terça-feira, 22 de setembro de 2015

UMA CARTA PROFÉTICA DE SÃO PIO X


Se há um tempo no qual devemos estar vigilantes de uma forma especial é este dos nossos dias, pois o mundo, com espírito diabólico, favorece e ajuda os planos malignos, especialmente aqueles dirigidos contra a Igreja, a fim de provocar sentimentos anti-religiosos e, assim, diminuir o prestígio e a reputação para os homens que a governam, de forma a ressaltar todos os seus defeitos, em todos os níveis da hierarquia, pelo que concluímos com o Apóstolo: Resisti fortes na fé! Permanecei firmes na verdade que só se encontra substancialmente em Jesus Cristo, a quem Deus Pai constituiu pedra angular na construção da Nova Jerusalém - a Igreja Católica - e todo aquele cuja fé esteja fundada em Cristo não será confundido. Fonte da graça para todos os que lhe são fiéis, esta pedra misteriosa converte-se em pedra de escândalo e de ruína para todos os que procuram construir sem colocá-la como base de seus empreendimentos.

Estejais alertas, queridos filhos, e mantendes viva a vossa fé: guardai-vos dos seus inimigos declarados, que deixaram escondidos no passado os segredos dos conchavos mas que, agora, com bandeiras desfraldadas, se esforçam para arrebatar ao povo a sua joia mais valiosa: a fé. E fazem isso usando sutis artimanhas, tentando minar a autoridade da Igreja e dos seus ministros, denunciando-os como perturbadores, passíveis de todas as suspeições e extremistas, até ao ponto em que muitos católicos, ingênuos ou hipócritas, acabam por admitir plenamente todas estas coisas, e creem quando lhes é dito que eles não lutam contra a religião, mas que querem apenas libertá-la dos abusos que nela existem, que querem separar religião e política; que não querem perseguir a Igreja; que há que se saber, dizem eles, que não se pode atuar com certeza absoluta se não se leva em conta o espírito dos tempos. 'Queremos o bem dos povos', assim afirmam, 'pelo que nos empenhamos vivamente pela paz entre todas as nações'.

Resistais fortes na fé contra aqueles cristãos que, conhecendo apenas superficialmente a ciência da Religião, e ainda menos a praticando, pretendem-se colocar como mestres da Igreja, afirmando que ela deve estar adaptada às exigências dos tempos, sacrificando, assim, algum ponto da integridade de suas sagradas leis; que (afirmam equivocadamente) o direito público da cristandade deve tornar-se submisso aos grandes princípios da era moderna, e manifestar essa submissão aos novos valores; que querem acomodar a moral evangélica, tratada como demasiado severa, aos ditames de normas menos rígidas e mais confortáveis. Finalmente (também sob falsas argumentações) que defendem que a disciplina eclesiástica deve dispensar as prescrições molestas à natureza humana, em nome de leis que exaltem uma maior liberdade e o amor.

Resistais fortes na fé contra todos aqueles que pretendem dirigir e guiar a Igreja em favor dos seus próprios interesses e decisões, julgando os seus ensinamentos e rechaçando as suas censuras e condenações; tudo isso constitui um enorme pecado do orgulho e, para não nos tornarmos vítimas de seu grande castigo, tenhamos a coragem de lutar em nossa sociedade contra todos esses inimigos, expondo a malícia de suas idéias perniciosas e a vileza de suas maquinações, e enfrentando as suas ironias e insultos.

