sábado, 7 de outubro de 2017

PRIMEIRO SÁBADO DE OUTUBRO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

EXERCÍCIOS DO AMOR DIVINO A JESUS (Parte III)

34 exercícios de amor a Jesus, propostos por São João Eudes, em honra e devoção aos 34 anos de sua vida; um ano no ventre de Maria e 33 de sua vida nesta terra.




PARTE III

18. Ó meu querido Jesus, quão amável sois Vós e quão pouco se Vos ama. O mundo não pensa em Vós e, assim, também não Vos ama; não se pensa senão em Vos ofender e a perseguir aqueles que Vos amam. Que eu, ao menos, pense em Vós e queira amar somente a Vós! Quem me dera poder amar-Vos em nome de toda a humanidade a fim de expiar a indiferença geral de tantos homens ingratos!

19. Ó Filho eterno do Pai, amável e amoroso, que se dispusestes a me amar desde toda a eternidade, razão pela qual também eu, se houvera existido eternamente, deveria também eternamente Vos amar. Não sendo isso possível, justo seria então amar-Vos desde que alcancei o uso da razão. Mas, ai de mim, bem mais tarde comecei a amar-Vos e, ainda pior, não me atreveria assegurar-Vos agora de que já Vos amo como deveria. Deus eterno que, em Vossa eternidade, nunca deixastes de me amar por um só momento, confesso que ainda não sei se ainda hoje sou capaz de Vos amar dignamente um só momento; o que sei com certeza, eivado de contrição e arrependimentos, é que não deixei nem um único dia de Vos ofender. E por que não morro de pesar e não se desfaz em mil pedaços o meu coração indigno ao mergulhar nesta minha incompreensível ingratidão? E como meus olhos permanecem insensíveis e indiferentes diante de tal tragédia espiritual, quando deveriam verter um mar de lágrimas, e lágrimas de sangue, para deplorar e estancar minha inexplicável ingratidão para com Vossa bondade infinita? Ó amor de Jesus, não quero mais ingratidão, nem mais ofensas, nem mais pecados, nem mais infidelidades para com Vós, que sois todo bondade e puro amor!

20. Ó amor eterno, desde a eternidade o Pai e o Espírito Santo Vos amam, amor do qual me alegro imensamente. Eu me uno e me desvaneço neste abismo de amor que o Vosso Pai e o Divino Espírito professam a Vós desde toda a eternidade!

21. Ó beleza eterna, ó bondade eterna, se tivesse eu neste mundo uma eternidade para amar-Vos, certamente nesse amor me demandaria por inteiro; não sendo assim, e me cabendo apenas os anos que me restam viver, com esforço ainda maior devo consagrar-me ao Vosso santo amor. Fazei que eu viva senão para amar-Vos e que não perca de vista o cumprimento deste santo propósito em nenhum instante da minha vida. Ou morrer ou amar, e mais nada... fazei que eu Vos ame eternamente e, aconteça o que acontecer, que desde agora eu seja parte deste amor oferecido a Vós por toda a eternidade. Ó eternidade de amor, ó meu Jesus tão querido, que eu seja cortado, queimado, feito pó e sujeito a sofrer outros mil tormentos nesta vida, se isso for da Vossa vontade, contanto que eu Vos possa amar por meio deles pelos séculos dos séculos!

22. Ó Rei dos séculos e dos tempos, ó Amor da minha alma, que resgatastes com o Vosso sangue todos os momentos da minha vida para Vos amar, o que tenho feito a não ser empregar o meu tempo a amar a mim mesmo, as coisas do mundo e as criaturas, desperdiçando assim um tempo precioso comprado por um preço tão elevado! É mais que tempo, ó meu Jesus, que eu passe a Vos amar de verdade, colocando toda a minha vida neste santo exercício, como se não existisse no mundo senão eu e Vós e como não houvesse mais nada a fazer senão pensar em Vós, em amar-Vos, em falar-Vos de coração para coração, sem me preocupar com o que acontece à minha volta, com o meu espírito tomado por inteiro no anelo insaciável de Vos amar cada dia mais e mais. Ó meu Jesus, inspirai em mim este desejo e tornai-o tão ardente e abrasador que se converta num anseio de puro e constante amor pela Vossa divina paixão, em querer sempre Vos servir, em Vos procurar noite e dia sem desfalecer. Convertei-me, ó meu Jesus, em um incêndio de amor pulsando de amor por Vós!

23. Com que imenso amor, ó meu Jesus, cobristes os céus e a terra e o derramastes em todos os lugares e sobre todas as Vossas criaturas, amor sem medida e infinitamente digno de ser amado. Um amor infinito que, em todo lugar, dedicais ao Vosso Pai e Vosso Divino Espírito e que, com o mesmo amor, sois correspondido por eles, o mesmo amor inesgotável com que me amais e amais a todas as criaturas em todos os lugares. Concedei-me a graça de corresponder a este Vosso amor com fervor renovado a cada dia. Neste propósito, unido e conformado à Vossa Divina Majestade, elevo o meu espírito e a minha vontade a todos os lugares e aos confins do universo para, assim, poder amar-Vos, glorificar-Vos e adorar-Vos infinitas vezes pelos méritos do Vosso próprio amor e também do amor do Vosso Pai e do Espírito Santo, manifestado em todos os lugares e sobre todos os seres que se encontram no céu, na terra e até no inferno.

24. Ó bondade infinita, seria necessário para amar-Vos dignamente dispor-se de um amor infinito; quanta alegria e felicidade o meu coração experimenta ao saber que sois, ó meu bom Jesus, tão bom e tão amoroso que, ainda que todos os seres do céu e da terra se unissem por toda a eternidade, para expressar conjuntamente nosso amor por Vós, isso ainda não seria suficiente. Somente Vós, com o Pai e o Espírito Santo, podeis amar-Vos como mereceis com um amor verdadeiramente infinito!

25. Ó bondade infinita, se eu fosse o senhor de todos os corações e tivesse a capacidade afetiva de todos os homens e de todos os anjos; se eu tivesse infinitos corações com infinitas possibilidades de amar, eu deveria usá-los todos para amar Aquele que me é infinitamente amável e que se vale de todas as fontes de sabedoria, de poder, de bondade e de todas as demais perfeições divinas para me amar e aplicar as maravilhas de sua caridade infinita em relação a mim. Quão obrigado estou, portanto, em usar a minha limitação extrema para Vos amar, ó meu senhor! Eis pois, meu querido Jesus, porque devo dirigir e consumir todas as forças do meu corpo e da minha alma apenas para Vos amar! É bem pouco, reconheço e, assim, quero reunir comigo todas as forças do céu e da terra, já que me foram dadas para Vos amar. Como isso ainda é pouco, ouso valer-me de todas as potências de Vossa divindade e de Vossa humanidade, que também me legastes por amor, para Vos amar como mereceis! Eu Vos amo, ó Jesus, e Vos amo com todas as minhas forças, com todas as forças do meu corpo e da minha alma, com todas as criaturas do céu, com a Vossa divindade adorável e com a Vossa divina humanidade.

26. Mas o que eu estou fazendo, meu Deus, se eu não sou digno de Vos amar e somente Vós podeis exercer uma ação tão nobre e tão divina? É por isso que, enquanto posso, me prostro aos Vossos pés, contrito e humilhado, e me entrego inteiramente a Vós de modo que, aniquilando-me diante do vosso amor onipotente, que Vos fizestes assumir a nossa condição humana, Vos ofereço a posse de todo o meu ser. Nesta condição, Vós mesmo havereis de ser o objeto do Vosso amor na minha humilde pessoa, com um amor verdadeiramente digno de Vós; e, assim, eu também poderei doravante Vos amar, não por mim mesmo e nem pelas próprias forças do meu espírito e do meu coração, mas senão por Vós e pela onipotência do Vosso Espírito e do Vosso próprio Divino Coração.

27. Ó amabilíssimo Jesus, Vós nos assegurastes nas Sagradas Escrituras que o Pai nos ama como Ele Vos ama: dilectio qua dilexisti me em ipsis sit e que Vós nos amais com o mesmo amor que estais unido ao Pai, isto é, com um coração e um amor infinito: sicut Dilexit me Pater, et dilexi ego Vos - 'Como o Pai me ama, assim também eu vos amo' (Jo 15, 9). Depois, ordenastes que Vos amássemos da mesma forma, isto é, como Vós amais o Pai, exigindo-nos ainda a perseverança do Vosso amor,  imitando Vosso respeito ao Pai Celestial: manete in dilectione mea. Se praecepta mea servaveritis, manebite em dilectione mea, sicut et ego Patris mei praecepta servavi e maneo em ejus dilectione  - Perseverai no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor, como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor (Jo 15, 9-10). 

Mas, Senhor, Vós conheceis a minha incapacidade e impotência de Vos amar e, assim, eu Vos rogo, ó meu Deus, dai-me o que ordenais e imponde em mim o que desejais: da quod jubes, et jube quod  vis, direi como Santo Agostinho. Aniquilai em mim o meu próprio coração e o meu amor próprio, trocando-os pelo Vosso Coração e pelo Vosso Amor Divino que são os mesmos do Vosso Pai Celestial, para que doravante eu possa amar-Vos como Vós amais o Pai e Ele Vos ama. Que eu persevere em Vosso amor tal como Vós permaneceis fiel no amor ao Vosso Pai e que todas as minhas obras sejam feitas sob a luz deste mesmo amor divino! Sim, ó meu Jesus, assim Vos quero amar: com o mesmo amor eterno, infinito e sem medidas com que o Vosso Pai Vos ama e com que Vós O amais.

E é esse amor infinito do vosso Coração e é esse imenso Coração abrasado de amor que eu Vos quero oferecer e que, na realidade, ofereço como se fossem meus em vez do meu próprio coração e do meu amor imperfeito, uma vez que me foram dados por Vós juntamente com o Santíssimo Coração de Maria, sua santa Mãe, coração este mais doce, mais amado e mais amoroso de todos os que Vos adoram, em união com todos os corações que Vos amam no Céu e na terra. Estes corações também são meus pois, como ensina o Apóstolo, o Pai, ao nos conceder o inefável mistério da Pessoa do seu Filho, outorgou-nos com Ele tudo o mais que Lhe pertencia - quomodo non etiam cum illo omnia nobis donavit?  - '... como não nos dará também com Ele todas as coisas? (Rm 8, 32).

28. Ó Jesus, Vós sois puro no mais alto grau, a própria pureza personificada; assim, Vós me amais com um amor puríssimo. Da minha parte, eu também quero amar-Vos com o amor mais puro de que seja capaz. E, portanto, quero amar-Vos com o  Vosso próprio e puríssimo amor; e amar-vos com o mesmo amor puríssimo que amais e sois amado pelo Pai e pelo Espírito Santo, pela Vossa Mãe Santíssima, pelos Vossos Anjos e Santos. Ó Pai, ó Espírito Santo, amai o meu Salvador em meu nome e supri as limitações do meu amor nas Vossas Divinas Pessoas. Ó Mãe de Jesus, ó anjos, ó santos e santas de Jesus, vinde em meu auxílio para que possamos unir as nossas forças para amar melhor o nosso Deus e Criador. Vinde e amemos o nosso amabilíssimo Salvador, dispondo e consumindo todo o nosso ser e todas as nossas forças para amar Aquele que nos criou apenas para amá-lO.

(versão para o português do autor do blog)

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque durante a oitava da festa de Corpus Christi de 1675...

         'Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra'.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

COMO PENSAR EM DEUS

O santo, que nascer de ti, será chamado Filho de Deus (Lc 1,35), fonte de sabedoria, o Verbo do Pai nas alturas! Este Verbo, através de ti, Virgem santa, se fará carne, de modo que aquele que diz: 'Eu no Pai e o Pai em mim' (Jo 10,38), dirá também: 'Eu saí do Pai e vim' (Jo 16,28).

No princípio, diz João, era o Verbo. Já borbulha a fonte, mas por enquanto apenas em si mesma. Depois, e o Verbo era com Deus (Jo 1,1), habitando na luz inacessível. O Senhor dizia anteriormente: 'Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição' (Jr 29,11). Mas teu pensamento está dentro de ti, ó Deus, e não sabemos o que pensas; pois quem conheceu a mente do Senhor ou quem foi seu conselheiro? (Rm 11,34).

Desceu, por isto, o pensamento da paz para a obra da paz: o Verbo se fez carne e já habita em nós (Jo 1,14). Habita totalmente pela fé em nossos corações, habita em nossa memória, habita no pensamento e chega a descer até a imaginação. Que poderia antes o homem pensar sobre Deus, a não ser talvez fabricando um ídolo no coração? Era incompreensível e inacessível, invisível e inteiramente impensável; agora, porém, quis ser compreendido, quis ser visto, quis ser pensado.

De que modo, perguntas? Por certo, reclinado no presépio, deitado ao colo da Virgem, pregando no monte, pernoitando em oração; ou pendente da cruz, pálido na morte, livre entre os mortos e dominando o inferno; ou ainda ressurgindo ao terceiro dia, mostrando aos apóstolos as marcas dos cravos, sinais da vitória, e, por último, diante deles subindo ao mais alto do céu.

O que não se poderá pensar verdadeira, piedosa e santamente disto tudo? Se penso algo destas realidades, penso em Deus e em tudo ele é o meu Deus. Meditar assim, considero sabedoria, e tenho por prudência renovar a lembrança da suavidade que, em essência tão preciosa, a descendência sacerdotal produziu copiosamente, e que, haurindo do alto, Maria trouxe para nós em profusão.

