domingo, 31 de julho de 2016

31 DE JULHO - SANTO INÁCIO DE LOYOLA


Ad Maiorem Dei Gloriam 


Para a Maior Glória de Deus

O fundador da Companhia de Jesus e autor dos 'Exercícios Espirituais' buscou a via da santidade pelo completo despojamento de si, pelo abandono completo de sua vontade aos desígnios da Divina Providência, abstraindo-se de todo comodismo humano na sua caminhada espiritual para Deus. Eis aí a santidade das atitudes extremas, das decisões moldadas por uma fé intrépida, pela ação de um 'sim' sem rodeios ou incertezas. Uma vida de conversão e de entrega generosa a Deus, testemunho eloquente da fé cristã coerente e tenaz, levada às últimas consequências. 

Inácio Lopez nasceu na localidade de Loyola, atual município de Azpeitia, no País Basco/Espanha, em 31 de maio de 1491. De família rica, levou vida mundana até ser ferido gravemente numa perna na batalha de Pamplona. Na longa convalescença e pela leitura da vida de grandes santos, decidiu abandonar os bens terrenos e viver para a glória de Deus, quando tinha então 26 anos. Entre 1522 a 1523, escreveu os chamados 'Exercícios Espirituais', uma síntese de sua própria conversão e método de evangelização para uma vida espiritual em plenitude. Em 1528, ingressou na Universidade de Paris e a 15 de agosto de 1534, com mais seis companheiros, entre eles São Francisco Xavier, fundou a Companhia de Jesus, tornando-se sacerdote e assumindo o cargo de superior-geral da ordem jesuítica em 1540, com a aprovação do Papa Paulo III. Santo Inácio morreu em Roma, em 31 de julho de 1556, aos 65 anos de idade. Foi canonizado em 12 de março de 1622 pelo Papa Gregório XV. Em 1922, o Papa Pio XI declarou Santo Inácio padroeiro dos Retiros Espirituais.

ORAÇÃO DE SANTO INÁCIO DE LOYOLA

Tomai Senhor, e recebei
Toda minha liberdade,
A minha memória também.
O meu entendimento
E toda minha vontade.
Tudo que tenho e possuo,
Vós me destes com amor.
Todos os dons que me destes,
Com gratidão vos devolvo:
Disponde deles, Senhor,
Segundo vossa vontade.
Dai-me somente 
O vosso amor, vossa graça.
Isto me basta,
Nada mais quero pedir.

A VERDADEIRA RIQUEZA ESTÁ EM DEUS

Páginas do Evangelho - Décimo Oitavo Domingo do Tempo Comum


'Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo' (Lc 12,13). Alguém, no meio da multidão, fez este pedido a Jesus. Um pedido movido por razões absolutamente terrenas e dirigido a alguém que era julgado apenas na dimensão da sabedoria humana. Um apelo, potencialmente justo, afeto às demandas de um juiz dotado de isenção e discernimento, bastava ao postulante. Mas, diante dele, estava Deus entre os homens e não um mero sábio das contendas humanas. Àquele homem, Jesus destinou então um ensinamento muito mais profundo, muito além da busca desenfreada da aquisição de bens materiais, mas centrado num caminho de heranças eternas. 

É preciso primeiro buscar as coisas do Alto. Os legítimos interesses humanos devem ser pautados pelo equilíbrio e pela moderação, para não ser instrumentos de afeições desmedidas e descontroladas, sementes de ganância. Jesus é enfático neste conselho: 'Tomai cuidado contra todo tipo de ganância' (Lc 12, 15). A abundância de bens é uma fonte de preocupações contínuas e a soberba do possuir é mera vaidade: 'Tudo é vaidade' como diz o Livro do Eclesiastes (Ecl 1,2). 

