terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (VIII)

XXIII

AÇÃO DOS ANJOS BONS NO MUNDO CORPÓREO

Serve-se Deus dos anjos bons no governo do mundo material?
Sim, Senhor, porque este mundo é inferior ao dos anjos, e, em todo governo bem ordenado, os inferiores são regidos pelos superiores (CX, 1)*.

Qual é o seu ministério?
Velar pelo exato cumprimento do plano providencial e dos decretos divinos concernentes às coisas materiais.

A que ordem pertencem os anjos administradores das coisas materiais?
À ordem das Virtudes (CX, 1, 2, 2).

Que fazem os anjos que servem na administração do mundo corporal?
Velam pela perfeita execução do plano da Providência e pelas manifestações da vontade divina, em tudo o que se passa nos diversos seres que constituem o mundo material.

Logo, Deus executa por meio dos anjos que pertencem à ordem das Virtudes quantas alterações e mudanças se efetuam no mundo corporal, inclusive os milagres?
Sim, Senhor (CX, 4).

Têm os anjos virtude ou poder suficiente para fazer milagres?
Não, Senhor. Somente Deus pode fazê-los e o anjo concorre ou com intercessão ou como causa instrumental (CX, 4, ad 1).

XXIV

AÇÃO DOS ANJOS NO HOMEM - O ANJO DA GUARDA

Podem os anjos influir no homem?
Sim, Senhor; porque são de natureza puramente espiritual, e, portanto, superior à humana (CXI).

Podem iluminar a nossa inteligência?
Sim, Senhor; dando-lhe vigor e pondo ao nosso alcance a Verdade puríssima que eles contemplam (CXI, 1).

Podem intervir diretamente na nossa vontade?

Não, Senhor; porque a volição é um movimento interior que só depende de Deus, sua causa (CXI, 2).

Logo, somente Deus pode atuar diretamente e mudar, como lhe apraz, os movimentos da vontade humana?
Só Deus o pode fazer (Ibid).

Podem os anjos excitar a imaginação e as demais faculdades sensitivas?
Sim, Senhor; porque estando intimamente ligadas ao organismo dependem do mundo corpóreo submetido à ação dos anjos (CXI, 3).

Podem impressionar os sentidos externos?
Sim, Senhor; pela mesma razão, exceto quando a excitação provém do demônio, e neste caso pode ser contrabalançada por outra de um anjo bom (CXI, 4).

Por consequência, os anjos podem dificultar e impedir a obra dos demônios?
Sim, Senhor; porque a justiça divina submeteu os demônios, como castigo do seu pecado, ao domínio dos anjos (Ibid).

Envia Deus os seus anjos a exercer algum ministério entre os homens?
Sim, Senhor; Deus se serve deles para promover o bem e para executar os seus desígnios junto dos mortais (CXII, 1).

Envia, com este fim, todos os anjos?
Não, Senhor (Ibid).

Quais são os que nunca são empregados?
Os da primeira hierarquia (CXII, 2, 3).

Por que?
Porque é privilégio desta hierarquia o de permanecer constantemente junto ao Trono de Deus (Ibid).

Que título obtêm os anjos da primeira hierarquia, em atenção a este privilégio?
O de anjos assistentes (Ibid).

Quais são, pois, os enviados?
Todos os da segunda e terceira hierarquias, porém note-se que as Dominações presidem ao cumprimento dos decretos divinos e as outras ordens, Virtudes, Potestades, Principados, Arcanjos e Anjos, são os executores (CXII, 4).

Destina Deus alguns anjos para guarda dos homens?
Sim, Senhor; porque a divina Providência decretou que o homem, ignorante no pensar, inconstante e frágil no querer, tivesse como guia protetor, na sua peregrinação até ao céu, um daqueles espíritos ditosos, confirmados para sempre no bem (CXIII, 1).

Destina Deus um anjo para a guarda de cada homem, ou um só para guardar muitos?
Destina um para cada homem, porque mais ama Deus uma alma do que todas as espécies de criaturas materiais, e, apesar disto, determinou que cada espécie tivesse um anjo custódio encarregado do seu governo (CXIII, 2).

De que ordem toma Deus os anjos da guarda?
Toma-os do último coro (CXIII, 3).

Têm todos os homens, sem exceção, anjo custódio?
Sim, Senhor; todos o têm, enquanto vivem neste mundo, em atenção aos obstáculos e perigos do caminho que têm de percorrer até chegar ao fim (CXIII, 4).

Teve-o Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto homem?
Considerando que era pessoa divina, não convinha que o tivesse; porém, teve anjos com a nobilíssima missão de servi-Lo (Ibid).

Quando começa cada anjo custódio a exercer o seu ministério?
No instante em que o homem aparece no mundo (CXIII, 5).

Abandonam, alguma vez, os anjos custódios os homens confiados à sua guarda?
Não, Senhor; velam por eles sem interrupção até que exalem o último suspiro da sua vida (CXIII, 6).

Afligem-se à vista das tribulações e males do seu protegido?
Não, Senhor; porque, depois de fazerem o que está em suas mãos para evitá-los, reconhecem e adoram neles a grandeza insondável dos juízos de Deus (CXIII, 7).

É boa e recomendável a prática de invocarmos com frequência o nosso anjo da guarda e lhe confiarmos nossas pessoas e coisas?
É prática excelente e muito recomendável.

Quando invocamos os anjos da guarda, acodem eles, infalivelmente, em nosso socorro?
Sim, Senhor; porém com sujeição e conformidade com os decretos divinos e de modo que seja em coisa ordenada, em harmonia com a glória de Deus (CXIII, 8).

XXV

AÇÃO DOS ANJOS MAUS OU DEMÔNIOS

Podem os demônios combater e tentar os homens?
Sim, Senhor.

Por que?
Porque o seu todo é malícia e, além disso, porque Deus sabe tirar proveito das tentações em benefício dos eleitos (CXIV, 1).

É próprio dos demônios o tentar?
Sim, Senhor.

Em que sentido o dizeis?
No sentido de que os demônios só tentam aos homens com o propósito de seduzi-los e perdê-los (CXIV, 2).

Podem com este objetivo fazer milagres?
Verdadeiros milagres, não, Senhor; porém, 'alguma coisa parecida com os milagres'.

Que entendeis por estas palavras 'alguma coisa parecida com os milagres'?
Entendemos alguns fatos prodigiosos que excedem as forças dos agentes mais próximos e conhecidos, porém, não a virtude natural de todas as criaturas (CXIII, 4).

Como os distinguiremos dos milagres?
Em que se realizam sempre com fim ilícito ou meios reprováveis e não podem, por consequência, ser obra de Deus (CXIV, 4, ad 1).

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular).