quinta-feira, 23 de abril de 2020

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XLIX)

XLI

DO SACRAMENTO DA EXTREMA-UNÇÃO

Existe na Igreja algum sacramento especial cujo objeto seja dispor os moribundos para entrar no céu?
Sim, senhor; o Sacramento da extrema - unção (XXIX, 1)*.

Que entendeis por sacramento da Extrema-Unção?
Um rito instituído por Jesus Cristo, que consiste em ungir com óleo consagrado os enfermos em perigo de morte, pedindo a Deus que lhes perdoe os vestígios e restos das culpas passadas e lhes restitua completa saúde espiritual, para que, em pleno vigor da alma, entrem a desfrutar os gozos da bem-aventurança eterna (XXIX, XXXII).

Serve este sacramento para perdoar os pecados?
Não, senhor; pois nem foi instituído contra o pecado original como o batismo, nem contra os mortais, como a penitência, nem contra os veniais, como indiretamente o foi a Eucaristia. Todavia, como infunde uma graça especial, e a graça é incompatível com o pecado, indiretamente o perdoa, se o sujeito age de boa fé, e fez tudo quanto estava em suas mãos para obter o perdão das suas culpas (XXXI, 1).

Pode este sacramento restaurar a saúde do corpo?
Sim, senhor; de sorte que, se o sujeito se acha convenientemente disposto, em virtude da sua própria e exclusiva eficácia sacramental, devolve o vigor físico, quando recuperar a saúde corporal é útil e conveniente para desfrutar a espiritual, objeto próprio deste sacramento (XXX, 2).

Quando se pode e quando se deve receber?
Só pode receber-se quando a enfermidade ou extenuação corporal ponha o homem em transe de morte e deve fazer-se o possível para que o enfermo o receba com pleno conhecimento e grande fervor (XXXII, 1, 2).

Pode repetir-se?
Durante o mesmo perigo de morte, não senhor; porém, se o enfermo convalesce, ou, pelo menos, sai do perigo, pode recebê-lo tantas quantas vezes recair, quer em enfermidades distintas, quer nas alternativas da mesma doença (XXXIII, 1-2).

É a Extrema-Unção o último sacramento, instituído por Jesus Cristo, em favor dos homens?
Considerado o homem como pessoa privada, sim, senhor; porém, considerado como membro de uma sociedade a propagar-se por todo o mundo e a durar até ao fim dos tempos, desfruta os benefícios de outros dois.

Quais são?
A ordem e o matrimônio.

XLII

DO SACRAMENTO DA ORDEM - DOS SACERDOTES, BISPOS E SOBERANO PONTÍFICE; DA IGREJA, MÃE DAS ALMAS

Que entendeis por Sacramento da Ordem?
Um rito sagrado, instituído por Jesus Cristo, para conferir aos homens o poder de consagrar um corpo real em beneficio do corpo místico (XXXVII, 2).

O poder conferido neste Sacramento é um ou múltiplo?
É múltiplo; porém, a multiplicidade não prejudica a unidade do sacramento, porque as ordens inferiores são meras participações da superior (Ibid).

Que entendeis por ordem superior?
O presbiterado ou a ordem dos que têm faculdade para consagrar a Eucaristia (Ibid).

Que são ordens inferiores?
As que precedem o presbiterado e instituem ministros para servir ao sacerdote no ato da consagração. Ocupam, entre eles, o primeiro lugar os diáconos, os subdiáconos e os acólitos, cuja missão é servirem ao sacerdote no altar. É ofício dos primeiros distribuir a Eucaristia, pelo menos sob a forma de vinho, nos lugares em que os fiéis comungam em ambas as espécies; os segundos colocam nos vasos sagrados a matéria do sacramento, preparada e oferecida pelos terceiros. Vêm em segundo lugar os ministros cujo ofício é dispor os fiéis para receberem a Eucaristia, no que se refere à absolvição sacramental reservada ao sacerdote, expulsando os indignos, instruindo os catecúmenos e livrando os possessos do furor do demônio; e, se bem que estes ofícios não têm hoje aplicação, nos países católicos, tiveram-na nos primitivos tempos do Cristianismo, quando os fiéis se recrutavam entre os pagãos, e subsistem, com o fim de conservar íntegra a hierarquia eclesiástica (Ibid).

Quais são, por conseguinte, as ordens maiores e quais são as menores?
São ordens maiores o presbiterado, o diaconato e o subdiaconato, e menores as que servem para instituir acólitos, exorcistas, leitores e ostiários ou porteiros (XXXVII, 2,3).

Onde residem ordinariamente os ministros inferiores ao sacerdote?
Nos seminários e outros estabelecimentos eclesiásticos destinados à formação intelectual e moral dos que se preparam para a ordem suprema do sacerdócio.

