terça-feira, 25 de outubro de 2016

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (II)

CAPÍTULO III

CONTRA O QUÊ OS PROTESTANTES PROTESTAM

Contra quem? Contra o quê? Protesta-se contra aquilo que é injusto ou nos incomoda; e, não sendo assim, protesta-se por vício ou por mania. Os protestantes protestam contra a Igreja Católica e contra os ensinamentos da mesma. Por quê? Terá a Igreja Católica cometido qualquer injustiça contra eles? Nunca! A Igreja Católica, como mãe carinhosa e como pai vigilante, ensina a doutrina recebida por Jesus Cristo. Exorta os homens a praticar a virtude, a afastar-se do mal, a respeitar as pessoas que não partilham o seu credo, embora refutem os erros por elas ensinados.

É a sua tarefa em tempo de paz. E em tempo de guerra, quando é atacada pelos inimigos, defende-se e defende o seu chefe Cristo, como o soldado, atacado pelos inimigos da pátria, defende a sua honra, a sua bandeira e o seu chefe. É o seu direito. É o seu dever. Atacada, ela se defende; perseguida, ela reza e sofre; levada ao patíbulo – o católico morre; porém a Igreja não pode morrer; ela se levanta mais radiante do meio do sangue dos seus filhos, para cantar o seu hino de triunfo em cima do túmulo dos seus perseguidores.

Quanto aos seus inimigos, ela perdoa, reza por eles e procura converter seus próprios algozes. Tudo isto é nobre, é leal, é brioso, e deve excitar a admiração e não o ódio. Não podendo protestar contra qualquer injustiça da parte da Igreja Católica, deve-se concluir que os protestantes protestam, porque ela os incomoda. Isso pode ser. A verdade incomoda a mentira; a virtude incomoda o vício; a honestidade incomoda a ganância; Deus incomoda o demônio.

Estamos de acordo neste ponto. A Igreja Católica, pelo seu ensino, sempre idêntico e sempre invariável; pela sua organização admirável; pela sua santidade que realiza na pessoa de seus filhos; pelas altas intelectualidades que a professam, defendem e exaltam, forma com tudo isso um astro luminoso, que incomoda a retina visual da miopia protestante. Assim, incomoda ao libertino a pureza de uma donzela, como incomoda ao ladrão a presença da polícia, como incomoda ao bêbado a temperança dos sensatos.

Isto é lógico. A mão coça onde há coceira, diz o ditado. Assim explicado, compreende-se a razão íntima do protesto dos protestantes e a mira desse protesto. Não protestam nem contra a barbaridade de um Calles no México; nem contra a tirania de um Lenin na Rússia, nem contra a perversidade do espiritismo, nem contra a imoralidade dos costumes e das modas. Isto, para eles, não merece protesto, mas merece-o a Igreja de Cristo, a Igreja do Papa, a Igreja de Roma, que atravessa os séculos, passando por cima dos ódios e da lama dos vícios, sempre bela, sempre pura, sempre majestosa e sempre divina! Ah! Isso é demais; é preciso protestar – e o protestante, escutando a calúnia dos seus pastores, em vez de escutar a voz do bom senso, protesta e vive protestando.

Cristo, o verdadeiro Deus, dirigindo-se a Pedro, disse: 'Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela' (Mt 16,18). 'Estarei convosco até o fim dos séculos' (Mt 28,20). 'Se alguém, ainda que fosse um anjo do céu, vos anunciasse outro evangelho além do que vos tenho anunciado, seja anátema' (Gl 1,8). 'Pedro, rezei por ti, para que a tua fé nunca venha a desfalecer' (Lc 22,32). Tudo isto é claro; é tal um sol refulgente!

O protestante, entretanto, protesta, e tapando os olhos com os dois punhos, grita: 'Não! São Pedro não é o chefe da Igreja! Não é ele o primeiro papa! Ele nunca esteve em Roma! Não tem nenhuma autoridade! A Igreja romana está errada! A religião verdadeira é o protestantismo de Lutero! Cristo disse: 'Minha Igreja!' É um erro! grita o protestante, a igreja verdadeira é a de Lutero. Pobres protestantes! Protestam contra Deus, contra a Igreja fundada por Cristo, filho de Deus, contra a Igreja fundada por Cristo e contra a doutrina ensinada por Deus.

