segunda-feira, 6 de abril de 2020

O ROSTO EUCARÍSTICO DE JESUS


Embora a devoção à Sagrada Face seja amplamente reconhecida e praticada pela Igreja, é muito menos conhecida e praticada a devoção similar voltada para o 'Rosto Eucarístico' ou a 'Face Eucarística' de Jesus (termos que são pouco usuais e realmente incomuns nos documentos da Igreja). Na Encíclica Ecclesia de Eucharistia de 2003, o Papa São João Paulo II utilizou esta expressão ao propor, no alvorecer do terceiro milênio, a devoção de se buscar, encontrar e adorar a Face de Cristo na Sagrada Eucaristia - 'Rosto Eucarístico', no sentido de que a Eucaristia é um mistério de fé e também um mistério de luz, na medida em que nos torna possível celebrar e reviver a experiência dos dois discípulos no caminho de Emaús: 'seus olhos se abriram e o reconheceram' (Lc 24,31).

II Cor 4, 6: 'Porque Deus que disse: 'Das trevas brilhe a luz', é também aquele que fez brilhar a sua luz em nossos corações, para que irradiássemos o conhecimento do esplendor de Deus, que se reflete na face de Cristo'.

Contemplar a face de Cristo é, portanto, conhecer o esplendor de Deus. Contemplar Cristo significa ser capaz de reconhecê-lo em todas as suas manifestações e ocasiões possíveis, mas quando e onde seria mais propício essa contemplação senão no sacramento vivo do seu Corpo e Sangue? Como os discípulos de Emaús realmente reconheceram Jesus? Na fração do pão, ou seja, no mistério eucarístico (Lc 24,35) ... e, então, os 'seus olhos se abriram'. O Rosto Eucarístico de Jesus está  velado sob a espécie de pão, para que não sejamos cegados pela sua glória:

I Cor 13,12: 'Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido'.

Conhecemos mal e confusamente a glória de Deus porque não sabemos buscar, olhar e nem contemplar o rosto de Jesus na Santa Eucaristia. Estamos passivos e anestesiados diante a aparência do pão que mais oculta do que revela e, assim, não vamos além do 'espelho'. O rosto de Cristo é luz ofuscante atrás do véu da espécie sagrada: é o mistério da transubstanciação e é também o mistério da transfiguração para os que o procuram e o adoram na eucaristia. Assim, quando o contemplamos de fato no sacramento, somos transformados em sua semelhança, porque não mais ficamos olhando por espelhos mas, com os rostos a descoberto (transfigurados), refletimos como eles a glória de Deus: 

II Cor 3,18: 'Mas todos nós, com o rosto descoberto, refletimos como num espelho a glória do Senhor e nos vemos transformados nessa mesma imagem, sempre mais resplandecentes, pela ação do Espírito do Senhor'.

A Face Eucarística revela o coração de Jesus. O Rosto Eucarístico transfigura os abismos de amor e da misericórdia de Deus, como 'pão vivo descido do Céu' (Jo 6,51) e aguarda, com paciência e amor infinitos, a nossa presença, o nosso olhar de fé, o início da nossa transfiguração. Sob a luz que emana do Rosto de Jesus Eucarístico, o esplendor de Deus aniquila o pecado, restaura a nossa alma machucada e nos faz herdeiros da vida eterna. Devotemos especial adoração ao Rosto Eucarístico de Jesus e, neste propósito, façamos esta devoção sempre pela intercessão da Virgem Maria, que viu e amou primeiro este rosto e nos legou para com ele o modelo da perfeição do amor, para que possamos sempre repetir como o Salmista:

Sl 4,7: 'Fazei brilhar sobre nós, Senhor, a luz da vossa face'