domingo, 2 de agosto de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo? Espada? Em tudo isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou! Tenho a certeza de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os poderes celestiais, nem o presente, nem o futuro, nem as forças cósmicas, nem a altura, nem a profundeza, nem outra criatura qualquer será capaz de nos separar do amor de Deus por nós, manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor'
(Rm 8, 35. 37-39)

sábado, 1 de agosto de 2020

01 DE AGOSTO - SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO

'Quem reza se salva, quem não reza se condena!'

Hoje é o dia da celebração da festa de Santo Afonso Maria de Ligório, fundador da Congregação do Santíssimo Redentor e autor de 'Glórias de Maria', obra prima de devoção mariana. Nasceu em Marianella, pequena comunidade próxima a Nápoles, em 27 de setembro de 1696, de família nobre e, aos 16 anos, já era doutor em direito civil e canônico. Abandonando uma promissora carreira de advogado, consagrou-se a Nossa Senhora e ordenou-se sacerdote em 1726. Em 09 de novembro de 1732, fundou a Congregação do Santíssimo Redentor. Em 1762, foi nomeado Bispo de Santa Ágata dos Godos, cidade perto de Nápoles, retornando à devoção exclusiva à sua ordem somente em 1775. Faleceu no dia 1º de agosto de 1787, aos 91 anos, sendo canonizado pelo Papa Gregório XVI em 1839; Pio IX o declarou Doutor da Igreja em 1871 .

A santificação não é um processo único e específico, mas todos os santos têm em comum um extraordinário senso de auto-sacrifício e uma devoção ardente à Vontade Divina. Santo Afonso correspondeu à graça vencendo dolorosas doenças, perseguições e tentações.  A pior de todas as suas doenças foi um ataque terrível de febre reumática durante o seu episcopado, que durou de maio de 1768 a junho de 1769, que o deixou paralisado até o fim de seus dias. Por esta razão, a sua imagem é comumente retratada com seu queixo avançando proeminente em direção ao peito, reflexo da violenta curvatura que dobrou sua coluna vertebral para a frente e que limitava enormemente seus movimentos. As perseguições vieram principalmente do seu zelo fervoroso no combate às heresias do jansenismo e as tentações surgiram principalmente no final de sua vida quando, ao longo de três anos, passou por terríveis provações e diabólicas tentações contra todas as suas virtudes.

Tão notável quanto a intensidade com que Santo Afonso trabalhou é a enorme quantidade de trabalhos que produziu, sendo que esta prodigiosa coleção de obras teve início quando o santo já contava com cerca de 50 anos de idade. O primeiro esboço de sua obra 'Teologia Moral', por exemplo, só apareceu por volta de 1748. Entre o grande número de suas obras dogmáticas e ascéticas, 'Glórias de Maria', 'A Selva' e 'Meditações para Todos os Dias e Festas do Ano' são as mais conhecidas. Foi também poeta, músico e até pintor (o crucifixo abaixo foi pintado pelo santo). Amparava-se no princípio de não ser admissível perder um único momento do seu tempo em render graças a Deus, como ilustrado exemplarmente neste seu sermão sobre o valor do tempo.

VALOR DO TEMPO

Fili, conserva tempus et devita a malo: 'Filho, guarda o tempo e evita o mal' (Ecl. 4, 23)

Sumário. Um só momento de tempo vale tanto como Deus, porque o homem pode a cada instante, por um ato de contrição ou de amor, adquirir a graça de Deus e aumentar a glória eterna. E tu, meu irmão, em que empregas o tempo tão precioso? Porque adias sempre para amanhã o que podes fazer hoje?... Reflete que o tempo passado já não te pertence; que o futuro não está em tua mão. Só tens o tempo presente para fazeres o bem, e este é brevíssimo! Mister é, pois, que o aproveites depressa, se não o quiseres chorar depois como perdido irremediavelmente.

I. Meu filho, diz o Espírito Santo, sê cuidadoso em conservar o tempo, porque é a coisa mais preciosa e o maior dom que Deus pode dar ao homem na terra. Até os próprios pagãos sabiam o que vale o tempo. Dizia Sêneca que não há valor igual ao do tempo: Nullum temporis pretium. Os Santos, porém, avaliaram muito melhor ainda o valor do tempo. Diz São Bernardino de Sena que um só momento vale tanto como Deus; porque o homem pode a cada instante, por um ato de contrição ou de amor, adquirir a graça de Deus e aumentar a glória eterna: Tempus tantum valet, quantum Deus.