Resistais fortes na fé, especialmente aqueles que se gloriam de verdade do nome de católicos, sobretudo para que não vos deixais seduzir pelos falsos apóstolos que, como Satanás, se disfarçam de anjos de luz, e fingem pesares, medos e preocupações com os males advindos contra a Igreja e os perigos que a cercam e, sob as máscaras de uma caridade fingida e de um amor hipócrita, aceitam as estocadas que levam a Igreja a uma situação de risco e de perigo mortal. Embora seja verdade que certos triunfos da iniquidade moderna podem nos escandalizar e por mesmo à prova a nossa fé na Providência Divina, a própria evolução dos acontecimentos é capaz de serenar a inquietude do nosso coração. As Sagradas Escrituras nos advertem assim: 'Ai dos que ao mal chamam bem, que fazem as trevas em luz e a luz por trevas, que tomam por amargo o que é doce e por doce, o que é amargo! Ai dos que se julgam sábios aos seus próprios olhos, e que se acham prudentes ao próprio juízo! Ai dos que são valentes para beber vinho e para misturar licores; que por suborno justificam o ímpio, mas que anseiam impor ao justo a sua própria justiça!' E em outra passagem, diz: 'Ai de vós, Assíria, vara da minha cólera e bastão do meu furor! Eu vos enviei contra um povo ímpio, contra um povo objeto de minha cólera, para que este fosse saqueado e reduzido a despojos, para serem calcados aos pés como a lama das ruas; porém, não tivestes as mesmas intenções e não eram estes os pensamentos do vosso coração, e sim, o desejo de somente destruir e exterminar povos em massa'.

Como estes fatos que ora contemplamos na Igreja são iluminados por estas passagens! Meditai-as, queridos filhos, e aceitai tudo o que nos sucede como uma provação e uma expiação; volvei ao Senhor e respondei prontamente ao chamado paternal de sua misericórdia. Que estes santos dias da Quaresma nos sejam dias de profundo recolhimento e, assim, nos possam tornar mais dignos de celebrar, junto a Nosso Senhor Jesus Cristo, a sua gloriosa Páscoa da Ressurreição!

Cardeal Giuseppe Sarto, Patriarca de Veneza, futuro Papa São Pio X

(Excertos da Carta para meditação dos tempos da Quaresma, de 17 de fevereiro de 1895, tradução do autor do blog)

O CÉU É AQUI...

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

10 REGRAS DE OURO PARA ASSISTIR A SANTA MISSA

1. O que não caberia fazer no Calvário, não cabe fazer na Missa.

2. Na Missa, o papel do sacerdote é único - in persona Christi - e não pode ser nunca compartilhado com os fieis leigos.

3. Há orações exclusivas do sacerdote, que não podem e nem devem ser compartilhadas com os fieis, mesmo sob solicitação expressa do sacerdote (a Oração da Paz é um exemplo). Nestes casos, permaneça calado e somente responda 'Amém'.

4. O sacerdote pediu palmas? Ótimo, guarde para batê-las em casa, na alegria cristã em família.

5. O leigo fiel tem o direito de assistir a Santa Missa sem ter que participar de improvisações, vedetismos ou gracejos do sacerdote.

6. É melhor ser 'indelicado' com o sacerdote do que profanar o Mistério da Graça.

7. Lugar de teatro é no teatro. O fiel católico não vai à Missa para assistir teatro, mas para prestar adoração ao sacrifício do Filho de Deus. 

8. Todo abuso litúrgico é uma profanação da sagrada liturgia.

9. Um sacerdote tem todo o direito de se achar um cantor de ópera - e nós, os leigos, o direito de permanecermos surdos à ópera durante a Missa.

10. Amar o sacerdócio é obra de grandeza cristã por excelência. Deus nos perdoará quando não os amarmos o suficiente. Mas os sacerdotes serão julgados severamente pelas Missas que rezaram e pelas quais nos levaram a não os amarmos o suficiente.

domingo, 20 de setembro de 2015

O MAIOR DE TODOS É O QUE SERVE A TODOS

Páginas do Evangelho - Vigésimo Quinto Domingo do Tempo Comum


'Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más' (Tg 3, 16). Com efeito, toda sorte de males advém da inveja e das paixões desregradas do homem, que se pauta em ter cada vez mais e invejar no outro tudo aquilo que ainda não se tem. Não é esse o caminho da graça, nem a via da santidade. Jesus, no evangelho deste domingo, vai mostrar aos seus discípulos que a primazia da alma é forjada no cadinho da humildade.

Após a extraordinária experiência no Monte Tabor, Jesus seguia agora, rodeado apenas pelos seus discípulos e, mais uma vez, lhes anunciara o mistério de sua Paixão e Ressurreição: 'O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará' (Mc 9, 31). Mas os apóstolos ainda estavam demasiado presos à ideia de um reino terreno, pautado por poderes mundanos. E era a ambição de um poder maior em relação aos demais o que minava os sentimentos daqueles homens nos caminhos da Galileia.

