terça-feira, 19 de setembro de 2017

O ESPÍRITO DA CRUZ


Irmãos, há muito tempo que não me vedes aqui; não venho aqui com frequência. Vou falar-vos de uma coisa da qual nunca falei, nem aqui, nem algures. E essa coisa desejo-a a todos; sei bem que o meu desejo não chegará a todos. Vou falar-vos do espírito da Cruz. Quando o Bom Deus cria um corpo humano, dá-lhe uma alma, é um espírito humano; quando o Bom Deus dá a uma alma a graça do batismo, ela tem o espírito Cristão.

O espírito da Cruz é uma graça de Deus. Há a graça que faz apóstolos, e assim por diante. O que é o espírito da Cruz? O espírito da Cruz é uma participação do próprio espírito de Nosso Senhor levando a Sua Cruz, pregado à Cruz, morrendo na Cruz. Nosso Senhor amava a Sua Cruz, desejava-a. Que pensava Ele levando a Sua Cruz, morrendo na Cruz? Há aí grandes mistérios: quando se tem o espírito da Cruz, entra-se na inteligência destes mistérios. Existem poucos Cristãos com o espírito da Cruz, vêm-se as coisas de modo diferente do comum dos homens.

O espírito da Cruz ensina a paciência; ensina a amar o sofrimento, a fazer sacrifícios. Quando se tem o espírito da Cruz, é-se paciente, ama-se o sofrimento, fazem-se generosamente os sacrifícios que o Bom Deus nos pede. Quer-se a vontade de Deus, e ama-Se; acha-se bom o que nos pede.

Os santos queixavam-se muito a Deus que Ele não lhes dava bastante sofrimento; desejavam sofrer. Por que? Porque no sofrimento se pareciam mais com Nosso Senhor. Na vida de Santa Isabel da Hungria, é dito que, depois de a terem despojado de todos os seus bens, ainda a expulsaram de casa: quando viu que nada mais possuía, foi aos Frades Menores mandar cantar um Te Deum para agradecer a Deus por lhe ter tirado tudo. Tinha o espírito da Cruz.

A Imitação diz alguma coisa do que faz o espírito da Cruz: ama mais ter menos do que mais, ama mais estar em baixo do que em cima. Ama ser desprezado. É isto o espírito da Cruz; é muito raro. Não o tendes muito, o espírito da Cruz. Posso bem dizer-vo-lo, há muito tempo que vos conheço, desde que estou convosco. Tende-lo menos do que o tivestes outrora.

Logo que tendes algum sofrimento, depressa dizeis: 'Meu Deus, livrai-me disto'; fazeis novenas para vos libertardes. É preciso amar um pouco mais o sofrimento, e não pedir tão depressa para se ver livre dele. Se tivésseis o espírito da Cruz, veríamos muitas coisas que não vemos; e há as que vemos, que talvez não víssemos. É preciso ter um pouco mais do espírito da Cruz; é preciso pedi-lo. Tratemos de amar a Cruz, de amar a vontade de Deus.

(Excertos do último sermão pronunciado pelo Pe. Emmanuel-André, na festa da Exaltação da Santa Cruz, 14 de setembro de 1902, seis meses antes de morrer; postagem publicada originalmente em catolicosribeiraopreto.com).

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

EXERCÍCIOS DO AMOR DIVINO A JESUS (Parte II)

34 exercícios de amor a Jesus, propostos por São João Eudes, em honra e devoção aos 34 anos de sua vida; um ano no ventre de Maria e 33 de sua vida nesta terra.




PARTE II

9. Eu me entrego a Vós, Amor Irresistível, e me abandono inteiramente ao Vosso poder; vinde, vinde até mim e prostrai por terra tudo o que não seja de Vosso agrado; estabelecei em mim em plenitude o Vosso domínio celestial. Se para isso acontecer, o sofrimento é a premissa, entrego-me a Vós para padecer todos os martírios e tormentos mais dolorosos. Não me abandoneis! Livrai-me de tudo quanto Vos desagrada, meu Salvador, nada disso me importa. Porque o que realmente quero é Vos amar, ó meu Jesus, e Vos amar com perfeição, a qualquer custo e sobre todas as coisas.

