quarta-feira, 11 de outubro de 2017

terça-feira, 10 de outubro de 2017

CONFIANÇA E ESPERANÇA EM DEUS

✓ Arme-se contra mim o céu, amotinem-se a terra e os elementos; declarem-me guerra todas as criaturas; nada temo; basta-me saber que estou com Deus e que Deus está comigo. 

✓ Nunca nosso bom Deus nos abandona senão para melhor nos reter. Nunca nos deixa senão para nos guardar melhor; nunca luta conosco, senão para se entregar a nós e nos abençoar. 

Como seríamos felizes se, submetendo nossa vontade a Deus, O adorássemos quando nos envia tanto tribulações quanto consolações, crendo que os diversos sucessos que nos envia a sua divina mão são para utilidade nossa, para nos purificar na sua santa caridade.

Ruja, pois, a tempestade; não morrereis porque estais com Jesus. Se vos assaltar o temor, gritai: Ó meu Salvador, salvai-me! Dar-vos-á a mão; apertai-a e ide, contentes sem filosofar sobre o vosso mal. Enquanto São Pedro confiou, não o submergiu a tempestade; mas quando temeu, afogou-se.

O temor é um mal ainda maior do que o próprio mal. Quanto a mim, há ocasiões em que me parece não ter mais força para resistir, e que, se se apresentasse a ocasião, sucumbiria; mas então mais confio em Deus, e por mais certo tenho que em presença da ocasião Deus me revestiria com a sua força e devoraria os meus inimigos como argueiros.

Sirvamos, pois, hoje a Deus e Ele amanhã providenciará. Cada dia terá seu cuidado, pois, Deus, que reina hoje, reinará amanhã. Ou não vos enviará males, ou se vos enviar, dar-vos-á a coragem precisa para os suportar. Se sois tentados, não desejeis ser livres das tentações. É bom que as experimentemos, para termos ocasião de as combater e colher vitórias. Isto serve para praticar as virtudes mais excelentes e estabelecê-las solidamente na alma.

Para caminhar seguramente nesta vida, é preciso caminhar sempre entre o temor e a esperança; entre o temor dos juízos de Deus, que são abismos impenetráveis, e a esperança da sua misericórdia, que é sem número e sem medidas, ultrapassando todas as suas obras. É preciso temer os seus divinos juízos, mas sem desânimo, assim como se animar à vista da sua misericórdia. 

✓ O nosso primeiro mal é que nos temos em grande apreço, e se nos acomete algum pecado ou imperfeição, eis-nos admirados, confusos, impacientes, porque pensávamos estar bons, resolutos e tranquilos; e, portanto, quando vemos que não é assim, quando caímos por terra, eis-nos perturbados e ofendidos de nos deixarmos enganar. Se soubéssemos o que somos, em lugar de nos admirar de cairmos, admirar-nos-íamos estar de pé um só dia ou uma só hora.

✓ Esforçai-vos por fazer com perfeição o que fizerdes, e quando estiver feito, não penseis mais nisso; mas pensai no que tendes para fazer, caminhando com singeleza na via do Senhor, sem atormentar o espírito. Convém odiar os defeitos, não com um ódio cheio de despeito, mas com um ódio tranquilo; olhai-os com paciência e fazei-os servir para vos humilharem na vossa estima. Considerai os vossos defeitos com mais dó do que indignação, mais humildade do que severidade, e conservai o coração cheio de um amor doce, sossegado e terno. 

✓ É comum nos que começam a servir a Deus e que ainda não têm experiência da carência da graça e das vicissitudes espirituais, que, quando lhes falta o gosto desta devoção sensível e desta amável luz que os encaminhava nas vias do Senhor, logo perdem as forças e caem em uma grande tristeza e pusilanimidade de coração.

(Excertos da obra 'Pensamentos Consoladores', de São Francisco de Sales)

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

HISTÓRIAS QUE OUVI CONTAR (XVIII)

Há muitos anos, num reino distante, vivia um rei muito poderoso e cujo reinado se estendia muito além do alcance de sua visão. Este rei tinha quatro esposas*.

A quarta esposa era, de longe, quem o rei amava mais. Ela era de uma beleza singular e para ela o rei devotava a maior parte do seu tempo, cobrindo-a e cercando-a com as túnicas mais valiosas, as jóias mais resplendentes e as iguarias mais tentadoras. Para ela, dirigiu sempre o que podia ter mais do que tudo, e para ela destinava nada além do que existia de melhor.

