domingo, 7 de janeiro de 2018

EPIFANIA DO SENHOR

Páginas do Evangelho - Festa da Epifania do Senhor

Reis Magos, Andrea Mantegna (1431-1506)

Epifania é uma palavra grega que significa 'manifestação'. A festa da Epifania - também denominada pelos gregos de Teofania, significa 'a manifestação de Deus'. É uma das mais antigas comemorações cristãs, tal como a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo - era celebrada no Oriente já antes do século IV e, somente a partir do século V, começou a ser celebrada também no Ocidente. 

Na Anunciação do Anjo, já se manifestara a Encarnação do Verbo, revelada porém, a pouquíssimas pessoas: provavelmente apenas Maria, José, Isabel e Zacarias tiveram pleno conhecimento do nascimento de Deus humanado. O restante da humanidade não se deu conta de tão grande mistério. Assim, enquanto no Natal, Deus Se manifesta como Homem; na Festa da Epifania, esse Homem se revela como Deus. Na pessoa dos Reis Magos, o Menino-Deus  é revelado a todas as nações da terra, a todos os povos futuros; a síntese da Epifania é a revelação universal da Boa Nova à humanidade de todos os tempos.

A Festa da Epifania, ou seja, a manifestação do Verbo Encarnado, está, portanto, visceralmente ligada à Adoração dos Reis Magos do Oriente: 'Ajoelharam-se diante dele e o adoraram' (Mt 2,11). Deus cumpre integralmente a promessa feita à Abraão: 'em ti serão abençoados todos os povos da terra ' (Gn 12,3) e as promessas de Cristo são repartidas e compartilhadas entre os judeus e os gentios, como herança comum de toda a humanidade. A tradição oriental incluía ainda na Festa da Epifania, além da Adoração dos Reis, o milagre das Bodas de Caná e o Batismo do Senhor no Jordão, eventos, entretanto, que não são mais celebrados nesta data pelo rito atual.

A viagem e a adoração dos Reis Magos diante o Menino Deus em Belém simbolizam a humanidade em peregrinação à Casa do Pai. Viagem penosa, cansativa, cheia de armadilhas e dificuldades (quantos não serão os nossos encontros com os herodes de nossos tempos?), mas feita de fé, esperança e confiança nas graças de Deus (a luz da fé transfigurada na estrela de Belém). Ao fim da jornada, exaustos e prostrados, os reis magos foram as primeiras testemunhas do nascimento do Salvador da humanidade, acolhido nos braços de Maria:   'Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe' (Mt 2,11): o mistério de Deus revelado de que não se vai a Jesus sem Maria. Com Jesus e Maria, guiados também pela divina luz emanada do Espírito Santo, também nós haveremos de chegar definitivamente, um dia, à Casa do Pai, sem ter que voltar atrás 'seguindo outro caminho' (Mt 2,12). 

sábado, 6 de janeiro de 2018

A ADORAÇÃO DOS TRÊS REIS MAGOS


No Evangelho de Mateus (Mt 2, 1ss), encontra-se a narrativa geral da adoração ao menino-deus pelos três reis magos do Oriente. Melquior, o mais velho, ofereceu ouro como presente a Jesus, símbolo de realeza; Gaspar, o mais moço, ofereceu incenso, símbolo da divindade de Cristo, enquanto Baltasar, o mouro, ofertou mirra, em adoração à humanidade de Jesus. A mirra, como símbolo de sofrimento, torna-se uma pré-anunciação e uma profecia das dores da Paixão do Senhor.




Mas, além da narrativa tão sobejamente conhecida, é importante ressaltar que o ato de adoração dos reis magos diante o Menino-Deus foi um ato de prostração de joelhos. Três reis, de origens incertas e longínquas, símbolos e representantes dos reis de toda a terra e da soberania sobre todas as nações (Sl 71, 11), dotados de poderes humanos e munidos de graças sobrenaturais, prostraram-se diante de Jesus Menino e O adoraram. De joelhos, de joelhos no chão.