Mas, então, em que acreditais, pobres protestantes? Se fôsseis sinceros, devíeis responder: 'Só acreditamos no protesto'. Afirmamos tudo aquilo que a Igreja católica nega, e negamos tudo que ela afirma: eis a nossa religião. Nós protestamos! A Igreja Católica crê que São Pedro e seus sucessores são os representantes de Cristo na terra. Nós protestamos! A Igreja Católica crê na pureza imaculada da Mãe de Jesus, honrando-a e invocando-a. Nós protestamos! A Igreja crê na confissão, no poder que o sacerdote recebeu de Cristo, de perdoar os pecados. Nós protestamos!

A Igreja crê no céu para os justos, no inferno para os maus e no purgatório para aqueles que têm de expiar ainda umas faltas. Nós protestamos! A Igreja crê na intercessão dos santos, no culto dos finados, na união que existe entre os vivos e os mortos. Nós protestamos! A Igreja crê nos sete sacramentos, no poder da oração, no valor das boas obras, nas indulgências concedidas pela Igreja. Nós protestamos! A Igreja crê na bíblia, como um livro divino, exigindo uma interpretação autêntica, feita por uma autoridade legítima. Nós protestamos! A Igreja crê na tradição, conforme as palavras de São Paulo: 'Conservai as tradições que aprendestes, ou por nossas palavras, ou nossa carta' (2 Tess 2,14). Nós protestamos!

Eis o protesto dos protestantes. Eis porque, como e contra o quê eles protestam. Para quem quer refletir e é capaz de o fazer, a verdade se impõe com todo o rigor e com todas as suas consequências. O protestantismo é uma seita humana, de revoltosos ou de ignorantes, de orgulhosos ou de néscios. Numa palavra, é bem a seita anunciada por São Paulo: 'Muitos andam que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição, cujo deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas' (Fp 3, 18-19). Não é isso o retrato perfeito de tais pastores, protestantes, exploradores, vendedores de bíblias, de sermões e consciências, que só pensam em ganhar dinheiro e em passar boa vidinha? Reflitam sobre isto, pobres protestantes iludidos, enganados por estes falsários que nada têm de pastores, mas que, como o disse Cristo, 'são ladrões e salteadores' (Jo 10,1).

CAPÍTULO IV

COMO OS PROTESTANTES PROTESTAM

Há diversos modos de protestar. Protesta-se contra a mentira, pela manifestação da verdade. Protesta-se contra a injustiça pela valorização dos seus direitos. Protesta-se contra a calúnia pela exibição das provas contrárias. O protestantismo protesta contra a Igreja Católica! Já expliquei a razão deste protesto; mas, como é que ele protesta? Mostrando a verdade? Mostrando seus direitos? Mostrando sua inocência? Nada disso. É o contrário: ataca a verdade. Não respeita os direitos alheios. Calunia a inocência do que e de quem não conhece. Protesta unicamente pela calúnia, pelo ódio, pela hipocrisia e pelas objeções. É um protesto fora de todas as regras do bom senso, da lógica e da bíblia, que se ufana de praticar.

O protesto verdadeiro, lógico, racional e convincente seria de mostrar, de provar a mentira, a injustiça ou a calúnia. Por que os protestantes não provam a mentira, a injustiça ou a calúnia da Igreja Católica contra eles? Pela razão que a Igreja não mente, nem comete injustiças, nem calúnias e que os mentirosos são eles; os fautores de injustiças são eles; os caluniadores são eles ainda. A Igreja Católica teria direito de protestar; ela não protesta, mas sim, mostra a verdade, prova esta verdade e pela verdade dissipa o erro.

Por que os protestantes não seguem o mesmo caminho? Em vez de limitar a sua ação em fabricar objeções, por que não provam eles a verdade do protestantismo? Se tal verdade existe, ela há de dissipar necessariamente o erro católico como a verdade católica dissipa o erro protestante. A primeira obra que uma religião deve fazer é provar a autenticidade, a autoridade e a legitimidade do seu ensino; em outros termos: é provar os seus dogmas. Por que não o fazem os protestantes? Pela razão muito simples de não terem dogmas. A negação ou o protesto não se sustentam por si mesmos, só podem existir onde há uma coisa positiva, que se possa negar, onde há uma verdade contra a qual se possa protestar.