10. Deus de Amor, que sois tão generoso, tão amoroso, que sois amor e dedicais tanto amor por mim, que também eu possa Vos amar assim! Que o Céu inteiro se converta em um incêndio de amor por Vós!

11. Quem poderá me impedir de Vos amar, Amor sem Medidas, depois de conhecer Vossa bondade infinita? Seria o  meu corpo? Antes se tornasse apenas pó. Seriam os meus pecados passados? Eu os faria submergir no oceano do Vosso Precioso Sangue. Tomai o meu corpo e a minha alma: fazei-me um homem das dores para que se apaguem em mim tudo o me impeça de Vos amar plenamente. Seria por acaso o mundo? Ou as criaturas? Mas não; eu renuncio, com todas as minhas forças, a qualquer afeto sensível às coisas criadas. Consagro inteiramente o meu coração e os meus afetos a Jesus Cristo, meu Criador e meu Deus.

Com efeito, Jesus não aclamou este mundo; pelo contrário, Ele disse que não era deste mundo, nem os seus, e nem seguia as medidas deste mundo. Assim, mundo, renuncio às tuas vontades e desprezo os teus prazeres como se fosse do mundo como um excomungado, como um anticristo, como um inimigo de meu senhor Jesus Cristo! Não anseio por nenhum dos teus louvores e mesuras, teus devaneios e tuas vaidades, nada do que possas me oferecer. Por que tudo isso é utopia, é nada. Quero sentir horror ao espírito mundano, ao teu comportamento, valores e concessões reprováveis. Eu quero odiar as tuas escolhas tanto quanto odeias e persegues a Jesus Cristo. Eis aí o meu adeus, mundo, adeus a tudo que não seja de Deus! De hoje em diante, escolho Jesus como o meu mundo, minha glória, meu tesouro, minhas graças, meu tudo.

Nada almejo a não ser Jesus; que se cerrem meus olhos às coisas do mundo e que eles se volvam por inteiro a Jesus. Não quero agradar e ser agradado a não ser para Jesus. Quero me alegrar em seu amor e no cumprimento de sua vontade; não quero sentir tristeza, a não ser por tudo aquilo que ofende e se opõe ao seu Divino Amor. Ou amar ou morrer, ou melhor, morrer e amar. Morrer para tudo o que não seja Jesus; amar o próprio Amor por inteiro, amar Jesus.

12. Jesus, Senhor dos meus amores, fui criado e colocado neste mundo apenas para Vos amar. Quão nobre, santo e excelso o fim para o qual fui criado! A que graça e a que dignidade fostes elevado, meu pobre coração, para ser parte da própria glória divina! Pois se Deus existe para Se contemplar e amar a Si mesmo, fostes feito para amar esse mesmo Deus e se ocupar eternamente em amá-Lo. Que seja bendito e amado para todo o sempre o Senhor da Vida que me deu um coração capaz de amá-Lo. Deus do meu coração: se Vós me criastes para Vos amar em perfeição, que eu viva para Vos amar sempre e cada dia mais, para Vos amar a esta perfeição! Ou amar ou morrer. Que não me seja dada a vida, a não ser para Vos amar. Jesus, prefiro antes padecer mil mortes do que perder o Vosso amor!

13. Sede, Amor Divino, a vida da minha vida, a alma da minha alma e o coração do meu coração. Que eu não viva senão por Vós e em Vós. Que eu não exista senão por Vós. Que eu não tenha mais pensamentos, palavras ou ações que não sejam somente por Vós e para Vós.

