Adoremos a Jesus Cristo, que nos ensina, com o seu exemplo antes de sua morte, a arrancar de nosso coração as paixões que mais escravizam os homens: a paixão pelo prazer e a paixão do orgulho; à paixão do prazer, opõem-se as dores mais excruciantes; à paixão do orgulho, opõem-se as humilhações mais ignominiosas. Peçamos perdão a Jesus por nossa corrupção, cuja expiação Lhe custou tanto e o agradeçamos por ter-se submetido para nos curar, aos suplícios e ignomínias de sua dolorosa Paixão.
PRIMEIRO PONTO - OS SUPLÍCIOS QUE OS INIMIGOS FIZERAM JESUS SOFRER
Estes homens, desumanos e cruéis até a ferocidade, não livraram nenhuma parte do corpo de Jesus sem tormentos especiais. A noite que precedeu a sua morte, o martírio começou com bofetadas ao seu divino rosto; no dia de sua morte, arrancaram, a golpes de açoites, sua adorável carne; O deixaram pingando sangue; todo o seu corpo transformado em uma só chaga; seus ossos postos a descoberto e sua cabeça coroada de espinhos.
Depois de tantos suplícios, O fizeram levar a cruz até o Calvário; ali O crucificaram, cravando os seus pés e suas mãos e amargando sua boca com fel e vinagre. Meditemos sobre estes espantosos suplícios; entremos no pensamento de Deus que os sofreu e quis com isso inspirarmos o ódio à nossa carne. Quem se atreverá, depois disso, a regalar o seu corpo, a evitar os sofrimentos, a render-se aos gozos e prazeres? Quem não se decidirá a mortificá-lo e fazê-lo sofrer? Não se pode ser cristão, a não ser com esta condição. Que exame não devemos fazer em nós mesmos! Quanta necessidade de mudanças em nossos sentimentos e em nossa conduta! Amamos tanto os prazeres, tememos tantos as penas e os padecimentos! Como nos atrevemos a nos chamarmos cristãos?
SEGUNDO PONTO – OS OPRÓBIOS QUE OS INIMIGOS LANÇARAM CONTRA JESUS
No Horto das Oliveiras, foi preso e conduzido como um criminoso à casa de Caifás, em meio a mil gritos de insultos. À noite que seguiu a sua prisão, foi entregue à mercê dos seus inimigos, que o martirizaram-no com bofetadas e cusparadas no rosto; depois disso, vendaram os seus olhos e O atacaram com duros golpes, gritando: 'Adivinhe quem o está ferindo'. No dia em que se seguiu a esta noite espantosa, O arrastaram pelas ruas de Jerusalém, vestido como um louco: riram-se dele e O insultaram como a um malfeitor.
Levado em seguida ao tribunal de Pilatos, foi colocado de igual para igual com Barrabás; todo aquele povo que, pouco antes, O havia recebido em triunfo, proclamou que Barrabás, ladrão e assassino, era menos culpável do que Ele; e pediu, com gritos de ódio e furor, a morte Aquele que que tinha feito desde sempre senão o bem. Depois, O coroaram com espinhos, jogaram sobre as suas costas um tecido de púrpura, à guisa de manto real, e puseram em suas mãos uma cana, como um cetro, e todo o povo se ria com a falsa simulação deste rei .
Onde está a sua renomada sabedoria? Não O consideram senão como um louco. Que se fez do seu grande poder? Não se vê ali só debilidade. .Que se fez de sua inocência e de sua santidade? A opinião pública O vê apenas como um criminoso, um blasfemo mais digno de morte do que ladrões e assassinos. Foi crucificado entre dois ladrões, como se fôra o mais criminoso deles; e todo o povo, reunido em torno da cruz, o cobriu, até o último suspiro, de insultos e ofensas. É AÍ QUE JESUS NOS ENSINA A HUMILDADE, A SUBMISSÃO, A DEPENDÊNCIA; É AI QUE ELE CONDENA O ORGULHO, que não pode sofrer o menosprezo, que se impacienta pelas coisas mais simples e que murmura pelas contradições mais triviais. É AÍ QUE CONDENA O AMOR PRÓPRIO, que se subleva pela preferência dada a outros, pelas susceptibilidades e pelas pretensões. Á AÍ QUE NOS ENSINA A NOS CONTENTARMOS UNICAMENTE COM A GRAÇA DE DEUS E NÃO FAZER CASO DOS JUÍZOS HUMANOS,DA OPINIÃO PÚBLICA E DAS PALAVRAS VÃS QUE NOS ROUBAM A PIEDADE. Que frutos temos tirado destes divinos ensinamentos? Que progresso temos feito em nossa tolerância ao desprezo, às palavras ofensivas e às feridas impostas à nossa autoestima? Ó Jesus, verdadeiramente humilde, tende piedade de nós e ajudai-nos a convertermos!
(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II).