segunda-feira, 24 de setembro de 2012

DA VIDA ESPIRITUAL (27)





Muros, trancas, alarmes, cercas eletrificadas... Tudo isso é para fugir do mundo ou para se esconder de Deus?

domingo, 23 de setembro de 2012

ASSIM FALOU O PADRE PIO


Entrevista originalmente publicada na revista Tradition Catolica, n. 141 (novembro/1998).

Padre, o Sr. ama o Sacrifício da Missa?
Sim, porque Ela regenera o mundo.
Que glória dá a Deus a Missa?
Uma glória infinita.                                
Que devemos fazer durante a Missa?
Compadecer-nos e amar.
Padre, como devemos assistir à Santa Missa?
Como assistiram a Santíssima Virgem e as piedosas mulheres. Como assistiu S. João Evangelista ao Sacrifício Eucarístico e ao Sacrifício cruento da Cruz.
Padre, que benefícios recebemos ao assistir à Santa Missa?
Não se podem contar. Vê-lo-ás no céu. Quando assistires à Santa Missa, renova a tua fé e medita na Vítima que se imola por ti à Divina Justiça. Não te afastes do altar sem derramar lágrimas de dor e de amor a Jesus, Crucificado por tua salvação. A Virgem Dolorosa te acompanhará e será tua doce inspiração.
Padre, que é sua Missa?
Uma união sagrada com a Paixão de Jesus. Minha responsabilidade é única no mundo. (Dizia-o chorando.)
Que devo descobrir na sua Santa Missa?
Todo o Calvário.
Padre, diga-me tudo o que o senhor sofre durante a Santa Missa.
Sofro tudo o que Jesus sofreu na sua Paixão, embora sem proporção, só enquanto pode fazê-lo uma criatura humana. E isto, apesar de cada uma de minhas faltas e só por sua bondade.
Padre, durante o Sacrifício divino o senhor carrega os nossos pecados?
Não posso deixar de fazê-lo, já que é uma parte do Santo Sacrifício. 
O senhor considera a si mesmo um pecador?
Não o sei, mas temo que assim seja.
Eu já vi o senhor tremer ao subir aos degraus do altar. Por quê? Pelo que tem de sofrer?
Não pelo que tenho de sofrer, mas pelo que tenho de oferecer.
Em que momento da Missa o senhor sofre mais?
Na Consagração e na Comunhão.
Padre, esta manhã na Missa, ao ler a história de Esaú, que vendeu os direitos de sua primogenitura, seus olhos se encheram de lágrimas.
Parece-te pouco desprezar o dom de Deus!?
Por que, ao ler o Evangelho, o senhor chorou quando leu estas palavras: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue...”
Chora comigo de ternura!
Padre, por que o senhor chora quase sempre que lê o Evangelho na Missa?
A nós nos parece que não tem importância que um Deus fale às suas criaturas e elas O contradigam e continuamente O ofendam com sua ingratidão e incredulidade.
Sua Missa, Padre, é um sacrifício cruento?
Herege!
Perdão, Padre, quis dizer que na Missa o Sacrifício de Jesus não é cruento, mas a sua participação em toda a Paixão o é. Engano-me?
Não, nisso não te enganas. Creio que tens toda a razão.
Quem lhe limpa o sangue durante a Missa?
Ninguém.
Padre, por que o senhor chora no Ofertório?
Queres saber o segredo? Pois bem: porque é o momento em que a alma se separa das coisas profanas.
Durante sua Missa, Padre, o povo faz um pouco de barulho...
Se estivesses no Calvário, não ouvirias gritos, blasfêmias, ruídos, e ameaças? Havia um alvoroço enorme.
Não o distraem os ruídos?
Em nada.
Padre, por que sofre tanto na Consagração?
Não sejas maldoso... (Não quero que me perguntes isso...)
Padre, diga-me: por que sofre tanto na Consagração?
Porque nesse momento se produz realmente uma nova e admirável destruição e criação.
Padre, por que chora no altar, e que significam as palavras que pronuncia na Elevação? Pergunto por curiosidade, mas também porque quero repeti-las com o senhor.
Os segredos do Rei Supremo não podem revelar-se nem profanar-se. Pergunta-mes por que choro, mas eu não queria derramar essas pobres lagrimazinhas, mas torrentes de lágrimas. Não meditas neste grandioso mistério?
Padre, o senhor sofre, durante a Missa, a amargura do fel?
Sim, muito freqüentemente...
Padre, como pode estar-se de pé no Altar?
Como estava Jesus na Cruz.
No altar, o senhor está pregado na Cruz, como Jesus no Calvário?
E ainda me perguntas?
Como se acha o senhor?
Como Jesus no Calvário.