14. Sede, Senhor, o anseio exclusivo do meu coração, o único anelo digno de ser desejado. Que tudo o mais fora de Vós seja nada, que nem sequer mereça minha atenção. Somente quero a Vós, somente busco a Vós, somente desejo Vos amar. Vós sois o meu tudo, e o resto é nada; nada quero olhar, anelar ou amar que não sejais Vós. Quero tão somente estar Convosco e Vos amar em todas as coisas.

15. Jesus, Vós sois o Puro Amor, o único digno do amor do Pai eterno e de toda a corte celeste; intercedei para que eu Vos ame sobre todas as coisas, e em todas elas eu Vos ame em plenitude e que tudo que seja objeto do meu amor seja por amor a Vós e para Vós.

16. Jesus, único amor do meu coração, essência de todos os meus amores! Somente Vós sois digno de amor no céu e na terra. Quando será que seremos capazes de contemplar e amar somente a Vós?

17. Jesus, único amor do meu coração, afastai-me de mim mesmo e de todas as coisas do mundo; levai-me até Vós e envolvei-me no Vosso amor, de forma tão completa e absoluta, que somente em Vós possam estar por inteiro o meu espírito e o meu coração.

(versão para o português do autor do blog)

domingo, 17 de setembro de 2017

OS LIMITES DO PERDÃO

Páginas do Evangelho - Vigésimo Quarto Domingo do Tempo Comum


Naquele tempo em que os homens ainda hesitavam nos domínios da graça, Pedro vai se aproximar de Jesus para inquirir ao Mestre sobre os limites do perdão: 'Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?' (Mt 18, 21). Ao propor a questão, Pedro também estabelece uma referência humana a este limite - 'sete vezes' - em termos de uma concepção firmada exclusivamente nos princípios frágeis da justiça e da tolerância dos homens. 'Sete vezes', na abordagem de Pedro, seria o limite imaginável e possível da capacidade humana de perdoar a manifestação continuada do erro.

A resposta de Jesus é desconcertante para uma medida humana do perdão: 'Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete' (Mt 18,22). 'Setenta vezes sete' não implica meramente o valor humano do perdão multiplicado por setenta vezes; nem apenas um número particularmente elevado de se aplicar o perdão em medida abastada. É mais do que isso; Jesus pressupõe o perdão nos limites insondáveis da misericórdia infinita de Deus; o perdão verdadeiro deve ser reflexo da misericórdia que não impõe contenção de medidas e nem marcos limites.

Para ilustrar com clareza meridiana este princípio da misericórdia infinita de Deus, Jesus apresenta, então, a parábola do servo devedor de imensa fortuna que, instado a reconhecer a sua dívida, suplica ao Senhor a concessão de alternativas para quitá-la nas condições mais favoráveis possíveis. Movido pela compaixão e confiante no firme propósito de correção do seu servo, o Senhor lhe concede o perdão integral de todas as suas dívidas. Mas, saindo dali, o réu confesso de uma fortuna diante de Deus torna-se o juiz implacável diante da dívida inexpressiva do próximo: não apenas não perdoa a dívida em aberto, como leva à prisão o devedor de ninharias. Ciente de procedimento tão perverso, o Senhor se indigna e condena o servo infame com todo o rigor de sua justiça.

E Jesus conclui a parábola reforçando em que consiste a verdadeira medida do perdão ao próximo: 'perdoar de coração ao seu irmão' (Mt 18, 35). Perdoar significa 'perdoar de todo coração', sem quaisquer remanescentes de mágoa, rancor, ressentimentos. Perdoar significa aniquilar o mal feito na mesma medida do esquecimento integral da ofensa recebida. Neste contexto de graça, o nosso perdão torna-se perfeito e, tangido por sentimentos sinceros de caridade e de compaixão, atrai sobre nós, em medida insondável, a misericórdia infinita de Deus.

sábado, 16 de setembro de 2017

NOSSA SENHORA DE FÁTIMA NO FUNDO DO MAR

Uma imagem de mais de 2,0 m de Nossa Senhora de Fátima repousa a 24,0 m de profundidade numa praia das Filipinas, famosa pelas práticas de mergulho, como local de oração e de peregrinação para os mergulhadores locais.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (XX)

A 20ª e última objeção* protestante do boletim citado seria de uma ingenuidade infantil se não fosse de um ridículo capcioso. O amigo protestante pede: um texto das Escrituras que prove que um homem deve ser perseguido e amaldiçoado por haver abandonado a religião em que nasceu e aceitado a religião de Jesus Cristo. 