Um antigo Pai da Igreja dizia que o diabo não tem joelhos e, em sendo assim, não pode ajoelhar-se, não pode prostrar-se, não pode adorar. A essência do mal é a não adoração, é a não prostração de joelhos. Que a Festa da Epifania do Senhor nos lembre deste grande exemplo dos reis magos: prostrar-nos de joelhos diante o Menino-Deus; dar-nos conta que temos joelhos e somos Filhos da Luz e, assim, inclinados e reclinados diante de Deus, possamos ser testemunhas e ofertas puras de sua santa redenção.

PRIMEIRO SÁBADO DE JANEIRO (E DE 2018)


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (V)

XVI

DAS FACULDADES AFETIVAS: O LIVRE ARBÍTRIO

Há no homem faculdades distintas das cognoscitivas?
Sim, Senhor; as afetivas.

Que entendeis por faculdades afetivas?
O poder que o homem tem de propender para o que as faculdades cognoscitivas lhe apresentam como bom e de fugir do que como mau lhe põem diante dos olhos.

Quantas classes de faculdades afetivas há no homem?
Duas, correspondentes às duas espécies de conhecimento que estudamos.

Que nome recebe a primeira?
O de apetite sensitivo (LXXXI)*.

E a segunda?
A segunda chama-se vontade (LXXXII).

Recebe também a vontade o nome de apetite?
Sim, Senhor; porém em sentido mais nobre e espiritual.

Qual das duas faculdades é mais perfeita?
A vontade.

Se o homem possui livre arbítrio, é devido à vontade?
Sim, Senhor; porque, sendo o bem em geral (bonum commune) o único que a vontade ama necessariamente, quando solicitada por bens particulares permanece senhora de seus atos, podendo por consequência, inclinar-se a querer ou a não querer (LXXXVIII).

A liberdade humana reside exclusivamente na vontade?
Não Senhor; na vontade unida à inteligência.

O homem dotado de livre arbítrio, em virtude da inteligência e da vontade, é o rei da criação neste mundo corpóreo?
Sim, Senhor; porque os outros seres materiais são inferiores a ele, por natureza, e todos foram criados para que o servissem na peregrinação que há de empreender, até que volte ao seio de Deus, de cujas mãos saiu.

XVII

ORIGEM DIVINA DO HOMEM

Descendem dos mesmos pais todos os homens que existem e têm existido no mundo?
Sim, Senhor.

Como se chamavam os primeiros pais da linhagem humana?
Adão e Eva.

E eles, por sua vez, donde procediam?
Foram criados por Deus.

Como Deus os criou?
Dando-lhes corpo e alma.

Como produziu Deus as suas almas?
Por criação.

E os corpos?
O mesmo Deus nos revelou que modelou com barro o corpo de Adão e, de uma das suas costelas, formou o corpo de Eva (XCI, XCII).

O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus?
Sim, Senhor (XCIII).

Que quer dizer que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus?
Que a natureza e operações mais elevadas do homem lhe permitem entrever a natureza divina e a vida íntima da Augusta Trindade e imitam de certo modo a perfeição das pessoas divinas (XCIII, 5).

Por que se reflete, na natureza e nas operações mais nobres do homem, a natureza divina?
Porque também a nossa alma é espiritual e as suas operações mais perfeitas, entender e amar, têm por objeto a primeira Verdade e o Bem supremo, que é o mesmo Deus (XCII, 5-7).

Por que nos atos de entender e amar podemos ver uma semelhança da vida íntima da Augusta Trindade?
Porque o nosso Espírito, ao pensar em Deus, concebe um verbo interior que lhe serve de objeto e, sob a influência do pensamento produtor do Verbo, brota o ato de amar o objeto concebido pelo espírito (XCIII, 6).

De que modo podemos imitar a perfeição própria das Pessoas divinas?
Podemos, à sua semelhança, ter como primeiro objeto e último fim de nossos pensamentos e afetos a Deus, concebido no entendimento e adorado no coração (XCIII, 6).

Não há no mundo corpóreo, além do homem, algum outro ser feito à imagem e semelhança de Deus?
Não, Senhor; porque somente o homem possui natureza espiritual (XCIII, 2).