O rei amava muito também a sua terceira esposa. Ela era a mais deslumbrante de todas e o rei ficava eufórico quando a ostentava junto consigo, nas cerimônias oficiais ou em viagens a outros reinos. Mas o rei tinha um certo ciúme desta esposa e, assim, a cobria de agrados e cuidados no temor de que pudesse vir a perdê-la.

Em relação à segunda esposa, o rei a amava de uma forma muito terna e especial. Não era a mais bela e nem a mais deslumbrante das esposas, mas nenhuma delas se equiparava a esta em termos de uma ouvinte interessada, confidente extremada, sincera amizade. Em todos os momentos conturbados, em todas as decisões difíceis, era à segunda esposa quem o rei devotava toda atenção e zelo afetivo.

O rei convivia com a primeira esposa, mas seria forçoso demais dizer que ele a amava. Ela não tinha a beleza, nem o esplendor, nem o discernimento das demais esposas. É verdade que ela estava sempre presente, e que nunca pleiteara coisa alguma para si. Mas essa humildade e esse escondimento não agradavam o rei, pois estes definitivamente não combinavam com as suas regalias de honras e poder. A quarta esposa era apenas formal, e o rei não lhe dava atenção maior do que saber que ela existia e que convivia com as suas demais esposas.

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Chegando à velhice, coberto de honrarias e louvores, o rei veio a adoecer gravemente de uma doença desconhecida e muito contagiosa. A certeza da morte iminente se apoderou dele e, com maior temor ainda, se defrontava com a ideia de morrer daí a pouco e sozinho. Que lhe adiantava agora tantos reinos e súditos, posses e domínios? Nada. O que lhe restava de verdade no último suspiro de vida - assim pensou - eram as suas amadas esposas.

Mandou, então, que lhe chamassem a quarta esposa, a mais bela, a mais amada. Mas quem lhe apareceu foi uma criada para lhe dizer: '- A rainha está ocupada em preparar-vos novas iguarias e não poderá estar em vossa presença neste momento'. A resposta da amada atingiu o rei como uma punhalada no coração. Mandou, então, que chamassem a segunda esposa, sua musa esplendorosa. E, novamente, foi a criada quem lhe deu a resposta da segunda esposa:  'Infelizmente não posso, meu senhor, que esplendor pode existir em ficar ao lado de um leito de morte?' Uma segunda punhalada o atingiu no coração.

A terceira esposa! 'Mandem que ela venha me ver imediatamente e fique comigo', ela que tantas vezes me devotou atenção e acolhimento! E eis que, mais uma vez, a criada se aproxima do leito de morte para anunciar ao rei: 'Ela não pode estar ao vosso lado agora, porque os médicos assim o recomendaram, pois a vossa doença é muito contagiosa'. Uma terceira punhalada o atingiu no coração.

Desconsolado e roído nos estertores do fim, o rei clamou pela primeira esposa, sem expectativa nenhuma, sem maiores consolos. E, mal tendo feito a solicitação, eis que diante dele se prostra a primeira esposa, objeto de sua desconsideração de uma vida inteira. É ela que toma nas suas as mãos do rei, é ela que o consola nos últimos momentos, é ela que permanece com ele até o seu último suspiro, é ela que o perdoa sem lhe exigir o gesto de perdão.

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Na verdade, todos nós somos reis e temos quatro esposas na vida. A nossa quarta esposa é o nosso corpo. A ele damos tudo e por ele tudo fazemos, no afã de satisfazer os seus caprichos e os seus desejos. Mas não importa o que façamos, a nossa consciência - a criada dos avisos - vai nos lembrar que ele será a primeira coisa que vamos perder na hora da nossa morte. 

Nossa terceira esposa são os nossos bens, status e riqueza. Que buscamos com tanta ânsia a vida toda, e que nos encheram de júbilo e ostentação diante dos outros, que nos levaram a posições dominadas pelo brilho fácil do orgulho, da vaidade, das honrarias que passam. A consciência vai nos alertar: quando você morrer, de que lhe servirá todos estes valores mundanos?

A nossa segunda esposa é a nossa família e os nossos amigos. Não importa o quanto eles estiveram ao nosso lado nesta vida, eles não poderão ser solidários conosco na passagem da morte. Nós estaremos sozinhos. A única coisa que ainda vamos ter conosco - a primeira esposa - é a nossa alma, justamente a esposa que teremos mais negligenciado e deixada no ostracismo, ainda que sempre estivesse conosco, sem nos abandonar sequer um único instante. Portanto, cultive, fortaleça e ame profundamente a sua primeira esposa - a sua alma - porque ela será a única a estar contigo na sua morte e a única que continuará fielmente ao teu lado por toda a eternidade!