Para ilustrar a insensatez do homem que busca acumular tesouros na terra, Jesus apresenta, então, a parábola do homem rico. Entusiasmado por uma farta colheita, planeja em detalhes multiplicar sua riqueza com a construção de celeiros muito maiores, armazenar grandes quantidades de trigo, viver uma vida de gozo e tranquilidade. Mas, tolo entre tolos, não cuida que seus dias estão contados e não terá usufruto algum de tanta riqueza acumulada: 'Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo' (Lc 12, 21). A ganância de querer sempre mais e a ânsia de ser ainda mais rico aviltam a legitimidade do bem possuído aos domínios da cobiça mórbida. 

Deus não tem lugar no coração abrasado de poder de tal homem porque o nosso coração permanecerá inquieto enquanto não repousar em Deus. A paz interior nasce da partilha, no ato de compartilhar os bens e os dons disponíveis com todos. Dispor o que se recebe, repartir o que se tem: eis a regra de ouro para se almejar as heranças eternas e acumular tesouros nos Céus. A verdadeira riqueza é aquela que se guarda no Coração de Deus.

sábado, 30 de julho de 2016

BREVIÁRIO DIGITAL - ANNE DE BRETAGNE (I)

LIVRO DE ORAÇÕES DE ANNE DE BRETAGNE* (1477 - 1514) - PARTE I

* esposa de dois reis sucessivos da França, Charles VII e Luís XII


AUTORIA DAS ILUMINURAS: JEAN POYER 


I.1 - Santíssima Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo são representados por Poyer na forma de três homens jovens e de cabelos compridos, sentados no trono da Realeza Divina e carregando esferas encimadas por cruzes, que representam o mundo sob a tutela da redenção de Cristo. 


I.2 - A Anunciação: a Virgem Maria (sob uma concepção visual da própria Anne de Bretagne) recebe o anúncio do Anjo Gabriel. O mistério da Anunciação é revelado pela ação conjunta da Santíssima Trindade: Poyer retrata Deus Pai, segurando uma esfera e enviando o Menino Jesus que, carregando uma cruz, acompanha o Espírito Santo, representado em forma de pomba, em meios a raios dourados que são emitidos em direção à futura Mãe de Deus (iconografia clássica deste evento a partir do século XIV). A iluminura é acompanhada pela parte inicial da Ave Maria em latim, truncada pelo termo et, abreviatura de etcetera - 'e o resto'), em função da indisponibilidade do espaço na iluminura para o texto completo da oração. 


I.3 - O Apóstolo Pedro e o Profeta Jeremias: iluminura inicial de uma série de outras doze, que representam sempre a figura de um apóstolo, identificado sob um halo e um atributo específico, junto a um profeta do Antigo Testamento, segurando um rolo de pergaminho. A série começa com o apóstolo Pedro - o príncipe dos apóstolos -  e com o profeta Jeremias. As iluminuras são complementadas por partes do texto do Credo. A presença destes textos - raríssimos em livros medievais por se tratar de orações que todos os cristãos sabiam de cor - demonstra que a obra foi dirigida ao catecismo de uma criança (no caso, Charles-Orland (1492–1495), filho de Anne).



I.4 - O Apóstolo André e o Profeta Davi: o primeiro apóstolo chamado por Jesus é representado carregando uma cruz em forma de X, símbolo do seu martírio. Davi é representado com vestes luxuriantes, provavelmente representando a sua vida passada de pecado. A inscrição do rolo de pergaminho define os desígnios divinos sobre a sua pessoa (Sl 2, 7): D(omi)n(u)s dixit a(d) me filius  - Disse-me o Senhor: 'Tu és o meu filho'.


I.5 - O Apóstolo Tiago Maior e o Profeta Isaías: o apóstolo é representado como um peregrino tipificado com atributos típicos como chapéu, calçado, bordão e sacola. O profeta Isaías, assim como todos os demais profetas expostos nas iluminuras, carrega um rolo de pergaminho. Os dois personagens encontram-se representados como em um diálogo envolvendo elevadas reflexões teológicas.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

O PRIMEIRO FILHO ESPIRITUAL DE SANTA TERESA DE LISIEUX


Em 17 de março de 1887, um crime terrível chocou toda a cidade de Paris. No famoso 'crime da Rue Montaigne', foram assassinadas brutalmente três mulheres: Claudine-Marie Regnault, mulher rica e conhecida como 'Madame de Montille', na época com 40 anos; sua empregada de 38 anos, Annette Grémeret e a filha desta, Marie, então com doze anos. O assassino usara um instrumento cortante para lacerar o pescoço das vítimas enquanto dormiam e, neste ato, praticamente decapitara a vítima mais jovem.

