sexta-feira, 6 de março de 2020

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


MEDITAÇÕES PARA A SEGUNDA SEXTA-FEIRA DA QUARESMA

DA TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR


I - POR QUE NOSSO SENHOR ESCOLHEU, PARA TRANSFIGURAR-SE, UM LUGAR AFASTADO DO MUNDO?

Nessa escolha, Nosso Senhor quer nos ensinar que não é no meio do mundo e das obrigações mundanas que Deus se manifesta à alma e a faz passar das misérias do homem velho ao esplendor e às virtudes do homem novo. Para se ver a Deus, para ouvi-lO, e ser transformado pela Sua Graça, a primeira condição que se exige é o recolhimento interior, ou seja, a serenidade da alma protegida do tumulto das criaturas e aberta somente à Deus e às Suas divinas inspirações, a paz do despojamento sob o olhar de Deus.

À medida que nos deixamos levar pela dissipação do espírito, das divagações da imaginação, das preocupações mundanas, dos apegos do coração, do tumulto dos pensamentos inúteis; quando, enfim, não vivemos retirados somente no recolhimento do nosso coração, Deus não Se mostrará a nós e nos será tão somente o 'deus desconhecido' de Atenas. 

Sua bondade e perfeições infinitas não nos enternecerão; não vamos amá-lO e nem teremos desejo algum de amá-lO. Estranhos para Deus, não seremos menos estranhos para nós mesmos; não nos conhecemos e não encontraremos nada para sermos corrigidos, nada para se alterar, nenhuma razão para humilharmos, mortificarmos ou renunciarmos; e toda a nossa vida se passará no esquecimento de Deus e na ignorância sobre nós mesmos. Ó dissipação, quanto mal fazes à alma! Ó santo recolhimento, quão necessário és! Conduzi-me , Senhor, ao recolhimento, tal como a vossos apóstolos, e tende ali sempre encerrados o meu espírito e o meu coração.

II - POR QUE NOSSO SENHOR ESCOLHEU, PARA TRANSFIGURAR-SE, UM ALTO MONTE?
     
Este lugar elevado, de onde os apóstolos podiam dominar os lugares nos quais viviam, significa que, para desfrutar de Deus, para merecer a graça e santificar-se, é necessário ter um coração elevado acima de todas as coisas sensíveis, um coração maior e mais elevado que o mundo; é preciso recalcar tudo o que antes nos atraía. Enquanto possamos ter aqui algum apego, enquanto houver na terra um objeto de nossa predileção, vamos apenas nos arrastar miseravelmente pelos mesmos caminhos e vagar no labirinto de nossas misérias, em vez de avançar nos caminhos da virtude; definhando em vez de viver e nos fortificar.

Mesmo que a nossa alma tivesse as asas de uma pomba que anseia voar ao encontro de Deus, enquanto se mantiver apegada ao mundo, ainda que seja por um fio, não vai fazer mais do que lutar e se revolver penosamente em torno do que a detém, sem nunca alçar voo. Por outro lado, se esta alma conseguir, enfim, se libertar de suas amarras e se deixar conduzir por Nosso Senhor até o cume da montanha e, ali, recalcar sob os pés todos os apegos vãos que amava, de pronto ela há de progredir na perfeição. Em um único dia e, com menos trabalho, há de avançar nessa caminhada mais do que teria feito durante todo o tempo que arrastava consigo os pesos que a sujeitavam.

Nisso, nada há que possa retardar a sua caminhada, nada há que possa turbar ou distrair a sua marcha; mas ela há de avançar livremente, como diz a Imitação de Cristo: 'Quem é mais livre do que aquele que nada deseja sobre a terra?' Se não quisermos buscar tudo o que lisonjeia a vaidade, tudo que mantém a debilidade, tudo que incita a curiosidade, as inutilidades que divertem e os modismos que distraem os homens tíbios, é preciso renunciar à paixão do prazer e do gozo e não se apegar demasiado às comodidades da vida; é preciso satisfazer as necessidades mundanas com discernimento, não dar valor às coisas mais do que o necessário e não usá-las, por assim dizer, mais que ligeiramente e de pronto, tal como o fazia os soldados de Gideão ou como Jônatas, que tomou o mel por meio da ponta de sua lança, sem se submeter.