Padre, os carrascos deitaram a Cruz no chão para pregar os cravos em Jesus?
Evidentemente.
Ao senhor também lhos pregam?
E de que maneira!
Também deitam a Cruz para o senhor?
Sim, mas não devemos ter medo.
Padre, durante a Missa o senhor pronuncia as Sete Palavras que Jesus disse na Cruz?
Sim, indignamente, mas também as pronuncio.
E a quem diz: “Mulher, eis aí teu filho”?
Digo para Ela: “Eis aqui os filhos de Teu Filho”.
O senhor sofre a sede e o abandono de Jesus?
Sim.
Em que momento?
Depois da Consagração.
Até que momento?
Costuma ser até a Comunhão.
O senhor diz que tem vergonha de dizer: “Procurei quem me consolasse e não achei”. Por quê?
Porque nossos sofrimentos de verdadeiros culpados não são nada em comparação com os de Jesus.
Diante de quem sente vergonha?
Diante de Deus e da minha consciência.
Os Anjos do Senhor o reconfortam no Altar em que o senhor se imola?
Pois... não o sinto.
Se não lhe vem o consolo até à alma durante o Santo Sacrifício, e o senhor sofre, como Jesus, o abandono total, nossa presença não serve para nada.
A utilidade é para vós. Por acaso foi inútil a presença da Virgem Dolorosa, de São João e das piedosas mulheres aos pés de Jesus agonizante?
Que é a Sagrada Comunhão?
É toda uma misericórdia interior e exterior, todo um abraço. Pede a Jesus que se deixe sentir sensivelmente.
Quando Jesus vem, visita somente a alma?
O ser inteiro.
Que faz Jesus na Comunhão?
Deleita-se na sua criatura.
Quando se une a Jesus na Santa Comunhão, que quer peçamos a Deus pelo senhor?
Que eu seja outro Jesus, todo Jesus e sempre Jesus.
O senhor sofre também na Comunhão?
É o ponto culminante.
Depois da Comunhão, continuam seus sofrimentos?
Sim, mas não sofrimentos de amor.
A quem se dirigiu o último olhar de Jesus agonizante?
À sua Mãe.
E o senhor para quem olha?
Para meus irmãos de exílio.
O senhor morre na Santa Missa?
Misticamente, na Sagrada Comunhão.
É por excesso de amor ou de dor?
Por ambas as coisas, porém mais por amor.
Se o senhor morre na Comunhão, continua a ficar no Altar? Por quê?
Jesus morto permanecia pendente da Cruz no Calvário.
Padre, o senhor disse que a vítima morre na Comunhão. Colocam o senhor nos braços de Nossa Senhora?
Nos de São Francisco.
Padre, Jesus desprega os braços da Cruz para descansar no Senhor?
Sou eu quem descansa n’Ele!
Quanto ama a Jesus?
Meu desejo é infinito, mas a verdade é que, infelizmente, tenho de dizer nada e me causa pena.
Padre, por que o senhor chora ao pronunciar a última palavra do Evangelho de São João: “E vimos sua glória como do Unigênito Pai, cheio de graça e de verdade”?
Parece-te pouco? Se os Apóstolos, com seus olhos de carne, viram essa glória, como será a que veremos no Filho de Deus, em Jesus, quando se manifestar no céu?
Que união teremos então com Jesus?
A Eucaristia nos dá uma idéia.
A Santíssima Virgem assiste à sua Missa?
Julgas que a Mãe não se interessa por seu Filho?
E os Anjos?
Em multidões.
Padre, quem está mais perto do Altar?
Todo o Paraíso.
O senhor gostaria de celebrar mais de uma Missa por dia?
Se eu pudesse, não quereria descer do Altar.
Disseram-me que traz com o senhor o seu próprio Altar...
Sim, porque se realizam estas palavras do Apóstolo: “Eu trago no meu corpo os estigmas de Jesus”. “Estou cravado com Cristo na Cruz.” “Castigo o meu corpo, e o reduzo à escravidão...”
Nesse caso, não me engano quando digo que estou vendo Jesus Crucificado!
(Nenhuma resposta)
Padre, o senhor se lembra de mim na Santa Missa?
Durante toda a Missa, desde o princípio até o fim, lembro-me de ti.
A Missa do Padre Pio, em seus primeiros anos, durava mais de duas horas. Sempre foi um êxtase de amor e de dor. Seu rosto estava inteiramente concentrado em Deus e cheio de lágrimas. Um dia, ao confessar-me, perguntei-lhe sobre este grande mistério:
Padre, quero fazer-lhe uma pergunta.
Dize-me, filho.
Padre, queria perguntar-lhe que é a Missa?
Por que me perguntas isto?
Para ouvi-la melhor, Padre.
Filho, posso dizer-te que é a minha Missa.
Pois é isso o que quero saber, Padre.
Meu filho, estamos na Cruz, e a Missa é uma contínua agonia.