(texto de autor desconhecido, reescrito e adaptado pelo autor do blog)

* na verdade, trata-se uma outra readaptação de um texto similar ao publicado em 'Histórias Que Eu Ouvi Contar' (XIV) neste blog.

domingo, 8 de outubro de 2017

A PARÁBOLA DOS VINHATEIROS HOMICIDAS

Páginas do Evangelho - Vigésimo Sétimo Domingo do Tempo Comum



O Evangelho deste domingo apresenta mais um evento relativo aos enfrentamentos públicos de Jesus com os mestres da lei e os anciãos do Templo, na terça-feira santa, logo após o júbilo messiânico vivido pelo povo de Jerusalém naquele Domingo de Ramos. Nenhum outro apóstolo detalhou, com maior precisão e rigor, estes últimos acontecimentos que antecederam a Paixão e Morte de Nosso Senhor, do que São Mateus.

Àqueles homens duros de coração, letrados nos textos das Sagradas Escrituras e sabedores por excelência que 'a vinha do Senhor é a casa de Israel' (refrão do salmo 79), Jesus vai proclamar a perda e a devastação desta vinha, que será abandonada pelo seu dono e deixada à mercê das sarças e dos espinhos que a tornarão 'inculta e selvagem' (Is 5, 6). E que, mais além, será restaurada e tornada cultura de raro louvor porque 'o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos' (Mt 21, 43). Trata-se de um testemunho explícito de que o juízo de Deus extrapola apenas o plano individual, mas alcança a dimensão de povos e nações e, portanto, de toda a humanidade por gerações.

A vinha do Senhor foi preparada, cercada, cuidada com zelo; depois, arrendada a vinhateiros para que dela cuidassem com o mesmo esmero e dela produzissem muitos frutos bons. Mas eis que estes maus zeladores corromperam a obra de Deus e produziram na vinha apenas frutos de injustiça e de iniquidade. Sabedores dos suas omissões e desvarios, e ensandecidos pela cobiça e pelo orgulho, fazem morrer não apenas os enviados do Senhor (os grandes profetas), mas o próprio filho do Senhor da vinha. Diante de passagens tão explícitas àqueles tempos e àqueles personagens, estes não parecem perceber que resumem a própria condenação nas suas próprias palavras: (o senhor da vinha) 'mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo' (Mt 21, 41).

Nesta parábola Jesus nos interpela, a cada um de nós, a zelar pela vinha que somos, com zelo extremado de salvação eterna, fugindo das ciladas das vaidades e do orgulho humano dos vinhateiros homicidas. Não podemos matar em nós o puro amor cristão, não podemos matar os dons recebidos e as virtudes do coração, não podemos matar a graça santificadora do batismo, não podemos matar em nós a herança do Reino de Deus; mas devemos nos ocupar 'com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor' (Fl 4, 8) porque, nas vinhas do Senhor, somente florescem as videiras que produzem frutos de vida eterna.

sábado, 7 de outubro de 2017

GLÓRIAS DE MARIA: NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

A palavra Rosário vem do latim Rosarium, que significa 'Coroa de Rosas'. Nossa Senhora é a Rosa das rosas, Rainha das rainhas, sendo chamada, então, Rosa Mística (como é invocada na Ladainha Lauretana), Rainha das Rosas de todas as devoções, Nossa Senhora do Rosário. Se, a cada Ave Maria, adorna-se a Mãe de Deus com uma rosa espiritual, o Rosário adorna Maria com uma Coroa de todas as Rosas.

O Santo Rosário é a oração mais perfeita e o instrumento mais poderoso que nos é concedido pela Divina Providência para vencer o pecado e as tentações diabólicas. Com o rosário, recordamos o memorial da Paixão de Jesus Cristo e meditamos os mistérios de gozo, dor e glória de Jesus e Maria. Pelo Rosário, a terra se une aos céus, e nós a Nossa Senhora, no louvor ao Senhor nosso Deus. Com o Rosário, alcançamos a paz de coração e a salvação eterna da alma. Pelo Rosário, obtemos a remissão pela culpa e pela pena dos nossos pecados, tornamo-nos herdeiros dos méritos infinitos da Paixão de Jesus e invocamos sobre nós e nossas famílias as graças extraordinárias da Misericórdia Divina. 

