quarta-feira, 6 de março de 2013

TUAS PALAVRAS...

Quantas palavras nasceram hoje do teu juízo? Sim, elas nasceram, como filhas sibilantes, como medida das tuas ideias, como frutos dos teus pensamentos e vontades. Elas foram empurradas em meio a golfadas de ar, ressoaram pelas tuas cordas vocais em frêmitos e resmungos, ecoaram pelo palato e pela tua boca aberta e cavernosa, assumiram som e voz, ficaram livres, e forjaram nos soluços de tua fala os ecos estentóricos de uma memória eterna. Tuas palavras...

Tuas palavras... uma vez ditas, benditas ou malditas para sempre. Marcadas a ferro e fogo na tua alma generosa ou temerária. Transparentes como a mais preciosa gema ou pesadas como chumbo, jubilosas por uma santa alegria ou revestidas da mais negra das mortalhas, suaves como uma brisa vespertina ou brutais como um incêndio descontrolado, frágeis como o sopro dos sussurros ou violentas como os turbilhões dos desgraçados. Tuas palavras...

Tuas palavras... depositadas no recôndito dos corações ou lançadas sem valor aos ventos. Sementes de candura e mansidão ou joio de penúria e desespero. Brotadas no silêncio e na quietude do conselho e da gratidão ou forjadas pelos impropérios e pela maldição.Tangidas pelo amor inquebrantável da verdade ou vergadas pelo ódio intumescido do rancor. Palavras livres dos sonhos, dos encontros e despedidas, de conforto e solidariedade ou palavras libertinas dos instintos, da maldade e mesquinhez humana, de desdém ou de revolta. Nascidas para a oração. Desfalecidas para a dor. Tuas palavras...

Tuas palavras... nascidas de tantas formas e condições, serão os últimos vestígios de tua vida humana,  impregnadas como fogo em tua alma agora nua e solitária. E elas serão a voz de tua justificação ou de tua condenação. Neste dia, do teu juízo particular, tuas palavras, que não serão mais tuas, é que falarão por ti, em todos os tons, com todas as nuances, em todas as línguas. Elas serão como um hino de glória a Deus ao sustentarem a tua alma generosa; elas serão como um grito de maldição eterna ao sufocarem de pavor a tua alma ensandecida. Porque 'no dia do juízo os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido' (Mt, 12, 36). Que palavras foram as tuas palavras hoje?