sexta-feira, 15 de maio de 2015

HORA SANTA ESPECIAL DOS AMIGOS DO SAGRADO CORAÇÃO


Louvado seja o Divino Coração, por quem temos alcançado a salvação: a Ele glória e honra, pelos séculos dos séculos! Assim seja. Senhor e Amigo, Jesus adorável: eis aqui os Vossos irmãos, que Vos buscam; Vossos íntimos Vos chamam esta noite, com insistência, às portas do Sacrário, desejosos de falar-Vos sem testemunhas, longes da multidão. Querem conversar convosco a sós; têm mais de uma confidência para fazer-Vos. Rogam-Vos, pois, que lhes permitais falar convosco, com a doce intimidade de João, com o abandono e a confiança de Lázaro, de Marta e de Maria, com a sinceridade de Nicodemos... 

Abri-nos, Jesus, abri-nos de par em par as portas do céu de Vosso Coração. Abri-nos... pois, bem sabeis, Jesus, que é a sede ardente de amar-Vos e de Vos fazer amar, que nos arrasta irresistível até os Vossos pés. E Vós que tudo sabeis, sabeis já, que não viemos pedir-Vos que nos façais desfrutar dos resplendores nem das delicias do Tabor. Não viemos pedir-Vos que Vos apresenteis a nós como aos três apóstolos predestinados na Transfiguração de uma majestade de glória. 

Ó não, outra ambição nos traz e é que reveleis, nesta Hora Santa, as belezas de imolação e de agonia, as profundidades da dor de Vosso Coração adorável no patíbulo da Cruz e no calabouço em que morais, ó Deus Sacramentado! Ansiamos, Jesus amado, penetrar nos segredos do Vosso amor sofredor e crucificado. Desejam-no ardentemente os Vossos amigos, pois queremos nos abrasar nas chamas de uma caridade mais forte que a morte. Abri-nos, Jesus, abri-nos a ferida de Vosso lado! Vede que somos os filhos de Maria; somos, pois, Vossos irmãos pequeninos, os cumulados de Vossas graças. 

Desejamos tanto desabafar-nos convosco, falando-Vos o idioma que Vós mesmo ensinastes a Vossos amigos íntimos, quando os chamastes a altas vozes, desde Belém e o Calvário, e, séculos mais tarde, desde o altar de Paray-le-Monial! Não tardeis em abrir-nos, Jesus, não nos deixeis por mais tempo nos umbrais do Sacrário de Vosso doce Coração. Vede que se faz tarde e que anoitece... Vede como as criaturas se afanam por nos dissipar e com que empenho as dores pretendem nos abater e o inferno perturbar nossa paz e nos arrebatar de Vossos braços.

Lembrai- Vos, Jesus adorável, que Vós mesmo nos convidastes a esta Hora Santa, quando a pedistes a Margarida Maria. Recordai, ó Rei de amor que, segundo os Vossos próprios desígnios, é esta a hora de graça por excelência, já que nela oferecestes confiar os Vossos segredos, em retorno das confidências de Vossos consoladores e amigos; confidências recíprocas que lavrarão a eterna intimidade entre Vosso Coração e os nossos.

De joelhos, pois, Senhor, e assustados, não de temor, senão de felicidade e de amor, Vos adoramos, com os Pastores e ainda mais que eles, Vos adoramos em união com a Rainha Imaculada e em seu coração de Virgem-Mãe. E para suprir nossa indigência, nos aproximamos do Sacrário, com os divinos ardores de Madalena, no dia venturoso em que a perdoastes; com a fé de Vossos discípulos no dia de Vossa ascensão gloriosa, e com a caridade de vossos apóstolos na hora de Pentecostes. Com todos eles Vos adoramos, prostrados ao chão, ó Rei Irmão, ó Salvador-Amigo, ó Deus de misericórdia, no Santo dos Santos do solitário Tabernáculo!

E já que nossos lábios apenas sabem balbuciar uma oração, e posto que nossos pobres corações são tão incapazes de amar deveras e de expressar seu amor, encarregamos com filial confiança à Rainha do Amor que Ela Vos fale por nós, Seus filhos e Vossos amigos. Mas conhecendo a Vossa infinita bondade e a Vossa condescendência, Vos rogamos, Jesus, com imensa confiança e com profunda humildade, que faleis sobretudo Vós nesta Hora Santa. 

Muito mais que falar, viemos escutar-Vos, ó Sabedoria incriada! Jesus, Verbo Divino, Palavra eterna do Pai, vibreis, ressoeis uma vez mais nesta terra de trevas. Falai, pronunciando aquelas palavras que embriagam na eternidade das eternidades aos Vossos Santos. Falai, Jesus, nos confiando aquelas palavras de vida que conservou em seu Coração a Virgem-Mãe e que recolheram os Vossos apóstolos para a redenção do mundo. Sim, falai-nos, Mestre, já que somente Vós tendes palavras de vida eterna. Jesus, Amor dos amores, falai aos amigos que Vos escutam de joelhos ardentemente desejosos e comovidos. 

(E agora escutemo-Vos com um grande recolhimento; ouçamos como se o víssemos com os nossos próprios olhos, aí nesta Hóstia Divina. Apresentemos a homenagem de uma adoração fervorosa, num ato de fé ardoroso em sua Presença real, e ao adorá-lo assim, ofereçamos, sobretudo, uma homenagem do coração, isto é, todo o nosso  amor, em espírito de solene reparação)

(Pausa) 

Breve consideração 

Já que não nos é dado suprimir na terra a raça dos traidores e dos carrascos, proponhamo-nos a multiplicar, ao menos, a raça bendita dos amigos fiéis do Senhor Crucificado, a falange esforçada daqueles que, afrontando todos os perigos e todos os opróbrios, O seguiram até ao Calvário.. Quão poucas vezes meditamos na misteriosa e cruel angústia do Getsêmani, agonia mais cruel por certo que a da Cruz. 

