sexta-feira, 5 de agosto de 2016

CARTA AOS SACERDOTES DE CRISTO

ARQUIVOS DO SENDARIUM
(publicado originalmente no blog em 21/07/2012)

Eu sou um leigo. Não passo de um leigo e tenho a profunda compreensão da dimensão que me separa - homem comum - de um sacerdote - homem nada comum. Ao me dirigir, portanto, a um sacerdote, tenho a plena convicção de que devo me pautar por um grande respeito, pela solicitude e por uma especial reverência. Assim procedo e me desculpo de pronto se ousar esquecer estes princípios, ainda que alguns possam imaginar que sejam homens tão comuns como eu.

Como homem comum, luto cotidianamente para não ser um cristão comum. Quero ser radicalmente cristão, como quero ser radicalmente fiel à minha esposa, à minha família, aos princípios e convicções da minha religião. Onde está o erro em ser um cristão radical? Ao me decidir pelo matrimônio, eu não jurei fidelidade à minha esposa por toda a vida? Este propósito não é radicalmente bom? Um sacerdote cristão não fez também outro tipo de decisão - e que decisão! - e, assim, não se tornou radicalmente responsável por esta escolha? Ai dos médicos que são mais ou menos, ai dos pais que são mais ou menos... Mas quantos destes ais poderiam resumir os que são mais ou menos padres? Se fosse possível pensar assim, penso, ao lembrar a passagem bíblica dos que tiveram mais e os que tiveram menos, que os sacerdotes passarão pelo crivo do Pai, mais tangidos pela justiça do que pela misericórdia divina...

Quanta responsabilidade a vossa, nestes tempos difíceis, em que tudo parece submergir pelos modismos, pela insensatez, pela correria e pelo hedonismo. Quanta insensatez que se torna loucura e quanta loucura que se propaga como um rastilho de pólvora, levando confusão e mais loucura.  Quantos cristãos estão à míngua, tontos, cegos, sem rumo e sem vida espiritual. Quantos se dizem cristãos e vivem regularmente em pecado, fazem e refazem dogmas, vagueiam por seitas e pseudo-crendices, empanturram-se de livros esotéricos e de autoajuda, adéquam vulgarmente os sagrados ensinamentos aos seus próprios interesses e  momices. Não, certamente estes cristãos não são radicais... Mas, com certeza, estão radicalmente distantes da Una, Santa, Católica e Apostólica Igreja!

Estou sendo radical? Como entender, então, a ideia de se pretender adequar a Igreja aos tempos modernos, ao mundo lá fora? Isso me parece, sem dúvida, uma insensatez radical e insensatez radical tem por nome loucura. Mas, o que eu penso tem muito pouca importância. O que interessa realmente é o que Vós pensais. Refleti sobre a imensa responsabilidade vossa de pastores dos Filhos de Deus, o que cada um estais fazendo contra esta avalanche de erros doutrinários, esta balbúrdia, este festim ecumênico e sei lá mais o quê de loucura. Coragem, padres, coragem. Não vos limiteis a fazer o que os leigos podem fazer, deveis fazer somente o que é tarefa intrinsecamente vossa! Rezai, rezai muito e sempre. Qual é o peso da oração, da confissão, da orientação espiritual no dia-a-dia de cada um de vós?

Sede radicais na defesa da santa eucaristia: quantos pecados se cometem por que muitos sacerdotes não são radicalmente intransigentes nos cuidados da santa eucaristia, na confissão, na Santa Missa? Quem pode errar ao se prevenir radicalmente contra abusos ou distorções da Santa Eucaristia? Velai-vos por um zelo radical à santa eucaristia e não pelas concessões e descuidos. Mirai-vos em Nossa Senhora: que  outro ser humano foi tão radicalmente fiel a Deus? E vós vos inquietais porque vos julgam radicais...

Sacerdotes da Igreja Católica: sede radicalmente fiéis a Cristo, ao Papa, à Santa Igreja. Sim, sede radicais, absolutamente radicais às coisas do Pai. De que adianta palavras bonitas ou adocicadas nos sermões? Nada. A retórica do orgulho humano esvai-se com a primeira lufada de vento. Para que serve estes obstinados afazeres para a melhoria das condições de vida de alguns homens? Nada. Homens comuns podem fazê-lo com mais proveito e tempo. Para que serve vossos conhecimentos mundanos, políticos, sociais? Nada. Nem os vossos, nem os meus, nem os de homem algum, nem os da humanidade inteira vão ponderar alguma coisa na outra vida. Oração, oração, oração!

Sede homens radicais, sacerdotes de Cristo! Sede radicalmente coerentes com vossa missão sacerdotal. Coragem, coragem sempre. Ainda que homens comuns os rotulem de tantos nomes: conservadores, ultrapassados, ortodoxos,... radicais! Sim, para a glória de Deus e da Igreja, sede homens radicais e não homens comuns. Talvez, muitos leigos como eu também queiram infundir-vos ânimo e coragem, compartilhar convosco tantos dificuldades e incompreensões. Esta carta busca ser uma palavra de coragem e de solidariedade aos sacerdotes de Cristo: por mais inútil, ela é mais do que as mais comuns das tarefas humanas hoje em dia: a omissão, o comodismo, a indiferença. Vós, padres, não tendes o direito de se comportar como homens comuns! Sede radicais, sacerdotes de Cristo! Não esperais nem consolação e nem refrigério: escolhestes a cruz e somente nela deveis pregar os cravos de vossas dores, todas as vossas dores, junto às dores de Cristo. Que estes cravos e que estas chagas possam ser muitos, para glória da Santa Igreja e salvação de uma infinidade de homens comuns.
(Arcos de Pilares)