Oremus — Pensamentos para a Meditação de Todos os Dias
(Pe. Isac Lorena (1963), com correções do texto e de citações e com complementos - entre [ ] - de trechos traduzidos do latim pelo autor do blog)
Obs.: a obra foi destinada originalmente a sacerdotes e seminaristas, mas pode e deve ser objeto de reflexão específica para os católicos em geral, sejam religiosos ou leigos.
20 DE DEZEMBRO
Libera nos a malo [livrai-nos do mal]
O único mal que deve existir para mim é o pecado. O sofrimento, a doença, as dificuldades, tudo pode e deve ser um bem: omnia cooperantur in bonum [todas as coisas concorrem para o bem]. É por isso que, todos os dias, a Igreja me faz ver a sua preocupação: Tua nos hodie salva virtute [salvai-nos hoje pelo vosso poder] — que Deus nos empreste a sua força, ut in hac die ad nullum declinemus peccatum [para que não nos prostremos por pecado algum neste dia].
Tivesse eu tido sempre esse horror ao pecado, vigiando mais a minha natureza, a estas horas não estaria lamentando certas faltas que deixei ao longo deste ano! Diariamente, ofereço o Santo Sacrifício pro innumerabilibus peccatis, et offensionibus, et negligentiis meis [pelos meus inumeráveis pecados, ofensas e negligências]; em minhas mãos a Vítima... diante de mim o Crucifixo, o Tabernáculo, o confessionário, falando-me da malícia do pecado.
Mas... eu não me impressiono, porque ele já se tornou como na minha vida... é coisa de todos os dias... Diariamente, ad primam [primeiro (de tudo)], tenho que pôr mais devoção e mais alma naquelas palavras que devem refletir um sincero desejo meu: semper ad tuam iustitiam faciendam nostra procedant eloquia, dirigantur cogitationes et opera [nossas palavras, pensamentos e obras tendam sempre para o cumprimento da vossa justiça]. Fazer em tudo o que Ele quer, é para mim, viver livre do pecado.
19 DE DEZEMBRO
In conspectu divinae majestatis [na presença da divina majestade]
Todos os dias, peço a Deus receba o Santo Sacrifício que lhe ofereço: jube haec perferri, per manus sancti Angeli tui [ordeneis que seja levado pelas mãos do vosso santo Anjo]. E a esse Sacrifício acrescento a insignificância da minha vida de todos os dias: Oblationem servitutis nostrae... placatus accipias [a nossa oferta de servos ... seja acolhida com agrado].
Posso dizer que passei este ano sacrificando-me in conspectu divinae majestatis [na presença da divina majestade]? Boa vontade não faltou da minha parte; mas preciso reconhecer que, às vezes, poupei-me um pouco em atenção ao meu comodismo; nem sempre dei à oração o tempo necessário ou às almas o zelo e dedicação que de mim esperavam. Meu sacrifício foi total? Não andei reservando alguma coisa para mim, quando devia entregar tudo a Nosso Senhor?
Nestes dias a minha consciência deverá pensar nisso. Santo Afonso, que tanto fizera para a glória de Deus e a salvação das almas, rezava nos últimos dias de sua vida: 'Meu Deus, dai-me a graça de fazer alguma coisa por Vós!' Seja essa a minha jaculatória e esse o meu desejo de sempre. E no fim da minha vida, será esse o meu consolo também: poder pensar que fiz alguma coisa para Nosso Senhor e, por isso, poder esperar a corona iustitiae [coroa da justiça] que Ele me haverá de dar.
Nestes dias a minha consciência deverá pensar nisso. Santo Afonso, que tanto fizera para a glória de Deus e a salvação das almas, rezava nos últimos dias de sua vida: 'Meu Deus, dai-me a graça de fazer alguma coisa por Vós!' Seja essa a minha jaculatória e esse o meu desejo de sempre. E no fim da minha vida, será esse o meu consolo também: poder pensar que fiz alguma coisa para Nosso Senhor e, por isso, poder esperar a corona iustitiae [coroa da justiça] que Ele me haverá de dar.
