terça-feira, 25 de outubro de 2016

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (II)

CAPÍTULO III

CONTRA O QUÊ OS PROTESTANTES PROTESTAM

Contra quem? Contra o quê? Protesta-se contra aquilo que é injusto ou nos incomoda; e, não sendo assim, protesta-se por vício ou por mania. Os protestantes protestam contra a Igreja Católica e contra os ensinamentos da mesma. Por quê? Terá a Igreja Católica cometido qualquer injustiça contra eles? Nunca! A Igreja Católica, como mãe carinhosa e como pai vigilante, ensina a doutrina recebida por Jesus Cristo. Exorta os homens a praticar a virtude, a afastar-se do mal, a respeitar as pessoas que não partilham o seu credo, embora refutem os erros por elas ensinados.

É a sua tarefa em tempo de paz. E em tempo de guerra, quando é atacada pelos inimigos, defende-se e defende o seu chefe Cristo, como o soldado, atacado pelos inimigos da pátria, defende a sua honra, a sua bandeira e o seu chefe. É o seu direito. É o seu dever. Atacada, ela se defende; perseguida, ela reza e sofre; levada ao patíbulo – o católico morre; porém a Igreja não pode morrer; ela se levanta mais radiante do meio do sangue dos seus filhos, para cantar o seu hino de triunfo em cima do túmulo dos seus perseguidores.

Quanto aos seus inimigos, ela perdoa, reza por eles e procura converter seus próprios algozes. Tudo isto é nobre, é leal, é brioso, e deve excitar a admiração e não o ódio. Não podendo protestar contra qualquer injustiça da parte da Igreja Católica, deve-se concluir que os protestantes protestam, porque ela os incomoda. Isso pode ser. A verdade incomoda a mentira; a virtude incomoda o vício; a honestidade incomoda a ganância; Deus incomoda o demônio.

Estamos de acordo neste ponto. A Igreja Católica, pelo seu ensino, sempre idêntico e sempre invariável; pela sua organização admirável; pela sua santidade que realiza na pessoa de seus filhos; pelas altas intelectualidades que a professam, defendem e exaltam, forma com tudo isso um astro luminoso, que incomoda a retina visual da miopia protestante. Assim, incomoda ao libertino a pureza de uma donzela, como incomoda ao ladrão a presença da polícia, como incomoda ao bêbado a temperança dos sensatos.

Isto é lógico. A mão coça onde há coceira, diz o ditado. Assim explicado, compreende-se a razão íntima do protesto dos protestantes e a mira desse protesto. Não protestam nem contra a barbaridade de um Calles no México; nem contra a tirania de um Lenin na Rússia, nem contra a perversidade do espiritismo, nem contra a imoralidade dos costumes e das modas. Isto, para eles, não merece protesto, mas merece-o a Igreja de Cristo, a Igreja do Papa, a Igreja de Roma, que atravessa os séculos, passando por cima dos ódios e da lama dos vícios, sempre bela, sempre pura, sempre majestosa e sempre divina! Ah! Isso é demais; é preciso protestar – e o protestante, escutando a calúnia dos seus pastores, em vez de escutar a voz do bom senso, protesta e vive protestando.

Cristo, o verdadeiro Deus, dirigindo-se a Pedro, disse: 'Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela' (Mt 16,18). 'Estarei convosco até o fim dos séculos' (Mt 28,20). 'Se alguém, ainda que fosse um anjo do céu, vos anunciasse outro evangelho além do que vos tenho anunciado, seja anátema' (Gl 1,8). 'Pedro, rezei por ti, para que a tua fé nunca venha a desfalecer' (Lc 22,32). Tudo isto é claro; é tal um sol refulgente!

O protestante, entretanto, protesta, e tapando os olhos com os dois punhos, grita: 'Não! São Pedro não é o chefe da Igreja! Não é ele o primeiro papa! Ele nunca esteve em Roma! Não tem nenhuma autoridade! A Igreja romana está errada! A religião verdadeira é o protestantismo de Lutero! Cristo disse: 'Minha Igreja!' É um erro! grita o protestante, a igreja verdadeira é a de Lutero. Pobres protestantes! Protestam contra Deus, contra a Igreja fundada por Cristo, filho de Deus, contra a Igreja fundada por Cristo e contra a doutrina ensinada por Deus.

Mas, então, em que acreditais, pobres protestantes? Se fôsseis sinceros, devíeis responder: 'Só acreditamos no protesto'. Afirmamos tudo aquilo que a Igreja católica nega, e negamos tudo que ela afirma: eis a nossa religião. Nós protestamos! A Igreja Católica crê que São Pedro e seus sucessores são os representantes de Cristo na terra. Nós protestamos! A Igreja Católica crê na pureza imaculada da Mãe de Jesus, honrando-a e invocando-a. Nós protestamos! A Igreja crê na confissão, no poder que o sacerdote recebeu de Cristo, de perdoar os pecados. Nós protestamos!

A Igreja crê no céu para os justos, no inferno para os maus e no purgatório para aqueles que têm de expiar ainda umas faltas. Nós protestamos! A Igreja crê na intercessão dos santos, no culto dos finados, na união que existe entre os vivos e os mortos. Nós protestamos! A Igreja crê nos sete sacramentos, no poder da oração, no valor das boas obras, nas indulgências concedidas pela Igreja. Nós protestamos! A Igreja crê na bíblia, como um livro divino, exigindo uma interpretação autêntica, feita por uma autoridade legítima. Nós protestamos! A Igreja crê na tradição, conforme as palavras de São Paulo: 'Conservai as tradições que aprendestes, ou por nossas palavras, ou nossa carta' (2 Tess 2,14). Nós protestamos!

Eis o protesto dos protestantes. Eis porque, como e contra o quê eles protestam. Para quem quer refletir e é capaz de o fazer, a verdade se impõe com todo o rigor e com todas as suas consequências. O protestantismo é uma seita humana, de revoltosos ou de ignorantes, de orgulhosos ou de néscios. Numa palavra, é bem a seita anunciada por São Paulo: 'Muitos andam que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição, cujo deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas' (Fp 3, 18-19). Não é isso o retrato perfeito de tais pastores, protestantes, exploradores, vendedores de bíblias, de sermões e consciências, que só pensam em ganhar dinheiro e em passar boa vidinha? Reflitam sobre isto, pobres protestantes iludidos, enganados por estes falsários que nada têm de pastores, mas que, como o disse Cristo, 'são ladrões e salteadores' (Jo 10,1).

CAPÍTULO IV

COMO OS PROTESTANTES PROTESTAM

Há diversos modos de protestar. Protesta-se contra a mentira, pela manifestação da verdade. Protesta-se contra a injustiça pela valorização dos seus direitos. Protesta-se contra a calúnia pela exibição das provas contrárias. O protestantismo protesta contra a Igreja Católica! Já expliquei a razão deste protesto; mas, como é que ele protesta? Mostrando a verdade? Mostrando seus direitos? Mostrando sua inocência? Nada disso. É o contrário: ataca a verdade. Não respeita os direitos alheios. Calunia a inocência do que e de quem não conhece. Protesta unicamente pela calúnia, pelo ódio, pela hipocrisia e pelas objeções. É um protesto fora de todas as regras do bom senso, da lógica e da bíblia, que se ufana de praticar.