As investigações levaram à prisão do assassino, um sujeito chamado Henri Pranzini, de origem italiana, mas nascido em Alexandria em 1856. Aventureiro destemido, o homem havia viajado por muitos países, que incluíam o Sudão,  a Birmânia e o Afeganistão. Chegara a Paris em 1886 e passara a ter relacionamentos amorosos com várias mulheres, entre elas 'Madame de Montille' até que, obcecado pela ideia de roubar a sua rica e tristemente célebre cortesã, cometera o triplo assassinato. Julgado e condenado à morte pelos bárbaros crimes, nunca reconheceu a sua culpa, e dedicou os últimos dias de sua vida deprimente a cometer blasfêmias, insultos e bravatas de toda natureza. Seria possível imaginar uma alma mais decaída e mais destinada à condenação eterna?

E, mesmo aqui, no lamaçal de todas as desonras, prevalece os insondáveis desígnios da Providência Divina. Os terríveis acontecimentos daqueles dias chegaram ao conhecimento de uma humilde adolescente chamada Thérèse Martin da cidade de Lisieux - mas nada mais, nada menos que a futura santa da Igreja, Teresa de Lisieux ou Santa Teresinha do Menino Jesus. Movida já à época por um intenso desejo de salvar as almas do inferno, Teresa se dedicou, então, à tarefa gigantesca de implorar a Deus pela salvação eterna da alma de um assassino brutal.

Neste propósito, prostrou-se, com grande perseverança, em orações e sacrifícios e mandou inclusive celebrar missa nessa intenção. Com absoluta resolução interior, confiou à Misericórdia Divina a salvação eterna da alma de um criminoso ignóbil, de um assassino covarde, de um pecador impenitente e blasfemador. Em 31 de agosto de 1887, Pranzini foi conduzido ao cadafalso e executado na guilhotina.

No dia seguinte à execução, Teresa abriu avidamente o Le Croix, um jornal local, para se inteirar dos fatos ocorridos. Eis a transcrição dos fatos conforme os seus manuscritos: 'No dia seguinte da execução, eu abri rapidamente o jornal ... e o que eu vi? Lágrimas traíram de imediato a minha emoção. Fui obrigada a correr para fora da sala. Pranzini tinha subido ao cadafalso sem se confessar ou receber a absolvição ... mas, virando-se rapidamente, tomou nas mãos o crucifixo que o sacerdote estava oferecendo a ele e beijou as Santas Chagas de Nosso Senhor três vezes... Eu tinha obtido o sinal que havia pedido e que foi para mim especialmente jubiloso. Pois não foi quando vi o Preciosíssimo Sangue fluir das Chagas de Jesus que a sede da salvação das almas tomou pela primeira vez posse de mim?..... A minha oração havia sido acolhida ao pé da letra'.

A 'pescadora de almas' chamaria este pecador de 'meu primeiro filho' espiritual em seus manuscritos autobiográficos e, durante muitos anos, encomendaria missas pela alma de Pranzini, a cada dia 31 de agosto, aniversário da execução do condenado.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

NO LIMIAR DO SOBRENATURAL (V)

(abadia de Einsiedeln)

Em setembro de 948, Eberhaad, o  abade do Convento de Einsiedeln na Alemanha, solicitou a São Conrado, Bispo de Constância, que se dignasse fazer a consagração da igreja de sua abadia. Na noite da cerimônia prevista, São Conrado e outros religiosos deram início às orações prévias da consagração no interior da igreja, enquanto o povo esperava do lado de fora.

