quarta-feira, 13 de novembro de 2019

ORAÇÃO: LAUDA SION SALVATOREM

No ano de 1264, o papa Urbano IV (1261-1264) instituiu a festa de Corpus Christi por meio da bula Transiturus de hoc mundo e, em seguida, convocou um procedimento público para a elaboração do chamado Ofício para a Festa. São Tomás de Aquino (1225 - 1274) elaborou, nesta ocasião, a sequência Lauda Sion Salvatorem, que se tornaria, então, uma dos grandes cânticos litúrgicos da Igreja de todos os tempos. A sequência Lauda Sion Salvatorem está estruturada em 80 versos que proclamam o louvor ao Santíssimo Sacramento, expõem a origem e as premissas da doutrina católica sobre o Santíssimo Sacramento e dirigem uma súplica final a Cristo para que, alimentados com o Corpo e o Sangue do Senhor nesta vida, possamos ser co-herdeiros com Ele no Banquete Eterno.

Lauda Sion Salvatorem,
lauda ducem et pastorem,
in hymnis et canticis.
Quantum potes, tantum aude:
quia maior omni laude,
nec laudare sufficis. 

Laudis thema specialis,
panis vivus et vitalis
hodie proponitur.
Quem in sacrae mensa cenae,
turbae fratrum duodenae
datum non ambigitur. 

Sit laus plena, sit sonora,
sit iucunda, sit decora
mentis iubilatio.
Dies enim solemnis agitur,
in qua mensae prima recolitur
huius institutio. 

In hac mensa novi Regis,
novum Pascha novae legis,
phase vetus terminat.
Vetustatem novitas,
umbram fugat veritas,
noctem lux eliminat. 

Quod in coena Christus gessit,
faciendum hoc expressit
in sui memoriam.
Docti sacris institutis,
panem, vinum in salutis
consecramus hostiam. 

Dogma datur christianis,
quod in carnem transit panis,
et vinum in sanguinem.
Quod non capis, quod non vides,
animosa firmat fides,
praeter rerum ordinem.

Sub diversis speciebus,
signis tantum, et non rebus,
latent res eximiae.
Caro cibus, sanguis potus:
manet tamen Christus totus
sub utraque specie. 

A sumente non concisus,
non confractus, non divisus:
integer accipitur.
Sumit unus, sumunt mille:
quantum isti, tantum ille:
nec sumptus consumitur. 

Sumunt boni, sumunt mali:
sorte tamen inaequali,
vitae vel interitus.
Mors est malis, vita bonis:
vide paris sumptionis
quam sit dispar exitus. 

Fracto demum sacramento,
ne vacilles, sed memento
tantum esse sub fragmento,
quantum toto tegitur.
Nulla rei fit scissura:
signi tantum fit fractura,
qua nec status, nec statura
signati minuitur.

Ecce Panis Angelorum,
factus cibus viatorum:
vere panis filiorum,
non mittendus canibus.
In figuris praesignatur,
cum Isaac immolatur,
agnus Paschae deputatur,
datur manna patribus. 

Bone pastor, panis vere,
Iesu, nostri miserere:
Tu nos pasce, nos tuere,
Tu nos bona fac videre
in terra viventium.
Tu qui cuncta scis et vales,
qui nos pascis hic mortales:
tuos ibi commensales,
coheredes et sodales
fac sanctorum civium.
Amen. Alleluia.




Sião, exulta de alegria,
louva teu pastor e guia
com teus hinos, tua voz!
Tanto possas, tanto ouses, 
em louvá-lo não repouses: 
sempre excede o teu louvor!

Hoje a Igreja te convida: 
ao pão vivo que dá vida
vem com ela celebrar!
Este Pão, que o mundo creia!
por Jesus, na Santa Ceia,
foi entregue aos que escolheu.

Nosso júbilo cantemos,
nosso amor manifestemos, 
pois transborda o coração!
Quão solene a festa, o dia, 
que da santa Eucaristia 
nos recorda a instituição!

Novo Rei e nova mesa,
nova Páscoa e realeza,
foi-se a Páscoa dos judeus.
Era sombra o antigo povo,
o que é velho cede ao novo: 
foge a noite, chega a luz.

O que o Cristo fez na ceia,
manda à Igreja que o rodeia
repeti-lo até voltar.
Seu preceito conhecemos:
pão e vinho consagremos
para nossa salvação.

Deve-o crer todo cristão:
faz-se carne o pão de trigo,
faz-se sangue o vinho amigo.
Se não vês nem compreendes, 
gosto e vista tu transcendes,
elevado pela fé.

Pão e vinho, eis o que vemos;
mas ao Cristo é que nós temos
em tão ínfimos sinais.
Alimento verdadeiro,
permanece o Cristo inteiro
quer no vinho, quer no pão.

É por todos recebido,
não em parte ou dividido,
pois inteiro é que se dá!
Um ou mil comungam dele,
tanto este quanto aquele:
multiplica-se o Senhor.

Dá-se ao bom como ao perverso, 
mas o efeito é bem diverso:
 vida e morte traz em si…
Pensa bem: igual comida, 
se ao que é bom enche de vida, 
traz a morte para o mau.

Eis a hóstia dividida… 
Quem hesita, quem duvida?
Como é toda o autor da vida,
a partícula também.
Jesus não é atingido:
o sinal que é partido:
mas não é diminuído, 
nem se muda o que contém.

Eis o pão que os anjos comem,
transformado em pão do homem;
só os filhos o consomem:
não será lançado aos cães!
Em sinais prefigurado,
por Abrão foi imolado, 
no cordeiro aos pais foi dado,
no deserto foi maná…

Bom Pastor, pão de verdade,
piedade, Jesus, piedade,
conservai-nos na unidade,
extingui nossa orfandade,
transportai-nos para o Pai!
Aos mortais dando comida,
dais também o pão da vida;
que a família assim nutrida
seja um dia reunida
aos convivas lá do céu!
Amém! Aleluia!