A origem do Rosário é antiga, mas se formalizou por meio de uma famosa aparição de Nossa Senhora a São Domingos de Gusmão. No seu ferrenho combate e conversão dos seguidores da seita herética dos albigenses, São Domingos defrontou-se com terríveis dificuldades e perseguições, devido à dureza espiritual daquelas almas. Retirou-se, então, em oração, para um lugar ermo situado nos arredores de Toulouse e suplicou a intercessão da Virgem Maria para os bons propósitos de tão dura missão. 

As suas preces extremadas foram atendidas e o santo recebeu uma aparição de Nossa Senhora que lhe entregou o Rosário (também chamado Saltério de Maria, em referência aos 150 salmos de Davi), ensinando-o como rezá-lo e assegurando ser esta a arma mais poderosa para se ganhar as almas para o Céu. Este evento, respaldado por numerosos documentos pontifícios, é narrado na obra 'Da Dignidade do Saltério', do Bem-Aventurado Alain de la Roche (1428 – 1475), célebre pregador da Ordem Dominicana. Com o Rosário em punho, São Domingos pregou incansavelmente na França, Itália e Espanha a devoção que a própria Senhora do Rosário lhe havia ensinado, convertendo os hereges e os tíbios, e erradicando por completo naqueles países a heresia albigense.


Graças, louvores e indulgências sem conta estão associadas à oração devota do Santo Rosário. Rezai-o sempre, rezai-o todos os dias! O maior milagre que o Rosário pode nos proporcionar é nos fazer plenamente dignos das promessas de Cristo e nos elevar de criaturas humanas na terra a herdeiros diretos do Céu ainda nesta vida.

PRIMEIRO SÁBADO DE OUTUBRO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

EXERCÍCIOS DO AMOR DIVINO A JESUS (Parte III)

34 exercícios de amor a Jesus, propostos por São João Eudes, em honra e devoção aos 34 anos de sua vida; um ano no ventre de Maria e 33 de sua vida nesta terra.




PARTE III

18. Ó meu querido Jesus, quão amável sois Vós e quão pouco se Vos ama. O mundo não pensa em Vós e, assim, também não Vos ama; não se pensa senão em Vos ofender e a perseguir aqueles que Vos amam. Que eu, ao menos, pense em Vós e queira amar somente a Vós! Quem me dera poder amar-Vos em nome de toda a humanidade a fim de expiar a indiferença geral de tantos homens ingratos!

19. Ó Filho eterno do Pai, amável e amoroso, que se dispusestes a me amar desde toda a eternidade, razão pela qual também eu, se houvera existido eternamente, deveria também eternamente Vos amar. Não sendo isso possível, justo seria então amar-Vos desde que alcancei o uso da razão. Mas, ai de mim, bem mais tarde comecei a amar-Vos e, ainda pior, não me atreveria assegurar-Vos agora de que já Vos amo como deveria. Deus eterno que, em Vossa eternidade, nunca deixastes de me amar por um só momento, confesso que ainda não sei se ainda hoje sou capaz de Vos amar dignamente um só momento; o que sei com certeza, eivado de contrição e arrependimentos, é que não deixei nem um único dia de Vos ofender. E por que não morro de pesar e não se desfaz em mil pedaços o meu coração indigno ao mergulhar nesta minha incompreensível ingratidão? E como meus olhos permanecem insensíveis e indiferentes diante de tal tragédia espiritual, quando deveriam verter um mar de lágrimas, e lágrimas de sangue, para deplorar e estancar minha inexplicável ingratidão para com Vossa bondade infinita? Ó amor de Jesus, não quero mais ingratidão, nem mais ofensas, nem mais pecados, nem mais infidelidades para com Vós, que sois todo bondade e puro amor!

20. Ó amor eterno, desde a eternidade o Pai e o Espírito Santo Vos amam, amor do qual me alegro imensamente. Eu me uno e me desvaneço neste abismo de amor que o Vosso Pai e o Divino Espírito professam a Vós desde toda a eternidade!