Jesus vai interpelá-los sobre as murmurações de uns e outros pelo caminho; e o silêncio da resposta é o testemunho de que haviam estado até então submissos aos grilhões da inveja e das rivalidades. Estremecidos os corações diante da Verdade, são todos acolhidos na misericórdia do Bom Pastor que lhes revela: 'Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!' (Mc 9, 35). A primazia da graça é o serviço do bem desprovido de honras e vaidades humanas: o maior de todos é o que serve a todos; a humildade é a virtude que eleva o homem às vias mais plenas da santidade!

E, para ilustrar a dimensão da verdadeira humildade, Jesus a insere no contexto sublime da inocência pura de uma criança: 'Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou' (Mc 9, 37). Possuir uma inocência infantil é possuir a própria sabedoria de Deus, pois nela não prospera as ambições, nem a inveja, nem as rivalidades, nem as desordens ou qualquer espécie de obras más e porque 'a sabedoria que vem do alto é, antes de tudo, pura, depois pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento' (Tg 3, 17).

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

DOS RITOS BIZANTINOS (II)

O hino Agni Parthene (em grego Αγνή Παρθένε) ou Ó Virgem pura é um dos hinos constantes do chamado Theotokarion, coletânea de hinos devotados à Mãe de Deus, escrito em grego por São Nectarios de Aegina.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

DOCUMENTOS DO CONCÍLIO VATICANO I (II)

Concílio Vaticano I, proclamado por Pio IX (1846 a 1878).
Sessão IV (18/07/1870)
Constituição Dogmática Pastor Aeternus 
sobre a Igreja de Cristo, prescrevendo os dogmas do primado e da infalibilidade papal.

Pio IX (1846 a 1878)

1821. O eterno pastor e bispo das nossas almas [1 Ped 2,25], querendo perpetuar a salutífera obra da redenção, resolveu fundar a Santa Igreja, na qual, como na casa do Deus vivo, todos os fiéis se conservassem unidos, pelo vínculo da mesma fé e do mesmo amor. Por isso, antes de ser glorificado, rogou ao Pai não só pelos Apóstolos, mas também por aqueles que haviam de crer nele através das palavras deles, para que todos fossem um, assim como o Filho e o Pai são um [ Jo 17,20 s]. Por isso, assim como enviou os Apóstolos que tinha escolhido do mundo, conforme tinha sido ele mesmo enviado pelo Pai [Jo 20,21], da mesma forma quis que, até a consumação dos séculos [Mt 28,20], houvesse na sua Igreja pastores e doutores. Mas, para que o próprio episcopado fosse uno e indiviso, e pela coesão e união íntima dos sacerdotes toda a multidão dos crentes se conservasse na unidade da mesma fé e comunhão, antepondo São Pedro aos demais Apóstolos, pôs nele o princípio perpétuo e o fundamento visível desta dupla unidade, sobre cuja solidez se construísse o templo eterno e se levantasse sobre a firmeza desta fé a sublimidade da Igreja, que deve elevar-se até ao céu. 

E como as portas do inferno se insurgem de todas as partes, de dia para dia, com crescente ódio contra a Igreja divinamente estabelecida, a fim de fazê-la ruir, se pudessem, Nós julgamos necessário para a guarda, para a incolumidade e para o aumento da grei católica, após a aprovação do Concílio, propor a crença dos fiéis a doutrina sobre a instituição, a perpetuidade e a natureza do santo primado Apostólico, no qual reside a força e a solidez de toda a Igreja, segundo a fé antiga e constante da Igreja universal, proscrevendo e condenando os erros contrários, tão perniciosos à grei do Senhor.

Cap. I – A instituição do primado apostólico em São Pedro

1822. Ensinamos, pois, e declaramos, segundo o testemunho do Evangelho, que Jesus Cristo prometeu e conferiu imediata e diretamente o primado de jurisdição sobre toda a Igreja ao Apóstolo São Pedro. Com efeito, só a Simão Pedro, a quem antes dissera: Chamar-te-ás Cefas [Jo 1,42], depois de ter ele feito a sua profissão com as palavras: 'Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo', foi que o Senhor se dirigiu com estas solenes palavras: 'Bem-aventurado és, Simão, filho de Jonas, porque nem a carne nem o sangue to revelaram, mas sim meu Pai que está nos céus. E eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E dar-te-ei as chaves do reino dos céus. E tudo o que ligares sobre a terra será ligado também nos céus; e tudo o que desligares sobre a terra será desligado também nos céus' [Mt 16,16 ss]. E somente a Simão Pedro conferiu Jesus, após a sua ressurreição, a jurisdição de pastor e chefe supremo de todo o seu rebanho, dizendo: 'Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas' [Jo 21,15 ss.]. 