O protesto verdadeiro, lógico, racional e convincente seria de mostrar, de provar a mentira, a injustiça ou a calúnia. Por que os protestantes não provam a mentira, a injustiça ou a calúnia da Igreja Católica contra eles? Pela razão que a Igreja não mente, nem comete injustiças, nem calúnias e que os mentirosos são eles; os fautores de injustiças são eles; os caluniadores são eles ainda. A Igreja Católica teria direito de protestar; ela não protesta, mas sim, mostra a verdade, prova esta verdade e pela verdade dissipa o erro.

Por que os protestantes não seguem o mesmo caminho? Em vez de limitar a sua ação em fabricar objeções, por que não provam eles a verdade do protestantismo? Se tal verdade existe, ela há de dissipar necessariamente o erro católico como a verdade católica dissipa o erro protestante. A primeira obra que uma religião deve fazer é provar a autenticidade, a autoridade e a legitimidade do seu ensino; em outros termos: é provar os seus dogmas. Por que não o fazem os protestantes? Pela razão muito simples de não terem dogmas. A negação ou o protesto não se sustentam por si mesmos, só podem existir onde há uma coisa positiva, que se possa negar, onde há uma verdade contra a qual se possa protestar.

***

O protestantismo é um verdadeiro parasita religioso, que só pode viver nas costas do catolicismo, procurando chupar-lhe a fé, como os parasitas – animais ou vegetais – que vivem do sangue ou do suco de outro. Tirai das costas do animal tal parasita-bicho e está morto; arrancai tal outro parasita da casca do vegetal, e morto estará também. Assim o protestantismo. Se o catolicismo pudesse morrer - o que é impossível – no mesmo dia e na mesma hora, estaria morto o protestantismo. Arrancai-o das costas do catolicismo e ele será um cadáver em putrefação.

A Igreja Católica é o objeto positivo; o protestantismo é a sua negação. A Igreja Católica é o sol luminoso e resplandescente do dia; o protestantismo é as trevas da noite onde se tropeça e perde o caminho: Vae ponentes tenebras lucem (Is 5,20). A Igreja Católica é uma instituição modelar, harmoniosa e divina; o protestantismo é a anarquia, a desordem e a revolta que procura aviltar esta instituição: Super hanc petram aedificabo ecclesiam meam (Mt 16,18). A Igreja Católica é um colosso de vida, de progresso, de expansão e de força; o protestantismo é um ancilóstomo ou necátor que procura fixar-se no organismo para aí produzir a opilação espiritual, o cansaço de Deus e o amarelão religioso: Ite in mundum universum, praedicate evangelium (Mt 16,15).

A Igreja Católica é a água divina, num voo direto, em demanda do céu; o protestantismo é a pulga que procura fixar-se nas asas do pássaro, para cansá-lo e impedir o seu voo: Sicut aquila, provocans ad voladum pullos suos (Dt 32,11). A Igreja Católica é árvore frondosa, em cujos ramos as aves do céu, que são os santos, se aninham; o protestantismo é o parasita que procura envolver o tronco, chupar-lhe a seiva, para esterilizá-lo: Fit arbor, ita ut voluvres caeli... habitent in ramis ejus (Mt 13,32).

A Igreja Católica é o farol luminoso, que Deus colocou à beira da estrada humana, para indicar aos homens a verdade e a virtude; o protestantismo é a noite escura, que cega o olhar do viandante e o faz precipitar-se no abismo: Posui te in lucem gentium (At 13,47). A Igreja Católica é a ponte que liga a terra ao céu, e onde os homens devem estar para, da terra, subirem ao céu; o protestantismo é o abismo horrendo, que passa por baixo da ponte, onde se precipitam aqueles que desprezam a ponte: Arcta via est, quae ducit ad vitam (Mt 7,14). A Igreja Católica é a arca fora da qual ninguém se salva, sendo todos – como no dilúvio – arrastados pelas ondas em furor; o protestantismo é o lodo terrestre, é o arrecife, formado pelas árvores arrancadas, pelas casas destruídas, que procura atalhar a navegação da arca: Tanquam navis quae pertransit fluctuantem aquam (Sab 5,10).

A Igreja é a barquinha de São Pedro que leva, através do oceano do mundo, os filhos de Deus, até aportar no céu; o protestantismo é a perdição, é a porta para o inferno: Si ecclesiam non audierit, sit tibi sicut ethnicus (Mt 18,17). A Igreja Católica é o reino de Deus, reino triunfante no céu; reino padecente no purgatório; reino militante na terra; o protestantismo, estando fora deste tríplice reino, é necessariamente o único reino aí não incluso: o reino de Satanás ou inferno: In hoc manifestati sunt filii Dei, et filii diaboli (Jo 3,10).

Para terminar resumamos tudo em duas palavras: a Igreja Católica é a obra de Deus, fundada por Deus, sustentada por Deus, inspirada por Deus, fazendo as obras de Deus; o protestantismo é obra dos homens (de Lutero), fundada pelos homens, hoje sustentada pelo dólar americano, inspirada pelo ódio, e fazendo as obras do ódio e da revolta: Ex fructibus eorum cognoscetis (Mt 7,20). É o bastante para os homens sinceros compreenderem o que é o protestantismo e como é que ele protesta. Protesta pelo ódio, pelos ataques, pelas objeções, pelas calúnias, pela hipocrisia, fazendo em tudo o contrário do que manda a bíblia e o bom senso. E têm a coragem de chamar isso de religião! É muita coragem!

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)

domingo, 23 de outubro de 2016

O VALOR DA ORAÇÃO HUMILDE

Páginas do Evangelho - Trigésimo Domingo do Tempo Comum 


Jesus falou muitas vezes sobre o valor da oração. Do valor da oração humilde e confiante, pautada no arrependimento sincero e na dor pelos pecados cometidos. Falou sobre a necessidade de orar sempre, com contrição e perseverança nas súplicas dirigidas à Divina Misericórdia. Mas, todas as vezes que Jesus falou sobre a oração, destacou sempre a premissa essencial do seu valor e ponderação: a humildade. A oração humilde é tangida pela Verdade porque emana da gratuidade da vida em comunhão com Deus.

No Evangelho deste domingo, outros dois personagens são trazidos à realidade das digressões humanas: um fariseu e um cobrador de impostos. Investidos de suas atribuições cotidianas, são apenas homens cumprindo metas e obrigações. Diante de Deus, duas almas, fruto de escolhas singulares da Infinita Sabedoria. Na vida de ambos, certamente o fariseu parecia ter escolhido a melhor parte, pelo menos até o dia em que ambos, vivendo vidas tão opostas, 'subiram ao Templo para rezar' (Lc 18, 10).