Acima de tudo, é preciso nos desprendermos de nós mesmos, de nossos gostos, de nossa honra, de nossa própria vontade e de suas fantasias, de nosso amor próprio e de sua ambição, que busca participar de tudo o que se diz e encontrar tudo o que se faz: é preciso romper com os cuidados excessivos com a saúde, que nos torna sensíveis e difíceis de agradar, sobretudo no que contraria e mortifica os sentidos; enfim, impõe-se elevar-se acima de nós mesmos e, sob pena de nos perdermos, esvaziar o coração de tudo o que não é de Deus. Como nos encontramos neste desprendimento universal? Isto é muito mais grave do que se pensa. Pensemos nisso seriamente e trabalhemos a cada dia para torná-lo cada vez mais realidade.

(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II).
(hoje é dia de indulgência plenária pela Igreja)

quinta-feira, 5 de março de 2020

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

Grandes homens são aqueles que, pela elevação, profundidade e extensão do seu gênio, abraçam imensos horizontes no mundo da verdade; aqueles que conhecem as ciências, os homens e as coisas não superficialmente, mas em seus princípios, em seus fins e em sua natureza íntima; aqueles que conhecem não só a matéria, mas também o espírito que é indizivelmente superior à matéria; aqueles que não só conhecem o homem, mas também o anjo; não só a criatura, mas também o Criador; homens que sabem não só o que existe aquém do túmulo, mas também o que deve existir além dele; conhecem não um ou outro fato isolado, mas o conjunto dos fatos; não uma lei isolada mas todo o sistema da criação, donde fazem sair inesperadas e luminosas aplicações para o bem da humanidade. Eis o gênio, eis o Pai da Igreja. Por mais célebres que sejam as notabilidades atuais em química, em física, em mecânica ou na indústria, eles nem são gênios e nem grandes homens. O homem que não abrange com sua vista mais que uma lei secundária da harmonia universal, não merece o nome de gênio; porque, não dizemos ser um grande músico ao que não sabe tirar senão um único som de seu instrumento, mas àquele que harmoniosamente faz soar nele todas as cordas.
(Monsenhor Gaume)

quarta-feira, 4 de março de 2020

A VIDA OCULTA EM DEUS: A DESORDEM E A LUTA


Por uma desordem, consequência do pecado original, cada faculdade, diz São Tomás de Aquino, busca seu bem próprio sem ocupar-se do bem comum, ainda que o conjunto possa perecer. Acontece então como quando se torna preciso domar uma manada de feras; o que não se consegue senão com o chicote e sem perdê-las de vista. E se algumas carecem de domínio sobre si mesmas, sobretudo no princípio, eis então uma jaula de feras. Não as menosprezeis sob o pretexto de dominá-las a chicotadas porque não conseguirás. Descartai tais armadilhas e elevai-vos até Deus. Como poderíeis fazer isso? É um segredo, porém o Espírito Santo vos ensinará. 

Além disso, o inimigo espreita ao redor das almas. E aquelas que se lhe escapam e se esforçam em servir a Deus lhe são particularmente odiosas. Para perturbá-las, tenta de tudo. Quer impedir que deem frutos. E para isso ataca as flores assim que brotam. Pois cada flor que cai antes do tempo é um fruto perdido para a colheita. E cada bom pensamento apagado pelo medo, cada bom desejo sufocado pelo temor, são outras tantas flores estéreis. O demônio sabe disso. E por isso excita na alma esses mil pequenos surtos incômodos e pensamentos de tola vaidade, de suscetibilidade invejosa, de impaciência enraivecida, de avidez caprichosa que molestam, inquietam, paralisam, intimidam e que acabam por dividir simultaneamente a atenção do espírito e a aplicação da vontade. Deus, por outro lado, jamais está na perturbação e na inquietude. Por estes sinais reconheceis que estes pensamentos não são dEle. O demônio é bastante sutil em perturbar as vidas de alma interior!

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte I -  O Esforço da Alma; tradução do autor do blog)

domingo, 1 de março de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Por um só homem, pela falta de um só homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça. Como a falta de um só acarretou condenação para todos os homens, assim o ato de justiça de um só trouxe, para todos os homens, a justificação que dá a vida. Com efeito, como pela desobediência de um só homem a humanidade toda foi estabelecida numa situação de pecado, assim também, pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça' (Rm 5, 17-19)