Vê por que ao lado do patíbulo, tinto de sangue, de pé, está Maria, a Mãe do Senhor injustiçado. Mãe incomparável e única! E perto dela, a invencível, a fidelíssima Madalena, banhada em prantos; a dois passos está João, o apóstolo amado, e com ele uns poucos, um rebanho reduzido de amigos leais. Mas, ah! não foi assim no Getsêmani... 

A solidão mais angustiosa oprimiu aí e despedaçou o Coração do Divino Agonizante. Separou com predileção aos três favorecidos do Tabor, para que O consolassem. mas estes, vencidos pela fadiga, mais forte que seu amor, estão dormindo. Ó sim, dormem e, entretanto, a uns poucos passos seu Mestre, abandonado e sozinho, luta na convulsões de uma horrenda agonia. Jesus, só e desamparado, sustentando o peso esmagador, mortal, da aflição que provoca a visão espantável de todos os crimes da terra.. 

Ó dor! Se os amigos do Senhor dormem, pois são fracos no amor, não o fazem seus inimigos, zelosos e resolutos em seu ódio. Desta vez a presa ansiada não escapará de suas mãos sacrílegas, e para que essa mesma noite o Rei divino caia prisioneiro em suas redes, velam animados, capitaneados e encorajados pelo único apóstolo que não dorme... Judas! 

Por isso a hora de guarda desta Hora Santa deve ser uma reparação de imenso amor por parte dos amigos fiéis. Ofereçamos como um solene desagravo por tantos amigos desleais, tíbios, apáticos. por tantos que se dizem amigos, que deveriam sê-lo, mas que em vez de amar, vivem de temor e de transações de covardia. São tantos os mesquinhos no amor e que estão longes, muito longe daquela medida de amor com que eles foram amados. Não nos enganemos; a culpa que mais lastima o Coração do Salvador é a que parte, como dardo de fogo, de um coração amigo!

Quão poucos são os verdadeiros amigos do Senhor, os que o conhecem deveras, os que deveras o amam, em paga e em retorno do dom gratuito, da amizade divina que Ele lhes brinda! Frequentemente são os filhos de sua própria casa os que mais O ferem. Cabalmente por isso, em reparação deste grande pecado, agrupemo-nos nesta Hora Santa em companhia da Rainha Dolorosa, de São João e de Margarida Maria, estreitemo-nos ao redor de Jesus Agonizante para recolher, com santa emoção, comovidos no mais fundo da alma, suas queixas amorosas, seus suaves censuras e também suas petições e desejos! Que aquela sede queimante que brotou de seus lábios moribundos reclamando nosso amor ressoe em nossas almas, as comova e nos resolva a apagar a sua sede ardente com a nossa imensa devoção. 

(E agora, para ouvir a sua voz divina, que tudo o mais se cale, que tudo desapareça, tudo, menos Jesus; bebamos ansiosos as suas palavras).

(Muito lento e com devoção) 

Voz de Jesus 

Faz já tanto tempo, tanto, que vivo entre vós e todavia não me conheceis. Sabeis, amigos muito queridos, que uma infinita tristeza oprimia a minha alma e que uma angústia de morte oprime Meu Divino Coração. Eu os confio a vós, tão fiéis, ouçam-me: a amargura de minhas amarguras é provocada por aquela constante infidelidade, aquele desconhecimento tão corrente, aquela inconcebível mesquinhez dos que Eu elegi e amei como amigos de Meu Sagrado Coração. Onde estão? Que têm feito os Meus verdadeiros e íntimos amigos? 

Como no Getsêmani, quando se aproxima a hora das trevas e do combate, olho ao Meu redor, chamo, estendo a mão... e me encontro quase sempre abandonado e sozinho. Ai... quão poucos são em todo tempo aqueles que se resolvem por amor a velar comigo na hora de agonia! Quando os meus amigos se encontram na costa do Calvário, Eu prevejo seu clamor e seus gemidos suplicantes. Eu mesmo me adianto e me ofereço a eles todo amável. Mas quando os traidores vociferam contra mim, quando me oprimem sob o peso da cruz, se chamo em meu socorro os amigos... ai! estes não me ouvem; meus amigos dormem... 

Será verdade então, filhos meus, que o ódio dos meus adversários é mais animado e forte que a caridade de meus amigos? Que tristeza para o meu Coração ver constantemente que enquanto os meus descansam tranquilos, os cruéis preparam afanosos os açoites, os cravos, a coroa de espinhos, a Cruz! Tanto zelo da parte destes para incrementar obstinadamente o exército, já tão numeroso, dos que me abandonam.. tanta abnegação e desprendimento de sua parte ao pagar com largueza as covardias e traições, a gritaria da blasfêmia social e o ultraje legado da autoridade humana contra mim. E, entretanto, Meus amigos dormem, descansam, calam! 

Poderia chamar em meu socorro legiões de anjos, e o Pai as enviar-me-ia; mas não, não na hora das agonias e tristezas. Quero ter muito perto, ao meu lado, amigos capazes de amar chorando; corações como o meu, corações de irmãos que compartilham as dores que por eles sofro. Na hora do Getsêmani, os aguardo, a vós, os amigos! Ai, não queirais abandonar-me então; rodeai-me com amor ardente e fidelíssimo. Oferecei-me o coração como um apoio para o meu Coração agonizante. Minha alma está triste, triste até à morte. Desfaleço e morro porque não me sinto amado pelos Meus... 