E ali, diante de Deus, as realidades humanas se consumiram no nada. O fariseu, eivado de orgulho e auto-suficiência, proferiu a oração despropositada e inútil: 'Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’ (Lc 18, 11-12). No ato desonesto de louvar a si mesmo com desmedida jactância e julgar o próximo pela ótica dos valores humanos, arruinou a própria súplica. O cobrador de impostos, ao contrário, sabedor de suas fraquezas e misérias, prostrou-se em humilde recato e contrição, na sua súplica por clemência e perdão: 'Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!' (Lc 18,13).

O primeiro homem se viu em luz, e se banhou com desmedido orgulho nesta própria luz, mortiça e inútil, forjada tão somente por ações humanas. E saiu do templo com a concessão irrisória das alegrias humanas. O segundo homem, porém, apagou primeiro em si toda vaidade e interesses profanos e mergulhou, com inteira confiança e despojamento, na luz de Cristo. E, iluminado pela graça de Deus, alcançou misericórdia e experimentou a consoladora e definitiva paz daqueles que são plenamente justificados em Cristo: 'Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado' (Lc 18, 14).

sábado, 22 de outubro de 2016

QUESTÕES SOBRE A NATUREZA DO DEMÔNIO (V)


Questão 12: Os demônios conhecem o futuro? 

Eles não veem o futuro, mas podem fazer às vezes fazer conjecturas sobre ele. Com sua inteligência, muito superior à humana, podem deduzir algumas coisas que sucederão ou ocorrerão, conhecendo as suas causas. Aquilo que pertence apenas à liberdade humana, está indeterminado e isto eles não o conhecem. Não sabem o que eu decidirei livremente. Mas, com sua inteligência superior, veem os efeitos das causas que nós não percebemos nada. Assim, há ocasiões em que eles sabem, com toda a certeza, o que sucederá, ainda que nem o mais inteligente dos seres humanos seja capaz de suspeitar mesmo analisando com todo rigor todos os aspectos causais. Em outras ocasiões, porém. nem a natureza angélica da mais elevada hierarquia poderia deduzir [o futuro].  A liberdade humana [nosso livre arbítrio] constitui sobretudo o grande fator de indeterminação em suas previsões.

Questão 13: Pode um demônio fazer algo de bom? 

O demônio não está sempre fazendo o mal; muitas vezes, ele está simplesmente pensando. E, nisso, não faz mal algum, pois se trata de um mero ato de sua natureza. Entretanto, o demônio não pode realizar atos morais sobrenaturais, ou seja, não pode fazer um ato de caridade, de arrependimento sobrenatural, de glorificação sincera a Deus, etc, uma vez que, para realizá-los, precisaria de uma graça sobrenatural. Pode até glorificar a Deus, mas à força, mas não porque quisera fazê-lo. Pode arrepender-se de ter se afastado de Deus, mas sem pedir perdão por isso, recriminando apenas o mal que lhe sobreveio desta ação, mas sem remorso por ter ofendido a Deus. E assim pode fazer muitos outros atos naturais com sua inteligência e vontade. Porém, o demônio jamais demonstrará a mínima compaixão nem o menor ato de amor para quem quer que seja. Seu coração somente odeia, sendo insensível ao sofrimento dos demais.

Questão 14: O demônio pode experimentar algum prazer? 

O demônio não conta com nenhum dos nossos cinco sentidos. Conta apenas com a sua inteligência e vontade. Pode parecer que é pouca coisa, mas não é. Os prazeres intelectuais podem ser tão variados como os de nossos cinco sentidos. Na realidade, são muito mais variados. O gozo que nos proporciona uma ópera, uma sinfonia, uma partida de xadrez, um livro, são prazeres eminentemente espirituais, ainda que essa informação nos chegue ao espírito por meio de imagens sensíveis. O mundo espiritual, visto por nós a partir de nosso mundo, pode parecer insípido, incolor, tedioso, mas isso é um erro. O mundo espiritual é muito mais variado, rico e auspicioso daquilo que nos oferece o universo material. 

Os demônios gozam dos prazeres, pois suas duas faculdades espirituais (conhecimento e vontade) permanecem intactas. A forma de agir de sua natureza permanece inalterada apesar do afastamento de Deus. O que não podem fazer é amar a ninguém com um amor sobrenatural. A capacidade de amar foi aniquilada na psicologia do demônio. O demônio conhece mas não ama. O prazer que consegue ao ter êxito em fazer um mal é exatamente o mesmo de uma pessoa na terra quando consegue vingar-se de seu inimigo. Trata-se de um prazer cheio de ódio, sem nenhuma consolação.

Questão 15:  O demônio é livre para fazer mais ou menos males? 

O demônio faz o mal quando quer, nada o obriga a fazê-lo. É um ser livre e sua vontade é que determina fazer as coisas quando quiser. Deseja fazer o mal e para fazer o mal há que tentar. Mas, para tentar, tem que insistir. Alguns demônios insistem mais, outros desistem antes. Há demônios mais decididos e outros menos operosos. Há demônios que, pelo ímpeto de sua cólera, perseguem as almas como verdadeiros predadores. Outros demônios estão submersos em uma espécie de depressão e não possuem um ódio extremado para perseguir tão obsessivamente as almas. Entretanto, estamos falando de graus, já que todos odeiam a Deus e são predadores de almas.

Questão 16: Quais são os mais malignos dentre os demônios? 

Pode parecer que demônios mais perversos são os pertencentes à mais alta hierarquia, mas não. Não existe uma relação entre natureza e pecado. Uma natureza angélica da última hierarquia pode ser muito mais perversa que um anjo superior. O mal que pode cometer um ser livre não depende da inteligência, nem do poder que se possui. Sempre se coloca como um exemplo de malignidade extrema o chefe das forças nazistas, Heinrich Himler. Mas, não poderia ser pior algum de seus subordinados? Evidente que sim! 

Entre os homens, vemos que alguém menos inteligente e em uma posição social menos relevante pode ser muito pior, muito mais perverso, que um grande ditador. E o mesmo que vale para o mal, vale para o bem. Um anjo da última hierarquia pode desenvolver mais as suas virtudes que um da mais alta hierarquia. Da mesma forma, uma idosa humilde e sem estudos e que tenha se dedicado apenas aos afazeres domésticos pode ser mais santa que um arcebispo ou um sumo pontífice. Uma interessante pergunta que se depreende de tudo isso é se a hierarquia que nos dá a Bíblia (anjos, arcanjos, principados...) é uma hierarquia da graça ou da natureza. Ou seja, os serafins são os mais santos ou somente os mais poderosos e nos quais brilha mais o fulgor da inteligência angélica? 

Minha opinião é de se trata de uma hierarquia segundo a natureza, uma vez que as descrições das imagens dos quatro Seres Viventes ao redor do Cordeiro (os anjos de maior hierarquia) dão mais impressão de poder e de conhecimento, assim como os próprios nomes das nove hierarquias. O nome de principado ou potestade, por exemplo, são nomes que pressupõem mais poder. Além do mais, é mais fácil estabelecer uma hierarquia de natureza que de graça. 