A esta doutrina, tão clara das Sagradas Escrituras, tal como sempre foi entendida pela Igreja Católica, opõe-se abertamente as sentenças perversas daqueles que, desnaturando a forma de governo estabelecida na Igreja por Cristo Nosso Senhor, negam que só Pedro foi agraciado com o verdadeiro e próprio primado de jurisdição, com exclusão dos demais Apóstolos, quer tomados singularmente, quer em conjunto. Igualmente se opõem a esta doutrina os que afirmam que o mesmo primado não foi imediata e diretamente confiado a São Pedro mesmo, mas à Igreja, e por meio desta a ele, como ministro dela.

1823. [Cânon] Se, pois, alguém disser que o Apóstolo São Pedro não foi constituído por Jesus Cristo príncipe de todos os Apóstolos e chefe visível de toda a Igreja militante; ou disser que ele não recebeu direta e imediatamente do mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo o primado de verdadeira e própria jurisdição, mas apenas o primado de honra – seja excomungado.

Cap. II – A perpetuidade do primado de São Pedro nos Romanos Pontífices

1824. Porém o que Nosso Senhor Jesus Cristo, que é o príncipe dos pastores e o grande pastor das ovelhas, instituiu no Apóstolo São Pedro para a salvação eterna e o bem perene da Igreja, deve constantemente subsistir pela autoridade do mesmo Cristo na Igreja, que, fundada sobre o rochedo, permanecerá inabalável até ao fim dos séculos. '"Ninguém certamente duvida, pois é um fato notório em todos os séculos, que São Pedro, príncipe e chefe dos Apóstolos, recebeu de Nosso Senhor Jesus Cristo, Salvador e Redentor do gênero humano, as chaves do reino; o qual (São Pedro) vive, governa e julga através dos seus sucessores'.

1825. [Cânon] Se, portanto, alguém negar ser de direito divino e por instituição do próprio Cristo que São Pedro tem perpétuos sucessores no primado da Igreja universal; ou que o Romano Pontífice é o sucessor de São Pedro no mesmo primado – seja excomungado


Cap. III – A natureza e o caráter do primado do Pontífice Romano

1826. Por isso, apoiados no testemunho manifesto da Sagrada Escritura, e concordes com os decretos formais e evidentes, tanto dos Romanos Pontífices, nossos predecessores, como dos concílios gerais, renovamos a definição do Concílio Ecumênico de Florença, que obriga todos os fiéis cristãos a crerem que a Santa Sé Apostólica e o Pontífice Romano têm o primado sobre todo o mundo, e que o mesmo Pontífice Romano é o sucessor de São Pedro, o príncipe dos Apóstolos, é o verdadeiro vigário de Cristo, o chefe de toda a Igreja e o pai e doutor de todos os cristãos; e que a ele entregou Nosso Senhor Jesus Cristo todo o poder de apascentar, reger e governar a Igreja universal, conforme também se lê nas atas dos Concílios Ecumênicos e nos sagrados cânones.

1827. Ensinamos, pois, e declaramos que a Igreja Romana, por disposição divina, tem o primado do poder ordinário sobre as outras Igrejas, e que este poder de jurisdição do Romano Pontífice, poder verdadeiramente episcopal, é imediato. E a ela [à Igreja Romana] devem-se sujeitar, por dever de subordinação hierárquica e verdadeira obediência, os pastores e os fiéis de qualquer rito e dignidade, tanto cada um em particular, como todos em conjunto, não só nas coisas referentes à fé e aos costumes, mas também nas que se referem à disciplina e ao regime da Igreja, espalhada por todo o mundo, de tal forma que, guardada a unidade de comunhão e de fé com o Romano Pontífice, a Igreja de Cristo seja um só redil com um só pastor. Esta é a doutrina católica, da qual ninguém pode se desviar, sob pena de perder a fé e a salvação.

