terça-feira, 1 de dezembro de 2015

500 ANOS DO NASCIMENTO DE SANTA TERESA DE ÁVILA (I)

SANTA TERESA DE ÁVILA (1515 - 2015)

  • Tudo é uma noite numa má pousada.
Que será da pobre alma que, acabada de sair de tais dores e trabalhos, como são os da morte, cai logo nelas? Que mau descanso lhe vem! Que despedaçada irá para o inferno! Que multidão de serpentes de toda a espécie! Que temeroso lugar! Que desventurada hospedagem! Pois, se para uma noite mal se sofre uma má pousada, se são pessoas dadas a regalos (como o são os que para lá mais devem ir), que pensais, pois, que sentirá aquela triste alma em pousada que é para sempre, que não terá fim? 

Oh! Não queiramos regalos, filhas; estamos bem aqui; tudo é uma noite numa má pousada. Louvemos a Deus, esforcemo-nos por fazer penitência nesta vida. Mas, que doce será a morte para quem já a fez de todos os seus pecados e não tem de ir ao Purgatório! E como até poderá ser que, ainda neste mundo, comece a gozar da glória, não verá em si temor, senão inteira paz (Caminho da Perfeição, 40.9).

  • Aos que querem... chegar a beber desta água de vida. 

Agora, voltando aos que querem ir por ele sem parar até ao fim, que é chegar a beber desta água de vida, como devem começar, digo que importa muito, e tudo, ter uma grande e muito decidida determinação de não parar até chegar a ela, venha o que vier, suceda o que suceder, trabalhe-se o que se trabalhar, murmure quem murmurar, quer lá se chegue, quer se morra no caminho, ou não se tenha ânimo para os trabalhos que nele há, quer se afunde o mundo... (Caminho da Perfeição, 21.2).

  • O demônio ... tem grande medo às almas determinadas.

Outra razão é porque o demônio ... tem grande medo às almas determinadas, pois já tem experiência do muito dano que lhe fazem e que tudo quanto dispõe para as prejudicar, vem a ser em proveito delas e de outros, e ele sai com perda. Não devemos, no entanto, andar descuidadas nem confiar nisto, porque nos havemos com gente traidora, e aos avisados não ousa tanto acometer, porque é muito covarde; mas, se visse descuido, faria grande dano. E se tem a alguém por mudadiço e que não está firme no bem, nem com grande determinação de perseverar, não o deixaria em paz nem a sol nem a sombra. Meter-lhe-á medos e mostrar-lhe-á inconvenientes que não mais acabam. Eu sei isto muito bem por experiência; e assim o soube dizer e digo, pois ninguém sabe o muito que isto importa. 

A outra razão - e faz muito ao caso -, é que a alma peleja com mais ânimo. Já sabe que, venha o que vier, não há de voltar atrás. É como quem está numa batalha e sabe que, se o vencem, não lhe perdoarão a vida e, se não morre na batalha, há de morrer depois. Peleja com mais determinação, quer vender bem cara a vida - como dizem - e não teme tanto os golpes, porque tem diante dos olhos o quanto lhe importa a vitória e que nela lhe vai a vida (Caminho da Perfeição, 23.4-5).

  • Não vos descuideis ... de não ofender o Senhor.

Tende conta e aviso nisto, - pois importa muito -, que não vos descuideis até que estejais com tão grande determinação de não ofender o Senhor, que antes perderíeis mil vidas do que fazer um pecado mortal. E dos veniais, tomai muito cuidado de não os fazer; isto com advertência, que de outra sorte, quem estará sem fazer muitos? Mas há uma advertência muito pensada; outra tão rápida que, fazer o pecado venial e advertir, é quase tudo uma e mesma coisa; nem nos podemos entender. Mas, pecado muito de advertência, por pequeno que seja, Deus nos livre dele; tanto mais que não pode haver pouco, sendo contra uma tão grande Majestade, e vendo que nos está a ver. Isto a mim parece-me pecado premeditado e como quem diz: 'Senhor, embora Vos pese, eu farei isto. Bem vejo que o vedes, e sei e entendo que não o quereis; mas antes quero seguir o meu capricho e apetite do que a Vossa vontade'. Que em coisas deste teor possa parecer pouco, a mim não me parece, por leve que seja a culpa, senão muito e muitíssimo (Caminho da Perfeição, 41.3).

  • A quem Deus muito quer leva por caminhos de trabalhos.

Pois eu vos digo, filhas, àquelas a quem Deus não leva por este caminho de contemplação, ao que tenho visto e entendido dos que vão por ele, que não levam cruz mais leve e vos admiraríeis das vias e modos pelas quais Deus lhas dá. Eu sei de uns e de outros, e sei claramente que são intoleráveis os trabalhos que Deus dá aos contemplativos; e são de tal sorte que, se não lhes desse aquele manjar de gostos, não se poderiam sofrer. E claro está que, pois aqueles a quem Deus muito quer leva por caminhos de trabalhos, e quanto mais os ama, maiores eles são (Caminho da Perfeição, 18.1).