(Breve silêncio) 

As almas 

Esse lamento nos parte a alma. Escutai-nos, Jesus! Sabemos que o que Vós afirmais é sempre a verdade e toda a verdade. Mas já que os que estamos diante este altar somos os amigos íntimos que viemos para consolar-Vos e para reparar, falai-nos, Senhor, com absoluta liberdade. Pedimo-Vos, Vos rogamos que formuleis por inteiro a Vossa justa acusação. Não temais, Jesus, o lastimar-nos, dizei-nos sem reticências quais são as faltas que mais Vos ferem da parte dos vossos filhos, explicai-nos aquela amargura que enche o Vosso adorável Coração, pois queremos compartilhá-la e adoçá-la. Falai, Jesus, falai abertamente aos Vossos amigos verdadeiros! 

Voz de Jesus 

Filhinhos! Ó sim, filhinhos amadíssimos! Quero descobrir-vos, em toda intimidade, todo o segredo de minha infinita tristeza. Mas, prometei-me que, ao escutar as minhas queixas e reprovações, longe de separar-vos com temor insensato de meu lado, buscareis, pelo contrário, uma intimidade maior com vosso Amigo do Sacrário. Prometei-me que daqui por diante acudireis com mais confiança ao meu Coração em busca do único remédio para todas as vossas fraquezas. Ao ouvir-me, doce e bom, recordai que aqui, neste trono de graça, sou o juiz da verdade e mansidão, afim de ser amanhã, nos umbrais de vossa eternidade, um Salvador benigno e o Juiz amigo.Ouçam-Me, quereis saber que faltas são aquelas que mais me ferem? 

Falta de generosidade e de gratidão 

Antes de tudo, a mesquinhez no amor de meus amigos, a falta de generosidade! Tenho fome.; não tendes algo para me dar de comer, filhinhos meus? Não tendes porque se preocupar em me comprar pão, como os apóstolos em Samaria, ó não! O pão que desejo ardentemente é o vosso amor! Tenho fome de vós! Mas quero e exijo que esse dom de vós mesmos seja total, sem divisões. Dai-vos a Mim, dai-vos sem reservas. Tenho fome, não de um vosso olhar, não de um sorriso, nem de uma palavra;  tenho fome de vossas almas. Quero que estas Me pertençam como Eu vos pertenço.

Em troca do Meu Coração Divino, quero os vossos e os quero somente para Mim. Tenho-vos dado tanto, ó tanto! E em retorno, que me haveis dado vós? Por que esse prurido de medir-me sempre com o vosso amor, já tão limitado e pobre? Quão distante a minha sorte é a das minhas criaturas! Para elas vossas preferências, para elas tudo! Daí que Eu, vosso Senhor, ocupe com frequência no banquete de vossas vidas o posto do servidor, do pobre e do mendigo. Quanto tempo faz, almas queridas, que aguardo o obséquio do dom total de vós, meus amigos, dom ao qual tenho pleno direito e somente Eu! E depois de esperar longos meses, ainda largos anos, recebo com frequência, não esse dom total senão a migalha pobrezinha que cai da mesa, o que sobra das criaturas, sempre atendidas e agasalhadas...

Os anjos se assombram ao ver que aceito essa migalha, porque me fala de vós, mas, ao levá-la aos meus lábios, explode de pena o coração, e choram os meus olhos. Quanto tempo faz que peço e aguardo que me deem um lugar, e o primeiro, em vossas almas e em vossos lares! Ai! As criaturas mais afortunadas que Vosso Deus ocupam já esse posto de honra. e Eu devo resignar-me a um posto secundário. Se soubésseis como sinto que minha Pessoa Divina molesta, estorva; que me toleram por temor, a Mim, um Deus de amor! 

E a Mim me tendes chamando e esperando um turno que tarde ou nunca chega. Mas porque somente Eu os amo, com amor verdadeiro, sinto-me então no umbral de vossas portas e, com paciência, volto a vos chamar com golpes redobrados, e sigo aguardando com doçura inalterável, porque sou Jesus, a misericórdia infinita, inesgotável. E, entretanto, Eu, que posso dar-me às vossas almas, no banquete que vos tenho preparado de toda a eternidade, vivo das migalhas que me jogam tantos que se chamam meus amigos. Não é, porventura, uma migalha de vossa vida, por exemplo, os breves instantes, os poucos momentos que distraís dos negócios e das criaturas para dar-vos a Mim? E dizer que, em troca desses segundos, vos estou preparando uma eternidade de séculos, um sem-fim de glória!

(Pausa) 

Quereríeis uma prova manifesta, consoladores meus, dessa falta de amor generoso da parte de meus amigos? Ei-la aqui: sua pouca gratidão! Não se paga, assim, por certo, com essa vil moeda aos benfeitores da terra. Para estes, por natural nobreza, por delicadeza de educação ou de sentimentos, para eles, a efusão expressiva de vossa ação de graças. Quanto a Mim, o benfeitor de vossos benfeitores, não me contam sempre nessa categoria e fico excluído! 

Quantos leprosos de alma, sarados por milagre, e que não me agradecem, quantos! Dizei-me, filhos de meu coração, é justo tratar assim a um Deus que vos há cumulado com mil liberalidades e ternuras, que vos há prodigado de torrentes de luzes divinas e consolos inefáveis, que vos há perdoado, que quer seguir-vos perdoando? O que foi feito daquelas solenes promessas de eterna gratidão que me fizestes cada vez que imploráveis com pressa novas graças? - Que faço? - Prodígios de misericórdia?

Ah, sim! Mais de uma vez vos tornais a Mim em busca de milagres. Sabei-o, quero outorgar-vos, mas os reservo para os amigos generosos, que me dão tudo. Reservo- os para aqueles que me arrebatam com a doce violência de sua imensa gratidão. Mas quero perdoar ainda esse pecado vosso, eis aqui a hora propícia do verdadeiro arrependimento, da reparação cumprida e da grande misericórdia. Protestai-me, pois, agora mesmo que, daqui por diante, me amareis todos como amigos verdadeiros; isto é, com nobreza de gratidão e com generosidade a toda prova. Não temais a quem não vos chama e os aguardo senão para vos perdoar e ademais vos enriquecer... Tenho fome de amor, fome do pão de vossos corações. Dai-o a Mimi, ao Deus de caridade, que se goza com o título de irmão e de amigo vosso... 