O tempo é um tesouro que só se acha nesta vida; não se encontra na outra, nem no inferno, nem no céu. No inferno o grito contínuo dos réprobos é este: Oh, si daretur hora! 'Oxalá se nos desse uma hora!' Comprariam por todo o preço uma hora de tempo, que lhes bastaria para reparar a sua ruína; mas essa hora não a terão mais. No céu não há tristeza; mas se os bem-aventurados pudessem estar tristes, a sua única tristeza seria de terem perdido tempo nesta vida, tempo em que podiam adquirir maior glória e que não existe mais para eles.

Uma religiosa beneditina apareceu, depois da morte, com a auréola da glória, a uma pessoa e disse-lhe que estava plenamente contente; mas, se pudesse desejar alguma coisa, seria voltar à terra e sofrer para merecer mais glória. Acrescentou que de boa mente consentiria em sofrer até o dia do juízo a doença dolorosa que tinha sofrido antes de morrer, para adquirir a glória que corresponde ao merecimento de uma só Ave-Maria. - 'E tu, meu irmão, em que empregas o tempo? Porque adias sempre para amanhã o que podes fazer hoje?'

II. Reflete que já não te pertence o tempo passado; que o futuro não está em teu poder: só tens o tempo presente para praticares o bem. Pelo que te avisa São Bernardo: 'Desgraçado! como ousas contar com o futuro, como se Deus tivesse posto o tempo à tua disposição?' E Santo Agostinho acrescenta: 'Diem tenes, qui horam non tenes?' ('Como te podes prometer o dia de amanhã, se nem sequer sabes se te é dada mais uma hora de vida?') Em suma, conclui Santa Teresa: 'Se não estás pronto hoje para a morte, teme morrer mal'.

Ó meu Deus, agradeço-Vos o tempo que me dais para reparar as desordens da minha vida passada. Se chegasse a morte neste momento, uma das minhas maiores penas seria pensar no tempo que perdi. Ah! meu Senhor, destes-me o tempo para Vos amar, e empreguei-o em Vos ofender! Merecia ser enviado ao inferno desde o instante em que Vos voltei as costas; Vós, porém, me chamastes à penitência e me perdoastes. Prometi nunca mais ofender-Vos, mas quantas vezes tornei a injuriar-Vos, e Vós ainda me perdoastes! Bendita seja para sempre a vossa misericórdia! Se não fosse infinita, como poderíeis suportar-me tanto tempo? Quem poderia ter para comigo a paciência que Vós tivestes? Quanto sinto ter ofendido um Deus tão bom!

Meu amado Salvador, a vossa paciência para comigo deveria ser suficiente para me inflamar de amor para convosco. Por quem sois, não permitais que viva por mais tempo ingrato ao amor que me haveis dedicado. Desligai-me de tudo, e atraí-me todo ao vosso amor. Não, meu Deus, não quero perder outra vez o tempo que me dais para reparar o mal que fiz; quero empregá-lo todo em vosso serviço e em vosso amor. Fortalecei-me, dai-me a santa perseverança. Amo-Vos, ó bondade infinita, e espero amar-Vos sempre. Graças vos dou, ó Maria! Tendes sido a minha advogada para impetrar-me o tempo que estou gozando. Assisti-me agora, e fazei que o empregue sem reserva a amar o vosso divino Filho, meu Redentor, e a vós, minha Rainha e minha Mãe (II 50).

Santo Afonso Maria de Ligório: 'Valor do tempo' em Meditações para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II. Herder & Cia, 1921, p. 252-254, disponível em www.obrascatolicas.com

Santo Afonso de Ligório, rogai por nós!

PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS


sexta-feira, 31 de julho de 2020

31 DE JULHO - SANTO INÁCIO DE LOYOLA


Ad Maiorem Dei Gloriam 

Para a Maior Glória de Deus

O fundador da Companhia de Jesus e autor dos 'Exercícios Espirituais' buscou a via da santidade pelo completo despojamento de si, pelo abandono completo de sua vontade aos desígnios da Divina Providência, abstraindo-se de todo comodismo humano na sua caminhada espiritual para Deus. Eis aí a santidade das atitudes extremas, das decisões moldadas por uma fé intrépida, pela ação de um 'sim' sem rodeios ou incertezas. Uma vida de conversão e de entrega generosa a Deus, testemunho eloquente da fé cristã coerente e tenaz, levada às últimas consequências. 