23 DE SETEMBRO - SÃO PIO DE PIETRELCINA


Francesco Forgione nasceu em Pietrelcina (Itália) no dia 25 de maio de 1887 e faleceu santamente como Padre Pio, em San Giovanni Rotondo (Itália), em 23 de setembro de 1968. Ordenado sacerdote em 10 de agosto de 1910, dedicou toda a sua vida ao ministério da confissão e à salvação das almas. Possuía dons extraordinários na forma de estigmas (feridas nas mãos, nos pés e no peito, como as recebidas por Nosso Senhor Jesus Cristo na crucifixão), de milagres diversos e o dom da bilocação (estar em dois lugares ao mesmo tempo).


(Vídeo com imagens de Padre Pio, filmado no Convento de Nossa Senhora das Graças dos Capuchinhos, em San Giovanni Rotondo. Mostra cenas do cotidiano dos frades, Padre Pio no refeitório, na igreja e celebrando a Santa Missa em latim; os frades lidando com as centenas de cartas enviadas ao Padre Pio. No final, provocam-no jovialmente com a câmera e ele bate o cinegrafista com seu cinto).

A santidade do Padre Pio é uma expressão da santidade de Deus, não apenas pelos seus tantos carismas particulares, mas pelas inúmeras perseguições que, desde que ele recebeu os estigmas, o acompanharam sempre até a morte (impedimentos e proibições de toda espécie, segregação e injúrias), aceitas com absoluta resignação: “Aceitar as provações que o Senhor permite ou suscita, para nos santificarmos e nos identificarmos com as injúrias sofridas por Cristo em toda sua vida, e particularmente na sua Paixão e Morte na Cruz, para salvar os homens até o fim dos séculos”. Pouco antes de morrer, ao lhe ser solicitado uma última orientação espiritual, assim o fez: "Amate la Madonna. Fatela amare. Recitate la Coronna. Recitatela bene” (Amai a Nossa Senhora. Fazei-a amar. Rezai o Rosário. Rezai-o bem). 

Foi canonizado em 16 de junho de 2002 pelo Papa João Paulo II, na praça de São Pedro. Em 28 de fevereiro de 2008, seu corpo foi exumado – sendo encontrado incorrupto – e colocado numa urna de cristal, onde se encontra atualmente para exposição pública e veneração dos fiéis.