18 DE DEZEMBRO
Convertimini ad me [convertei-vos a mim (Jl 2,12)]
Todos os dias, o exame de consciência me diz que, em minha vida, muita coisa está fora do lugar, muita coisa está ameaçando ruína. Trata-se de uma construção que não poderá melhorar muito, somente com alguns remendos. Precisa de uma reforma.
Nestes últimos dias do ano, preciso tirar um dia para esse trabalho: examinar o estado em que se encontra a minha vida; com vagar e com coragem, preciso olhar bem para certas coisas: vida de oração, espírito de fé, horário, fuga das ocasiões... e pôr o dedo nas chagas, que talvez já se aprofundaram, mais do que eu suspeitava...
Derelinquat impius viam suam, et revertatur ad Dominum, quoniam multus est ad ignoscendum [renuncie o ímpio ao seu comportamento e volte ao Senhor, que perdoa generosamente (Is 55,7)]. Não preciso ter medo de voltar para a casa de meu Pai; Ele sabe perdoar, e perdoar muito: usque septuagies septies [até setenta vezes sete]. Mas, antes de colocar a pedra do seu perdão, Ele quer que eu coloque a pedra do meu arrependimento sobre as faltas que eu deixei atrás, principalmente neste ano: Ne respicias peccata mea [Não olheis os meus pecados]. E de agora em diante: Fac me tuis semper inhaerere mandatis, et a te nunquam separari permittas [fazei que eu cumpra sempre os vossos preceitos e jamais permita que eu me separe de Vós].
17 DE DEZEMBRO
Accepit ergo Jesus panes [Jesus tomou então os pães (Jo 6,11)]
Naquele dia, eram milhares de pessoas que estavam diante dele, à espera de um milagre. E foi um menino quem lhe forneceu os pães, que Ele multiplicou, para alimentar aquela multidão. Chegando ao fim do ano, eu olho para trás. Posso dizer quantas almas estiveram diante de mim, esperando que eu as alimentasse? Não sei.
Foi uma multidão que esperava a minha palavra e o meu exemplo. E ninguém voltou de mãos vazias?... Nosso Senhor sabe que eu não posso fazer milagres. Nem está exigindo isso de mim. Mas Ele sabe o quanto já me deu, avisando-me: sine me nihil potestis facere [sem mim nada podeis fazer (Jo 15,5)]. Vendo a multidão que eu devo alimentar, não posso desanimar como os Apóstolos: sed haec quid sunt inter tantos? [o que é isso para tanta gente?].
Foi uma multidão que esperava a minha palavra e o meu exemplo. E ninguém voltou de mãos vazias?... Nosso Senhor sabe que eu não posso fazer milagres. Nem está exigindo isso de mim. Mas Ele sabe o quanto já me deu, avisando-me: sine me nihil potestis facere [sem mim nada podeis fazer (Jo 15,5)]. Vendo a multidão que eu devo alimentar, não posso desanimar como os Apóstolos: sed haec quid sunt inter tantos? [o que é isso para tanta gente?].
Nada sou; mas sem mim, Ele não fará o milagre que eu não posso fazer. Tenho que trabalhar com Ele. Prontamente, como aquele menino, preciso colocar nas mãos de Nosso Senhor o meu tempo, minhas forças, minhas qualidades, enfim, minha dedicação. É tudo o que Ele exige de mim; que eu não seja mesquinho, que eu não me poupe. Quanto ao mais, Ele sabe como fazer: ipse enim sciebat quid esset facturus [pois bem sabia o que tinha de fazer].
16 DE DEZEMBRO
Summa annorum nostrorum [o limite dos nossos anos]
Mais um ano que vai chegando ao fim. E os meus dias passaram; já estão longe, não os posso recuperar. Que tristeza amarga para o meu apego à vida! Meu Deus! Qual será o total dos meus anos?... Não sei.
Isto significa muito para quem não é senhor dos seus dias e não sabe, por isso, quantos dias ainda poderá viver. Senhor, eu sei que, a qualquer momento, poderás dizer que está completa a soma dos meus anos. Ensina-me a viver, morrendo aos poucos, pelo desapego de tudo. Quero acostumar-me a ver-te, não como um rochedo frio e indiferente em meio a minha viagem, mas como um farol amigo e acolhedor, iluminando aquele dia em que deverei entrar no porto da minha eternidade.
