sexta-feira, 18 de novembro de 2016

OS SOFRIMENTOS DO PURGATÓRIO (II)


2º sofrimento — Pena do Dano

A pena mais terrível do Purgatório é certamente a pena do dano, isto é, a se­paração forçada de Deus ou uma força irresistível que a cada instante afasta brus­camente de Deus a alma que a todo mo­mento, por instinto de sua natureza, corre a se unir com ele. Pode-se fazer uma ideia dela pelo su­plício de uma mãe que, chamada pelo filho prestes a ser devorado por uma fera, fosse retida por uma força invencível no momento em que se precipitasse em seu socorro, e isso não uma só vez, porém dez, cem vezes.

Há neste suplício, dizem os santos, uma angústia mais sensível, de certo modo, que a do inferno. Os míseros condenados não amam a Deus, seu desejo insaciável e sem­pre renascente é ver a Deus aniquilado. Mas as santas almas do Purgatório amam ao Senhor, amam-No tanto quanto O conhecem, e porque O viram, compreenderam o amor que lhes tem, sentem quanto há sido bom para com elas, sabem quanto serão felizes perto Dele e em sua união e, todavia, estão detidas longe Dele! Nada podem, nada, para se lhe aproximarem! É uma sede sem fim, a qual nada é capaz de imitar. É uma fome sem limites, que não há nada que possa fartar. É um peso enorme que abafa, e do qual não é possí­vel desembaraçar-se.

Santa Teresa experimentou alguma coisa destas angustias misteriosas: 'Em vão', diz ela, 'tentaria eu explicar sua natureza. A alma, por vezes, sente um desejo irresistível de Deus que parece transportá-la a um deserto onde ela nada mais vê para poder descansar. Nenhuma consolação, nem do Céu, onde ainda não está, nem da terra a que já não pertence'.

'Ó Jesus', exclama a santa, 'quem po­deria fazer uma pintura fiel desse estado? É um martírio que a natureza custa a suportar; os ossos se separam e ficam como deslocados, as mãos tomam tal ri­gidez que se não podem juntar, e, até o seguinte dia, sente-se uma dor tão vio­lenta, como se todo o corpo estivesse desconjuntado; um só desejo nos consome: morrer! morrer! ir a Deus! Esse esta­do', conclui a santa, 'é o das Almas do Purgatório'.

Oh! vós que amastes tanto na terra e que tanto sofrestes com a morte daqueles que amáveis, vós a quem a separação ain­da tortura, escutai, escutai o grito dessas almas que chamam a Deus e que nos di­zem: 'Vós no-lo podeis dar, ó dai-nos nosso Deus! Fazei-nos dignos Dele!'

(Excertos da obra 'Mês das Almas do Purgatório', do Monsenhor José Basílio Pereira, 1943)

Oração pelas Almas do Purgatório

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Senhor, preparai e fortalecei nossos corações com a abundância de vossa graça, a fim de que, penetrando, em espírito de fé, caridade e compaixão, nas tristes prisões do Purgatório, possamos levar aos fieis que nele sofrem os tesouros de su­frágios que dão alívio aos seus padecimentos, glória à vossa divina Majestade, con­solação e paz às nossas almas.

V. Vinde, Senhor, em meu auxílio.
R. Deus, acudi em meu socorro.
V. Dai às almas o repouso, Senhor.
R. E da luz eterna o esplendor.
V. Descansem em paz.
R. Amém.

Ó Jesus, abandonado de todos e até de vossos apóstolos no Jardim de Getsêmani, dignai-vos lançar os olhos de misericórdia sobre as almas do Purgatório, em particular sobre as que não recebem orações nem consolações e que, pelo decurso do tempo ou efeito de irreligiosidade e negligência, estão esquecidas; fazei que participem das orações, santos sacrifícios, boas obras, cujo mérito não pôde ser aplicado àqueles por quem a Igreja os oferta. Ah! Senhor, não terei eu abandonado, em um criminoso esquecimento, almas que tenham jus ao meu reconhecimento, sejam de parentes, de amigos ou de benfeitores? 

Quero de ora em diante reparar tão grande ingratidão. Se conhecesse algum meio eficaz, por mais penoso que me fosse, empregá-lo-ia para aliviar essas pobres almas sem proteção no meio de um oceano de sofrimentos. Entretanto, eu me proponho fazer todos os sacrifícios que puder, e todo bem que fizer ofereço-vos à vossa glória pelas almas do Purgatório. Em consideração de nossa fé e esperança em vós, em consideração, principalmente, da agonia mortal e cruel abandono que sofrestes: dignai-vos, ó Jesus, remir-lhes as penas que ainda têm de sofrer, a fim de que pos­sam ter livre entrada no reino eterno a que aspiram e onde celebrarão a grandeza ine­fável de um Deus que não desampara ninguém. Amém.