz.

Logo, onde quer que se celebre o Santo Sacrifício da Missa, verifica-se realmente, ainda que em forma sacramental, o Sacrifício do Calvário?
Sim, senhor.

Logo, assistir à missa equivale a presenciar à paixão de Cristo?
Sim, senhor; equivale a presenciar ao grande sacrifício com que fomos redimidos, donde manam todas as graças e favores divinos, no qual Deus se compraz. Como ato de religião por excelência, é o único que dignamente o honra e o glorifica.

Logo, é este o motivo pelo qual a Igreja recomenda aos fiéis assistirem ao Santo Sacrifício da missa, com a maior frequência possível?
Sim, senhor; por isso não só o recomenda, senão que manda ouvi-la todos os domingos e dias festivos.

Que motivos escusam do cumprimento deste preceito?
A impossibilidade ou um inconveniente grave.

Que condições são necessárias para cumpri-lo devidamente?
Achar-se no lugar em que se celebra, não ter ocupado o corpo nem o pensamento em coisas incompatíveis com a participação em tão augusto sacrifício e não faltar durante os atos principais.

Que entendeis por atos ou partes principais, aos quais não se pode faltar, sob pena de não cumprir com o preceito?
Todos aqueles compreendidos entre o ofertório e a comunhão inclusive.

Qual é o modo mais proveitoso de ouvir a Santa Missa?
O de unir-se ao celebrante e seguir ponto por ponto as preces, ritos e cerimônias.

Logo, é conveniente ter livros litúrgicos para que os fieis a ouçam com maior aproveitamento?
Sim, senhor; e serão tanto mais úteis quanto melhor reproduzam o missal.

XXXVII

DA NATUREZA DO SACRAMENTO DA PENITÊNCIA E DA VIRTUDE DO MESMO NOME

Que entendeis por sacramento da penitência?
Um dos sete ritos sagrados instituídos por Jesus Cristo para restituir aos homens a graça do batismo, se depois dele têm a desgraça de perdê-la pelo pecado (LXXXIV, 1).

Em que consiste?
Em atos e palavras que significam, por parte do penitente, que ele detesta o pecado e, pela do sacerdote, que Deus lhe perdoa por intermédio do seu ministério (LXXIV, 2, 3).

Proporciona este sacramento grandes benefícios ao homem e deve ser, portanto, motivo de especial agradecimento a Cristo Nosso Redentor?
Indubitavelmente que sim porque, dada a fragilidade que afeta a natureza humana, sempre nos achamos em perigo de perder a vida sobrenatural recebida no batismo e, uma vez vítima da culpa, não teria o homem meio sacramental para repará-la e nem sair daquele estado, se Jesus Cristo não tivesse instituído o sacramento da penitência. Por isso se chama segunda tábua da salvação depois do naufrágio (LXXXIV, 6).

Se o homem recai, depois de recebê-lo, pode de novo recorrer a ele?
Sim, senhor; porque Jesus Cristo, compadecido do miserável estado do pecador, não limitou um número determinado as vezes que ele pode recorrer em demanda de perdão, contanto que sincera e lealmente se arrependa (LXXXIV,10).

Existe alguma virtude cujo ato seja indispensável na recepção do sacramento da penitência?
Sim, senhor; a virtude da penitência (LXXXV).

Em que consiste?
Na qualidade sobrenatural que inclina o homem a reparar a ofensa feita a Deus fazendo, livre e espontaneamente, tudo quanto está em suas mãos para satisfazer à justiça divina e, deste modo, obter o perdão (LXXXV, 1, 5).

Necessita a virtude da penitência o concurso de outras virtudes para produzir o seu ato próprio?
Tem esta virtude a propriedade característica de necessitar com o concurso de todas as demais. Pressupõe e requer fé na paixão de Cristo, causa meritória do perdão; implica a esperança na remissão e o ódio ao pecado enquanto se opõe ao amor de Deus que, por sua vez, pressupõe a caridade. Como virtude moral, tem apoio e direção na prudência que, como temos dito, mantém em justos limites os atos de todas as virtudes morais; como espécie da virtude da justiça, já que o seu objeto é obter o perdão de Deus, compensando a ofensa com uma satisfação voluntária; precisa utilizar-se da temperança para abster-se dos prazeres e da fortaleza para impor-se ou, pelo menos, suportar dura satisfação e penitência (LXXXV, 3 ad4).

Que objetivo tem a satisfação na penitência?
Aplacar a ira de Deus, justamente irritado, reconciliar-nos com o mais amoroso Pai, gravemente ofendido e volver à graça do mais amante Esposo, vilmente enganado (LXXXV, 3).

Deve o homem que tem a desgraça de ofender a Deus exercitar-se em frequentes atos da virtude da penitência?
O ato de arrependimento e dor interior de haver ofendido a Deus deverá ser, em certo modo, contínuo; quanto às mortificações e outras obras exteriores satisfatórias, se bem que têm um limite, além do qual não se deve passar, como sempre temos motivos para supor que a nossa satisfação seja incompleta, no nosso interesse está não nos darmos por satisfeitos, para satisfeitos nos acharmos no momento de comparecer ao tribunal de Deus; com mais a vantagem de praticar todas as virtudes cristãs, sempre que nos exercitarmos em atos de penitência (LXXXIV, 8, 9).

XXXVIII

EFEITOS DO SACRAMENTO DA PENITÊNCIA

É efeito próprio deste sacramento perdoar os pecados?
Sim, senhor; naqueles que o recebem com as devidas disposições.

Que pecados se perdoam no sacramento da penitência?
Todos os sujeitos ao poder das chaves [potestas clavium: a Igreja recebeu as chaves do Reino dos Céus para que se opere nela a remissão dos pecados pelo sangue de Cristo e pela ação do Espírito Santo], que são tantos quanto o homem pode cometer depois do batismo.

É possível alcançar o perdão dos pecados sem o sacramento da penitência?
Para obter a remissão dos pecados mortais é indispensável que o pecador tenha vontade ou desejo de submetê-los ao poder das chaves, pela forma e modo que lhe seja possível; para obter perdão dos veniais, suposto o estado de graça, é suficiente um ato fervoroso de caridade, sem recorrer ao sacramento (LXXXVII, 2 ad 2).

Se, obtido o perdão no sacramento da penitência, o homem recai nos mesmos ou outros pecados mortais, revestem-se estes de maior gravidade?
Sim, senhor; não porque de novo se lhe imputem os perdoados, mas porque a recaída agrava os novos com os vícios de ingratidão e desprezo da misericórdia e bondade de Deus (LXXXVIII, 1, 2).

Logo, a ingratidão e desprezo da misericórdia e bondade divinas que a recaída leva consigo, constituem pecado distinto dos demais que se tenham cometido?
Se o pecador propôs e intentou diretamente tal desprezo, sim senhor; caso contrário, são circunstâncias agravantes dos novamente cometidos (LXXXVIII,4).

Imputa Deus ao homem e torna a debitar-lhe os pecados perdoados no tribunal da penitência?
Não, senhor, porque Deus jamais se arrepende dos favores concedidos (LXXXIII,1).

Recobram valor e vida no sacramento da penitência os bens espirituais de que o homem fica privado ao cometer o pecado mortal?
Certamente que sim; recobra, em primeiro lugar, o bem essencial que é a graça e o direito à glória, no mesmo grau em que, antes de pecar, o possuía, se as disposições com que recebe o sacramento equivalem ao antigo fervor e caridade; em maior grau, se são maiores e, em menor, se são menores. O mérito contraído no exercício das virtudes revive íntegro para ser premiado com recompensa acidental (LXXXIX, 1-4; 5 ad 6).

Logo, é importantíssimo receber este sacramento com as melhores disposições?
Sim, senhor; pois, como tenho dito, o fruto guarda com elas uma direta proporção.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)

SOBRE A PROVIDÊNCIA DIVINA

O espírito humano é tão fraco que, quando quer investigar demasiado as causas e razões da vontade divina por mera curiosidade, embaraça-se e enrodilha-se em redes de mil dificuldades, das quais depois não se pode desprender. Assemelha-se à fumaça; porque, subindo, sutiliza-se e, sutilizando-se, dissipa-se. O esforço de querer elevar nossos discursos às coisas divinas por mera curiosidade nos faz apenas dissiparmos em nossos pensamentos e, ao invés de chegarmos à ciência da verdade, caímos na loucura da nossa própria vaidade (Rm 1, 21; 2 Tm 3, 7; Rm 1, 22).