(Dos Sermões de São Bernardo)

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

ORAÇÃO DIÁRIA DE REPARAÇÃO A DEUS

Rezamos muito, às vezes, pedindo por nós, pela nossa família, por nossos entes queridos; pedimos curas e conversões, e também fazemos orações de agradecimento e louvor. Mas, muitas vezes, esquecemos de oferecer a Deus orações de reparação e de desagravo diante de tantos pecados e blasfêmias cometidas todos os dias contra a doutrina de Cristo, da Santa Igreja e dos Mistérios da Graça. Que tal rezarmos todos os dias orações de reparação a Deus? Por exemplo, uma oração como esta abaixo.


Meu Deus, eu Vos peço perdão pelos meus pecados cometidos no dia de hoje, pelos danos devidos a estes pecados; eu Vos peço perdão pelos pecados do meu próximo cometidos contra Vós por meio da minha pessoa.

Meu Deus, eu Vos ofereço reparação pelos que Vos ofenderam por pensamentos, palavras e ações, pelos maus exemplos de Vossos sacerdotes e religiosos, pela repulsa aos Vossos mandamentos, pela perda de tantas graças em muitas missas mal rezadas e em tantas orações feitas às pressas e sem devoção, pelos que não conhecem o preço da Vossa Redenção e não aceitam carregar a Vossa Cruz.

Eu Vos ofereço neste dia a minha reparação pelas dores e sofrimentos que não foram aproveitados, pelas graças de conversões que foram perdidas, pelas almas tíbias, pelo bem que se deixou de fazer, pela Vossa misericórdia que se tornou Vossa justiça. 

Meu Senhor e meu Deus, eu vos ofereço neste dia o meu desagravo diante de tantas blasfêmias, profanações do sagrado, perseguições aos Vossos filhos e à Vossa Santa Igreja e contra tantos e tantos testemunhos de ódio contra a fé cristã. 

Eu Vos peço perdão, Senhor, pelos pecados terríveis do aborto, da violência dos homens e dos escândalos contra os mistérios da Graça. Eu Vos peço perdão, meu Deus, pelas almas que renegaram definitivamente neste dia o jugo suave da Vossa Santa Lei, perderam o Céu para sempre e que hoje já não são mais Vossas. Amém.

(Arcos de Pilares)

terça-feira, 3 de outubro de 2017

NOSSA SENHORA DE TODOS OS NOMES (6)

Maria Jugo Gengizu ou Maria dos Quinze Mistérios


São Francisco Xavier tinha 35 anos quando cruzou o oceano para evangelizar os domínios portugueses de ultramar. Neste zelo apostólico, cruzou terras e oceanos em condições de risco extremo, perfazendo, em pouco mais de uma década, uma das mais extraordinárias ações missionárias da história da Igreja. Pregou a palavra de Cristo em inúmeras incursões a áreas remotas e a diferentes povos das possessões portuguesas, da Índia, das ilhas de Málaca, das Molucas e de várias ilhas vizinhas, chegando até o Japão e, mais tarde, até às costas da China, onde veio a falecer, de febre e exaustão, em 3 de dezembro de 1552, aos 46 anos.

Em Málaca, conheceu três japoneses e começou a sonhar com a possibilidade de empreender um trabalho missionário no Japão, o que efetivamente ocorreu entre os anos de 1549 e 1551. Ao se retirar, tudo parecia indicar que a igreja nascente chegaria a ser uma das mais notáveis do Oriente, face ao notável crescimento do catolicismo nos anos seguintes. O santo não podia supor que, pouco depois de sua morte, haveria de se desencadear uma perseguição tão brutal que o cristi anismo desapareceria quase por completo no Japão.

Com o advento do Xogunato Tokugawa, uma ditadura feudal estabelecida no Japão a partir de 1603 e governada pelos xoguns da família Tokugawa até 1868 (o chamado Período Edo), o catolicismo foi brutalmente perseguido e praticamente proscrito no país. Após a expulsão dos missionários cristãos em 1614, uma série de torturas e execuções sumárias, pelos meios mais violentos possíveis, reprimiram quase que por completo as atividades e a manifestação da fé cristã no país. Editos foram promulgados oferecendo pagamentos por denúncias dos japoneses convertidos que, uma vez identificados, eram submetidos a toda sorte de torturas públicas, sendo queimados vivos ou mortos por crucificação ou decapitação. O culminar da perseguição foi o chamado massacre de Shimabara, perto de Nagasaki, em 1638, no qual um total de 35.000 pessoas - homens, mulheres e crianças, na sua maioria cristãos - foram mortas pelas forças do xogunato. Em meio a tudo isso, entretanto, o cristianismo não foi aniquilado e muitos japoneses professavam a sua fé cristã na clandestinidade - os chamados kakure kirishitan ou 'cristãos escondidos'.