Logo, ao receberem o presbiterado, é quando se põem os ministros da Igreja em contado com os fiéis para trabalhar na obra da sua santificação?
Sim, senhor.

Estão os sacerdotes investidos de algum caráter especial que os distingue dos demais fiéis?
Não só o estão os sacerdotes, mas também todos os membros da hierarquia eclesiástica, já que todas as ordens imprimem caráter. Todavia, está, podemos dizer, mais acentuado e impresso nos presbíteros, facultados para consagrar o corpo e sangue de Cristo e perdoar os pecados no tribunal da penitência.

Logo, os fiéis recebem, por intermédio dos presbíteros, todas as graças e bens espirituais vinculados aos sacramentos?
Sim, senhor; porque, se excetuarmos a confirmação, reservada ordinariamente aos bispos, aos simples presbíteros está entregue, por oficio, a administração de todos os sacramentos destinados a procurar a graça para o homem como pessoa privada, isto é, o batismo, a eucaristia, a penitência e a extrema-unção e assim também a faculdade suprema e divina de oferecer o augusto sacrifício do altar.

A quem são devedores os fiéis do inapreciável benefício de conhecer os mistérios e verdades de nossa santa religião ?
Aos sacerdotes, que tem como ministério cotidiano o de instruí-los nas verdades da fé.

De quem recebem os presbíteros os seus poderes e faculdades?
Dos bispos (XXXVIII, XL, 4).

Em que são os bispos superiores aos presbíteros e como podem conferir-lhes tais poderes?
Não são os bispos superiores aos simples presbíteros no tocante à consagração do corpo real de Cristo, mas no que se refere ao corpo místico, que é a Igreja; e em atenção a isso podemos dizer que Cristo instituiu o poder episcopal. Encontra-se dentro das suas atribuições tudo quanto seja necessário para criar e organizar igrejas e dispô-las para receber todas as graças vinculadas aos sacramentos. Por conseguinte, em virtude da consagração episcopal, adquirem a plenitude do sacerdócio, e podem, não só consagrar o corpo real de Jesus Cristo como os demais presbíteros, mas também administrar sem limites ou reservas todos os sacramentos, inclusive o da confirmação, consagrar ou ordenar sacerdotes e ministros inferiores, conceder-lhes jurisdição sobre os fiéis e confiar-lhes o seu governo e cuidado espiritual (XL, 4. 5).

Logo, podemos dizer que toda a vida e atuação da Igreja se concentra no bispo?
Sim, senhor.

Que necessita, por sua vez, o bispo para ser centro e origem da jurisdição na Igreja?
Viver em comunhão e dependência do Bispo de Roma, chefe e cabeça visível de todas as igrejas do mundo que, sob sua autoridade suprema e poder soberano, formam a congregação universal chamada Igreja de Cristo (XL, 6).

Logo, o Bispo de Roma tem faculdades que os outros não possuem?
No que se refere ao poder de ordem necessário para administrar todos os sacramentos, não, senhor; porém, no tocante ao poder de jurisdição, que compreende tudo o que é relativo ao governo da Igreja de Deus e designação de súditos e limites das diversas jurisdições, sim, senhor. Deste modo, o Soberano Pontífice concentra em sua pessoa todos os poderes da Igreja Católica, ao passo que os bispos só têm jurisdição em suas dioceses, partes integrantes da Igreja Universal, ou nas igrejas que, por ministério da lei eclesiástica, dependam da sua jurisdição no todo ou em parte, e ainda este poder limitado depende, em sua aquisição e exercício, da autoridade suprema do Soberano Pontífice (Ibid).

Por que reside na pessoa do Soberano Pontífice o poder Supremo de jurisdição e governo?
Porque assim o exige a unidade da Igreja; por isso Jesus Cristo deu a Pedro, de quem sucessor legitimo é e será até ao fim dos séculos o Pontífice de Roma, o cargo e ofício de apascentar todo o seu rebanho, tanto as ovelhas como os cordeiros (Ibid).

Logo, a união do homem com Jesus Cristo, mediante a graça dos sacramentos, e, por conseguinte, a salvação eterna de todos os mortais, depende e dependerá sempre e exclusivamente do Soberano Pontífice?
Sim, senhor; porque, se embora seja certo que a graça não está de modo absoluto ligada aos sacramentos, os quais podem ser supridos pela ação interior do Espírito Santo, pelo menos nos adultos impossibilitados, sem culpa sua, de recebê-los — não é menos certo que o homem que, conscientemente se separa da comunhão com o Romano Pontífice, se incapacita para receber a graça de Deus e, se em tal estado morre, está irremediavelmente perdido.

Logo, este é o sentido da frase 'fora da Igreja não há salvação'?
Sim, senhor; como também o é desta outra e equivalente: 'Não pode ter a Deus por pai quem não tem a Igreja por mãe'.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)