Mas somos sobretudo extravagantes no que concerne à Providência Divina, no tocante à diversidade dos meios que ela nos distribui para nos atrair ao seu santo amor e, pelo seu santo amor, à glória. Porquanto a nossa temeridade nos força sempre a questionar por que Deus dá mais meios a uns do que a outros; por que foi que Ele não fez entre os de Tiro e de Sidônia as maravilhas que fez em Corozaim e Betsaida, já que eles teriam tão bem aproveitado delas e, em suma, por que Ele atrai ao seu amor um mais do que outro (Mt 11, 21). Ó Teótimo, meu amigo, nunca, nunca devemos deixar levar nosso espírito por esse turbilhão de vento louco, nem pensar achar melhor razão da vontade de Deus do que a sua própria vontade, a qual é sumamente razoável, antes a razão de todas as razões, a regra de toda bondade, a lei de toda equidade. 

Ainda que o santíssimo Espírito, falando em vários trechos da Escritura sagrada, dê razão de quase tudo o que poderíamos desejar ao que a sua providência opera na guia dos homens, no tocante ao santo amor e à salvação eterna, em várias outras ocasiões Ele declara que absolutamente não nos devemos apartar do respeito que é devido à sua vontade. Dessa vontade, devemos adorar o propósito, o decreto, o beneplácito e a razão pela qual, como juiz soberano e soberanamente equitativo, não é razoável que se manifeste seus motivos, bastando que fale simplesmente... Ó Senhor Deus, com que reverência amorosa devemos adorar a equidade da Vossa providência suprema, a qual é infinita em justiça e bondade!

... É por isso que o divino apóstolo se manifesta: 'Ó profundeza das riquezas da sabedoria e ciência de Deus! Como são incompreensíveis os seus juízos, imperceptíveis os seus caminhos! Quem conhece os pensamentos do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro?' (Rm 11, 33-34). Exclamação que testemunha que Deus faz tudo com grande sabedoria, ciência e razão. Sendo assim, não podendo o homem compartilhar o divino conselho, cujos juízos e projetos são elevados infinitamente acima da capacidade humana, nós devemos devotadamente apenas adorar os decretos divinos, como muito equitativos, sem lhes investigar os motivos, os quais Ele retém em segredo para consigo, a fim de manter o nosso entendimento em respeito e humildade para conosco.

Santo Agostinho em várias ocasiões ensina esta mesma prática. Diz ele: 'Ninguém vem ao Salvador senão sendo atraído. Quem é que Ele atrai, e quem é que Ele não atrai, por que é que Ele atrai este e não aquele, não queirais ajuizar disto, se não queirais errar. Escuta uma vez e ouve. Não és atraído? Reza a fim de seres atraído. Ao cristão que vive da fé mas não pode ver o que é perfeito, basta saber e crer que Deus não livra ninguém da condenação senão por misericórdia gratuita, por Jesus Cristo Nosso Senhor, e que Ele não condena ninguém senão pela sua justiça infalível, em nome do mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor. Mas saber por que é que Ele livra um e não outro, é sondagem da qual se deve resguardar-se em prudência, pois os seus decretos não são injustos ainda que sejam secretos. 

Vemos, às vezes, crianças gêmeas das quais uma nasce cheia de vida e recebe o batismo; a outra, nascendo, perde a vida temporal antes de renascer para a eterna; uma, por conseguinte, é herdeira do céu e a outra é privada da herança. Ora, por que será que a Divina Providência dá desfechos tão diversos a tão semelhante nascimento? Decerto, pode-se dizer que a providência de Deus ordinariamente não viola as leis da natureza; de tal sorte que, sendo um desses gêmeos vigoroso e o outro demasiado fraco para suportar o esforço da saída do seio materno, este morreu antes de poder ser batizado, e o outro viveu; não havendo assim a Providência querido impedir o curso das causas naturais que, nessa ocorrência, terão sido a razão da privação do batismo naquele que o não teve. 