EUCARISTIA - VIII


VIII - AÇÃO DE GRAÇAS

A Eucaristia  significa, acima de tudo, uma ação de graças (da palavra grega eucharistia ou “ação de graças”). É o sacrifício de louvor e reconhecimento ao Pai pela criação, redenção e santificação de todos os homens, ação de graças esta somente possível de ser oferecida por Cristo e com Cristo e para ser aceita em Cristo. Neste sentido, a ação de graças da comunhão possui um caráter de renovação das nossas promessas de louvor, reconhecimento e gratidão a Jesus Sacramentado. Trata-se de um tempo especialmente precioso em que estamos em íntima união com Cristo e em unidade com todos os outros membros do seu Corpo Místico. Nesta presença íntima com Nosso Senhor e Nosso Deus, façamos nossa ação de graças de joelhos, em espírito de profundo silêncio, recolhimento, humildade e adoração. Que não nos perturbem as preocupações mundanas ou as divagações dos pensamentos: ofereçamos estes preciosos minutos a Jesus com todo o nosso amor humano, para a nossa salvação e de toda a humanidade.

As graças inerentes a cada comunhão são infinitas pela presença de Jesus que é infinito, mas a aquisição destas graças por nós é restrita e finita à nossa condição humana. Assim, nenhuma alma tem condições de absorver todas as graças colocadas à sua disposição na ceia eucarística. É preciso entender que, sendo alimento espiritual, Deus concede as graças necessárias, nas sucessivas comunhões, para um crescimento gradual e imperceptível da santidade de cada homem, similarmente ao desenvolvimento orgânico de um corpo em crescimento. Essa maior ou menor santificação vai depender de nossa capacidade de eliminar os obstáculos que se contrapõem à ação das graças disponíveis e à nossa frequência à Santa Eucaristia. 

Estes obstáculos se traduzem no apego a pecados veniais e às imperfeições do nosso amor para com Deus e, também, nas etapas de preparação, participação e ação de graças a cada comunhão. Quantas graças se perdem, a cada comunhão, pela dessacralização e banalização do banquete eucarístico, com tantas distorções, profanações e abusos da cerimônia, por tantas ações de graças mal feitas ou simplesmente  não realizadas! Em quantas missas, não se oferece um ambiente propício e acolhedor a esta interação de graças entre o Criador e suas criaturas? É preciso silêncio e tempo de recolhimento para a ação de graças atuar como um bálsamo sobre as almas consagradas. E quantos destes insensatos reclamam ou questionam o valor das graças recebidas por não perceberem uma “emoção especial” ou uma melhoria acentuada no seu modo de ser e de agir como cristãos num mundo cada vez menos cristão.

Para aqueles que, mesmo cientes de suas limitações e da fragilidade da natureza humana, têm especial empenho na participação digna e na  sacralização da Santa Eucaristia e que sentem, eventualmente, estes mesmas inquietações, a resposta poderia induzir outras duas perguntas: “Estou assim insatisfeito não é exatamente porque estou no caminho certo de uma santificação que somente terá fim no momento da minha morte?” Ou então: “Se me sinto assim insatisfeito, como estaria então sem tantas comunhões?”.

Eucaristia I: Primeira Parte (Primeiro Domingo de Agosto)
Eucaristia II: Segunda Parte (Segundo Domingo de Agosto)
Eucaristia III: Terceira Parte (Terceiro Domingo de Agosto)
Eucaristia IV: Quarta Parte (Quarto Domingo de Agosto)
Eucaristia V: Quinta Parte (Primeiro Domingo de Setembro)
Eucaristia VI: Sexta Parte (Segundo Domingo de Setembro)
Eucaristia VII: Sétima Parte (Terceiro Domingo de Setembro)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

TRÊS HORAS NO PURGATÓRIO

Frei Daniele foi companheiro inseparável do Padre Pio durante longos anos e passou por uma experiência sobrenatural extraordinária, narrada em detalhes no livro “Omaggio a Fra’ Daniele, capuchino”, escrito pelo Pe. Remigio Fiore, cujo excerto é traduzido abaixo, a partir da versão em espanhol publicada na revista Sol de Fátima, número 188, página 26-27 (Novembro-Dezembro de 1999). Os eventos descritos abaixo, com inúmeros depoimentos confirmatórios, constituem mais uma prova da vida singular do Santo Pio de Pietrelcina.

