sábado, 15 de março de 2014

VERSUS: O SINAL DA CRUZ


Manifestação de um ex-protestante convertido ao Catolicismo*

É provável que, entre os cristãos primitivos, o sinal-da-cruz fosse a expressão de fé mais universal. Aparece com frequência nos documentos do período. Na maioria dos lugares, o costume era apenas traçar a cruz sobre a fronte. Alguns autores (como São Jerônimo e Santo Agostinho) descrevem os cristãos traçando a cruz sobre a fronte, em seguida sobre os lábios e depois sobre o coração, exatamente como fazem os católicos ocidentais modernos antes da leitura do Evangelho.

Grandes santos também atestam o poder extraordinário do sinal. No século III, São Cipriano de Cartago escreveu que 'no... sinal-da-cruz está toda virtude e todo poder...' Neste sinal-da-cruz está a salvação para todos os marcados na fronte' (referência aliás a Ap 7,3 e 14,1). Um século mais tarde, Santo Atanásio declarou que 'pelo sinal-da-cruz toda mágica cessa e toda feitiçaria não dá resultado'. Satanás é impotente diante da cruz de Jesus Cristo.

O sinal-da-cruz é o gesto mais profundo que fazemos. É o mistério do Evangelho em um momento. É a fé cristã resumida em um único gesto. Quando nos persignamos, renovamos a aliança que se iniciou com nosso batismo. Com nossas palavras, proclamamos a fé trinitária na qual fomos batizados ('Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo').

Com a mão, proclamamos nossa redenção pela cruz de Jesus Cristo.O maior pecado da história da humanidade - a crucificação do Filho de Deus - tornou-se o maior ato de amor misericordioso e de poder divino. A cruz é o meio pelo qual somos salvos, pelo qual entramos em comunhão com a natureza divina (veja 2Pd 1,4).

Trindade, encarnação e redenção - todo o credo passa como um raio naquele breve momento. No Oriente, o gesto é ainda mais fecundo, pois os cristãos traçam o sinal juntando os três primeiros dedos (polegar, indicador e médio), separados dos outros dois (anular e mínimo): os três dedos juntos representam a unidade da Trindade, os dois dedos juntos representam a união das duas naturezas de Cristo, a humana e a divina.

Não é apenas um ato de culto. É também um lembrete de quem somos nós. 'Pai, Filho e Espírito Santo' reflete um relacionamento familiar, a vida interior e a comunhão eterna de Deus. A nossa é a única religião com um Deus que é uma família.O próprio Deus é uma 'família eterna', mas, por causa de nosso Batismo, ele é nossa família também.

O Batismo é um sacramento que vem da palavra latina para juramento (sacramentum) e, por esse juramento, estamos ligados à família de Deus. Ao fazer o sinal da cruz, iniciamos a missa com um lembrete de que somos filhos de Deus.

Também renovamos o juramento solene do Batismo. Fazer o sinal-da-cruz, então, é como jurar sobre a Bíblia num tribunal. Prometemos que viemos à missa para dar testemunho. Assim, não somos espectadores do culto, mas participantes ativos, testemunhas e juramos dizer a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade. Que Deus nos ajude.

(* Scott Hahn, 'O Banquete do Cordeiro - a Missa segundo um Convertido')


Manifestação de um padre católico*

Muitos católicos ainda fazem cada dia, sobretudo no início das orações, o 'pelo sinal'. Traçam a cruz com o dedo polegar na testa, na boca e no peito, dizendo: 'Pelo sinal da Santa Cruz, livrai-nos, Deus, nosso Senhor, dos nossos inimigos' [aqui peca pela omissão por não dizer que, em seguida, os católicos fazem o sinal-da-cruz propriamente dito]. Particularmente, não vejo sentido algum nessa oração. Não sei se é pretensão, mas acho que não tenho inimigos [será que esse padre acredita mesmo que 'inimigos' aqui tratam-se exclusivamente daqueles que porventura possam vilipendiar, ferir ou matar o corpo?]. E se tiver, isso faz parte da vida. Eles nos ajudam a rever nossas atitudes e exercitar o perdão [inacreditavelmente, acredita!]. Por isso, ao começar o dia ou uma prece, costumo traçar uma cruz na testa dizendo: Senhor, ilumina a minha mente, pra que eu tenha bons pensamentos! Faço a cruz no peito dizendo: ilumina o meu coração, pra que eu tenha bons sentimentos! E na boca: abençoa a minha boca, pra que eu possa dizer sempre palavras boas! [desculpem-me, mas não posso resistir: porque não pede também para fazer uma cruz nas mãos, para que não possa escrever tanta heresia?]

Pode-se também usar a sugestão do Ofício Divino: 'Estes lábios meus vem abrir, Senhor! Cante esta minha boca sempre o teu louvor'. Me perdoem os devotos, mas também não gosto muito de rezar a 'Salve Rainha'. Aprendi isso com papai. Acho uma oração muito pessimista ...

(Pe. José Antonio de Oliveira, 'Pequenas mudanças, sentido profundo', artigo publicado no site da Arquidiocese de Mariana/MG)

Um comentário mais: entre o que papai me ensinou e o Que Deus nos ajude está a terrível provação que passa a Santa Igreja nestes tempos terríveis.