quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O PÃO DOS HEREGES

São João Crisóstomo, Bispo e Confessor da Igreja, era um orador exímio cuja eloquência fazia cair por terra as heresias mais persistentes, em função do vigor e tenacidade de sua argumentação em defesa da fé católica. Por esta razão, ficou conhecido como o 'martelo dos hereges'. Conseguiu, com sua pregação, converter inúmeros hereges macedônios. 

Menos uma mulher. Esta, de tal forma obstinada no paroxismo de suas heresias, não aceitava nenhuma reconsideração de suas crenças erradas e não se inclinava de forma alguma aos ensinamentos do bispo e de suas pregações. Atraída de tal forma pelo mal, afastou-se da Igreja e passou a frequentar decididamente as práticas e rituais de seitas absolutamente heréticas.

Tal fato desagradou profundamente o seu marido, que tentou persuadi-la destas práticas. Por maiores que fossem os seus esforços e conselhos, porém, tudo foi em vão. A mulher perdera por completo a fé cristã e mergulhou no submundo das piores heresias. Nada a sensibilizava e, a cada tentativa, parecia recrudescer sobre ela o domínio da iniquidade. Em meio a um esgotamento e infelicidade crescentes, o marido tomou a decisão de se separar em definitivo da mulher. 

Tal imperativo moveu a mulher a repensar certos conceitos e certos valores, que estavam sutilmente esquecidos. A relação entre ambos era de um amor verdadeiro e sincero; as demandas de um eram muito bem complementadas pela renúncia do outro. A separação criava dor, desconforto, e perdas muito sentidas para um e para o outro. Haveria possibilidade de uma solução amigável?

No coração feminino, há lugar para todas as incontáveis nuances dos sentimentos humanos. Se era preciso ceder de um lado, era igualmente possível manter o jogo do outro. Na tela das aparências, era possível ter duas realidades. Assim pensou a mulher e assim adotou o propósito de acompanhar o marido às missas do bispo e, ao mesmo tempo, comungar o pão dos hereges de cada dia. Frequentando de forma dissimulada o ritual profano, recolhia o pão herético e depois o passava para ser guardado por uma criada de estimação. Na missa de domingo, ao lado do marido, fingia receber a Sagrada Hóstia mas, de forma dissimulada, o repassava à criada que também a acompanhava e se alimentava, então, com o pão profano.

Nesta prática, se acomodou à vertigem das aparências que se mostraram bastante fáceis e seguras. A criada era de absoluta confiança e o marido se comprazia de tal conversão, e manifestava esse fato com grande regozijo ao bispo. Numa destas missas, porém, eis que ocorreu um fato muito singular: ao levar à boca o pedaço macio do pão profano, este imediatamente se transformou em pedra atritando rigidamente contra os seus dentes. Atônita, a mulher cuspiu o pão dos hereges, feito pedra, no chão da igreja. Diante do espanto geral, a mulher narrou ao marido e ao bispo os fatos acontecidos, suplicando a confissão e sua conversão. São João Crisóstomo publicou o milagre e mandou que aquela pedra em que o pão dos hereges havia se convertido fosse conservada em Constantinopla, para perpétua memória dos fieis cristãos.