(Aqui pode cantar-se o Magnificat em ação de graças ao Sagrado Coração, ou qualquer outro hino em sua honra)

As almas


Mestre muito amado, se no cálice de Vosso coração houvesse todavia a amargura de outra queixa contra nós, dai-nos a bebê-la agora mesmo, Jesus, que para isso viemos. Ó sim, essas reprovações suavíssimas desafogam Vossa alma, Jesus; ao brotar como fogo de Vossos lábios, queimam também com divinos ardores e fortificam nossas almas frias e enfermas. Falai-nos, pois, Senhor, e cura nossas chagas, nos mostrando a Vossa do lado. 

Falta de confiança 

Voz de Jesus 

Pequeno rebanho dos meus amores, subi mais e aproximai-vos de meu peito ferido para vos confiar em toda intimidade, a vós os prediletos, outra pena, pena muito profunda; a falta de confiança da parte dos meus amigos! Estes não me amam com o abandono de simplicidade e de paz que tanto aspiro. Dir-se-ia que desconfiam, que receiam deste Senhor de Caridade. 

Não creem o bastante, ó não, em meu imenso amor. Temem- me, estremecem e se afastam. Que dor a minha, ao não sentir-me realmente amado, havendo sido para esses filhos rebeldes um Deus de caridade e de perdão! Que mais poderia fazer todavia para curar esse mal de desconfiança, que faz estragos horrorosos na vinha rica e eleita, no campo de meus amigos prediletos? Como me dói ver que não se atrevem a me considerar, nem ao menos a me tratar como amigo! Ai! Por quê? 

Em vão lhes repito a afirmação do Evangelho, quando disse aos meus apóstolos: 'Não temais, sou Eu. Vós sois deveras meus amigos'. Tudo em vão, pois, tais almas se empenham em resistir a esse chamamento de ternura, e com um sentimento de temor que Eu não aceito, não se atrevem a tomar para si esse título que é minha glória; não querem, não se atrevem a saborear o néctar delicioso de uma amizade que Eu mesmo lhes ofereço. Falta algo, porventura, à obra do meu amor para inspirar a tais alma a confiança, que reclamo? Alma querida, mas desconfiada, ouvi-me: Tenho deixado por vós, há séculos, o manto de majestade que haveria podido justamente vos aterrar e, contudo, seguis tremendo e temendo! 

Ponde os olhos em meu berço na manjedoura. olhai-me nela, pobre, manso e pequeno, menor que vós mesmos, para apresentar-me como Vosso irmão e vos atrair aos meus braços. E, contudo, seguis tremendo e temendo! Vinde, penetrai comigo no casebre humilde de Nazaré: meditai essa vida, simples como a vossa, e muito mais, todavia. Dizei-me: Que encontrais nessa vida de obscuridade, de simplicidade e de trabalho, que espanta? O quê? E contudo, seguis tremendo e temendo! Será, talvez, o esplendor da minha vida pública que vos atemorizais? Por quê? Olhai, pelo contrário, como ao falar, ao estender os braços, ao chamar, as multidões me seguem. Olhai como os pequeninos e os enfermos, os mendigos e os pecadores e todos os desdenhados, todos os leprosos morais, acodem, se precipitam até Mim e disputam a honra e a dita de estar ao meu lado. E vós, alma querida? Bem sabeis que sou o mesmo Jesus, e contudo, seguis tremendo e temendo! 

Se tomasse em conta a vossa desconfiança, não me atreveria, por certo, a vos convidar como Zaqueu, como Simão e Levi, e em união com tantos outros publicanos e pecadores, ao banquete de minha divina misericórdia, pois, talvez por temor, me fizésseis uma desfeita, rechaçando o amoroso convite. Esqueceis então que vim para salvar tudo o que havia perecido: os que jaziam no abismo, os cadáveres dos espíritos, os desfeitos da sociedade, os leprosos de coração? Esquecestes? Credes vós ser um desses desventurados? Deveis por isso mesmo acudir apressadamente. E, contudo, seguis tremendo e temendo! Por quê? Esquecestes,  porventura, as maravilhas de meu amor e de minha ternura, realizadas na Última Ceia? Não vos recordais já de minhas últimas palavras de esperança e de perdão, no Calvário, nas que leguei à minha Mãe, que é a vossa, o supremo testamento da minha caridade? Ó sim, vós conheceis, alma querida, este ditoso testamento. E, contudo, seguis tremendo e temendo!

E, enfim, aqui me tendes na Hóstia mais aniquilado ainda que em meu berço; mais pobre que em Nazaré, mais doce, se é possível, mais paciente, terno e misericordioso que em Samaria, Cafarnaum e Galileia - credes nisso? - mais Salvador, se fosse possível, que na própria Cruz! Aqui, na Sagrada Eucaristia, sou mais que nunca um Deus-Amor e, contudo, seguis tremendo e temendo! Dizei-me, pois, ó dizei-me, alma muito amada, o que mais devo fazer para dissipar os vossos temores, para provocar e alentar a confiança imensa que exijo daqueles a quem chamo de meus amigos? Esta deve ser a prova por excelência de vosso amor! 