Aqui haveria muita coisa a distinguir; assinalarei apenas os seguintes pontos:

(i) Um homem perverso deve ser perseguido e pode ser amaldiçoado: maledicti qui declinant a mandatis tuis (Sl 118, 21).

(ii) Pode-se abandonar a religião em que se nasce, tendo a certeza de ser errada e a certeza de a outra que se quer abraçar ser a verdadeira – Revertimini a viis vestris pessimis (4 Rs 17, 13).

(iii) A religião de Jesus Cristo é uma só: Dominus Deus tuus, Deus unus est (Mc 12, 24). Vamos por partes.

I. O homem perseguido

É uma mania protestante o gritar de ser perseguido, quando não pode espalhar os seus erros ou encontrar qualquer oposição. É mania conhecida; a Bíblia diz muito bem: querem pegar a sombra e perseguem o vento (Ecli 34, 2). Os protestantes andam atacando, caluniando e blasfemando contra o catolicismo, a Santíssima Virgem, o papa, os padres, os sacramentos e os sinos da Igreja.

Os católicos cruzando os braços, sorrindo e aceitando bíblias falsificadas, tudo corre bem, mas quando um deles repele os insultos, refuta os erros, diz-lhes meia dúzia de verdades, encolhem-se e gritam que são caluniados, perseguidos e maltratados. É o ladrão, que, penetrando em casa alheia, é pego em flagrante no roubo, gritando que o dono da casa, que lhe administra umas pauladas nas costas, é um perseguidor, um algoz. 

Não, senhor, ele é um defensor em legítima defesa de seus bens. Os católicos estão no mesmo caso. A religião é de paz e de concórdia; mas também é de dignidade, de brio e de firmeza. Reagir contra o ladrão não é perseguir; é defender-se. Repelir o caluniador não é perseguir; é restabelecer a verdade perturbada. Refutar o erro não é perseguir: é manter a verdade, é fazê-la triunfar.

Defender a sua religião contra os ímpios e hereges é um ato de dignidade, de brio e de convicção, como é de brio o fato de defender a sua pátria contra o inimigo invasor. 'Os que não ouvirem a Igreja', diz o Salvador, 'devem ser considerados como gentios ou publicanos' (Mt 18, 17). 'Haverá menos rigor para Sodoma do que para aqueles que não aproveitam a minha palavra', diz ainda o Mestre (Lc 10, 13). Podemos, pois, tratar os protestantes como tratamos os gentios, não com ódio, mas com compaixão, e dizer que terríveis castigos esperam a sua revolta contra a Igreja. Isso não é perseguir: é dizer a verdade. É permitido e é dever mesmo para os católicos opor-se à invasão do protestantismo, repeli-lo como se repele o ladrão, o assassino, o lobo, que se introduz numa casa ou num rebanho.

II. Mudança de religião

Aqui, meu caro protestante, temos um ponto complexo que deve ser bem compreendido. Mudar de religião é um negócio sério! Três casos se apresentam: (i) o homem sabe que está no erro: neste caso deve mudar; (ii) o homem duvida da sua religião; neste caso deve consultar; (iii) o homem tem a certeza de estar com a verdade: neste caso deve ficar firme e inabalável. Só o segundo caso é aplicável ao ponto em discussão.