15 DE DEZEMBRO
Secessit seorsum [retirou-se em separado (Lc 9,10)]
Nosso Senhor gostava do recolhimento e do silêncio. Sua vida neste mundo, Ele a passou quase toda retirado em Nazaré, a sós com a sua Mãe. E mesmo durante sua vida pública, muitas vezes procurou afastar-se do povo, e até dos discípulos.
O seu silêncio não era um comodismo egoísta; era um recolhimento ativo, de quem desejava tratar diretamente com o Pai; era o silêncio de um a sós com Deus. Eu, pelo contrário, tenho medo da solidão. Não aprecio muito ouvir minha consciência; tenho medo de me encontrar com aquele que realmente sou. Prefiro falar, e ouvir a outros, para me distrair de mim mesmo. E fora dessa teia de aranha que são os meus cuidados e ocupações exteriores, não me sinto bem.
O seu silêncio não era um comodismo egoísta; era um recolhimento ativo, de quem desejava tratar diretamente com o Pai; era o silêncio de um a sós com Deus. Eu, pelo contrário, tenho medo da solidão. Não aprecio muito ouvir minha consciência; tenho medo de me encontrar com aquele que realmente sou. Prefiro falar, e ouvir a outros, para me distrair de mim mesmo. E fora dessa teia de aranha que são os meus cuidados e ocupações exteriores, não me sinto bem.
Procuro a agitação de uma atividade até exagerada, pensando em tudo, para não me ver. Costumo dizer que tudo é para Deus. Pode ser. Mas ao achar pesado e aborrecido o ficar a sós com Deus, pode ser que essa atividade não seja tanto para Ele, como costumo pensar. Talvez seja mais para mim mesmo... Quanto mais eu me interessar pela vida de Deus em minha alma, tanto mais interesse terei, que viva, também nas almas, aquele que vive em mim.
14 DE DEZEMBRO
Subito circumfulsit eum lux de caelo [subitamente uma luz vinda do Céu o envolveu (At 9,3)]
Antes da conversão, o Apóstolo sabia ser o que era: spirans minarum et caedis [respirava ameaças e morte], era o perseguidor que odiava a Igreja: blasphemus fui et persecutor [era blasfemo e perseguidor]. Dono de uma vontade férrea e de um orgulho descomedido, tinha que ser dobrado num momento, com força irresistível.
Por isso a graça não o tocou de leve, nem pouco a pouco. Subito circumfulsit eum lux [subitamente envolto em luz] — ele compreendeu que era inútil perseguir a quem o podia dominar: Ego sum Jesus, quem tu persequeris [Eu sou Jesus, a quem persegues]. Começou a amar a Verdade que odiava e dela se fez o Apóstolo: abundantius illis omnibus laboravi [tenho trabalhado (por esta Verdade) mais do que todos].
Por isso a graça não o tocou de leve, nem pouco a pouco. Subito circumfulsit eum lux [subitamente envolto em luz] — ele compreendeu que era inútil perseguir a quem o podia dominar: Ego sum Jesus, quem tu persequeris [Eu sou Jesus, a quem persegues]. Começou a amar a Verdade que odiava e dela se fez o Apóstolo: abundantius illis omnibus laboravi [tenho trabalhado (por esta Verdade) mais do que todos].
Para nós, graças a Deus, o caminho da Verdade esteve sempre aberto, desde a nossa infância. Atrás de nós ficaram anos e anos de formação e, mais do que isso, anos de sacerdócio na casa de Nosso Senhor onde nada nos faltou. A oração, os sacramentos, os retiros, o bom exemplo de outros, a convivência com Nosso Senhor todos os dias em nossas mãos, tamquam occisum... [como que imolado... (Ap 5, 6)] quanta luz ao nosso redor! E que fizemos, até agora, de toda essa riqueza que Deus nos confiou? Que a nossa consciência não nos tenha de acusar: abscondi talentum tuum in terra... [fui esconder o teu talento na terra... (Mt 25,25)]. Nesse caso, ouçamos Nosso Senhor: inutilem servum ejicite in tenebras exteriores [jogai esse servo inútil nas trevas exteriores (Mt 25,30)].
13 DE DEZEMBRO