Certamente esta resposta é bem sólida. Mas, consoante os pareceres de São Paulo e Santo Agostinho, não devemos impor tal consideração que, embora razoável, pode não ser comparável a várias outras que Deus reservou para si e que só nos fará conhecer no paraíso. 'Então', diz Santo Agostinho, 'já não será coisa secreta a razão por que um é elevado de preferência ao outro, sendo igual a causa de ambos; nem por que milagres não foram feitos no meio daqueles que, se milagres tivessem sido feitos entre eles, teriam feito penitência, e foram feitos no meio daqueles que não estavam dispostos a crer'. E esse mesmo santo, falando dos pecadores dos quais Deus deixa um na sua iniquidade e outro não, diz: 'Ora, por que é que Ele retém um e não retém o outro, não é possível compreendê-lo e nem lícito perscrutar tal coisa, pois nos basta saber que depende dEle ficarmos de pé ou não e que tudo isso é oculto e muito distante do espírito humano'.

Eis aí, Teótimo, a mais santa maneira de filosofar neste assunto. Por isto é que sempre achei admirável e amável a sábia modéstia e prudentíssima humildade do doutor seráfico São Boaventura, no discurso que ele faz da razão pela qual a Providência Divina destina os eleitos à vida eterna. Diz ele: 'Talvez seja pela previsão dos bens que se farão por meio daquele que é atraído, enquanto esses bens provêm, de algum modo, da vontade divina; mas saber dizer que bens são esses cuja previsão serve de motivo à divina vontade, nem eu o sei distintivamente, nem quero indagar deles; e não há aí razão a não ser de alguma sorte de conveniência, uma vez que poderíamos dizer alguma razão e ser outra'. 

É por isso que não poderíamos com certeza assinalar a razão verdadeira nem o verdadeiro motivo da vontade de Deus a esse respeito... E uma vez que não é conveniente para a nossa salvação que tenhamos conhecimento desses segredos, e antes nos era mais útil ignorá-los para nos manter em humildade, Deus não os quis nos revelar. E mesmo o santo Apóstolo não ousou inquirir deles, mas testemunhou a insuficiência do nosso entendimento a esse respeito, quando exclamou: 'Ó profundeza das riquezas da sabedoria e ciência de Deus!' (Rm 11, 33). Teótimo, poder-se-ia falar mais santamente de tão santo mistério? 

(Excertos da obra 'Tratado do Amor de Deus', de São Francisco de Sales)

quarta-feira, 11 de março de 2020

A VIDA OCULTA EM DEUS: DESAPEGO DA IMAGINAÇÃO


Um ponto sobre o qual temos de insistir é a educação da imaginação. A imaginação é o porto onde convergem as faculdades superiores e inferiores. Assumir o controle dela é, portanto, de demasiada importância. Porém, isso não se consegue facilmente... é preciso paciência e dar tempo ao tempo. Não temos sobre a imaginação um poder despótico, mas político. Nós a ganhamos pela destreza. Apresentemos a ela boas e santas imagens; deixemo-la livre, se for necessário, vigiando-a. Pouco a pouco, quando as demais faculdades forem ganhas por Deus, esta ficará ao lado delas. 

A regra geral é o age quod agis [faça o que está fazendo, ou seja, concentre-se na tarefa em curso] dos antigos. Acabar com as discussões inúteis sobre o que acabamos de fazer, com as preocupações sobre o que temos que fazer mais tarde. O que temos de vigiar, regular e dominar é que a imagem que estará ao final da ação seja a mesma que estava no início. Nos ater unicamente à imagem do que fazemos, sem acrescentar nada além do que necessário. Que durante este tempo o âmago da alma esteja unido suavemente a Deus. Insistimos muito neste ponto.

Multiplicar as imagens é aumentar o desassossego, dividir as forças da atenção. Durante a ação, não tenhamos na imaginação mais que uma imagem do que fazemos. Na meditação, por outro lado, em lugar de combater as distrações, é mais importante que nos volvemos inteiramente a Deus, indo direto ao encontro com Ele por um movimento vigoroso da alma. 