1828. Estamos, porém, longe de afirmar que este poder do Sumo Pontífice acaba com aquele poder ordinário e imediato de jurisdição episcopal, em virtude do qual os bispos, constituídos pelo Espírito Santo [cf. At 20,28] e sucessores dos Apóstolos, apascentam e regem, como verdadeiros pastores, os seus respectivos rebanhos; pelo contrário, este poder é firmado, corroborado e reivindicado pelo pastor supremo e universal, segundo o dizer de São Gregório Magno: 'A minha honra é o vigor dos meus irmãos. Sinto-me verdadeiramente honrado, quando a cada qual se tributa a honra que lhe é devida'.

1829. Além disso, do supremo poder do Romano Pontífice de governar toda a Igreja, resulta o direito de, no exercício deste seu ministério, comunicar-se livremente com os pastores e fiéis de toda a Igreja, para que estes possam ser por ele instruídos e dirigidos no caminho da salvação. Pelo que condenamos e reprovamos as máximas daqueles que dizem poder-se impedir licitamente esta comunicação do chefe supremo com os pastores e os fiéis, ou a subordinam ao poder secular, a ponto de afirmarem que o que é determinado pela Sé Apostólica em virtude da sua autoridade para o governo da Igreja, não tem força nem valor, a não ser depois de confirmado pelo beneplácito do poder secular.

1830. E como o Pontífice Romano governa a Igreja Universal em virtude do direito divino do primado apostólico, também ensinamos e declaramos que ele é o juiz supremo de todos os fiéis, podendo-se, em todas as coisas pertencentes ao foro eclesiástico, recorrer ao seu juízo; [declaramos] também que a ninguém é lícito emitir juízo acerca do julgamento desta Santa Sé, nem tocar neste julgamento, visto que não há autoridade acima da mesma Santa Sé. Por isso, estão fora do reto caminho da verdade os que afirmam ser lícito apelar da sentença do Pontífices Romanos para o Concílio Ecumênico, como sendo uma autoridade acima do Romano Pontífice.

1831. [Cânon] Se, pois alguém disser que ao Romano Pontífice cabe apenas o ofício de inspeção ou direção, mas não o pleno e supremo poder de jurisdição sobre toda a Igreja, não só nas coisas referentes à fé e aos costumes, mas também nas que se referem à disciplina e ao governo da Igreja, espalhada por todo o mundo; ou disser que ele só goza da parte principal deste supremo poder, e não de toda a sua plenitude; ou disser que este seu poder não é ordinário e imediato, quer sobre todas e cada uma das igrejas quer sobre todos e cada um dos pastores e fiéis – seja excomungado.

Cap. IV – O Magistério infalível do Romano Pontífice

1832. Esta Santa Sé sempre tem crido que, no próprio primado Apostólico que o Romano Pontífice tem sobre toda a Igreja, está também incluído o supremo poder do magistério. O mesmo é confirmado também pelo uso constante da Igreja e pelos Concílios Ecumênicos, principalmente aqueles em que os Orientais se reuniam com os Ocidentais na união da fé e da caridade.

1833. Assim, os Padres do IV Concílio de Constantinopla, seguindo o exemplo dos antepassados, fizeram esta solene profissão da fé: 'A salvação consiste antes de tudo em guardar a regra da fé verdadeira. [...]. E como a palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo que disse: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja [Mt 16,18] não pode ser vã, os fatos a têm confirmado, pois na Sé Apostólica sempre se conservou imaculada a religião católica e santa a doutrina. Por isso, não desejando absolutamente separar-nos desta fé e desta doutrina, [...] esperamos merecer perseverar na única comunhão pregada pela Sé Apostólica, na qual está sólida, íntegra e verdadeira a religião cristã'.

1834. E os gregos, com a aprovação do II Concílio de Lião, professaram 'que a Santa Igreja Romana goza do supremo e pleno primado e principado sobre toda a Igreja Católica, primado que com verdade ela reconhece humildemente ter recebido, com a plenitude do poder, do próprio Jesus Cristo, na pessoa de São Pedro, príncipe dos Apóstolos, de quem o Romano Pontífice é sucessor; e assim com a Igreja Romana, mais do que as outras, deve defender a verdadeira fé assim também, quando surgirem questões acerca da fé, cabe a ela defini-las'.