E é nesse período terrível da cristandade no Japão que foi pintada pelos 'cristãos escondidos' o ícone chamado Maria Jugo Gengizu ou Maria dos Quinze Mistérios. Aqueles que criaram e preservaram a pintura arriscaram suas vidas para fazê-lo. Trata-se de uma pintura em pergaminho, retratando Nossa Senhora com o Menino Jesus ao centro, 4 santos na parte inferior (incluindo o próprio São Francisco Xavier e Santa Luzia, martirizada e protetora dos olhos) e circundada por 15 quadros menores, simbolizando os mistérios do Rosário. Nossa Senhora, em vez de rosas, segura uma camélia nas mãos, flor mais familiar para os japoneses. Especialistas sugerem que a pintura foi executada por um artista japonês que estudou técnicas ocidentais, pela associação bastante atípica da pintura, parte em óleo, parte em tinta chinesa.

A pintura, muito deteriorada e reparada muitas vezes de forma amadora, resistiu àqueles tristes tempos por muitas gerações e foi, sem dúvida, uma fonte de muitas orações, sacrifícios, provações e perseverança de muitos cristãos japoneses. Descoberta no sótão de uma antiga construção nas proximidades da cidade de Osaka, as investigações históricas indicaram que provavelmente teria pertencido originalmente a um nobre católico (ou daimyo) chamado Takayama Ukon. A pintura foi restaurada profissionalmente e encontra-se atualmente exposta para visitação pública no Museu da Universidade de Kyoto.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

POEMAS PARA REZAR (XXII)


CAMINHO
(Ao meu Anjo da Guarda)

Quando eu nasci,
lá não estavas ao lado da minha mãe?
O teu olhar não repousava sobre mim?
Meus olhos te viram e se fixaram em ti,
mais que nos olhos da minha mãe,
porque eras luz, esplêndida luz,
que tinhas cintilações e reflexos de onde eu vim.
Eras apenas a presença ali,
a luz que espargia ainda mais luz
e eu nada sabia, nada entendia,
eu era um nada que apenas me inebriava de tanta luz.

Aprendi então o olhar da minha mãe e me desvaneci em carinho
quando não estavas mais lá
a luz não era mais luz, apenas contorno de luz
que se acabou depois não sei quando
porque nem na memória restou
nada daquela claridade sem fim
nem as sombras, nem nos sonhos,
ficou ainda que um resto de luz.

Quando a luz se apagou de vez, aprendi a olhar sem a luz.
Aprendi a sorrir, chorar, mexer minhas mãos
e sentir a ausência doída da minha mãe.
Cresci sem saber, aprendendo gestos e palavras,
com sonhos que já nasciam esquecidos,
adormecido na mímica da vida
de ser o começo de tudo.

Depois descobri braços e pernas, gritos e sussurros,
pensar, repensar e não pensar sobre tudo
sobretudo não pensar.
E veio a vida que se leva, a leva da vida,
os anos que passaram como escolhas perdidas 
e a infinitude das coisas vãs 
e a perda do tempo infindo.

Também reaprendi a olhar e rever velhas causas
a me extasiar nas imagens dos meus filhos
a volver heranças de sonhos dormidos
e cumprir afazeres de velhas lembranças.
Vivi a vida das penas e cansaços da lida
entre os homens, entre Deus e os homens,
e aí acho que fiz as melhores escolhas.

Quando, enfim, pousado o tempo das coisas que passam
eis que é chegada a hora da volta
ao infinito recomeçar da perfeição
lá estás de novo, novo como da primeira vez,
a me lembrar que isso foi toda vez e sempre
entre sonhos dormidos e olhos fechados
da vida que se leva.
Lá estás, de novo, como último refúgio e consolo,
imerso em luz, em esplêndida luz,
a me olhar como da primeira vez.

Sei que agora não preciso de mais sonhos,
dominar os pés e as mãos que já não são mais minhas,
acalentar os tempos que não voltarão amanhã.
Basta, eu sei, fechar meus olhos e meus sonhos
e caminhar ainda contigo, anjo da minha proteção,
como um ser de mesmo corpo e luz,
da esplêndida luz,
que agora nos consome os dois.

(Arcos de Pilares)