***

O protestantismo é um verdadeiro parasita religioso, que só pode viver nas costas do catolicismo, procurando chupar-lhe a fé, como os parasitas – animais ou vegetais – que vivem do sangue ou do suco de outro. Tirai das costas do animal tal parasita-bicho e está morto; arrancai tal outro parasita da casca do vegetal, e morto estará também. Assim o protestantismo. Se o catolicismo pudesse morrer - o que é impossível – no mesmo dia e na mesma hora, estaria morto o protestantismo. Arrancai-o das costas do catolicismo e ele será um cadáver em putrefação.

A Igreja Católica é o objeto positivo; o protestantismo é a sua negação. A Igreja Católica é o sol luminoso e resplandescente do dia; o protestantismo é as trevas da noite onde se tropeça e perde o caminho: Vae ponentes tenebras lucem (Is 5,20). A Igreja Católica é uma instituição modelar, harmoniosa e divina; o protestantismo é a anarquia, a desordem e a revolta que procura aviltar esta instituição: Super hanc petram aedificabo ecclesiam meam (Mt 16,18). A Igreja Católica é um colosso de vida, de progresso, de expansão e de força; o protestantismo é um ancilóstomo ou necátor que procura fixar-se no organismo para aí produzir a opilação espiritual, o cansaço de Deus e o amarelão religioso: Ite in mundum universum, praedicate evangelium (Mt 16,15).

A Igreja Católica é a água divina, num voo direto, em demanda do céu; o protestantismo é a pulga que procura fixar-se nas asas do pássaro, para cansá-lo e impedir o seu voo: Sicut aquila, provocans ad voladum pullos suos (Dt 32,11). A Igreja Católica é árvore frondosa, em cujos ramos as aves do céu, que são os santos, se aninham; o protestantismo é o parasita que procura envolver o tronco, chupar-lhe a seiva, para esterilizá-lo: Fit arbor, ita ut voluvres caeli... habitent in ramis ejus (Mt 13,32).

A Igreja Católica é o farol luminoso, que Deus colocou à beira da estrada humana, para indicar aos homens a verdade e a virtude; o protestantismo é a noite escura, que cega o olhar do viandante e o faz precipitar-se no abismo: Posui te in lucem gentium (At 13,47). A Igreja Católica é a ponte que liga a terra ao céu, e onde os homens devem estar para, da terra, subirem ao céu; o protestantismo é o abismo horrendo, que passa por baixo da ponte, onde se precipitam aqueles que desprezam a ponte: Arcta via est, quae ducit ad vitam (Mt 7,14). A Igreja Católica é a arca fora da qual ninguém se salva, sendo todos – como no dilúvio – arrastados pelas ondas em furor; o protestantismo é o lodo terrestre, é o arrecife, formado pelas árvores arrancadas, pelas casas destruídas, que procura atalhar a navegação da arca: Tanquam navis quae pertransit fluctuantem aquam (Sab 5,10).

A Igreja é a barquinha de São Pedro que leva, através do oceano do mundo, os filhos de Deus, até aportar no céu; o protestantismo é a perdição, é a porta para o inferno: Si ecclesiam non audierit, sit tibi sicut ethnicus (Mt 18,17). A Igreja Católica é o reino de Deus, reino triunfante no céu; reino padecente no purgatório; reino militante na terra; o protestantismo, estando fora deste tríplice reino, é necessariamente o único reino aí não incluso: o reino de Satanás ou inferno: In hoc manifestati sunt filii Dei, et filii diaboli (Jo 3,10).

Para terminar resumamos tudo em duas palavras: a Igreja Católica é a obra de Deus, fundada por Deus, sustentada por Deus, inspirada por Deus, fazendo as obras de Deus; o protestantismo é obra dos homens (de Lutero), fundada pelos homens, hoje sustentada pelo dólar americano, inspirada pelo ódio, e fazendo as obras do ódio e da revolta: Ex fructibus eorum cognoscetis (Mt 7,20). É o bastante para os homens sinceros compreenderem o que é o protestantismo e como é que ele protesta. Protesta pelo ódio, pelos ataques, pelas objeções, pelas calúnias, pela hipocrisia, fazendo em tudo o contrário do que manda a bíblia e o bom senso. E têm a coragem de chamar isso de religião! É muita coragem!

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)