O homem duvida da sua religião. Tal dúvida pode ser uma tentação do demônio, como pode ser uma inspiração divina; pode ser também uma falta de instrução. Mas vejamos de perto. Por que duvida ele? Duvida ele porque encontra em sua religião certos pontos incompreensíveis, misteriosos? Não há razão, porque a religião, sendo divina, nunca pode ser completamente compreendida pela inteligência humana.

Duvida ele porque há abusos e fraquezas na religião? Não há razão ainda, porque, se a religião é divina, os homens que a praticam não são divinos, e apesar de sua boa vontade, podem conservar ainda abusos e cometer faltas. Duvida ele porque a sua religião não possui os caracteres da religião verdadeira? Aqui o caso é diferente. A dúvida tem sua razão de ser. É preciso orar, estudar, indagar e refletir. A solução é bastante simples para um homem culto. Basta ele procurar conhecer os sinais distintivos da religião verdadeira.

III. Os sinais da religião verdadeira

É fora de discussão a existência da religião, e que esta religião é uma só: unus Dominus, una fides, unum baptisma (Ef 4,3). Um senhor, uma fé, um batismo, diz o Apóstolo. Jesus Cristo fundou uma só Igreja: é certo, conforme a sua própria palavra: 'tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja' (Mt 16, 18). Ele chama-a minha Igreja, para indicar que só ela está fundada sobre ele e é dele.

Esta igreja, para ser conhecida entre as diversas igrejas, tem quatro caracteres próprios, que a distinguem de todas as outras. Esta igreja deve ser una, santa, católica e apostólica. Isto quer dizer que a Igreja verdadeira deve ser uma nos pontos essenciais, na fé, no culto e na constituição hierárquica. Deve ser una em sua doutrina, em seu culto e em muitos de seus membros. Deve ser católica ou universal, porquanto deve existir em todas as épocas e estar difundida pelo mundo inteiro. Deve ser apostólica, porque deve ter a sua origem dos apóstolos. Eis a pedra de toque para descobrir a Igreja verdadeira e distingui-la das seitas humanas. Queira fazer isto, caro crente, ou querendo, façamo-lo juntos.

IV. Uma comparação

O protestantismo não é um: é dividido em centenas de seitas, que professam doutrinas diferentes, nem se sujeita a um governo central ou supremo. O catolicismo é um: na fé, que nunca mudou; no culto, tendo sempre o mesmo sacrifício e os mesmos sacramentos; no governo, que é e foi sempre o sumo pontífice ou papa de Roma.

O protestantismo não é santo: em sua doutrina, que é de rancor, de ódio e de calúnia; em seu culto, rejeitando muitas coisas instituídas por Jesus Cristo; em seus membros, desde a sua separação até a presente data. O catolicismo é santo: em sua doutrina, que nada encerra de absurdo ou de indigno de Deus; no culto, possuindo todos os meios de santificação instituídos por Jesus Cristo (sacramentos, missa, festas, etc.); em seus filhos, contando milhares e milhares de virgens, de mártires e de homens santos, mostrando a sua santidade pelos milagres que operam depois da morte.

O protestantismo não é universal, porque não tem existido sempre (nasceu em 1518, fundado por Lutero, padre apóstata) e porque não está espalhado pelo mundo inteiro. São igrejas locais ou nacionais e não universais. O catolicismo, ao contrário, é verdadeiramente universal: (i) porque existiu sempre; (ii) porque está difundido por todo o mundo. Ele sozinho tem mais filhos e membros que todas as seitas protestantes globalmente.

O protestantismo não é apostólico, porque nascera quinze séculos depois da morte dos apóstolos e, por outro lado, não tem conseguido provar, com milagres, a existência de uma missão extraordinária para pregar. Quanto ao catolicismo, é genuinamente apostólico: (i) porque tira a sua origem dos apóstolos, aos quais remonta a história; (ii) Porque seus bispos são legítimos sucessores dos apóstolos; e em particular o Bispo de Roma, o Papa, é o sucessor de São Pedro – primeiro Bispo de Roma.