1835. E finalmente o Concílio de Florença definiu 'que o Romano Pontífice é o verdadeiro vigário de Cristo, o chefe de toda a Igreja, o pai e o doutor de todos os cristãos; e que a ele conferiu Nosso Senhor Jesus Cristo, na pessoa de São Pedro, o pleno poder de apascentar, reger e governar a Igreja'.

1836. Com o fim de satisfazer a este múnus pastoral, os nossos predecessores empregaram sempre todos os esforços para propagar a salutar doutrina de Cristo entre todos os povos da Terra, vigiando com igual solicitude que, onde fosse recebida, se guardasse pura e sem alteração. Pelo que os bispos de todo o mundo, quer em particular, quer reunidos em sínodos, seguindo o velho costume e a antiga regra da Igreja, têm referido a esta Sé Apostólica os perigos que surgiam, principalmente em assuntos de fé, a fim de que os danos da fé se ressarcissem aí, onde a fé não pode sofrer quebra. E os Pontífices Romanos, conforme lhes aconselhavam a condição dos tempos e as circunstâncias, ora convocando Concílios Ecumênicos, ora auscultando a opinião de toda a Igreja dispersa pelo mundo, ora por sínodos particulares ou empregando outros meios, que a Divina Providência lhes proporcionava, têm definido como verdade de fé [tudo] aquilo que, com o auxílio de Deus, reconheceram ser conforme com a Sagrada Escritura e as tradições apostólicas. Pois o Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de São Pedro para que estes, sob a revelação do mesmo, pregassem uma nova doutrina, mas para que, com a sua assistência, conservassem santamente e expusessem fielmente o depósito da fé, ou seja, a revelação herdada dos Apóstolos. E esta doutrina dos Apóstolos abraçaram-na todos os veneráveis Santos Padres, veneraram-na e seguiram-na todos os santos doutores ortodoxos, firmemente convencidos de que esta cátedra de São Pedro sempre permaneceu imune de todo o erro, segundo a promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo feita ao príncipe dos Apóstolos: 'Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos' [Lc 22, 32].

1837. Foi, portanto, este Dom da verdade e da fé, que nunca falece, concedido divinamente a Pedro e aos seus sucessores nesta cátedra, a fim de que cumprissem seu sublime encargo para a salvação de todos, para que assim todo o rebanho de Cristo, afastado por eles do venenoso engodo do erro, fosse nutrido com o pábulo da doutrina celeste, para que assim, removida toda ocasião de cisma, e apoiada no seu fundamento, se conservasse unida a Igreja Universal, firme e inexpugnável contra as portas do inferno.

1838. Mas, como nestes nossos tempos, em que mais do que nunca se precisa da salutífera eficácia do ministério apostólico, muitos há que combatem esta autoridade, julgamos absolutamente necessário afirmar solenemente esta prerrogativa que o Filho Unigênito de Deus dignou-se ajuntar ao supremo ofício pastoral.

1839. Por isso Nós, apegando-nos à Tradição recebida desde o início da fé cristã, para a glória de Deus, nosso Salvador, para exaltação da religião católica, e para a salvação dos povos cristãos, com a aprovação do Sagrado Concílio, ensinamos e definimos como dogma divinamente revelado que o Romano Pontífice, quando fala ex cathedra, isto é, quando, no desempenho do ministério de pastor e doutor de todos os cristãos, define com sua suprema autoridade apostólica alguma doutrina referente à fé e à moral para toda a Igreja, em virtude da assistência divina prometida a ele na pessoa de São Pedro, goza daquela infalibilidade com a qual Cristo quis munir a sua Igreja quando define alguma doutrina sobre a fé e a moral; e que, portanto, tais declarações do Romano Pontífice são por si mesmas, e não apenas em virtude do consenso da Igreja, irreformáveis.

1840. [Cânon]: Se, porém, alguém ousar contrariar esta nossa definição, o que Deus não permita - seja excomungado.

(Do Enchiridion Symbolorum, tradução de Frei Guilherme Baraúna)