Sou um simples irmão capuchinho. Passei toda a minha vida fazendo o trabalho que me correspondia: porteiro, sacristão, pedinte de esmolas, cozinheiro. Frequentemente ia com a minha mochila para pedir esmolas de porta em porta. Fazia as compras diariamente para o convento. Todo mundo me conhecia e me queriam bem. Sempre que comprava alguma coisa, davam-me descontos e aquelas poucas liras que recolhia, em vez de entregá-las ao meu superior, as conservava para as despesas com as correspondências, para as minhas pequenas necessidades e também para ajudar os soldados que vinham bater à porta do convento.

Imediatamente após a guerra, eu estava em San Giovanni Rotondo, minha cidade natal, no mesmo convento do Padre Pio. Pouco tempo depois, eu comecei com algumas dores no sistema digestivo e, após me consultar, o médico me diagnosticou uma doença incurável: eu tinha um grave tumor. 

Pensando na iminência da morte, eu me dirigi ao Padre Pio para lhe fazer a comunicação e ele, depois de me ouvir, falou de pronto: "você tem de operar". Confuso, repliquei: “Padre, não vale a pena. O médico não me deu nenhuma esperança. Agora eu sei que vou morrer."

"Não importa o que o médico disse: você deve operar, mas em Roma em tal clínica e com tal cirurgião."

O Padre Pio falou com tanta segurança e convicção, que eu simplesmente concordei:

"Sim, Padre, eu vou." Então ele olhou para mim com grande ternura e acrescentou comovido:

"Não tema, eu estarei sempre com você."

Na manhã seguinte, viajei para Roma e, sentado no trem, sentia uma presença misteriosa ao meu lado: era Padre Pio cumprindo a promessa de estar comigo.

Quando cheguei a Roma, soube que a clínica tinha o nome de ‘Regina Elena’ e que o cirurgião chamava-se Ricardo Moretti. Internei-me ao entardecer. Parecia que todos me esperavam, como se alguém tivesse anunciado a minha chegada e me receberam imediatamente.

Às 7 horas da manhã já estava na sala de cirurgia. Prepararam-me para a operação. Apesar da anestesia, permanecia consciente e orava ao Senhor com as mesmas palavras que Ele se dirigira ao Pai antes de morrer: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito".

A operação teve início e eu percebia tudo o que diziam. Sofria dores atrozes, mas não me lamentava; ao contrário, estava feliz de suportar tanta dor que oferecia a Jesus, uma vez que todos aqueles sofrimentos purificavam a minha alma dos meus pecados. Pouco tempo depois, eu adormeci.

Quando recuperei a consciência, disseram-me que eu havia estado três dias em coma antes de morrer. Apresentei-me diante do Trono de Deus. Via Deus não como um juiz severo, mas como um Pai afetuoso e cheio de amor. Então compreendi que o Senhor havia sido amor puro por mim desde o primeiro até o último momento da minha vida, amando-me como se eu fosse a única criatura existente sobre a terra. 

Mas percebi também que eu, não somente não tinha correspondido àquele imenso amor divino, mas que o tinha totalmente negligenciado.

Eu fui condenado a duas / três horas no Purgatório.

"Mas como?” - eu me perguntava - somente duas / três horas? E depois posso ficar junto de Deus, amor eterno? Dei um salto de alegria e me senti um filho predileto. A visão desapareceu e eu me vi então no Purgatório.

As duas / três horas de Purgatório me foram dadas principalmente por ter faltado com o voto de pobreza, ou seja, por ter conservado para mim umas poucas liras, como havia dito antes. 