De repente, a igreja ficou inteiramente iluminada por uma luz celeste e São Conrado teve a seguinte aparição: Jesus Cristo, acolitado pelos quatro evangelistas, celebrava no altar o oficio da dedicação, enquanto anjos espargiam perfumes à direita e à esquerda do Divino Pontífice; o apóstolo São Pedro e o Papa São Gregório seguravam as insígnias do pontificado; e diante do altar se achava a Santa Mãe de Deus, circundada de uma auréola de glória. Um coro de anjos, regido por São Miguel, fazia vibrar as abóbadas do templo com seus cantos celestiais, enquanto Santo Estêvão e São Lourenço, os mais ilustres mártires diáconos, desempenham as suas funções. 

Num dado momento, São Conrado foi instado por alguns religiosos para dar início formal à solenidade da dedicação da igreja. Sem sair do seu lugar de oração, o santo revelou a todos o teor completo da estupenda visão que tivera. Sua narração fez supor que ele estivesse sob a ilusão de um sonho. Finalmente, o santo Bispo, cedendo às instâncias, concordou com o acesso do povo ao interior da igreja e dispôs-se a dar início ao ritual da consagração da igreja. Neste momento, todos os presentes ouviram, em claríssima pronúncia, uma voz angélica em diferentes repetições: 'Cessa, cessa, frater, capella divinitas consecrata est - detende-vos, detende-vos, meu irmão, a capela já foi divinamente consagrada'.

(São Conrado)

Dezessete anos mais tarde, São Contado, Santo Ulrico e outras testemunhas oculares do acontecimento, encontrando-se reunidos em Roma, prestaram acerca dele um solene testemunho que, depois de rigoroso processo jurídico, foi tornado público pelo papa Leão VIII por meio da publicação de uma bula especial, posteriormente ratificada pelos papas Inocêncio IV, Martinho V, Nicolau IV, Eugênio VI, Nicolau V, Pio II, Júlio II, Leão X, Pio IV, Gregório XIII, Clemente VII, Urbano VIII e, finalmente, pelo Papa Pio VI em 15 de maio de 1793.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

HÁ UMA PONTE QUE LIGA A TERRA AO CÉU

Por não estar em Mim, o pecado não merece amor. Quem o faz, ofende toda criação e odeia-Me. O homem tem obrigações de Me querer bem. Sou imensamente bom, dei-lhe o ser, numa chama de caridade. Todavia, os maus fogem de Mim. Mas, por justiça ou misericórdia, ninguém escapa das Minhas Mãos.

Eis o Meu plano: criar o homem à Minha imagem e semelhança para que alcançasse a vida eterna, participasse do Meu Ser e experimentasse a Minha suma, eterna e doce bondade. O pecado veio impedir-lhe de atingir essa meta. O homem deixava de realizar o Meu plano, pois a culpa lhe fechara o céu e a porta da Minha misericórdia. O pecado fez germinar na humanidade espinhos e sofrimentos, tribulações numerosas, rebelião interna.

Ao revoltar-se contra Mim o homem criava a rebelião dentro de si. Em consequência da perda do estado de inocência, a carne se revoltou contra o espírito. Imediatamente brotou um rio tempestuoso, cujas ondas continuam a açoitar a humanidade. São as misérias e males provenientes do próprio homem, do demônio e do mundo. Nele todos se afogavam; ninguém mais, graças a virtudes pessoais, atingia a vida eterna. Para remediar tantos males, construí a Ponte no Meu Filho, que permitiria a travessia do rio sem perigo de afogar-se. O rio é o tempestuoso mar desta tenebrosa vida.

Quero que contemples a Ponte do Meu Filho, que vejas a sua grandiosidade. Ela se estende do céu à terra, pois nela a terra da vossa natureza humana está unida à divindade sublime, graças à encarnação que realizei no homem. Todos vós deveis passar por esta Ponte, louvando-Me através do trabalho pela salvação dos homens e tolerando muitas dificuldades, a exemplo do Meu doce e amoroso Verbo Encarnado. Não há outro modo de chegar até Mim.