Logo, nas criaturas inferiores, nada há por onde venhamos ao conhecimento de Deus?
Sim, Senhor; porque, em razão das perfeições materiais de que foram dotadas, são como impressões ou vestígios da mão de Deus, seu criador (XCIII, 6).

XVIII

DO ESTADO FELIZ EM QUE FOI CRIADO O HOMEM

Criou Deus o homem perfeito?
Sim, Senhor.

Que bens compreendia o primitivo estado de felicidade em que o homem foi criado?
Ciência claríssima e universal, justiça original unida à prática de todas as virtudes, império absoluto da alma sobre o corpo e domínio sobre todas as criaturas (XCIV, XCV, XCVI).

Possuía o primeiro homem estes bens, na qualidade de privilégio exclusivo e intransferível?
Em relação à ciência, sim Senhor; porém, a justiça original e os dons de integridade se transmitiriam por geração a todos os seus descendentes, porque eram inseparáveis da natureza humana enquanto deles não fosse o homem despojado pelo pecado (XCIV, 1).

Estava o homem sujeito à morte?
Não, Senhor (XCVI, 2).

Estava isento de sofrimento e de dor?
Sim, Senhor; visto que a alma, por especial privilégio, protegia o corpo contra todo o mal e ela por sua vez de coisa alguma podia receber dano, enquanto a vontade permanecesse submissa a Deus (XCVII, 2).

Logo, o homem foi criado em estado de verdadeira felicidade?
Sim, Senhor.

E aquela felicidade era a última e suprema a que podia aspirar?
Não, Senhor; era temporal e a ela devia seguir-se outra mais alta e definitiva (XCIV, 1, ad 1).

Como poderíamos chamá-la?
A primeira felicidade inicial, durante a qual o homem contrairia méritos para alcançar, a titulo de recompensa, o estado de felicidade último e perfeito (XCIV, 1,2, 2; XCV, 4).

Onde receberia o homem o galardão que havia de coroar a sua felicidade?
No céu da glória, em companhia dos anjos, para onde seria levado por Deus, depois de algum tempo de prova e méritos no primitivo estado (XCIV. 1, ad 1).

Onde habitaria o homem, enquanto contraía méritos para ser levado á glória?
Num jardim de delicias, expressamente preparado por Deus (CII).

Como se chamou aquele lugar de delícias?
Paraíso terreal.


referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular).

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

VERSUS: ANO NOVO X ANO LITÚRGICO

03/12/2017


Neste dia, teve início um novo ano litúrgico da Santa Igreja com o Tempo do Advento, período que os cristãos são conclamados a viver em plenitude as graças da expectativa, da conversão e da esperança, à espera do Senhor Que Vem. A liturgia da Igreja Católica divide os anos em A, B e C, em função da referência da proclamação dos textos bíblicos sinóticos nas missas a cada um dos evangelistas: Mateus no ano A, Marcos no ano B e Lucas no ano C. O Ano Litúrgico 2017-2018 é o Ano B, no qual os exemplos e ensinamentos de Jesus Cristo são proclamados a cada domingo pelas leituras do Evangelho de São Marcos. A concepção católica do tempo tem dimensão passado-presente-futuro, tendo a eternidade como meta final e referência absoluta no advento e na ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sagrada. 

‘Eu estarei convosco todos os dias até a consumação do mundo’ 
(Mt 28,20)

01/01/2018


Neste dia, teve início o ano civil de 2018. O Ano-Novo civil é a comemoração de um novo ano que se inicia, e que é celebrado na passagem de 31 de dezembro para o dia 1º de janeiro, passagem comumente denominada pelo termo francês 'reveillon', que significa 'despertar'. As comemorações invocam roupas brancas, comidas especiais, shows de fogos de artifícios. Muito barulho para ocupar quase sempre um enorme vazio espiritual. O conceito do tempo civil é cíclico, repetitivo, amparado na esperança de que um novo período anual será melhor que o precedente, perspectiva esta sempre imbuída das melhores promessas de renovação dos votos de paz, alegria, amor e fraternidade universal. Ainda assim, promessa de uma nova vida, quase automática, social, polida. Profana.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

GLÓRIAS DE MARIA: MÃE DE DEUS E RAINHA DA PAZ

La Pietà (1498-1499) - Michelangelo Buonarroti

No primeiro dia do Ano Novo, a Igreja exalta Maria como Mãe de Deus; o calendário dos santos é aberto com a solenidade da maternidade daquela que Deus escolheu para mãe do Verbo Encarnado. Trata-se da primeira festa mariana proposta pela Igreja Ocidental, moldada sob as palavras eternas de Isabel: 'Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre' (Lc 1,42). Todos os títulos e todas as grandezas de Maria dependem do dogma essencial de sua maternidade divina. Desde a Antiguidade, Maria é chamada 'Mãe de Deus', do grego 'Theotokos', título ratificado pelo Concílio de Éfeso, de 22 de junho de 431. Em 1968, o Papa Paulo VI dedicou o 1° dia do ano como Dia Mundial da Paz. Assim, Maria é louvada também neste dia como Rainha da Paz. 

São Cirilo de Alexandria (370-442), na homilia pronunciada no Concílio de Éfeso contra Nestório, que negava ser Maria Mãe de Deus:

'Contemplo esta assembléia de homens santos, alegres e exultantes que, convidados pela santa e sempre Virgem Maria e Mãe de Deus, prontamente acorreram para cá. Embora oprimido por uma grande tristeza, a vista dos santos padres aqui reunidos encheu-me de júbilo. Neste momento vão realizar-se entre nós aquelas doces palavras do salmista Davi: ‘Vede como é bom, como é suave os irmãos viverem juntos bem unidos!’ (Sl 132,1). Salve, ó mística e santa Trindade, que nos reunistes a todos nós nesta igreja de Santa Maria Mãe de Deus. Salve, ó Maria, Mãe de Deus, venerável tesouro do mundo inteiro, lâmpada inextinguível, coroa da virgindade, cetro da verdadeira doutrina, templo indestrutível, morada daquele que lugar algum pode conter, virgem e mãe, por meio de quem é proclamado bendito nos santos evangelhos ‘o que vem em nome do Senhor’ (Mt 21,9).

Salve, ó Maria, tu que trouxeste em teu sagrado seio virginal o Imenso e Incompreensível; por ti; é glorificada e adorada a Santíssima Trindade; por ti, se festeja e é adorada no universo a cruz preciosa; por ti, exultam os céus; por ti, se alegram os anjos e os arcanjos; por ti, são postos em fuga os demônios; por ti, cai do céu o diabo tentador; por ti, é elevada ao céu a criatura decaída; por ti, todo o gênero humano, sujeito à insensatez dos ídolos, chega ao conhecimento da verdade; por ti, o santo batismo purifica os que creem; por ti, recebemos o óleo da alegria; por ti, são fundadas igrejas em toda a terra; por ti, as nações são conduzidas à conversão. 

E que mais direi? Por Maria, o Filho Unigênito de Deus veio ‘iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte’ (Lc 1,77); por ela, os profetas anunciaram as coisas futuras; por ela, os apóstolos proclamaram aos povos a salvação; por ela os mortos ressuscitam; por ela, reinam os reis em nome da Santíssima Trindade. Quem dentre os homens é capaz de celebrar dignamente a Maria, merecedora de todo louvor? Ela é mãe e virgem. Que coisa admirável! Este milagre me deixa extasiado. Quem jamais ouviu dizer que o construtor fosse impedido de habitar no templo que ele próprio construiu? Quem se humilhou tanto a ponto de escolher uma escrava para ser a sua própria mãe? Eis que tudo exulta de alegria! Reverenciemos e adoremos a divina Unidade, com santo temor veneremos a indivisível Trindade, ao celebrar com louvores a sempre Virgem Maria! Ela é o templo santo de Deus, que é seu Filho e esposo imaculado. A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.'