Inácio Lopez nasceu na localidade de Loyola, atual município de Azpeitia, no País Basco/Espanha, em 31 de maio de 1491. De família rica, levou vida mundana até ser ferido gravemente numa perna na batalha de Pamplona. Na longa convalescença e pela leitura da vida de grandes santos, decidiu abandonar os bens terrenos e viver para a glória de Deus, quando tinha então 26 anos. Entre 1522 e 1523, escreveu os chamados 'Exercícios Espirituais', uma síntese de sua própria conversão e método de evangelização para uma vida espiritual em plenitude. Em 1528, ingressou na Universidade de Paris e a 15 de agosto de 1534, com mais seis companheiros, entre eles São Francisco Xavier, fundou a Companhia de Jesus, tornando-se sacerdote e assumindo o cargo de superior-geral da ordem jesuítica em 1540, com a aprovação do Papa Paulo III. Santo Inácio morreu em Roma, em 31 de julho de 1556, aos 65 anos de idade. Foi canonizado em 12 de março de 1622 pelo Papa Gregório XV. Em 1922, o Papa Pio XI declarou Santo Inácio padroeiro dos Retiros Espirituais.

ORAÇÃO DE SANTO INÁCIO DE LOYOLA

Tomai Senhor, e recebei
Toda minha liberdade,
A minha memória também.
O meu entendimento
E toda minha vontade.
Tudo que tenho e possuo,
Vós me destes com amor.
Todos os dons que me destes,
Com gratidão vos devolvo:
Disponde deles, Senhor,
Segundo vossa vontade.
Dai-me somente 
O vosso amor, vossa graça.
Isto me basta,
Nada mais quero pedir.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

UM DIA SEM FIM

(clicar sobre a imagem para melhor visualização)
(O Desbravador - maio/junho de 1999)

quarta-feira, 29 de julho de 2020

SOBRE A PRUDÊNCIA E O DISCERNIMENTO

Numa carta endereçada ao 'povo de Deus', 152 bispos brasileiros manifestaram-se publicamente e de forma contundente sobre o atual governo, numa pregação de linha única e conformada exclusivamente pela crítica, pelo antagonismo, pela negação completa de quaisquer ações ou contribuições potencialmente relevantes ou positivas do governo vigente nos cenários atual e recente do país. Como crítica de linha única e sem anteparos de eventuais contraposições, tende a ser injusta. E, sendo de autoria de bispos da Igreja, resulta em objeto de consternação. Consternação porque evoca a perda de referência nos marcos de sobriedade, prudência e discernimento como virtudes cristãs, pelos quais se faz recordação a seguir de algumas passagens da encíclica Veritatis Splendor (Esplendor da Verdade), publicada pelo papa João Paulo II em 6 de Agosto de 1993: 

… Hoje, porém, parece necessário refletir sobre o conjunto do ensinamento moral da Igreja, com a finalidade concreta de evocar algumas verdades fundamentais da doutrina católica que, no atual contexto, correm o risco de serem deformadas ou negadas. De fato, formou-se uma nova situação dentro da própria comunidade cristã, que experimentou a difusão de múltiplas dúvidas e objeções de ordem humana e psicológica, social e cultural, religiosa e até mesmo teológica, a propósito dos ensinamentos morais da Igreja. Não se trata já de contestações parciais e ocasionais, mas de uma discussão global e sistemática do patrimônio moral, baseada sobre determinadas concepções antropológicas e éticas. Na sua raiz, está a influência, mais ou menos velada de correntes de pensamento que acabam por desarraigar a liberdade humana da sua relação essencial e constitutiva com a verdade. Rejeita-se, assim, a doutrina tradicional sobre a lei natural, sobre a universalidade e a permanente validade dos seus preceitos; consideram-se simplesmente inaceitáveis alguns ensinamentos morais da Igreja; pensa-se que o próprio Magistério possa intervir em matéria moral, somente para 'exortar as consciências' e 'propor os valores', nos quais depois cada um inspirará, de forma autônoma, as decisões e as escolhas da vida.

Em particular, deve-se ressaltar a discordância entre a resposta tradicional da Igreja e algumas posições teológicas, difundidas mesmo nos Seminários e Faculdades eclesiásticas, sobre questões da máxima importância para a Igreja e a vida de fé dos cristãos, bem como para a própria convivência humana… Generalizada se encontra também a opinião que põe em dúvida o nexo intrínseco e indivisível que une entre si a fé e a moral, como se a pertença à Igreja e a sua unidade interna se devessem decidir unicamente em relação à fé, ao passo que se poderia tolerar, no âmbito moral, um pluralismo de opiniões e de comportamentos, deixados ao juízo da consciência subjetiva individual ou à diversidade dos contextos sociais e culturais

Na sequência do texto, encontra-se a seguinte exortação dirigida explicitamente aos bispos da Igreja:

'Ao dirigir-me com esta Encíclica a vós, Irmãos no Episcopado, desejo enunciar os princípios necessários para o discernimento daquilo que é contrário à 'sã doutrina', apelando para aqueles elementos do ensinamento moral da Igreja, que hoje parecem particularmente expostos ao erro, à ambiguidade ou ao esquecimento... Estas e outras questões — como: que é a liberdade e qual a sua relação com a verdade contida na lei de Deus? qual é o papel da consciência na formação do perfil moral do homem? como discernir, em conformidade com a verdade sobre o bem, os direitos e os deveres concretos da pessoa humana? — podem-se resumir na pergunta fundamental que o jovem do Evangelho pôs a Jesus: 'Mestre, que devo fazer de bom para alcançar a vida eterna?'. Enviada por Jesus a pregar o Evangelho e a 'instruir todas as nações (...) ensinando-as a observar tudo' o que Ele mandou (Mt 28, 19-20), a Igreja propõe sempre de novo, hoje também, a resposta do Mestre: esta possui luz e força capazes de resolver inclusive as questões mais discutidas e complexas.

...É sempre nessa mesma luz e força que o Magistério da Igreja realiza a sua obra de discernimento, acolhendo e pondo em prática a admoestação que o apóstolo Paulo dirigia a Timóteo: 'Conjuro-te, diante de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, e em nome da sua aparição e do seu Reino: prega a palavra, insiste oportuna e inoportunamente, repreende, censura e exorta com bondade e doutrina. Porque virá o tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina. Desejosos de ouvir novidades, escolherão para si uma multidão de mestres, ao sabor das paixões, e hão de afastar os ouvidos da verdade, aplicando-os às fábulas. Tu, porém, sê prudente em tudo, suporta os trabalhos, evangeliza e consagra-te ao teu ministério' (2 Tm 4, 1-5; cf Tt 1, 10.13-14).

(destaques em negrito pelo autor do blog)

terça-feira, 28 de julho de 2020

PROFECIA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS

'Célere se aproxima o tempo no qual haverá grandes provas e aflições; perplexidades e discórdias, tanto espirituais como temporais, virão em abundância; a caridade de muitos esfriará, enquanto a malícia dos ímpios aumentará.

Os demônios deterão um poder incomum; a imaculada pureza de nossa Ordem, e de outras, será tão enegrecida que bem poucos cristãos ainda obedecerão ao verdadeiro Pontífice Soberano e à Igreja Romana com corações leais e caridade perfeita. Na época dessa tribulação, um homem não canonicamente eleito será elevado ao pontificado e, com a sua astúcia, empenhar-se-á em levar muitos ao erro e à morte.

Então escândalos se multiplicarão, nossa Ordem se dividirá, e muitas outras serão totalmente destruídas, porque aprovarão o erro ao invés de combatê-lo. Haverá uma tal diversidade de opiniões e cismas entre as pessoas, os religiosos e o clero, que, se aqueles dias não fossem abreviados, segundo as palavras do Evangelho, até os eleitos seriam levados ao erro, se não fossem guiados, em meio a tão grande confusão, pela imensa misericórdia de Deus.

Então nossa Regra e nosso modo de vida serão violentamente combatidos por alguns, e provas terríveis virão contra nós. Os que permanecerem fiéis receberão a coroa da vida; mas ai dos que, confiando somente em sua Ordem, caírem em mornidão, pois não serão capazes de suportar as tentações permitidas como teste para os eleitos.

Os que perseverarem em seu fervor e mantiverem sua virtude com amor e zelo pela verdade sofrerão injúrias e perseguições como rebeldes e cismáticos; pois seus perseguidores, instigados por espíritos malignos, dirão que prestam um grande serviço a Deus eliminando aqueles homens pestilentos da face da terra; mas o Senhor será o refúgio dos aflitos, e salvará todos que nEle confiarem. E a fim de se assemelharem com sua Cabeça [Cristo], esses eleitos agirão com total confiança e, com sua morte, obterão para si mesmos a vida eterna; escolhendo obedecer a Deus e não aos homens, eles não terão medo de nada e preferirão perecer a aprovar a falsidade e a perfídia.

Alguns pregadores manterão silêncio sobre a verdade, e outros a calcarão sob os pés e a negarão. A santidade de vida será desprezada até pelos que exteriormente a professam, pois naqueles dias Jesus Cristo lhes dará não um verdadeiro pastor, mas um destruidor'.

(São Francisco de Assis, em Works of the Seraphic Father St. Francis of Assisi)