Cada pessoa tem uma vinha, a vinha da própria alma. Nela trabalha com a vontade pessoal, livre, durante o tempo desta vida. Acabado este tempo nenhum outro trabalho será ali realizado, seja para o bem, seja para o mal. Começareis por purificar-vos com a contrição interior, desapegando- vos e desejando a virtude. Sem esta predisposição, exigida na medida de vossas possibilidades como ramos unidos à Videira, que é Meu Filho (Jo 15,1). nada recebereis.

Dizia Meu Filho: 'Eu sou a videira verdadeira e vós os ramos; Meu Pai é o agricultor' (Jo 15,5). Sim, Eu Sou o agricultor, de Mim se originam todos os seres. Tenho um poder incalculável, pelo qual governo o universo; nada Me escapa. Fui Eu o agricultor que plantou a verdadeira vinha, Cristo, no chão da humanidade, para que vós, unidos a Ele, possais frutificar. Quem não produzir ações santas e boas, será cortado da videira; e secará. Separado, perderá a vida da graça e irá para o fogo eterno.

Sabes que os mandamentos da Lei se reduzem a dois: sem eles nenhum outro é observado. São eles: amar-Me sobre todas as coisas e amar o próximo como a ti mesma. Eis o começo, o meio e o fim dos mandamentos da lei. Todavia esses dois não se reúnem em Mim sem os 'três', isto é, sem a unificação das três faculdades da alma: a memória, a inteligência e a vontade. A memória há de recordar-se dos Meus benefícios e da Minha bondade; a inteligência pensará no amor inefável revelado em Cristo, pois Ele se oferece como objeto de reflexão, para manifestar a chama do Meu amor; a vontade unindo-se às faculdades anteriores, Me amará e desejará como seu fim.

O coração humano, ao ser atraído pelo amor, leva consigo todas as faculdades da alma: Quando são harmonizadas e reunidas tais faculdades, todas as ações humanas - corporais ou espirituais - ficam-Me agradáveis, pois unem-se a Mim na caridade. Foi exatamente para isso que Meu Filho se elevou na cruz, trilhando o caminho do amor cruciante. Ao dizer 'Quando Eu for elevado, atrairei a Mim todas as coisas', Ele queria significar: quando o coração humano e as faculdades forem atraídas, todas as demais faculdades e suas ações o serão.

É muita estreita a união dessas três faculdades. Quando uma delas Me ofende, as outras também o fazem. Como disse, uma apresenta à outra o bem ou o mal, conforme agrada ao livre arbítrio. O livre arbítrio, se acha na vontade e a move como quer, em conformidade ou não com a razão. Possuis a razão, sempre unida a Mim, a menos que o livre arbítrio a afaste mediante o amor desordenado, e tende em vós uma lei perversa, que luta contra o espírito. 

Ensinou o apóstolo Paulo em sua carta (C1 3,5) a mortificar o corpo e a destruir a vontade própria, ou seja, refrear o corpo mortificando a carne, quando ela se opõe ao espírito. Tendes, então, duas partes em vós mesmos: a sensualidade e a razão. A sensualidade foi dada como servidora, a fim de que as virtudes sejam exercidas e provadas através do corpo. O homem é livre, já que Meu Filho o libertou com o Seu Sangue. Ninguém pode dominar a pessoa humana quanto à vontade, pois ela possui o livre arbítrio. Este se identifica com a vontade, concorda com ela. Fica, pois, o livre arbítrio entre a sensualidade, e a razão, e inclina-se ora de um lado ora de outro, conforme preferir. Quando a pessoa tenta livremente reunir as três faculdades, memória, inteligência e vontade, em Mim, na maneira explicada, todas as atividades espirituais e corporais humanas ficam unificadas. O livre arbítrio se afasta da sensualidade, tende para o lado da razão.