Ocupai vosso espírito, porém em paz e com paciência. Não dê a ele para moer mais que o bom trigo. E que trabalhe lentamente. As leituras inúteis só servem para fazer a imaginação girar no vazio. Entretanto, os moinhos não foram feitos para girar, mas para moer. A conclusão é fácil de deduzir... 

Para ver melhor os 'harmônicos' entre uma ideia principal e suas ideias correlatas, reduza o som daquela. E diga a si mesmo: 'eu aumento, eu exagero'.

Não deis ouvido ao rumor que se forma em vossa alma, isso é, no mínimo, perder tempo. A terra vai continuar girando. Procurai viver à maneira das almas desapegadas, unindo-se a Deus no mais íntimo da vossa alma. Não espereis o dia de amanhã para concluir vossos trabalhos e obras: fazei-o agora mesmo. 

Vigiai com rigor vossas origens e vossos pontos de partida, tais como se fiscalizam os alicerces de uma fundação. Pois sem isso, e pela lógica, podeis construir todo um edifício sobre a areia, sem ponto de apoio, solto no ar. E sabeis o que iria suceder... a menos que as conclusões a que chegueis vos advirtam por si mesmas que haveis errado o caminho...

No repouso, desfazei impiedosamente de todos os devaneios imaginativos assim que vislumbrá-los. Dai a Deus a fidelidade de ocupar-vos apenas dEle e recebereis, então, a graça para fazer o que for necessário e resolver os problemas pendentes. 

Existem períodos nos quais é muito difícil fazer parar a 'roda do moinho'; é preciso saber suportar estas importunações da imaginação. Não reclameis então a Deus, mas volvei suavemente até Ele as faculdades superiores. É o mais seguro e, inclusive, mais fácil. Velar sobre a saúde e a moderação em tudo ajuda muito. Pois, na frágil natureza humana, tudo está relacionado. 

É muito importante evitar tudo o que nos agita, inquieta e perturba. Em quem descansará o Espírito senão sobre os humildes e os pacíficos? Temos muita necessidade do Espírito Santo! Tenhais em conta que a imaginação deve ser sempre temida e vigiada ainda que não esteja sempre necessariamente errada.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte I -  O Esforço da Alma; tradução do autor do blog)

segunda-feira, 9 de março de 2020

DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA (II)


ALTAR

É a mesa sobre a qual se faz o sacrifício da Missa. Pode ser fixo ou portátil. É fixo, se a mesa é uma só pedra, embora o suporte seja de alvenaria; é portátil, se sobre a mesa de alvenaria ou de madeira, é colocada uma pedra chamada pedra-de-ara, que é consagrada pelo bispo e contém relíquias de um santo mártir numa cavidade coberta e cimentada. Para a celebração da Missa o altar há-de estar coberto com três toalhas de linho, devendo a toalha superior tocar com as extremidades laterais no chão; há-de ter um crucifixo bem visível no meio, com duas velas de cera em castiçais aos lados. Sobre o altar não se deve pôr coisa alguma que não seja necessária para o Sacrifício da Missa ou que não sirva para ornato do mesmo altar. É uso colocar sobre a parte posterior do altar um degrau ou banqueta, na qual se põem os castiçais, o crucifixo e as flores; embora estas sejam permitidas como ornamento, não se deve esquecer que o melhor ornamento do altar é a limpeza e o asseio. O altar deve ter um supedâneo, isto é, deve haver junto ao altar um estrado do comprimento do mesmo e bastante largo para o celebrante da Missa poder fazer a genuflexão sem pôr o pé fora. O altar em que se conserva o Santíssimo deve ser o mais ornamentado de todos, para que o mesmo, desta forma, excite a devoção e piedade dos fieis. Não pode o crucifixo ser colocado diante da porta do sacrário, nem sobre o trono em que se costuma expor o Santíssimo na custódia. É proibido colocar sobre o altar outro lume que não seja o de cera. Com consentimento do bispo, pode colocar-se a imagem do Coração de Jesus por detrás do sacrário, mas é preferível que fique ao lado, se for possível. Sem licença do bispo, não é permitido colocar de novo, na igreja, quaisquer altares, imagens de santos ou transferir de lugar, uns e outros, nem abrir nichos nas paredes, destinados a imagens de santos. 