(Excertos da obra 'Summa Daemoniaca', do Pe. Jose Antonio Fortea, tradução do autor do blog)

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

APRENDENDO A REZAR (III)

Parte III

Sobre a Oração de Jesus

Desde tempos imemoriavelmente antigos, cristãos fervorosos repetiam curtas invocações a Deus para que orassem incessantemente e afastassem pensamentos errantes ociosos. Estas eram várias orações. São Cassiano dizia que no Egito todos os cristãos repetiam: 'Ó Deus, me ajude, ó Senhor, concede-me Teu auxílio'. São Ioanício repetia constantemente: 'Minha esperança é o Pai, meu refúgio, o Filho, minha proteção, o Espírito Santo; Santíssima Trindade, glória a Ti.' Outra pessoa disse: 'Como homem pequei, mas Tu, como Deus misericordioso, tem piedade de mim'.

Certamente havia também outras orações curtas similares. Com o tempo, a oração de Jesus se estabeleceu e se tornou amplamente usada por todos: 'Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, um pecador.' O objetivo desta oração é o mesmo das outras: manter a mente voltada para Deus. Ao mesmo tempo, deve-se lembrar que dizer a oração de Jesus é apenas uma ferramenta ou obra que demonstra um forte desejo de encontrar o Senhor.

Todos se beneficiarão dizendo a oração de Jesus. Aqueles que integram as ordens monásticas devem repeti-la o tempo todo. Portanto não há perigo algum na oração em si, se é dita com reverência. No entanto, o que é perigoso é o 'trabalho artístico' (isto é, alguns truques artificiais) inventados para acompanhar esta oração. Por exemplo, enquanto dizem a oração de Jesus, algumas pessoas colocam sua mão sobre a mesa e concentram sua atenção debaixo de seu dedos - isto é uma esquisitice inconsistente. Ou então, eis aqui outro capricho: tocar o dedo da sua mão direita contra a palma da sua mão esquerda e assim tentar concentrar a mente na oração.

A primeira pessoa a escrever sobre a execução 'artística' da oração de Jesus foi São Gregório do Sinai, no século XIII. Foram estes truques que afundaram algumas pessoas em um estado delirante de encantamento, enquanto outras, por mais estranho que pareça, em um estado constante de luxúria. É por isso que estes truques devem ser reprovados e condenados absolutamente. E devemos urgir a todos a ensinar todas as pessoas a aclamar o dulcíssimo nome do Senhor de um modo simples e sincero.

A essência da oração é fácil de explicar. Faça com que seu coração e sua mente se apresentem diante do Senhor e supliquem a Ele: 'Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, um pecador'. Esta será a sua obra de oração. O Senhor verá quem ora piedosamente e concederá à pessoa que ora uma oração espiritual de acordo com seu zelo. Esta oração espiritual é na verdade o fruto da graça do Espírito Santo. Isto é tudo que precisamos dizer sobre a oração de Jesus. Todo o resto que foi inventado nada tem a ver com ela: é o inimigo que está tentando nos distrair da oração.

Conclusão

Portanto, a essência da oração consiste em dirigir-se a Deus com atenção e suplicar a Ele com um sentimento caloroso e sincero - quer você esteja expressando sua gratidão, arrependimento ou alguma outra coisa em sua oração. Se não houver tal sentimento, então não há oração verdadeira. De modo a aprender a rezar, reze com mais frequência e mais zelo e aprenderá: não precisará de mais nada. Se trabalhar duro e com paciência, com o tempo adquirirá a habilidade de orar sem cessar. Faça disso o seu objetivo - buscar e buscar. O Senhor está perto de você. Mantenha Deus sempre na sua mente e tente sempre ver o Senhor diante de si e venerá-Lo.

Quando pensamentos perturbadores vierem até você durante a oração, afaste-os; se eles persistirem, expulse-os novamente e seja desta maneira em tudo. Esta é uma obra de sobriedade. Esforce-se a manter no seu coração um espírito religioso. Quando seu coração é dominado por um sentimento, pensamentos vãos não o perturbam.

Quando começamos a escrever, isso acontece com esforço e com o desejo de realizar uma obra corretamente. Da mesma forma devemos aprender a orar através do esforço e da persistência. Uma oração não virá por si mesma, você precisa aprendê-la, como que se sua alma fosse aquecer-se ao esfregá-la. Quando o calor vier, seus pensamentos se acalmarão, e sua oração se tornará pura. Tudo vem através da graça de Deus. É por isso que precisamos orar ao Senhor para que Ele nos conceda a oração.

No que diz respeito à regra de oração, você pode escolher qualquer uma delas, desde que esteja mantendo sua alma em reverência a Deus. Seria bom se acostumar a suplicar a Deus com orações curtas durante o dia. A principal oração dentre todas elas é a oração de Jesus, 'Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, um pecador'. Aprenda as 24 orações de São João Crisóstomo e ora a Deus com elas. Utilizar orações curtas concentra sua atenção, e perfaz todas as suas necessidades espirituais.

Não esqueça que a força da oração é o 'espírito contrito', isto é, o estado no qual seu coração está repleto de arrependimento e humildade. Entreguem-se nas mãos de Deus e Ele nunca o deixará. Enquanto estiver orando, você não deve tentar visualizar Deus ou a Mãe de Deus, ou os santos, ou os anjos, ou qualquer outra visão; apenas ore tendo a certeza de que Deus e os santos escutam sua oração. Como eles conseguem escutar? De que vale discutir isto? Eles simplesmente escutam, e isso é tudo. 

Se você começar a criar várias imagens na sua mente, surge o perigo de rezar para alguma fantasia. Como podemos visualizar algo que nunca vimos? E também, o estado no qual os santos se encontram naquele outro mundo é tão diferente de qualquer coisa que nos é familiar que todas as nossas visualizações estão destinadas a ser fraudulentas e equívocas. É por isso que devemos nos acostumar a dizer uma oração sem criar imagens nas nossas mentes.

(São Teófano, o Recluso)

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

APRENDENDO A REZAR (II)

Parte II

Sobre a Regra de Oração

Temos que aprender a orar. Devemos dominar a arte das frases e movimentos dos sentimentos da oração de modo a não apenas ler uma oração que devemos, mas também para invocar e fortalecer o espírito de oração em nossas almas. Para obter êxito nisto, devemos:

Primeiro: nunca orar com pressa, pelo contrário, devemos fazê-lo lentamente, como se estivéssemos cantando. Antigamente, quando todas as orações eram retiradas dos salmos, elas eram cantadas, e não lidas.

Segundo: perceba cada palavra, não apenas compreendendo a ideia conscientemente, mas também envolvendo a emoção apropriada. 

Terceiro: de modo a dominar seu desejo de ler rapidamente; faça uma regra para si mesmo de que rezar não é apenas ler esta ou aquela quantidade de orações, mas sim dar algum tempo definido para a oração, por exemplo, quinze minutos ou meia hora, ou tanto tempo quanto você estiver acostumado a rezar. Não se preocupe com a quantidade de orações, mas quando o tempo estabelecido tiver acabado e você não quiser mais continuar a orar, apenas pare onde estiver.

Quarto: tendo se ajustado desta maneira, não olhe para o relógio, mas permaneça ali como se fosse ficar de pé ali para sempre, deste modo, não irá se apressar. 

Quinto: de modo a ajudar o movimento dos sentimentos de oração, releia e reflita sobre todas as orações da sua regra de oração no seu tempo livre com os sentimentos devidos de modo que, quando estiver rezando, saberá de antemão que sentimento deve surgir no seu coração.

Sexto: nunca leia todas as orações uma após a outra, mas sempre as intercale com as suas próprias orações e reverências. Quando sentir algo repentinamente entrando no seu coração você deve parar sua oração e fazer reverências. Esta última regra é a mais importante e necessária para trazer o espírito de oração. Se você for tomado por algum sentimento muito forte, retenha-o e faça reverências até o final do tempo estabelecido sem ler as orações.

Ore não apenas pela manhã e à noite, mas se tiver a oportunidade, a qualquer hora do dia, fazendo reverências várias vezes. Quando você estiver ocupado demais para cumprir sua regra de oração, encurte-a, mas não ore com pressa. Deus está em toda parte. Após acordar pela manhã, dê graças a Ele e peça-Lhe, com suas próprias palavras, que abençoe o trabalho do seu dia, depois faça algumas reverências, e pronto! Nunca volte-se para Deus de maneira despreocupada, mas sempre com grande reverência. Ele não necessita nem das nossas reverências nem de longas orações. Um curto, porém firme clamor do seu coração - é isso que O alcança! E você sempre é capaz de fazer isso.

Você também pode compilar sua própria regra de oração. Memorize as orações impressas nos livros de oração e leia-as de cor com entendimento e sentimento. Enquanto estiver fazendo isso, insira sua própria oração. Quanto menos você depender do livro, melhor. Aprenda alguns salmos e, quando você estiver indo a algum lugar ou fazendo algo, e sua cabeça não estiver ocupada com aquilo, leia-os. Essa é a sua conversa com Deus. A regra de oração é um guia, não algo a ser cumprido com a obediência de um escravo. Você deve de todos os modos evitar a leitura mecânica e formal. Ela deve ser sempre o resultado de um decisão livre e refletida, realizada com consciência e sentimento, não de maneira negligente. 

Você deve poder encurtar sua regra de oração quando necessário for. A vida em família é cheia destas circunstâncias. Por exemplo, pela manhã e à noite você pode ler as devidas orações memorizadas. Você pode até omitir algumas delas. Ou pode até não ler nenhuma delas, fazendo, no lugar, várias reverências com uma oração vinda sinceramente do seu coração. Você deve ser o mestre da sua regra de oração, e não o seu escravo. Somos servos apenas de Deus; é a Ele que devemos devotar cada minuto de nossas vidas.

A regra de oração é uma concha protetora de uma oração. Uma oração é algo interior, enquanto que a regra é apenas algo exterior. Mas da mesma forma que uma pessoa sem corpo é incompleta, também a oração é incompleta sem uma regra de oração. Devemos ter ambas, e cumpri-las o máximo possível. A lei indispensável: orar dentro de si mesmo sempre e em todo lugar. No entanto, ler uma oração não pode ser feito sem estabelecer um tempo, lugar e medida definidos para ela. É uma combinação destes três elementos que constitui a regra de oração.

Portanto a pessoa deve ser guiada pela razão quando decidir quando, onde e por quanto tempo deve permanecer de pé orando, bem como que orações dizer. Pode-se escolher isto de acordo com sua circunstância: se a pessoa pode passar mais tempo na oração, reduzi-la ou alterar o tempo e o lugar da oração. O esforço principal deve ser dirigido para a oração interior dita propriamente. É a oração interior que deve ser dita incessantemente.

O que significa uma oração incessante? Estar constantemente no espírito de oração significa voltar os seus pensamentos e sentimentos a Deus. Pensar sobre Deus significa guardar sempre em mente Sua onipresença, onipotência e capacidade de ver tudo. Sentimentos para com Deus são o temor de Deus, amor a Ele, um desejo fervoroso de agradar apenas a Ele e de evitar tudo o que Lhe é desagradável. O principal é entregar-se obedientemente à Sua vontade e aceitar tudo que acontecer conosco como sendo algo enviado diretamente por Ele. É possível ter esse sentimento para com Deus a qualquer hora, fazendo qualquer coisa e sob quaisquer circunstâncias, se esse sentimento ainda não estiver sendo buscado, mas já tiver sido estabelecido no coração.

Nosso pensamento pode ser distraído para vários assuntos mas, mesmo assim, pode adquirir a habilidade de se agarrar a Deus enquanto estiver fazendo alguma outra coisa e sentir a presença de Deus. Deve-se estar totalmente preocupado com estas duas coisas: pensamentos e sentimentos para com Deus. Quando eles estiverem lá, existe uma oração mesmo que sem palavras. A prática de dizer orações pela manhã foi estabelecida exatamente para estabelecer nossa mente e coração nestas duas coisas, para que mais tarde ao longo do dia possamos iniciar nosso trabalho com elas. Se pela manhã sua alma for preenchida com elas, então sua oração teve êxito, mesmo que você não tenha lido todas as orações estabelecidas.

Suponha que você começou o seu trabalho diário pela manhã. As primeiras coisas que você começar a fazer tiram sua atenção de Deus. O que deve ser feito então? Você deve refrescar seus pensamentos e sentimentos para com Deus através dos seus apelos internos a Ele. E para fazer isto você deve se acostumar com sua pequenina oração curta e repeti-la o mais frequentemente o possível. Qualquer oração curta leva a isso. A melhor oração de todas é: 'Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim!' Você deve se acostumar com ela e nunca deixar de dizê-la. Quando estiver estabelecida em você, esta oração se transformará na força motriz e apelo a Deus com seu pensamento e sentimento. Este é todo o itinerário dos seus assuntos de oração.

Os iniciantes devem antes de tudo aprender como orar adequadamente segundo as orações escritas, de modo a memorizarem pensamentos, sentimentos e frases de oração. Isso é importante pois as palavras com as quais recorremos a Deus devem ser boas e belas. Quando o iniciante obtiver êxito nisso, ele pode começar tanto com as orações estabelecidas como com suas próprias orações. Exemplos de orações curtas são encontradas nas 24 pequenas orações do venerável João Crisóstomo no fim das oração da noite. Você também pode escolher outras orações curtas dos salmos, das orações litúrgicas, e pode até compilá-las você mesmo. 

As 24 orações de São João Crisóstomo segundo as horas do dia e da noite

Senhor, não me prives dos Teus excelentes dons celestiais. 
Senhor, livra-me dos tormentos eternos. 
Senhor, se pequei com a mente e com os pensamentos, em palavras e atos, perdoa-me. 
Senhor, livra-me de toda a ignorância, esquecimento, pusilanimidade, e insensibilidade empedernida. Senhor, livra-me de toda tentação. 
Senhor, ilumina o meu coração que os desejos malignos turvaram. 
Senhor, como homem eu pequei, mas Tu, como Deus compassivo, tem piedade de mim ao veres a enfermidade da minha alma. 
Senhor, envia a Tua graça em meu socorro para que eu possa glorificar o Teu santo nome. 
Senhor Jesus Cristo, escreve meu nome, Teu servo no Livro da Vida e concede-me um bom fim. Senhor meu Deus, mesmo não tendo feito nada de bom à Tua vista, concede-me ainda pela Tua graça ter um bom começo. 
Senhor, derrama sobre o meu coração o orvalho da Tua graça.
Senhor do céu e da terra, no Teu reino, lembra-Te de Teu servo pecador, vergonhoso e impuro. Amém.
Senhor, aceita-me em penitência. 
Senhor, não me abandones. 
Senhor, não me deixes cair em tentação. 
Senhor, concede-me bons pensamentos. 
Senhor, concede-me lágrimas, lembrança da morte e contrição. 
Senhor, concede-me confessar meus pecados. 
Senhor, concede-me humildade, castidade e obediência. 
Senhor, concede-me paciência, coragem e mansidão. 
Implanta em mim, Senhor, a raiz do bem, o temor de Ti em meu coração. 
Concede-me, Senhor, amar-Te com toda a minha alma e toda a minha mente, e em tudo fazer a Tua vontade. 
Protege-me, Senhor, dos homens maldosos, dos demônios, das paixões e de todas as coisas impróprias. 
Senhor, Tu sabes que tudo é feito segundo a Tua vontade: que a Tua vontade seja feita em mim também pecador, pois Tu és bendito pelos séculos dos séculos. Amém.

Uma oração dada por Deus

O que mais pode ser dito sobre a oração? Há uma oração que é feita pelo homem, e há uma oração que é concedida por Deus para o homem que ora. Quem não conhece a primeira? Você deve conhecer esta segunda também, pelo menos na sua forma inicial. No começo, quando o homem está voltando-se para Deus, sua primeira tarefa é orar. Ele começa a ir à igreja, e em casa lê as orações que estão no livro e as que sabe de cor. Mas seus pensamentos se distraem e ele não consegue controlá-los. E no entanto, quanto mais ele se empenhe em suas orações, mais equilibrados ficam seus pensamentos e sua oração se torna mais clara.

E ainda assim, a atmosfera da alma não ficará purificada até que seja acesa com uma pequena chama de espiritualidade. Esta chama é uma amostra da graça de Deus, mas é concedida a todos, não apenas aos escolhidos. Esta chama aparece como resultados de um certo estado de pureza no todo do sistema moral da pessoa que busca. Quando esta chama é acesa, e o coração retém dentro de si um calor constante, ela detém a desordem dos pensamentos. A alma experimenta o que aconteceu com a mulher que tinha um fluxo de sangue: '... e imediatamente seu sangramento parou' (Lc 8,44). Neste estado, a oração se transforma mais ou menos em uma oração incessante. A oração de Jesus serve como mediadora para esta oração incessante. E este é um limite até o qual a oração feita pela pessoa pode ir.

A próxima etapa deste estado é quando a oração domina a pessoa, e já não é criada por ela. O espírito de oração cativa a pessoa e leva-a consigo para dentro de seu coração, como que se alguém a tomasse pela mão e a fizesse ir de um quarto até o outro. A alma fica presa lá por alguma força exterior e permanece lá dentro por vontade própria enquanto é dominada pelo Espírito que a cativou. Eu conheço dois graus deste enlevo. No primeiro a alma é capaz de ver tudo, percebe a si mesma e sua posição exterior conscientemente, é capaz de raciocinar e se controlar, e até mesmo de cessar este estado se assim desejar.

Os Santos Padres, em especial Santo Isaac da Síria, descreveram também um outro estágio da oração que é dada do alto e domina a pessoa. Neste estágio a alma também é dominada pelo espírito de oração, mas é carregada a tais esferas de contemplação que se esquece de sua posição exterior, não tem o poder de raciocinar, controlar ou cessar este estado, apenas de contemplar. Tal estado é mencionado no 'Livro dos Santos Padres', no qual é descrito o caso de uma pessoa que começou a orar antes do jantar e recobrou os sentidos apenas pela manhã. Isto é exatamente o que chamamos de uma oração em êxtase, ou uma oração contemplativa. Em tal estado algumas pessoas ficavam cercadas por luz, ou seus rostos ficavam iluminados, algumas eram elevadas do chão. O Santo Apóstolo Paulo foi arrebatado aos céus neste estado.

Esclarecimentos de alguns pontos difíceis

Você escreve, 'Minha oração feita com o livro piorou'. Isto não é uma perda: mesmo que você nunca mais pegue o livro de orações novamente. Um livro de orações é algo como um livro de frases em francês, por exemplo. Você decora os diálogos até que possa se expressar fluentemente, e depois de aprender a falar você esquece aquelas frases. Da mesma maneira precisamos de um livro de orações até que chegue o tempo em que a alma começa por si mesma a rezar, depois do que podemos deixar o livro de orações de lado. Porém, quando sua própria oração não estiver fluindo livremente, seria bom dar uma mexida nela orando com a ajuda do livro.

Você deve temer o deslumbramento. Ele acontece com aquelas pessoas que ficam orgulhosas pensando que, já que sentem o calor nos seus corações, isto significa que alcançaram a perfeição mais elevada. Mas isto é apenas o começo, e um começo instável, visto que o calor e o apaziguamento do coração podem ter também uma origem natural, como o resultado de uma diligência sincera. Mas a pessoa deve se empenhar mais e mais, esperar mais e mais até que o estado natural seja substituído por aquele que é concedido pela graça de Deus. A pessoa não deve achar nunca que alcançou alguma coisa, mas devemos enxergar nós mesmos como sendo pobres, nus, cegos e imprestáveis.

Você reclama que a sua oração é curta. Mas você pode rezar não apenas ficando de pé diante dos ícones, já que qualquer ascensão da sua mente e coração até Deus constitui uma oração verdadeira. E se você fizer isto enquanto estiver fazendo alguma outra coisas, significa que está orando. São Basílio o Grande trata da questão de os Apóstolos estarem em oração incessante da seguinte maneira: não importa o que estivessem fazendo, estavam pensando sobre Deus e vivendo em devoção permanente a Ele. Este estado da sua espiritualidade era de fato sua oração incessante. 

Eis um exemplo. Como outrora lhe escrevi, exigências diferentes são apresentadas para pessoas que trabalham e pessoas que ficam à toa em casa. A principal preocupação das pessoas ocupadas é de não se permitir sentimentos ruins enquanto estão fazendo seu trabalho e tentar devotar todos os seus sentimentos a Deus. Esta devoção então se transformará em uma oração. Lemos que o sangue de Abel clama a Deus. Do mesmo modo, tudo que fazemos em devoção a Deus clama a Ele. Quando alguém enviou um prato de comida para um ancião, ele disse: 'Isto cheira muito mal!' A comida, porém, era muito boa e fresca. Eles lhe perguntaram: 'Como pode?' Ele explicou que ela não fora enviada por uma pessoa boa, e não fora enviada com sentimentos bons. As pessoas cujos sentimentos estão apurados sentem isso. Assim parece que, da mesma forma que um bom perfume é exalado por boas flores, também as coisas boas feitas com uma boa disposição exalam um aroma, que sobe como o incenso durante os ofícios divinos.

Você escreve sobre uma insensibilidade espiritual dos sentidos na oração. Isto é uma grande perda! Dê-se o trabalho de despertar seus sentimentos. Nossas obrigações nos deixam apenas um tempo mais curto para fazer a oração, mas não nos obrigam a um empobrecimento da oração interior - este último é imperdoável. Você pode agradar a Deus com pouco, mas este pouco deve vir do seu coração. Eleve sua mente a Ele e diga com arrependimento: 'Ó Senhor, tem piedade de mim! Ó Senhor, abençoa-me! Ó Senhor, ajuda-me!' - esta é uma exclamação piedosa. E se o sentimento para com Deus é reavivado e estabelecido no seu coração, então isto será uma oração incessante sem palavras e sem ficar de pé e ler orações na frente dos ícones.

Sua consciência está preocupada por dizer as orações com pressa? Isto é justo! Por que dá ouvidos ao inimigo? É ele que estimula: 'Depressa, mais rápido...' É por isso que você não sente nenhum fruto na sua oração. Faça para si mesmo uma regra de não se apressar e dizer cada palavra da oração com entendimento e, se possível, sentimento. Aceite esta tarefa com tanta resolução quanto um comandante-chefe que não permitiria nenhuma objeção. O inimigo sugeriria: você precisa fazer isto e aquilo, e você deve apenas dizer para si mesmo: 'Sei disso sem a tua tentação, vá embora...' E então verá quão próspera sua oração será. De outra maneira, você terá apenas a regra de oração, mas não a oração em si. É apenas a oração que alimenta sua alma.

Você deve checar no relógio o tempo dedicado para a oração que é dita calmamente e verá que ela requer apenas alguns minutos, enquanto que uma oração apressada traz muito prejuízo. Quando repentinamente lhe ocorrer um pensamento ruim - esta é uma flecha atirada pelo inimigo. Ele a atira tentando distrair você da oração e ocupar sua mente com algumas coisas mundanas. Se você começar a se concentrar neste pensamento, o inimigo começará a criar várias histórias na sua mente de modo a manchar sua alma e estimular na pessoa alguns malignos pensamentos passionais. Portanto há apenas uma regra para isso: expulse rapidamente este pensamento e volte sua atenção para a oração.

Todas as nossas orações chegam até Deus? Uma oração nunca é desperdiçada, independente de o Senhor nos conceder o que estamos pedindo ou não. Devido à nossa ignorância, frequentemente estamos pedindo algo que nos traria prejuízo, e não benefício. Ao não atender esse pedido, o Senhor nos concede alguma outra coisa pelo nosso esforço de oração, e Ele o faz de maneira imperceptível. É por isso que uma frase como esta: 'Você reza a Deus, mas o que conseguiu com isso?' não faz sentido algum. A pessoa que ora está pedindo alguma coisa específica a Deus. Se Deus sabe que a realização da súplica eventualmente prejudicaria a pessoa, Ele não concede o desejo e assim nos faz o bem; pois se Ele tivesse atendido aquela súplica, isto teria feito muito mal àquela pessoa. Cuidado com as armadilhas entre as quais você está andando neste mundo enganador!

(São Teófano, o Recluso)

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

APRENDENDO A REZAR (I)

PARTE I

Como se alcança o estado de espírito da oração

Por ser a respiração da alma, a oração é importantíssima na vida de um cristão. A presença da oração na vida de uma pessoa significa que ela está viva espiritualmente. Sem oração, a pessoa está morta. Ficar de pé diante dos ícones e fazer reverências não constituem propriamente uma oração; são apenas elementos de uma oração. O mesmo pode ser dito sobre a leitura de uma oração, quer seja recitada de memória ou lida em um livro; não é propriamente uma oração, mas apenas um jeito de iniciá-la. O principal aspecto da oração é a invocação de sentimentos de reverência para com Deus: devoção ao Pai, gratidão, submissão à vontade de Deus, um desejo de glorificá-Lo, e sentimentos semelhantes. É por isso que enquanto oramos devemos fazer com que estes sentimentos preencham nosso ser, de modo que nossos corações não fiquem empedernidos. Apenas quando nossos corações se dirigem a Deus é que as nossas orações lidas (quer sejam da manhã ou da noite) tornam-se uma verdadeira oração; caso contrário, elas ainda não o serão.

Uma oração, que é um apelo de nossos corações a Deus, deve ser invocada e fortalecida; um espírito de intercessão deve ser criado dentro de nós. A primeira maneira de fazer isto é orar através da leitura, ou da escuta, de orações escritas nos livros de oração. Leia o livro de oração ou escute sua leitura com muita atenção e isso certamente incitará e fortalecerá seu coração em sua ascensão a Deus, o que significa que terá alcançado o espírito de oração. Nas orações dos Santos Padres (impressas nos livros de oração e em outros livros litúrgicos), um grande poder de oração está em curso. A pessoa que estiver prestando atenção a elas diligentemente irá, através da força da interação, gozar desse poder, de sorte que o estado de espírito da pessoa que está rezando se aproxima da essência daquelas orações. De modo a transformar suas intercessões em um modo efetivo de alimentar uma oração, deve-se fazer de tal modo que tanto sua mente como seu coração percebam o conteúdo das orações que estão sendo lidas.

Eis aqui os três modos mais simples de alcançar isto:

* Não inicie uma oração sem preparar-se adequadamente para ela.
* Diga as orações com sentimento e atenção, nunca de maneira casual.
* Após completar sua oração, não se apresse a retornar aos seus afazeres cotidianos.

Preparação para orar

Antes de iniciar uma oração, não importa onde ela vá ser feita, fique de pé ou sentado por algum tempo e tente tornar sua mente sóbria, retirando dela todo trabalho e preocupações irrelevantes. Depois pense sobre Quem é Aquele a Quem você está se dirigindo na oração, e quem você é ao orar a Ele; invoque a postura apropriada de humildade e temor reverente a Deus. Esse é o começo de uma oração, e um bom começo é já metade do êxito.

A oração em si mesma

Tendo se preparado, fique de pé diante dos ícones, faça o sinal da Cruz, uma reverência e comece a rezar da maneira de sempre. Diga a oração sem pressa, discernindo cada palavra e trazendo-a para perto de seu coração. Em outras palavras, você deve compreender o que está lendo, e sentir o que você compreendeu. Faça o sinal da cruz e reverências enquanto está rezando. Esta é a essência de ler orações que são proveitosas e agradáveis a Deus. Por exemplo, ao ler 'Limpa-me de toda impureza', você deve sentir o quanto impuro você é; deseje a purificação e peça esperançoso ao Senhor por ela. Dizendo 'Seja feita a Tua vontade', entregue seu destino ao Senhor completamente e de todo coração, estando pronto para aceitar com alegria o que quer que Ele lhe mande. Quando ler 'Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores', sua alma deve perdoar todos aqueles que lhe ofenderam.