As dores eram terríveis e não sei de onde vinham, porém eu as sentia intensamente. Nos sentidos com os quais eu havia ofendido mais a Deus neste mundo: os olhos, a língua ... experimentava dores tremendas e era espantoso porque, no Purgatório, cada um se sente como se tivesse corpo e conhece / reconhece os demais como ocorre no mundo.

Ainda assim, embora não tivesse passado mais que alguns momentos com tais penas, me parecia ter sido uma eternidade. O que mais faz sofrer no Purgatório não é tanto o fogo - que é muito intenso, mas o sentimento de se estar alijado de Deus, e o que é mais angustiante é saber que se teve todos os meios disponíveis para a salvação e não se utilizou deles com sabedoria.

Foi então que eu pensei ir a um irmão do meu convento para lhe pedir para rezar por mim que estava no Purgatório. Aquele irmão ficou espantado porque percebia a minha voz, mas não podia me ver e me perguntou: 

"Onde você está, por que eu não lhe vejo?"

Eu insistia, vendo que não era possível chegar até ele, porque meus braços não o alcançavam. Só então me dei conta que não tinha um corpo. Contentei-me, então, em insistir com ele para que rezasse muito por mim e, assim, me tirar do Purgatório.

"Mas como?” - dizia a mim mesmo. “Não deveria estar eu somente duas / três horas no Purgatório? E já se passaram trezentos anos?” Pelo menos, assim me parecia. De repente, surgiu diante de mim a Bem-Aventurada Virgem Maria; ao vê-la, roguei insistentemente, supliquei, dizendo-lhe: "Ó Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, alcançai-me a graça do Senhor de retornar à terra para viver e trabalhar apenas por amor a Deus."

Corri também diante o Padre Pio e igualmente implorei: "Por suas dores excruciantes, por suas benditas chagas, Padre Pio, rogai por mim a Deus para me livrar dessas chamas e conceder-me a graça de continuar meu Purgatório na terra."

Depois, não vi mais nada, mas dei-me conta que o Padre Pio falava com a Virgem. Momentos depois, apareceu-me de novo a Bem-aventurada Virgem Maria: era Nossa Senhora das Graças, porém vinha sem o menino Jesus; acenou com a cabeça e sorriu. Naquele mesmo momento, tomei posse do meu corpo, abri meus olhos e estendi meus braços. Então, com um movimento brusco, me libertei do manto que me cobria. Estava feliz, eu tinha recebido a graça. A Santíssima Virgem havia me escutado.

Imediatamente a seguir, os que me assistiam e velavam, com grande susto, correram para fora da sala a chamar médicos e enfermeiras. Em poucos minutos, a clínica ficou lotada de pessoas. Todos achavam que eu era um fantasma e decidiram fechar as portas e ir embora, com grande temor a espíritos.

Na manhã seguinte, levantei-me muito bem disposto e sentei-me em uma poltrona. Apesar da porta ser cuidadosamente controlada, algumas pessoas conseguiram entrar e me pediam para lhes explicar o que tinha acontecido. Para tranquilizá-los, disse-lhes que estava para chegar o médico de plantão, o qual diria a eles o que havia acontecido comigo. Normalmente os médicos não chegariam antes das dez horas mas, esta manhã, embora não fosse ainda sete horas, disse aos presentes:

"Olhe, o médico está chegando, e agora está estacionando o carro em tal posição."

Mas ninguém acreditava em mim. E eu continuava a dizer-lhes:

"Agora está atravessando a rua, levando o casaco sobre o braço e passando a mão sobre a cabeça como se estivesse preocupado, não sei o que será ...”

Porém, ninguém dava crédito às minhas palavras. Então eu disse: "Para que vocês creiam que eu não estou mentindo, eu afirmo que o médico está subindo pelo elevador e está prestes a chegar à porta." Mal terminara de falar, abriu-se a porta e entrou o médico surpreendendo todos os presentes. Com lágrimas nos olhos, o médico disse:

"Sim, agora eu creio em Deus, creio na Igreja e creio no Padre Pio ...".