ALVA 

É uma veste de linho ou cânhamo, que o sacerdote põe sobre a batina em algumas funções litúrgicas, cobrindo-a totalmente. Pelo seu comprimento e brancura, a alva recorda ao sacerdote a perseverança nas boas obras, a gravidade que deve acompanhar as funções sagradas e a pureza com que deve subir ao altar. A alva era uma veste de dignidade entre a nobreza romana. A Igreja adotou-a porque não existe dignidade igual à do sacerdote. A alva deve ser benzida antes de começar a ser usada.

ANÁTEMA

É a pena de excomunhão aplicada solenemente pela Igreja ao cristão por algum crime grave que pratica. O cristão anatematizado fica excluído da comunhão dos bens espirituais da Igreja.

ANJOS 

São espíritos sem corpo criados por Deus para o louvarem, servirem, amarem e gozarem por toda a eternidade. Muitos, porém, tornaram-se soberbos, e Deus expulsou-os para o inferno, onde sofrem eternamente o castigo do seu pecado. A existência dos anjos é, muitas vezes, afirmada na Sagrada Escritura. A respeito dos anjos que pecaram, disse Jesus Cristo: 'Retirai-vos de mim, malditos, para o fogo do inferno que está preparado para o diabo e para os seus anjos' (Mt 25, 41). Quanto aos anjos fieis, disse: 'Os meus anjos vêem sempre a face de meu Pai que está nos Céus' (Mt 18, 10). Os anjos do Céu — anjos bons — protegem os homens contra muitos males, e cada pessoa tem um Anjo da Guarda, ao qual deve recorrer todos os dias, invocando-o em seu auxílio, para que o livre de cair em tentação e de ser vítima de algum perigo. Por isso devemos invocá-los e amá-los. Os anjos do inferno — anjos maus ou demônios — são inimigos da nossa alma, tentam-nos para o pecado afim de cairmos no inferno. Por isso devemos estar vigilantes contra a tentação e desprezá-la. 

ANTICRISTO

Nome pelo qual é designado aquele que será o chefe de todos os maus em malícia completa e cuja vinda, segundo o pensar dos teólogos, é um dos sinais do fim do mundo. O Apóstolo São Paulo chama-o de 'o homem do pecado', filho da perdição, que suscitará contra a Igreja a maior de todas as perseguições; que fará milagres falsos e aparentes, com os quais muitos hão-de ser enganados; que se assentará no templo de Deus, ostentando-se como se fosse Deus. Mas Jesus Cristo o matará com o sopro da sua boca e o destruirá com o esplendor da sua vinda (II Ts 2, 8). O Anticristo virá um pouco de tempo antes do fim do mundo e depois que o Santo Evangelho tiver sido pregado em todo o mundo e a todos os povos da terra (Mc 13). 

APOCALIPSE

É o último livro do Novo Testamento e, com ele, terminam as Sagradas Escrituras. Foi escrito pelo Apóstolo São João quando esteve degredado na ilha de Patmos, por ordem do imperador Domiciano. O Apóstolo prediz que a Igreja triunfará após o reinado do Anticristo e, como diz São Jerônimo: 'compreende tantos mistérios quantas são as suas palavras'. 

APÓCRIFOS

São os livros que certos autores consideram como inspirados pelo divino Espírito Santo, dando-lhes a mesma autoridade que aos Santos Evangelhos, mas que a Igreja não admite no número dos livros sagrados do Novo Testamento.

(Verbetes da obra 'Dicionário da Doutrina Católica', do Pe. José Lourenço, 1945)

domingo, 8 de março de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Deus nos salvou e nos chamou com uma vocação santa, não devido às nossas obras, mas em virtude do seu desígnio e da sua graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, desde toda a eternidade. Esta graça foi revelada agora, pela manifestação de nosso Salvador, Jesus Cristo
(II Tm 1, 9-10)