21. Ó beleza eterna, ó bondade eterna, se tivesse eu neste mundo uma eternidade para amar-Vos, certamente nesse amor me demandaria por inteiro; não sendo assim, e me cabendo apenas os anos que me restam viver, com esforço ainda maior devo consagrar-me ao Vosso santo amor. Fazei que eu viva senão para amar-Vos e que não perca de vista o cumprimento deste santo propósito em nenhum instante da minha vida. Ou morrer ou amar, e mais nada... fazei que eu Vos ame eternamente e, aconteça o que acontecer, que desde agora eu seja parte deste amor oferecido a Vós por toda a eternidade. Ó eternidade de amor, ó meu Jesus tão querido, que eu seja cortado, queimado, feito pó e sujeito a sofrer outros mil tormentos nesta vida, se isso for da Vossa vontade, contanto que eu Vos possa amar por meio deles pelos séculos dos séculos!

22. Ó Rei dos séculos e dos tempos, ó Amor da minha alma, que resgatastes com o Vosso sangue todos os momentos da minha vida para Vos amar, o que tenho feito a não ser empregar o meu tempo a amar a mim mesmo, as coisas do mundo e as criaturas, desperdiçando assim um tempo precioso comprado por um preço tão elevado! É mais que tempo, ó meu Jesus, que eu passe a Vos amar de verdade, colocando toda a minha vida neste santo exercício, como se não existisse no mundo senão eu e Vós e como não houvesse mais nada a fazer senão pensar em Vós, em amar-Vos, em falar-Vos de coração para coração, sem me preocupar com o que acontece à minha volta, com o meu espírito tomado por inteiro no anelo insaciável de Vos amar cada dia mais e mais. Ó meu Jesus, inspirai em mim este desejo e tornai-o tão ardente e abrasador que se converta num anseio de puro e constante amor pela Vossa divina paixão, em querer sempre Vos servir, em Vos procurar noite e dia sem desfalecer. Convertei-me, ó meu Jesus, em um incêndio de amor pulsando de amor por Vós!

23. Com que imenso amor, ó meu Jesus, cobristes os céus e a terra e o derramastes em todos os lugares e sobre todas as Vossas criaturas, amor sem medida e infinitamente digno de ser amado. Um amor infinito que, em todo lugar, dedicais ao Vosso Pai e Vosso Divino Espírito e que, com o mesmo amor, sois correspondido por eles, o mesmo amor inesgotável com que me amais e amais a todas as criaturas em todos os lugares. Concedei-me a graça de corresponder a este Vosso amor com fervor renovado a cada dia. Neste propósito, unido e conformado à Vossa Divina Majestade, elevo o meu espírito e a minha vontade a todos os lugares e aos confins do universo para, assim, poder amar-Vos, glorificar-Vos e adorar-Vos infinitas vezes pelos méritos do Vosso próprio amor e também do amor do Vosso Pai e do Espírito Santo, manifestado em todos os lugares e sobre todos os seres que se encontram no céu, na terra e até no inferno.

24. Ó bondade infinita, seria necessário para amar-Vos dignamente dispor-se de um amor infinito; quanta alegria e felicidade o meu coração experimenta ao saber que sois, ó meu bom Jesus, tão bom e tão amoroso que, ainda que todos os seres do céu e da terra se unissem por toda a eternidade, para expressar conjuntamente nosso amor por Vós, isso ainda não seria suficiente. Somente Vós, com o Pai e o Espírito Santo, podeis amar-Vos como mereceis com um amor verdadeiramente infinito!

25. Ó bondade infinita, se eu fosse o senhor de todos os corações e tivesse a capacidade afetiva de todos os homens e de todos os anjos; se eu tivesse infinitos corações com infinitas possibilidades de amar, eu deveria usá-los todos para amar Aquele que me é infinitamente amável e que se vale de todas as fontes de sabedoria, de poder, de bondade e de todas as demais perfeições divinas para me amar e aplicar as maravilhas de sua caridade infinita em relação a mim. Quão obrigado estou, portanto, em usar a minha limitação extrema para Vos amar, ó meu senhor! Eis pois, meu querido Jesus, porque devo dirigir e consumir todas as forças do meu corpo e da minha alma apenas para Vos amar! É bem pouco, reconheço e, assim, quero reunir comigo todas as forças do céu e da terra, já que me foram dadas para Vos amar. Como isso ainda é pouco, ouso valer-me de todas as potências de Vossa divindade e de Vossa humanidade, que também me legastes por amor, para Vos amar como mereceis! Eu Vos amo, ó Jesus, e Vos amo com todas as minhas forças, com todas as forças do meu corpo e da minha alma, com todas as criaturas do céu, com a Vossa divindade adorável e com a Vossa divina humanidade.