Ninguém pode vir a Mim, senão por meio de Cristo. Esta a razão pela qual fiz d'Ele uma Ponte de três degraus. Esses três degraus representam os três estados espirituais do homem. O pavimento desta ponte é feito de pedras, a fim de que a chuva (da justiça divina) não retenha o caminhante. As pedras são as virtudes verdadeiras e reais. Antes da Paixão do Meu Filho, elas ainda não tinham sido assentadas, motivo pelo qual os antigos não atingiam o céu, mesmo que vivessem piedosamente. O Paraíso ainda não fora aberto com a chave do Sangue, e a chuva da justiça divina impedia a caminhada.

Quando aquelas pedras foram assentadas no Corpo do Meu Filho - por Mim comparado a uma ponte - foram embebidas, amalgamadas e assentadas com sangue. Em outras palavras: o sangue (humano) foi misturado com a cal da divindade e fortemente queimado no calor da caridade. Tais pedras foram postas em Cristo por Mim, mas é n'Ele que toda virtude é comprovada e vivificada. Fora de Jesus ninguém possui a vida da graça. Ocorre estar n'Ele, trilhar suas estradas, viver a sua mensagem. Somente Ele faz crescer as virtudes, somente Ele as constrói como pedras vivas, cimentando-as com o próprio Sangue.

Nele, todos os fiéis caminham na liberdade, sem o medo da justiça divina, pois vão cobertos pela misericórdia, descida do céu no dia da encarnação. Foi a chave do Sangue de Cristo que abriu o céu. Portanto, esta ponte é ladrilhada; e seu telhado é a misericórdia. Possui também uma despensa, constituída pela hierarquia da Santa Igreja, que conserva e distribui o Pão da Vida e o Sangue. Assim, Minhas criaturas, viandantes e peregrinas, não fraquejam de cansaço na viagem. Para isto ordenei que vos fosse dado o Corpo e o Sangue do Meu Filho, Homem Deus.

Disse Jesus: 'Eu sou o caminho, a verdade, e a vida; quem vai por Mim não caminha nas trevas, mas na luz' (Jo, 8,12)... Quem vai por tal caminho é filho da verdade, atravessa a ponte e chega até Mim, verdade eterna, oceano de paz. Quem não trilha esse caminho, vai pela estrada inferior, no rio do pecado. É uma estrada sem pedras, feita somente de água, inconsistente; por sobre ela ninguém vai sem afundar. É o caminho dos prazeres e das altas posições, daqueles cujo amor não repousa em Mim e nas virtudes, mas no apego desordenado ao que é humano e passageiro. Tais pessoas são como a água sempre a escorrer. À semelhança daquelas realidades, vão passando.

Eles acham que são as coisas criadas, objeto de seu amor, que se vão; na realidade, também eles caminham continuamente em direção à morte. Bem que gostariam de deter-se, reter na vida as coisas que amam. Seriam felizes se as coisas não passassem. Perdem-nas todavia, seja por causa da morte, seja pelos acontecimentos com que faço, escapar-lhes das mão, os bens deste mundo.

Com o retorno de Meu Filho ao céu, enviei o Mestre, o Espírito Santo. Ele veio no Meu poder, na sabedoria do Filho, e na própria clemência. É uma só coisa Comigo e o Filho. Por sua vinda fortaleceu o Caminho - Mensagem deixado no mundo por Jesus. O Espírito Santo é qual uma mãe a nutrir no Divino Amor. Ele liberta o homem, torna-o dono de si, isento da escravidão e do egoísmo. A chama da Minha caridade (o Espírito Santo) não sobrevive junto ao egoísmo.