Aquele médico que antes não acreditava e cuja fé era como água de rosas, confessou que, naquela noite, não tinha conseguido pregar os olhos pensando na minha morte, que ele havia comprovado antes, sem dar mais detalhes. Disse que, apesar do atestado de óbito que tinha escrito, tinha voltado para se certificar de que era aquilo mesmo que tinha acontecido já que tivera tantos pesadelos à noite, com base no fato de que aquele falecido (que era eu) não era como os demais, o que agora se confirmava efetivamente. 

Conclusão: Após esta experiência, Frei Daniele realmente viveu o Purgatório nesta terra, purificando-se por meio de enfermidades, sofrimentos e dores, conformando-se sempre e em tudo com a vontade de Deus. Recordo aqui algumas operações que passou posteriormente: próstata, coliciste, aneurisma da veia abdominal com uso de prótese, operação após um  acidente de rua perto de Bolonha, além de outras dores, não somente físicas, mas também morais.

Á irmã Felicetta, que lhe perguntou como se sentia de saúde, Frei Daniele lhe confidenciou: "Minha irmã, há mais de 40 anos que não me recordo o que significa ‘estar bem’.”

Para terminar, poder-se-ia dizer que este relato de Frei Daniele é mais um episódio que prova o seu grande amor pela Virgem Maria. Frei Daniele morreu em 6 de julho de 1994. Seus restos mortais foram dispostos na capela da enfermaria do Convento dos Capuchinhos em San Giovanni Rotondo e, ao se recitar o rosário em sufrágio de sua alma, pareceu a muitos dos presentes que Frei Daniele movia os lábios para acompanhar as ave-marias do Rosário. A voz se difundiu tão claramente que o superior, Padre Livio de Matteo, quis ter certeza de que não se tratava de morte aparente. Por tal motivo, fez trazer ao local  o Dr. Nicholas Silvestri, assistente de Medicina Legal, e o Dr. José Pasanella, também assistente de Medicina Legal, que procederam à realização de um eletrocardiograma a Frei Daniele, tomando também a temperatura do corpo, pelo que confirmaram indubitavelmente sua morte.

Frei Daniele certamente goza agora da visão beatífica de Deus e, do céu, nos sorri, abençoa e nos protege a todos.

POEMAS PARA REZAR (IV)

José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque, autor da letra do 'Hino da Proclamação da República', nasceu em Recife/PE, em 4 de setembro de 1867 e faleceu no Rio de Janeiro, em 9 de junho de 1934. Foi funcionário público, professor, político, jornalista e poeta. Autor de extensa obra bibliográfica, na qual se inclui alguns textos profanos, 'Oração' é um soneto de redenção.

ORAÇÃO 
                                         (Medeiros e Albuquerque)

Eu sei, Senhor, que não mereço nada
mas ponho em tuas mãos humildemente
meu coração que sofre. E, resignada,
minh’alma guarda, confiante e crente.

Quando eu chegar ao termo da jornada
em que a Morte, emboscada, espera a gente,
tem pena de minh’alma amargurada,
vê que eu também sou filho – e sê clemente.

Perdoa-me, meu Deus, se eu sou culpado,
se tanto crime fiz, tanto pecado,
que hoje choro contrito, - e dá, Senhor,

que no coro glorioso, que te exalta,
no céu profundo, não se sinta a falta
de minha voz cantando o teu louvor.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A IGREJA E A CIVILIZAÇÃO CRISTÃ

Eis o legado final e decisivo da civilização cristã: tal como o seu senhor e mestre, também a Igreja deve subir o Calvário, passar por toda sorte de blasfêmias e profanações, ser motivo de escárnio e zombaria dos maus, ser vítima imolada na cruz de tantos pecados, misérias e loucuras dos homens da perdição. E, tal como Cristo, após a tribulação e o martírio da apostasia, a Igreja se levantará da terra como obra suprema da Verdade que não morrerá jamais, pois 'por fim, Meu Imaculado Coração triunfará', como profetizou Nossa Senhora em Fátima.

Com a Santa Igreja, nasceu também o pacto da iniquidade. Mas nasceu primeiro o desígnio misericordioso de Deus pela salvação humana por meio de Maria. Por meio de Maria, de suas incontáveis e estratégicas aparições e manifestações, torna-se possível conceber claramente o mosaico da civilização cristã em curso, o vômito de satanás e de sua côrte maldita sobre a Igreja, a escalada do mal carcomendo os pilares da cristandade, a apostasia generalizada dos tempos finais, a consecução dos tempos e da história, o embate derradeiro entre Cristo e satanás, a Igreja e a anti-Igreja, a civilização cristã e um mundo que se pretende destituído de Deus.

A Igreja nunca teve e nunca terá paz até o último dos seus dias. Por que Cristo veio trazer a cruz pela espada. São inumeráveis as heresias e derivações doutrinárias perniciosas que tentaram minar as colunas de Pedro desde a Igreja nascente e ao longo de toda a sua história. Em momentos históricos específicos, grandes santos interviram de forma decisiva para combatê-las e subjugá-las, mantendo inalterada a pureza dos Evangelhos. E vieram as hordas anti-católicas da Renascença, da Reforma Protestante, da Revolução Francesa e do Iluminismo, as concepções antiteístas do Comunismo, o culto do ecumenismo, a imposição de uma Nova Ordem Mundial: ondas diversas e continuadas do furor satânico contra a Casa de Deus, fluxos distintos do mesmo estertor do demônio contra a Igreja de Cristo. Tudo em vão, porque as portas do inferno não prevalecerão contra ela, mas à custa de uma perda de uma infinidade de almas, engolidas pelo vômito das potestades diabólicas.

Há muitas formas de se entender e de se esclarecer os fundamentos dessa engrenagem revolucionária: seus princípios, movimentos, interações e sincronias, mesmo sendo complexos e ainda que sejam sempre covardemente mascarados em papel de embrulho colorido. Mas, mediante as intervenções e manifestações marianas (que se pretendem discutir em textos futuros neste blog), o Céu se manifesta com absoluta clareza sobre os ditames desta farsa herética, científica, maçônica, ecumenista ou qualquer que seja o nome dado à farsa do dia.   

Esta ciranda revolucionária culmina nos tempos atuais com uma sobrecarga demolidora de ultrajes, blasfêmias e perseguições à Santa Igreja, de fora da Igreja e de dentro da própria Igreja, conformando um cenário desolador de banalização da sã doutrina (a perda incomensurável do conceito do 'sagrado'), da profanação litúrgica, da mitificação de dogmas, da vulgarização do clero, do solapamento sistemático de toda a moral cristã, da proliferação de teologias agnósticas e panteístas, do hedonismo bestial a qualquer preço. 

Na tentativa de erradicação do Cristianismo, conspurcam-se os conceitos de família e da própria sexualidade humana, vendem-se direitos humanos e a cultura de morte no mesmo embornal, proclama-se uma falsa civilização não-cristã, ateia e ecumênica que idolatra modismos humanos e crendices pseudo-messiânicas, compactuam-se no ódio anticlerical, na blasfêmia aos símbolos cristãos e na perseguição aos justos. A Igreja vive o seu Calvário e quantos de nós estamos deixando nossas cruzes para trás? 'Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la' (Mc 8, 34-35).

Não é nada fácil ser católico de verdade nesse mundo de hoje. Mas, mais do que nunca, é preciso ser católico, ser soldado de Cristo, ser fruto consolidado e perene da autêntica civilização cristã, ser pobre mortal engendrado nos contrafortes mais íngremes da glória imperecível da cristandade, ser parcela insubmissa a um mundo sem Deus. Ser parte de um 'pequeno resto'. Pois será desse 'pequeno resto', provado e repassado no cadinho de tantas tribulações, que o próprio Cristo, em sua Segunda Vinda, ouvirá o solene SIM dos seus filhos que perseveraram até o fim no Caminho, Verdade e Vida: 'Quando o Filho do Homem voltar, encontrará fé sobre a terra?' (Lc 18,8).