26. Mas o que eu estou fazendo, meu Deus, se eu não sou digno de Vos amar e somente Vós podeis exercer uma ação tão nobre e tão divina? É por isso que, enquanto posso, me prostro aos Vossos pés, contrito e humilhado, e me entrego inteiramente a Vós de modo que, aniquilando-me diante do vosso amor onipotente, que Vos fizestes assumir a nossa condição humana, Vos ofereço a posse de todo o meu ser. Nesta condição, Vós mesmo havereis de ser o objeto do Vosso amor na minha humilde pessoa, com um amor verdadeiramente digno de Vós; e, assim, eu também poderei doravante Vos amar, não por mim mesmo e nem pelas próprias forças do meu espírito e do meu coração, mas senão por Vós e pela onipotência do Vosso Espírito e do Vosso próprio Divino Coração.

27. Ó amabilíssimo Jesus, Vós nos assegurastes nas Sagradas Escrituras que o Pai nos ama como Ele Vos ama: dilectio qua dilexisti me em ipsis sit e que Vós nos amais com o mesmo amor que estais unido ao Pai, isto é, com um coração e um amor infinito: sicut Dilexit me Pater, et dilexi ego Vos - 'Como o Pai me ama, assim também eu vos amo' (Jo 15, 9). Depois, ordenastes que Vos amássemos da mesma forma, isto é, como Vós amais o Pai, exigindo-nos ainda a perseverança do Vosso amor,  imitando Vosso respeito ao Pai Celestial: manete in dilectione mea. Se praecepta mea servaveritis, manebite em dilectione mea, sicut et ego Patris mei praecepta servavi e maneo em ejus dilectione  - Perseverai no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor, como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor (Jo 15, 9-10). 

Mas, Senhor, Vós conheceis a minha incapacidade e impotência de Vos amar e, assim, eu Vos rogo, ó meu Deus, dai-me o que ordenais e imponde em mim o que desejais: da quod jubes, et jube quod  vis, direi como Santo Agostinho. Aniquilai em mim o meu próprio coração e o meu amor próprio, trocando-os pelo Vosso Coração e pelo Vosso Amor Divino que são os mesmos do Vosso Pai Celestial, para que doravante eu possa amar-Vos como Vós amais o Pai e Ele Vos ama. Que eu persevere em Vosso amor tal como Vós permaneceis fiel no amor ao Vosso Pai e que todas as minhas obras sejam feitas sob a luz deste mesmo amor divino! Sim, ó meu Jesus, assim Vos quero amar: com o mesmo amor eterno, infinito e sem medidas com que o Vosso Pai Vos ama e com que Vós O amais.

E é esse amor infinito do vosso Coração e é esse imenso Coração abrasado de amor que eu Vos quero oferecer e que, na realidade, ofereço como se fossem meus em vez do meu próprio coração e do meu amor imperfeito, uma vez que me foram dados por Vós juntamente com o Santíssimo Coração de Maria, sua santa Mãe, coração este mais doce, mais amado e mais amoroso de todos os que Vos adoram, em união com todos os corações que Vos amam no Céu e na terra. Estes corações também são meus pois, como ensina o Apóstolo, o Pai, ao nos conceder o inefável mistério da Pessoa do seu Filho, outorgou-nos com Ele tudo o mais que Lhe pertencia - quomodo non etiam cum illo omnia nobis donavit?  - '... como não nos dará também com Ele todas as coisas? (Rm 8, 32).

28. Ó Jesus, Vós sois puro no mais alto grau, a própria pureza personificada; assim, Vós me amais com um amor puríssimo. Da minha parte, eu também quero amar-Vos com o amor mais puro de que seja capaz. E, portanto, quero amar-Vos com o  Vosso próprio e puríssimo amor; e amar-vos com o mesmo amor puríssimo que amais e sois amado pelo Pai e pelo Espírito Santo, pela Vossa Mãe Santíssima, pelos Vossos Anjos e Santos. Ó Pai, ó Espírito Santo, amai o meu Salvador em meu nome e supri as limitações do meu amor nas Vossas Divinas Pessoas. Ó Mãe de Jesus, ó anjos, ó santos e santas de Jesus, vinde em meu auxílio para que possamos unir as nossas forças para amar melhor o nosso Deus e Criador. Vinde e amemos o nosso amabilíssimo Salvador, dispondo e consumindo todo o nosso ser e todas as nossas forças para amar Aquele que nos criou apenas para amá-lO.

(versão para o português do autor do blog)