Pensai que a virtude que salva é esta caridade. Em Meu Divino Coração esta virtude toma o nome de misericórdia, e no coração de meus verdadeiros amigos, se chama virtude de confiança e abandono. Ah! Sem que vós me declareis, porque Eu sei ler nas almas, leio em vós a razão aparente deste temor; antes que mo digas, vo-lo direi Eu mesmo: são os pecados de vossa vida passada! Pobre alma, empalideceis somente em nomeá-los, e suas recordações vos torturam excessivamente, diminuindo o meu amor. Vossos pecados? Confiai-os ao meu Coração, e não duvideis que já estais perdoada. O que necessitais, em vez de tanto temor, é crer, mas crer com fé imensa em meu amor e amar. Vinde, aproximai-vos, atirai-vos no abismo de ternura de meu amante Coração; não temais. O quê? Arguis todavia que sois miserável? Eu o sei melhor que vós, e por isso dispondes de minha paciência, que não se cansa; de minha bondade, que não se esgota. Aludis também à vossa grande debilidade? Bem sei quão grande é esta, mas por que vos esqueçais que dispondes de minha onipotência, de minha graça, com as quais podeis tudo? 

Quereis todavia — Eu o vejo — justificar vossos temores excessivos com o princípio de Minha justiça? Ah! mas não vos esqueçais nunca que esta será terrível, inexorável, somente para aqueles que, rechaçando o amor e a misericórdia, não se confiaram em Mim. Aproveitai, alma querida; aproveitai com usura a graça da hora presente, hora bendita, de luz, de força e de piedade. Sabei que os vossos pecados que passaram, Eu os joguei no abismo de um eterno esquecimento; já não existem, Eu os aniquilei. Ó fazei-me a honra e dai-me o imenso prazer de crer com fé sem limites que sou Jesus, isto é, o Salvador!

(Pausa) 

Voz das almas 

Estamos confundidos, Senhor Jesus, ao considerar a verdade tão amarga e triste dessas reprovações, por não haver correspondido ao título incomparável de amigos de Vosso Divino Coração. Quantas e quantas vezes ao nos estender, Vós, ó Jesus, os braços, ao nos brindar com o Vosso adorável Coração, nós retiramos os nossos, cedendo a temores que Vos ferem, negando-Vos aquela expansão de dulcíssima confiança a que somente Vós tendes direitos, ó soberano! Perdoa, Senhor, uma vez e para sempre; perdoa essa desconfiança, que não é senão falta de fé em Vosso amor e o desconhecimento da lei da Vossa misericórdia. E em testemunho tão sincero como eloquente de nosso arrependimento, dignai-vos escutar uma prece que regozijará o Coração do Amigo Incomparável que Vós sois: Jesus amado, apesar e por causa dos nossos pecados:

(Todos) 

Cremos com fé imensa em Vosso amor!

Jesus amado, apesar e por causa de nossas ingratidões. 
Cremos com fé imensa em Vosso amor! 
Jesus amado, apesar e por causa de nossas debilidades. 
Cremos com fé imensa em Vosso amor!  
Jesus amado, apesar e por causa de nossas trevas. 
Cremos com fé imensa em Vosso amor! 
Jesus amado, apesar e por causa de nossas tentações. 
Cremos com fé imensa em Vosso amor! 
Jesus amado, apesar e por causa de nossa pobreza moral. 
Cremos com fé imensa em Vosso amor! 
Jesus amado, apesar e por causa de abuso de tantas bondades. 
Cremos com fé imensa em Vosso amor! 
Jesus amado, apesar e por causa de nossas grandes covardias. 
Cremos com fé imensa em Vosso amor! 
Jesus amado,apesar e por causa de tantas recaídas. 
Cremos com fé imensa em Vosso amor! 

Sim, Jesus misericordioso e dulcíssimo, para Vos provar daqui por diante quanto cremos em Vosso amor, cuja medida ultrapassa infinitamente a nossa miséria, por grande que esta seja, Vos prometemos com toda a alma jogar-nos em Vossos braços e acudir ao Vosso Coração com confiança ilimitada. Cada vez que sintamos o aguilhão de um remorso saudável, iremos a Vós; achegaremos à ferida do Vosso Lado, em vez de retrair-nos e separar-nos com uma distância que desconhece e ofende a Vossa Bondade. Que mais desejais, o que mais reclamais, Senhor, dos Vossos amigos? Falai, Deus de amor!

Falta de intimidade 

Voz de Jesus

Sim, amigos e irmãos, ó sim, quero mais; todavia, não somente um amor grande, senão uma amizade íntima e estreita entre nós. Não temais, pois não sois vós que Me elegestes como o Amigo íntimo, senão Eu, Jesus. Não sois vós quem, por pretensão inaceitável, pedis um título de glória imerecida, não… Sereis Meus íntimos por condescendência Minha. Sou Eu quem se inclina até vós. Eu, quem vos roga que aceiteis a doce intimidade do Meu Divino Coração.

Desde esta Hora Santa, as distâncias que poderiam nos separar ficam, pois, suprimidas por Minha vontade. Mas o que vos espanta, filhinhos Meus, como uma novidade, com esta linguagem? Meditai o que a Minha Eucaristia vos há exortado sempre. Considerai com que abandono e com que perfeita intimidade, suprimidas todas as distâncias, Eu me entrego na Hóstia Santa a vós. Penetrai no mistério augusto do altar; vede como a Minha Sabedoria, em perfeito acordo com a Minha infinita misericórdia, há salvado para sempre e cumulado o abismo insondável que nos separava.

Se, pois, Eu mesmo cumulei tal abismo, conhecendo a fundo a vossa miséria; se, não obstante vossa indignidade e vossos pecados, mantenho o Meu direito de chamá-los Meus amigos íntimos e os faço uma obrigação de descansar confiados na paz e amizade de meu adorável Coração, com que direito recusaríeis este título que é Minha glória e voltaríeis a abrir entre nós um abismo de distância?

Pretenderíeis acaso dar-Me a Mim, vosso Irmão-Salvador, vosso Deus e Mestre, uma lição de justiça austera ou de sabedoria? Por que não há de obter Meu Coração amantíssimo a doce intimidade com que tratais todos a uma mãe, a um irmão, a um amigo íntimo? Eles terão, porventura, esse privilégio, e não Eu, vosso Jesus? Haveis esquecido que sou um Amo zeloso de Meus direitos? Como! Daríeis vossa intimidade a eles e a recusaria ao Amigo Divino dos pobres, dos débeis, dos pequenos e dos pecadores?