Fazer isto com cada frase da oração transforma-a de fato na oração correta. Cuide também do seguinte:

Primeiro, estabeleça uma determinada regra de oração para si mesmo, uma que não seja comprida demais, de modo que você possa cumpri-la sem pressa dentro da sua rotina diária.

Segundo, no seu tempo livre, dê uma lida nas orações da sua regra de oração atentamente, compreendendo e percebendo cada palavra de modo que possa se preparar de antemão e aprender que sentimento e pensamentos precisa evocar em sua alma de modo a compreender e perceber tudo com facilidade durante suas orações.

Terceiro, se a sua mente inconstante se distrair com outras coisas durante a oração, esforce-se para focar sua atenção mantendo sua mente concentrada no tema da oração. Traga a mente de volta para ela cada vez que se afastar. Leia a oração várias vezes até que cada palavra seja dita com consciência e sentimento. Isto irá acabar com sua falta de atenção durante as orações.

Quarto, se alguma palavra na oração tocar a sua alma de um jeito especial, não prossiga com a oração, mas foque naquela palavra ou frase, alimentando sua alma com a atenção, sensação e pensamentos evocados pela palavra, agarre-se a este estado de espírito até ele desaparecer. Este é um sinal de que o espírito da oração está começando a entrar em você. Este estado de espírito e alma é o modo mais confiável de desfrutar do espírito de oração e de fortalecê-lo em uma alguém.

O que fazer após a oração

Após terminar sua oração, não se apresse em retornar aos seus afazeres usuais, mas, com calma, pense ao menos por algum tempo sobre o que você sentiu e sobre qual o seu dever para com isso. Tente manter na sua mente o que mais o impressionou. A própria natureza da oração é tal que, após uma oração muito boa, a pessoa não quer voltar para seus afazeres usuais, do mesmo modo que aqueles que se deliciaram com algum doce não querem nada amargo. Gozar da doçura da oração é na verdade o objetivo de dizer as orações, aquilo que traz o espírito de oração.

Seguir estas simples regras trará resultados muito em breve. Qualquer invocação de oração causa um bom impacto na alma; se você observar estas regras e o impacto se aprofundar, a perseverança na oração gerará a inclinação para a oração. Estes são os primeiros passos para criar o espírito de oração em si próprio. É para este propósito que a prática da oração é estabelecida. No entanto, ele não é o objetivo em si mesmo, mas apenas o início para se adquirir o domínio da oração. É preciso ir adiante.

Progresso posterior na oração 

Após sua mente e coração se acostumarem a se voltar para Deus através dos livros de oração, você deve tentar fazê-la do seu próprio jeito. Seu objetivo é tornar sua mente capaz de iniciar, por assim dizer, uma conversa com o Senhor, elevando sua mente e coração e abrindo-se em confissão a Ele, dizendo o que há na sua alma e o que ela precisa. Devemos ensinar nossas almas a fazer isto. Então o que podemos fazer para conseguir dominar essa arte? O primeiro jeito é orar através do livro com reverência, atenção e profunda emoção. Pois é de um coração repleto de piedosos sentimentos e orações que a sua própria oração começará a emanar e ser dirigida a Deus. Mas há também outras maneiras que levam ao resultado desejado nas orações.

O primeiro modo de ensinar sua alma a recorrer frequentemente a Deus é a meditação, ou a contemplação piedosa sobre os caminhos e obras divinas: pensar sobre a misericórdia, a justiça, a sabedoria, a criação e a Providência Divinas, sobre Ele nos ter concedido a salvação através do Cristo, sobre a Graça e o Verbo de Deus, sobre os mistérios e Céus sagrados. Esses pensamentos irão sem dúvida preencher sua alma com piedoso temor a Deus, que diretamente dirige todo o ser do homem para Deus e é portanto a maneira direta de ensinar sua alma a se elevar a Deus.

...

O segundo modo de ensinar sua alma a se voltar para Deus baseia-se em devotar cada ato, seja pequeno ou grande, à glória de Deus. Pois, se segundo o mandamento do Apóstolo (1 Cor 10,31), criarmos para nós a regra de fazer tudo, até mesmo comer e beber, para a glória de Deus, então não importa o que estivermos fazendo, certamente nos lembraremos de Deus, e não apenas lembraremos, mas temeremos fazer algo que possa irar a Deus. Isto fará com que nos voltemos a Deus com temor e lhe peçamos em oração que nos conceda ajuda e iluminação. E visto que estamos sempre fazendo alguma coisa, constantemente nos voltaremos a Ele em oração e assim quase sempre estaremos aprendendo a habilidade de nos dirigir a Deus em oração. Deste modo aprenderemos na prática a nos voltar a Deus mais frequentemente durante o dia.

O terceiro modo de ensinar às nossas almas a orar é nos dirigindo frequentemente a Deus desde os corações durante o dia, dizendo petições curtas a respeito das necessidades da nossa alma e das coisas que estamos fazendo no momento. Quando começar a fazer algo, diga: 'Abençoa-me, Senhor!' Ao terminar o trabalho, diga: 'Glória a Ti, Senhor!' Se uma paixão te inflamar, prostre-se diante de Deus em seu coração dizendo o seguinte: 'Salva-me, Senhor, estou perecendo!' Quando estiver tomado por pensamentos perturbadores, exclame: 'Guia-me no Teu caminho, Senhor!' ou 'Não deixe que meus pés se desviem'. Se estiver desanimado por causa do pecado e ficando abatido, exclame como fez o publicano: 'Ó Deus, sê misericordioso comigo, um pecador!' E você deve agir deste modo em todas as situações. Ou pode apenas repetir: 'Senhor, tem piedade!', 'Santíssima Mãe de Deus, salva-me!', 'Anjo de Deus, meu santo guardião, proteja-me!' 

...

Portanto, há três outros modos, além do estabelecimento da prática de oração para si mesmo, que nos conduzirão ao espírito de oração. São eles:

* Dedicar algum tempo pela manhã a pensar sobre coisas Divinas.
* Fazer tudo dedicando-o à glória de Deus.
* Dirigir-se a Deus com frequência por meio de invocações curtas.

Após termos refletido detidamente sobre idéias espirituais pela manhã, os pensamentos sagrados nos sintonizam para nos lembrarmos de Deus durante todo o dia. Por sua vez, esses pensamentos conduzirão todas as nossas ações, tanto interiores como exteriores, à glória de Deus. Essas três coisas - pensar sobre coisas Divinas, fazer tudo para a glória de Deus, e se dirigir frequentemente a Ele - são as maneiras mais eficientes de aprender uma oração inteligente e vinda do coração. Aqueles que praticarem isto em breve dominarão a arte de ascender a Deus em seus corações. Assim, a alma começará a adentrar a esfera do sublime que lhe é tão inerente - através do coração e e dos pensamentos nesta vida, e de fato será admitida para se apresentar diante de Deus na outra vida.

(São Teófano, o Recluso)