Assim, todos os homens, recebem luzes para conhecer a verdade. Basta que cada um o queira, que não destrua a luz da razão, pelo egoísmo desordenado. A mensagem de Jesus é verdadeira e ficou no mundo qual pequena barca para retirar os pecadores do rio do pecado e conduzi-los ao porto da salvação. Primeiro, coloquei Meu Filho como Ponte - Pessoa, a conviver com os homens; após Sua morte, ficou a Ponte - Mensagem possuindo o Meu poder, a sabedoria do Filho e o amor do Espírito. O poder fortifica os caminhantes, a sabedoria ilumina e ajuda a reconhecer a Verdade, o Espírito Santo infunde o amor que aperfeiçoa, que destrói o egoísmo e conserva no homem o apego ao bem.

O Verbo encarnado, Meu Filho único e ponte de glória, deu aos homens vida e grandeza. Eram escravos do demônio e Ele os libertou. Para que cumprisse tal missão, tornei-O servo; para cobrir a desobediência de Adão exigi que obedecesse; para confundir o orgulho, humilhou-se até a morte na cruz. Por Sua morte, destruiu o pecado. No intuito de livrar a humanidade da morte eterna, fez do Seu Corpo uma bigorna. No entanto os pecadores desprezam o seu Sangue, pisoteiam-no com um amor desordenado. Esta é a injustiça, este o julgamento falso a respeito do qual o mundo é e será repreendido até o dia do juízo final. Tal repreensão começou quando enviei o Espírito Santo sobre os apóstolos; são três as repreensões: a voz da Igreja, o Juízo Particular e o Juízo Final.

(Revelações de Deus Pai a Santa Catarina de Sena)

terça-feira, 26 de julho de 2016

26 DE JULHO - SÃO JOAQUIM E SANTA ANA

Sagrada Família com São Joaquim e Santa Ana (Nicolás Juarez, 1699)

De acordo com a Tradição Católica e documentos apócrifos antigos, os pais de Maria foram São Joaquim e Santa Ana. Ana, em hebraico Hannah, significa 'Graça' e Joaquim equivale a 'Javé prepara ou fortalece'. Ambos os nomes indicam, portanto, a  missão divina de realização das promessas messiânicas, com o nascimento da Mãe do Salvador. Segundo a mesma Tradição, os pais de Maria teriam nascido na Galileia, transferindo-se depois para jerusalém, onde Maria nasceu e onde ambos morreram e foram enterrados.

O culto aos pais de Maria Santíssima é antiquíssimo na Igreja Oriental (como revelados nos escritos de São Gregório de Nissa e Santo Epifânio, em hinos gregos e em homilias dos Santos Padres). Os túmulos de São Joaquim e Santa Ana em Jerusalém foram honrados até o final do Século IX, numa igreja construída no local onde viveram. No Ocidente, o culto de Santa Ana é muito mais recente, com sua festa litúrgica tendo início na Idade Média, sendo formalizada no Missal Romano apenas em 1584, no tempo de Gregório XIII. A devoção a São Joaquim foi ainda mais tardia no Ocidente.

Como pais de Nossa Senhora, São Joaquim e Santa Ana são nossos avós espirituais e o calendário litúrgico instituiu a festa conjunta destes dois santos em 26 de julho, que ficou também conhecida como 'dia dos avós'. Eles são também os santos protetores da Ordem dos Carmelos Descalços (fundada no Século XVI por Santa Teresa de Ávila). No dia dos avós, o blog presenteia os nossos irmãos mais velhos com estas duas orações.

Oração a Santa Ana

Santa Ana, mãe da Santíssima Virgem, pela intercessão da Vossa Filha e do Meu Salvador, dai-me obter a graça que Vos peço, o perdão dos meus pecados, a força para cumprir fielmente os meus deveres de cristão e a perseverança eterna no amor de Jesus e de Maria. Amém.

Oração a São Joaquim

Senhor! Pela intercessão de São Joaquim, pai da Santíssima Virgem, velai pelos Vossos filhos idosos, especialmente... (nomes) que, tendo cumprido na Terra uma vida longa, possa(m) merecer de Vós a Vida Eterna no Céu. Senhor, dai-lhes o conforto de uma idade avançada, saúde do corpo e da alma, a sabedoria de envelhecer e um coração inquieto enquanto não repousar em Vós. Amém.