Não sabeis, por acaso, que todos estes foram sempre os primeiros convidados ao banquete de Minha intimidade e de Minha ternura? Não termineis esta Hora Santa sem fazer-Me esta grande promessa. Se soubésseis com quais ânsias do Coração aguarda este Deus que não quer escravos entre vós, senão amigos que lhe sirvam com amor e que se deem a Ele em expansões da confiança, na intimidade do abandono! Prometei isso a Mim, filhinhos Meus!

(Sim, prometamos isso num momento de oração e de silêncio. Digamos a Jesus, com o coração nos lábios, que, na realidade, seremos seus amigos, seus íntimos, já que Ele assim o pede. Prometamos a Ele uma amizade sem reservas, com confiança ilimitada, com um perfeito abandono).


E agora, como manifestação solene desta promessa íntima, digamos cinco vezes, em honra das cinco chagas do Senhor Crucificado, três jaculatórias simples, mas belíssimas, em seu significado. Ao ouvi-las, palpitará de júbilo o Coração do Rei Prisioneiro do Sacrário.

(Todos em voz alta)

(Cinco vezes)

Amamo-Vos, Jesus, porque sois Jesus!
Coração de Jesus, em Vós confiamos!
Cremos, Jesus em Vosso amor!

Falta de sacrifício 

Voz de Jesus

Achegai, amigos, vinde vós os preferidos, os cumulados com mercês singulares, vinde e vede se há uma dor semelhante à Minha dor. Há séculos que subo por amor a vós a encosta do Calvário; ai, e quão raras vezes encontro nesse caminho de amargura ao Cireneu-amigo que me alivie o peso da Cruz! Onde estão? Que têm feito na hora da tribulação os que me protestavam seu amor? Quando multiplico milagrosamente os pães é imensa a multidão que me segue. Na apoteose do Domingo de Ramos estão reunidos todos, ó sim, todos os Meus discípulos. Quando rasgo o véu e mostro o esplendor de Minha divindade no Tabor, ah não dormem então os Meus amigos. Estes me são fiéis, e se mostram animados na Ceia!

Mas onde estão, por que emudecem no Getsêmani? Onde estão? Por que desapareceram no Pretório e no caminho do Calvário? Pedís um posto de honra, o direito de sentardes de um lado e de outro do Meu trono no Reino dos Céus, quereis uma virtude fácil e uma piedade acomodatícia. Ah! Tudo isso me prova que não me amais com um amor fundo e verdadeiro, com m amor de Cruz e sacrifício.Quantas e quantas vezes recebo prostestos e promessas que não são senão entusiasmos artificiais, fruto de um amor de fantasia caprichosa, inconstante, e não daquele amor forte como a morte que espero com direito dos Meus! Ah, quantas vezes estes, os melhores do rebanho, temem com pavor a Cruz e receiam de Mim, o Deus Crucificado!

Quantas vezes, ao apresentar-Me a eles como o Homem-Deus das dores, tal como me apresentou Pilatos; quantas vezes, ao propor com doçura aos Meus amigos a glória de acobertá-los com a púrpura divina do Meu sangue e das Minhas dores, ai!, me encontro abandonado por eles! E ficaria sozinho, inteiramente sozinho, se não fosse pela companhia fidelíssima de Minha Mãe, de João e de Madalena! Dizei-me, consoladores Meus, não quereis unir-vos com amor de sacrifício a esse rebanho pequenino, mas esforçado e resoluto, que me seguiu até ao Calvário? Teríeis também vós a vontade de abandonar-me na via Dolorosa? Dai-me o consolo de que vós, os íntimos, compreendeis que Eu nunca sou mais doce e terno, nunca mais amante nem mais Jesus que, quando confiando em vós, vos entrego o tesouro de minha Cruz e de minhas lágrimas, tesouro vosso e meu. E agora, contestai-me: senti-Vos dignos de comer do Meu pão e beber do Meu cálice? Aguardo a vossa resposta.

(Sem vacilação, e pondo em nossa voz as vibrações de um coração leal e pronto a sacrifícios, digamos que sim, que podemos ser contados como seus amigos, como outros Cireneus. Prometamos segui-lO até o Gólgota, com a fidelidade com que haveremos de O seguir um dia no Tabor eterno que o seu Coração nos reserva)

As almas

Sim, Jesus, com a Vossa graça podemos e desejamos beber do vosso cálice. E por isto, Senhor Crucificado, Vos adoramos com adoração mais rendida e amorosa na transfiguração sangrenta de vossa Cruz; por isso cantamos agora a gloriosa ignomínia e a glória dolorosa de reproduzir em nós os estigmas de Vossa Paixão sacrossanta. Bem sabemos que isso é indispensável, Jesus, para Vos seguir de perto e, por isso, pensando desde agora em nossos pesares e preocupações de família, nos possíveis reveses de fortuna, nas cruéis e constantes decepções da vida, Vos dizemos todos, Senhor, pondo o coração nos nossos lábios: Quando Vós permitirdes ou mandardes, Jesus, que nos crucifiquem a enfermidade e as dores do corpo, Vos amaremos ainda mais, Senhor!

(Todos)

Vos amaremos ainda mais, Senhor, Hosana ao Rei do Calvário!

