segunda-feira, 20 de outubro de 2014

LOCUÇÕES INTERIORES: 'ELE E EU'


Gabrielle Bossis (1874-1950) nasceu em Nantes (França) e foi educada num ambiente culto e refinado, tornando-se autora de peças teatrais e formando-se em enfermagem, tendo servido na Cruz Vermelha durante a I Guerra Mundial. Com o firme propósito de servir a Deus, dedicou-se a uma vida de devoção e piedade cristãs, sendo contemplada por locuções interiores com Jesus, que se tornaram bastante correntes desde 1936 até a sua morte em 1950. Estas locuções foram sistematizadas por ela na obra 'Lui et moi' - Ele e eu, depois traduzida em vários idiomas, que se converteu em fonte de referência como exemplo das grandes manifestações místicas da Igreja no século XX.

1º de março de 1937 (Estação ferroviária, às margens do Ródano): 'Olhas fixamente na direção de onde o trem virá. Da mesma maneira, Eu tenho os meus olhos fixos em ti, esperando que venhas a mim'.

6 de julho de 1937 (estação de Vannes): Ele me fazia compreender que devemos viver em família com todos os santos do céu, com os anjos, nossos irmãos mais velhos. Dizia-me: 'Não se deve sair do Amor'.

24 de novembro de 1937: 'Ama a tua cela: o teu quarto, se estás em casa; o teu próprio coração, se estás no meio da multidão. Aí estou Eu'.

1937. 'A tua alma tem uma porta que abre para a contemplação de Deus. Mas é indispensável que a abras.'

1937 (em Seine-et-Oise): Eu lhe dizia: 'Realmente eu não consigo entender como podes amar tanto umas criaturas tão miseráveis'. Ele me respondeu: 'Como poderias tu entender o Coração de um Deus?'

23 de fevereiro de 1938 (em uma avenida de Nantes, às cinco e meia da manhã): Eu disse: 'Jesus, estamos sós'. Ele me corrigiu: 'Diz 'meu' Jesus. Não te agrada que Eu te chame 'minha' Gabrielle?'

10 de março de 1938 (no campo): Eu estava com o pensamento envolto na Sagrada Família, com São José, a Mãe Santíssima e o Filho Único. Disse-me Ele com imensa ternura: 'Sê tu a irmãzinha'.

abril de 1939: 'Recolhimento; quando se inclina um vaso bem cheio para a esquerda ou para a direita, o conteúdo derrama; mas se o vaso é mantido reto, na direção do céu, permanece cheio'.

20 de junho de 1939: 'O teu temor de ofender-me é para mim como uma flecha que me fere de amor. Filha: que as feridas de amor que me causam os meus fieis curem as feridas que me causam a indiferença, o ódio e os desprezos.'

22 de junho de 1939 (no campo): 'Sê simples comigo. O que é que se faz de manhã ou no fim do dia, no seio de uma família? As pessoas beijam-se afetuosamente umas às outras, e tudo isso é natural. Às vezes, durante o dia, por ocasião de uma palavra ou um presente, trocam olhares. Olhares afetuosos. Há ímpetos de carinho. Como tudo isso é doce e reconfortante! Se me permitissem ser como um membro da família!...'

1939 (num restaurante repleto, em Lyon): 'Oferece-me aqui um Pai-Nosso; será o primeiro que me oferecem neste lugar em muito tempo!'

1939 : 'Não percas o teu tempo com pensamentos sobre ti. Não estou Eu aqui para preocupar-me das tuas coisas? Que em todos os teus instantes haja um afeto, como cânticos em que Eu beba o teu amor e o amor pelos pecadores; lucrarás graças para eles e para as almas do Purgatório. O que te resta de todos esses pensamentos da terra que acariciaste? Quanto não terias ganho se todos eles tivessem sido convertidos em impulsos para mim! Reflete sobre isso.'

1º de abril de 1940 (em Le Fresne): No jardim, sentada sobre a borda de um poço, orava eu pela conversão de um pecador e dizia: 'Senhor, lembra-te de que converteste a samaritana sentado à borda de um poço'. Ele me disse: 'Sim, mas tive de esperar por ela'. Fez-me compreender com isso que há ocasiões em que é preciso orar por longo tempo.