V. Aplicação

Os caracteres aqui citados podem e devem ser conhecidos por todos. Deus não pode permitir a dúvida em matéria tão grave como é a religião; e tal dúvida não pode existir numa alma sincera, num coração reto. A religião é divina e por isso não pode ser completamente compreendida por uma inteligência humana; mas nunca pode estar em contradição com esta inteligência humana, pela razão de ser Deus o autor de ambas. A contradição recairia sobre o próprio Deus.

O homem pode e deve perscrutar a religião, estudá-la, conhecê-la o melhor possível. Por meio dos quatro caracteres, qualquer um pode provar a verdade ou o erro da sua religião: está ao alcance de todos. O católico deve fazê-lo, não pela dúvida, mas para dar firmeza à sua fé. O protestante deve fazê-lo, para verificar e compreender o que está errado. Depois deste exame, o homem pode conscienciosamente abandonar a sua religião, desde que esta não satisfaça aos requisitos. Sem este exame, sem esta verificação o homem não pode abandonar a religião em que nasceu, ou que professa.

O amigo protestante deve ver, pois, que está errado. Sendo protestante, pode aceitar a religião de Jesus Cristo: a religião católica. O católico não pode de modo nenhum deixar a sua religião para fazer-se protestante. E não vale a pena mudar o nome do protestantismo, chamando-o de 'religião de Jesus Cristo'. Nunca foi, nunca há de sê-lo! A religião de Jesus Cristo é uma só: – a católica; o protestantismo pode ser chamado de 'religião de Lutero', nunca 'de Jesus Cristo', com quem não tem outra relação, senão a Bíblia que é comum a ambas, mas cuja interpretação pessoal ou eclesiástica cava um abismo entre ambas.

O protestantismo interpreta a Bíblia a seu talante, contrariamente à Bíblia. São Pedro diz que toda a profecia da Escritura não pode ser feita por interpretação própria (2 Pd 1, 20). O catolicismo escuta a Igreja para esta interpretação, conforme o ensino da Bíblia: 'o Espírito Santo colocou os bispos para governar a Igreja de Deus' (At 20, 28). 'Aquele que não escuta nem a sua consciência, nem a Igreja de Deus, deve ser tratado como um pagão', diz o divino Mestre (Mt 18, 17).

A Igreja Católica não persegue ninguém: ela é de caridade; mas refuta os erros, orando pelos que erram, conforme o conselho de Santo Agostinho: interficite errores, diligite errantes. Convém notar, entretanto, que o amor não é covardia nem traição. O protestantismo é uma heresia composta de seitas humanas, que profanam os mistérios de Deus, o que fazia dizer a Melanchthon, contemplando as águas do Elba: 'todas estas águas são insuficientes para lavar os grandes males da reforma protestante' (Cartas). Ora, deixando de condenar a heresia, a Igreja Católica não seria tolerante; seria simplesmente traidora de Deus e da sua missão, traidora da verdade. E isto é absolutamente impossível, sendo a Igreja, no dizer de São Paulo, a coluna e o firmamento da verdade (1 Tm 3, 15).

VI. Conclusão

Está vendo, caro amigo, que a sua conclusão é falsa e falsíssima: um homem não deve ser perseguido por abandonar a religião em que nasceu; mas, antes de abandonar uma religião, um homem deve examinar a religião que quer deixar e aquela que pretende abraçar, para ver qual delas satisfaz aos quatro caracteres indicados: unidade, santidade, catolicidade e apostolicidade.

Achando que a religião em que nasceu possui estes quatro caracteres, não pode mudar, pois está na verdade. Achando que não satisfaz a estes quatro requisitos, pode e deve abandoná-la, para abraçar aquela que os possui, e que só é a religião de Jesus Cristo. Possa meu amigo crente compreender estas verdades claras e divinas, e adotá-las como regra de vida; é o único desejo daquele que procura refutar os seus erros, mas que ama a sua alma e anela em salvá-la.

* Estas 'objeções' foram propostas por 'um crente' como um desafio público ao Pe. Júlio Maria e que foi tornado público durante as festas marianas de 1928 em Manhumirim, o que levou às refutações imediatas do sacerdote, e mais tarde, mediante a inclusão de respostas mais abrangentes e detalhadas, na publicação da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', ora republicada em partes neste blog.

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

14 DE SETEMBRO - EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ


'Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim' (Jo 12, 32)

A festa da Exaltação da Santa Cruz tem origem na descoberta do Sagrado Lenho por Santa Helena, mãe do imperador Constantino, e na dedicação de duas basílicas construídas por ele, uma no Calvário e outra no Santo Sepulcro, dedicação esta realizada no dia 14 de setembro do ano de 335. No ano de 629, a celebração tomou grande vulto com a restituição da Santa Cruz pelo imperador Heráclio, retomada dos persas que a haviam furtado. Levada às costas pelo próprio imperador, de Tiberíades até Jerusalém, a Santa Cruz foi entregue, então, ao Patriarca Zacarias de Jerusalém.


O imperador Constantino e sua mãe, Santa Helena, veneram a Santa Cruz 

Conta-se, então, que o imperador Heráclio, coberto de ornamentos de ouro e pedrarias, não conseguia passar com a cruz pela porta que conduzia até o Calvário; quanto mais se esforçava nesse sentido, mais parecia ficar retido no mesmo lugar. Zacarias, diante desse fato, ponderou ao imperador que a sua ornamentação luxuosa não refletia a humildade de Cristo. Despojado, então, da vestimenta, e com pés descalços, o imperador completou sem dificuldades o trajeto final, encimando no lugar próprio a Cruz no Calvário, de onde tinha sido retirada pelos persas.

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo converteu a Cruz de um objeto de infâmia e repulsa na glória maior da fé cristã. A Festa da Exaltação da Cruz celebra, portanto, o triunfo de Jesus Cristo sobre o mundo e a imprimação do Evangelho no coração de toda a humanidade.

SALVE CRUX SANCTA

Salve, crux sancta, salve mundi gloria,
vera spes nostra, vera ferens gaudia,
signum salutis, salus in periculis,
vitale lignum vitam portans omnium.

Te adorandam, te crucem vivificam,
in te redempti, dulce decus sæculi,
semper laudamus, semper tibi canimus,
per lignum servi, per te, lignum, liberi.

Originale crimen necans in cruce
nos a privatis Christe, munda maculis, 
humanitatem miseratus fragilem 
per crucem sanctam lapsis dona veniam.

Protege salva benedic sanctifica 
populum cunctum crucis per signaculum, 
morbos averte corporis et animae 
hoc contra signum nullum stet periculum.

Sit Deo Patri laus in cruce filii 
sit coequalis laus sancto spiritui, 
civibus summis gaudium et angelis 
honor sit mundo crucis exaltatio. Amen.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

100 ANOS DE FÁTIMA - QUINTA APARIÇÃO

Fátima é o acontecimento sobrenatural mais extraordinário de Nossa Senhora e a mais profética das aparições modernas (que incluíram a visão do inferno, 'terceiro segredo', consagração aos Primeiros Cinco Sábados, orações ensinadas por Nossa Senhora às crianças, consagração da Rússiamilagre do sol e as aparições do Anjo de Portugal), constituindo a proclamação definitiva das mensagens prévias dadas pela Mãe de Deus em Lourdes e La Salette. Por Fátima, o mundo poderá chegar à plena restauração da fé e da vida em Deus, conformando o paraíso na terra. Por Fátima, a humanidade será redimida e salva, pelo triunfo do Coração Imaculado de Maria. Se os homens esquecerem as glórias de Maria em Fátima e os tesouros da graça, serão também esquecidos por Deus.

'por fim, o meu Imaculado Coração triunfará'