Quando Vós permitirdes ou mandardes, Jesus, que nos torturem as angústias, os tédios e as grandes tristezas; Vos amaremos ainda mais, Senhor...
Vos amaremos ainda mais, Senhor, Hosana ao Rei do Calvário!
Quando Vós permitirdes ou mandardes, Jesus, que nos assediem penas muito profundas, penas secretas, e que então nos sintamos abandonados e sozinhos; Vos amaremos ainda mais, Senhor...
Vos amaremos ainda mais, Senhor, Hosana ao Rei do Calvário!
Quando Vós permitirdes ou mandardes, Jesus, que nos lacerem a alma, penas de família e aqueles espinhos que redimem ao mesmo tempo que nos fazem sofrer; Vos amaremos ainda mais, Senhor...
Vos amaremos ainda mais, Senhor, Hosana ao Rei do Calvário!
Quando Vós permitirdes ou mandardes, Jesus, que a tormenta rompa laços muito fortes ou que nos decepcionem os melhores amigos; Vos amaremos ainda mais, Senhor...
Vos amaremos ainda mais, Senhor, Hosana ao Rei do Calvário!
Quando Vós permitirdes ou mandardes, Jesus, que nos fustigue e purifique o rigor da justiça, sempre boa e misericordiosa; Vos amaremos ainda mais, Senhor...
Vos amaremos ainda mais, Senhor, Hosana ao Rei do Calvário!
Quando Vós permitirdes ou mandardes, Jesus, que o vendaval lance por terra nossos projetos e quanto nos faça beber o cálice amargo da injustiça humana; Vos amaremos ainda mais, Senhor...
Vos amaremos ainda mais, Senhor, Hosana ao Rei do Calvário!

(Pausa)

Aproximamo-nos do final desta Hora Santa. Ó aproveitemos os instantes que ainda nos restam, aproximando-nos de Jesus sem temor; nosso posto é o de João na Última Ceia. Não percamos nem uma gota do cálice deste Sagrado Coração, que nos oferece fogo divino e a luz do Céu.

Falta de zelo 

Voz de Jesus

Me abraso, amigos queridos, ó Eu me abraso em uma sede ardente, devoradora, que poderíeis apagar com um zelo ardente e imenso pela Minha glória. Recordai e ponderai os tesouros impagáveis que vos tenho confiado com generosidade inesgotável. E onde estão, amigos Meus, os interesses desse capital sagrado? Onde estão os interesses sacrossantos da Minha glória? Quereríeis saldar a conta e cancelar a dívida do amor que me deveis? Pois então todos à obra; ó dai-me almas, muitas, muitas almas!

Quereríeis com vontade generosa reparar os crimes de tantos desditosos e, ao mesmo tempo, reparar os vossos próprios pecados? Pois então, com denodo de caridade, trabalhai em extender e afiançar o reinado do Meu amor. Tendes verdadeiro interesse de amor, em que o Meu Coração seja ainda mais vosso. Quereríeis estreitar o laço de nossa amizade, obrigando-me assim a enriquecê-los com uma nova e maior efusão de graça e de misericórdia? Pois convertei-vos todos sem demora nos apóstolos de fogo do Meu Sagrado Coração.

Dai-me almas, infinitas almas em retorno ao amor imenso e gratuito que predestinou as vossas. Não penetrareis, não meditareis o bastante os desejos veementes que tem o meu Coração de servir-se de vós, os amigos, para distribuir seus tesouros. Prometei-me, nesta Hora Santa, que sereis daqui por diante os dóceis instrumentos de que Eu me valho para atrair, com força irresistível, as almas, as famílias e a sociedade inteira ao Meu Divino Coração! Se alegardes a vossa incapacidade para desempenhar uma missão de tanta glória, voltai os olhos ao campo dos inimigos e confundidos. Tomai exemplo do zelo que o ódio lhes inspira. Ah, eles jamais alegam incapacidade, jamais! Como! Se eles encontram-se capazes e dispostos para preparar-me um Calvário, vós não o estais para converter esse Calvário em um Tabor?

Se soubésseis quantos oceanos de favores que reservo aos apóstolos zelosos de Meu Sagrado Coração! Sabei-o: todos os seus tesouros infinitos de onipotência e de ternura vos pertencem, todos! Vinde, pois, achegai apressados, fazei-os vossos e distribui-os entre os pobres e famintos, dai-os com generosidade aos ignorantes, aos cegos, a tantos infelizes que nunca receberam o que recebestes vós, que jamais souberam, que jamais ouviram o que estais aprendendo agora de minha boca. Não sabem eles quão bom Eu sou, porque sou Jesus! Ide dizer a eles; recordai que esses mal-aventurados são filhos Meus; são pois, irmãos vossos. Ó tende piedade de Mim na pessoa desses vossos irmãos que estão a ponto de perecer.

O quê? Quereis acaso que, não estando inflamado seu zelo, socorra a outros que compreendam melhor os segredos e os interesses de Minha glória? O tempo é curto, pois é chegada já a hora solene de Minha grande misericórdia; a hora prometida do triunfo e do reinado social do Meu Divino Coração na onipotência de seu amor. Sim, o prometi Eu mesmo e farei honrar o cumprimento de Minha palavra. O mundo, com as suas afirmações, com as suas palavras vazias, passará, mas as Minhas palavras e promessas não passarão jamais. Eu sou a própria Fidelidade. Eu sou o Rei do Amor.

Tenho sede de ser amado. Tomai, pois, do fogo aberto do Meu peito, as centelhas de apostolado e ide, todos, ide convictos a conquistar o mundo, incendiando-o em Minha caridade. Semeai! Ó semeai a doutrina tão pouco compreendida do Meu amor; semeai este fogo! Tenho sede de ser amado; amai-me, Meus amigos, com amor apaixonado, amai-me com amor imenso e consigais que muitos outros me amem também como Eu os tenho amado. Ouvi-me, amigos, reparadores e apóstolos; Eu vos confio o Meu Coração, Eu o dou a vós com os seus tesouros e a sua glória; sabei que quero reinar pela onipotência do Meu amor.

