quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

A VIDA OCULTA EM DEUS: A VIDA INTERIOR


Nossa Senhora do Monte Carmelo é a Padroeira da vida interior, a Virgem que nos separa da multidão e nos leva docemente aos cumes onde o ar é mais puro e o céu é mais claro: Deus está mais próximo e neles... perpassa a vida de intimidade com Deus. Segundo São Gregório Magno, a vida contemplativa e a vida eterna não são duas coisas diferentes, mas uma só realidade; uma é a aurora, a outra, o meio-dia. A vida contemplativa é o princípio da vida eterna, o seu deleite antecipado. Que a Rainha dos Céus nos conceda, pois, a graça de compreender o estreito vínculo que une essas duas vidas para vivermos aqui na terra como se já estivéssemos no Céu.

Uma alma interior é uma alma que encontrou Deus no fundo do seu coração e que vive sempre com Ele. 

Deus está no fundo da alma, mas escondido. A vida interior é como um transbordamento de Deus na alma. 

Há que se mantermos atentos no âmago de nossa alma, no ponto preciso em que possamos vigiar todos os seus movimentos, seja para detê-los, seja para orientá-los, de acordo com as diversas ocasiões. Vivamos ou de Deus ou para Deus, todavia não se trabalha inteiramente para Deus, senão quando já não se faz absolutamente nada para si mesmo. Deste modo, acontece o que Deus quer, quando quer e como quer, por se estar sempre unido com Aquele de quem ninguém é nada além de um instrumento privilegiado. 

Duas coisas são necessárias para alcançar a perfeição e a íntima união com Deus: tempo e paz.  

O que dá valor aos atos reflexivos do homem é a sua união a Deus pela caridade. Quanto mais profunda for esta intimidade, maior a eternidade dos seus frutos. 

Uma alma cujo olhar interior, carinhoso e humilde, está sempre fixo em Deus, obtém dEle tudo quanto quer.

Entre uma alma, recolhida e despojada de tudo, e Deus, não há nada. A união se faz por si mesma e é imediata. 

O tempo passa rápido e Deus é sempre amado muito pouco e muito tarde. 

Quão delicado sois Vós, ó meu Deus, em Vossos afetos! Tomais em conta o que é legitimamente pessoal em nós e tratais a alma que amais como se não houvesse nada no mundo além dela e Vós. 

Crer é comungar na ciência de Deus: Ele vê; e nós cremos na sua Palavra de testemunho. Pela fé, Deus fala; pela esperança, Deus nos ajuda e, pela caridade, Deus nos dá a nós e nos cumula de graças. 

Elevai-vos a Deus constantemente, deixando a terra por terra. Buscais viver pouco com os outros e ainda menos consigo mesmo, mas o máximo possível senão em Deus, ou pelo menos perto dEle.

Quando, no fundo da alma, ouvirdes duas vozes contraditórias, é conveniente que escuteis com mais cuidado a que vos fala mais baixo. De qualquer forma, essa é a que vos pede mais sacrifícios. E o sofrimento bem entendido tem tanto valor! E nos afasta de tudo para nos aproximarmos de Deus.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte I -  O Esforço da Alma; tradução do autor do blog)