(Respondamos a tão irresistível convite com uma última oração, dita com o fogo que Jesus acaba de colocar no coração de seus amigos, os que, desde hoje, serão apóstolos zelosos do Seu Sagrado Coração)

Oração Final

Rei de amor e de misericórdia, Jesus amado, apoiando-nos nas promessas que Vós mesmo fizestes a Margarida Maria, em favor das almas consagradas ao Vosso Coração, Vos suplicamos nesta hora decisiva que confirmeis o reinado de Vosso Coração adorável. Dignai-Vos, Senhor, interessar mais e mais nesta causa de Vossa glória os ministros do Vosso altar e todos os Vossos apóstolos.

Como poderíamos, Jesus, chamarmo-nos Vossos amigos e ignorarmos a Vossa glória? Vos pedimos, pois, Senhor, em especial uma privilegiada benção para a cruzada que Vos entroniza nos lares, que prega a Vossa realeza social e íntima, obra que, com a benção da Vossa Igreja, tem conquistado tantas almas, devolvendo-as ao Vosso amável Coração. Fazei que esta obra seja em toda parte o grão de mostarda, transformado em árvore gigante e frutuosa, em cuja sombra se abrigam, em todas os lugares da terra, milhares de famílias que, nos sofrimentos e alegrias, entoem ao Coração do Rei-Amigo um hino de eterno amor.

Abençoai, Jesus, com especial ternura este apostolado, afim de que ele realize plenamente os pedidos que Vós mesmo fizestes em Paray-le-Monial; abençoai-o abundantemente, Jesus, para que Vos force ditosamente a cumprir conosco, Vossos apóstolos, aquelas Vossas palavras tão consoladoras: 'Eu quero reinar pelo Meu Sagrado Coração, e eu reinarei!' Abençoai este apostolado com graças de fecundidade, Jesus amado, e fazei que os depositários da autoridade na Igreja bendigam e propaguem esta cruzada, já que por ela abençoareis especialmente as almas consagradas que promovem o reinado do Vosso amor. Senhor, Vossa glória é nossa única glória; Vossos interesses, nossos únicos interesses; Vosso amor, nosso amor supremo pois, segundo a Vossa grande misericórdia, o Vosso Coração é o centro, coração e vida nossa!

E para reforçar nossa humilde petição, Vos suplicamos pela Virgem Imaculada, rainha dos lares consagrados; por Margarida Maria, Vossa confidente e discípula tão amada; e pelas orações, sacrifícios e zelo ardente dos Vossos apóstolos, que Vos digneis realizar, Senhor, em nós e por nós, as incomparáveis promessas do Vosso Sagrado Coração. Reconhecemos que somos miseráveis mas, mesmo assim, dignai aceitar-nos como instrumentos de boa vontade no cumprimento dos desígnios de Vosso amor misericordioso.

Vos prometemos, em troca, Mestre adorável, ser, por todos os meios que estiverem ao nosso alcance e em toda ocasião e lugar, os Apóstolos da cruzada que prega como uma redenção, neste momento sombrio, a Vossa realeza social; ó Jesus, a realeza do Vosso Divino Coração, que pede reinar pelo amor! Obrigado, Senhor Jesus! Ó obrigado pela vocação de glória imerecida ao constituir-nos, apesar de nossa miséria, dispensadores do amor e da glória do Vosso Coração Misericordioso!

Pai-Nosso e Ave Maria pelas intenções particulares dos presentes.
Pai-Nosso e Ave Maria pelos agonizantes e pecadores.
Pai-Nosso e Ave Maria pedindo o Reinado do Sagrado Coração mediante a comunhão frequente e diária, a Hora Santa e a Cruzada de Entronização do Rei divino nos lares, sociedades e nações.

(Cinco vezes)

Coração Divino de Jesus, venha a nós o Vosso Reino!

(Aclamações: duas vezes e em voz alta)

Cremos, Jesus, no triunfo da Cruz.
Cremos, Jesus, no triunfo da Vossa Eucaristia.
Cremos, Jesus, no triunfo da Vossa Igreja.
Cremos, Jesus, no triunfo do Vosso Sagrado Coração.
Reinai Senhor, apesar de Satanás.

(Cinco vezes)

Coração de Jesus, venha a nós o Vosso Reino!

Fórmula de consagração individual ao Sagrado Coração de Jesus, composta por Santa Margarida Maria 

Eu (nome) Vos dou e consagro, ó Sagrado Coração de Jesus Cristo, minha pessoa e minha vida, minhas ações, penas e sofrimentos, para não querer mais servir-me de nenhuma parte de meu ser senão para Vos honrar, amar e glorificar. É esta minha vontade irrevogável: ser todo Vosso e tudo fazer por Vosso amor, renunciando de todo o meu coração a tudo quanto Vos possa desagradar. Tomo-Vos, pois, ó Sagrado Coração, por único objeto do meu amor, protetor de minha vida, segurança de minha salvação, remédio de minha fragilidade e de minha inconstância, reparador de todas as imperfeições de minha vida e meu asilo seguro na hora da morte. 

Sede, ó coração de bondade, minha justificação diante de Deus, Vosso Pai, para que desvie de mim Sua justa cólera. Ó coração de amor! Deposito toda a minha confiança em Vós, pois tudo temo de minha malícia e de minha fraqueza, mas tudo espero de Vossa bondade! Extingui em mim tudo o que possa desagradar-Vos, ou se oponha à Vossa vontade. Seja o Vosso puro amor tão profundamente impresso em meu coração, que jamais possa eu esquecer-Vos, nem separar-me de Vós. Suplico, por Vosso infinito amor, que meu nome seja escrito em Vosso coração, pois quero fazer consistir toda a minha felicidade e toda a minha glória em viver e morrer como Vosso escravo. Amém.

(Hora Santa Especial dos Amigos do Sagrado Coração, pelo Pe. Mateo Crawley - Boevey)