quinta-feira, 15 de setembro de 2022

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XLVIII)

 

RAINHA DOS PROFETAS, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

14 DE SETEMBRO - EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

  

'Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim' (Jo 12, 32)

A festa da Exaltação da Santa Cruz tem origem na descoberta do Sagrado Lenho por Santa Helena, mãe do imperador Constantino, e na dedicação de duas basílicas construídas por ele, uma no Calvário e outra no Santo Sepulcro, dedicação esta realizada no dia 14 de setembro do ano de 335. No ano de 629, a celebração tomou grande vulto com a restituição da Santa Cruz pelo imperador Heráclio, retomada dos persas que a haviam furtado. Levada às costas pelo próprio imperador, de Tiberíades até Jerusalém, a Santa Cruz foi entregue, então, ao Patriarca Zacarias de Jerusalém.

O imperador Constantino e sua mãe, Santa Helena, veneram a Santa Cruz 

Conta-se, então, que o imperador Heráclio, coberto de ornamentos de ouro e pedrarias, não conseguia passar com a cruz pela porta que conduzia até o Calvário; quanto mais se esforçava nesse sentido, mais parecia ficar retido no mesmo lugar. Zacarias, diante desse fato, ponderou ao imperador que a sua ornamentação luxuosa não refletia a humildade de Cristo. Despojado, então, da vestimenta, e com pés descalços, o imperador completou sem dificuldades o trajeto final, encimando no lugar próprio a Cruz no Calvário, de onde tinha sido retirada pelos persas.

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo converteu a Cruz de um objeto de infâmia e repulsa na glória maior da fé cristã. A Festa da Exaltação da Cruz celebra, portanto, o triunfo de Jesus Cristo sobre o mundo e a imprimação do Evangelho no coração de toda a humanidade.

SALVE CRUX SANCTA

Salve, crux sancta, salve mundi gloria,
vera spes nostra, vera ferens gaudia,
signum salutis, salus in periculis,
vitale lignum vitam portans omnium.

Te adorandam, te crucem vivificam,
in te redempti, dulce decus sæculi,
semper laudamus, semper tibi canimus,
per lignum servi, per te, lignum, liberi.

Originale crimen necans in cruce
nos a privatis, Christe, munda maculis, 
humanitatem miseratus fragilem 
per crucem sanctam lapsis dona veniam.

Protege salva benedic sanctifica 
populum cunctum crucis per signaculum, 
morbos averte corporis et animae 
hoc contra signum nullum stet periculum.

Sit Deo Patri laus in cruce filii 
sit coequalis laus sancto spiritui, 
civibus summis gaudium et angelis 
honor sit mundo crucis exaltatio. Amen.


Salve Santa Cruz, salve ó glória do mundo, nossa verdadeira esperança que traz verdadeira alegria, sinal da salvação, proteção nos perigos, árvore viva que suporta a vida de todos nós. 

Nós vos adoramos, em vós nos vivificamos; por vós redimidos, no esplendor perene dos séculos, vos saudamos e louvamos para todo o sempre, escravos pelo lenho e, por vós, ó Lenho, libertados.

Vós que vencestes o pecado original na cruz, livrai-nos, ó Cristo, de nossas próprias culpas, tende piedade da nossa miséria humana e, pela Santa Cruz, perdoai os que caíram.  

Protegei, salvai, abençoai e santificai todo o vosso povo pelo Sinal da Cruz, protegei-nos contra todo o mal do corpo e da alma e que perigo algum prevaleça diante este Sinal.

Louvado seja Deus Pai na Cruz do seu Filho! Louvor igual seja dado ao Espírito Santo! Que a Exaltação da Cruz seja a suprema alegria dos eleitos e dos anjos no Céu e um esplendor de glória para o mundo. Amém.
(tradução do autor do blog)

terça-feira, 13 de setembro de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (170/172)

 

170. ZOMBAVAM DE NOÉ

Eram tantos os pecados do mundo que um dia Deus se arrependeu de ter criado o homem. Chamou a Noé, que era justo, e ordenou-lhe que construísse um grande navio: a arca. Cento e vinte anos foram gastos na sua construção. 

São João Crisóstomo descreve as zombarias que os homens corrompidos dirigiam a Noé. Diziam: 'Caduco! ó velho caduco! ó falso profeta! Não vês, como o céu está limpo e sereno, enquanto tu ameaças com o dilúvio?' Noé, porém, continuava, martelando sem descanso. E aqueles homens diziam: 'Todos anseiam pelo ar livre e o céu espaçoso e este está a fazer uma casa de madeira para meter-se vivo nela com sua família, com seus bens e com os animais!'

Noé termina a arca e entra, com aquela gente má ao redor rindo e escarnecendo. Mas, depois de sete dias, as cataratas do céu abriram-se com estrondo, todos os rios transbordaram e as ondas do mar inundaram a terra. Todos pereceram no dilúvio universal; mas a arca flutuava sobre as águas e Noé louvava a Deus. 

Nossa vida na terra é como a arca de Noé. Toda boa obra, que praticamos, é motivo de zombaria e de perseguições por parte dos inimigos de Deus. Não recuemos, não nos envergonhemos do Evangelho, não nos deixemos vencer pelo respeito humano.

171. FASCINADO PELO DINHEIRO

Num domingo, em Nova York, um excêntrico milionário chamou um de seus empregados e lhe disse: 'Sobre esta mesa há um milhão de notas de um dólar. Tudo será teu, se conseguires contá-las até meia-noite e, olha, ainda são seis horas da manhã'. O empregado ficou por uns instantes atordoado diante daquela mesa coberta de notas. Em seguida, com mãos febris, começou a contar: um, dois, dez, cem... um pacote, dois pacotes... e quase que nem respirava. 

Ficou ali com a cabeça reclinada, o olhar fixo, o corpo imóvel, somente as mãos se agitando, indo e vindo tão rapidamente como a regularidade de uma máquina. Os sinos tocam para a santa missa, chamando o povo. Ele, debruçado sobre o dinheiro, não ouve nada. Passam as horas... é meio-dia. Deve sentir fome, mas nem pensa em comer. Conta e conta... Põe-se o sol. Onde estarão os seus filhos? Terão o que comer? Chega a noite... e as ruas estão desertas e o prédio está coberto pelo silêncio e pelas sombras. 

Um serviçal acende a luz e leva-lhe um copo de vinho. O contador nem o percebe. Os olhos já estão pesados, os nervos retraem-se, os músculos das mãos entorpecem. Está próxima a meia-noite. Ele conta e conta sempre. Diante dele, o milionário o contempla com frieza e, de repente, toma-lhe as mãos e grita: 'Basta! É meia-noite'. O infeliz não tinha chegado nem à metade de sua meta. Dilata horrivelmente os olhos sem luz e um ataque cardíaco o acomete e o faz cair morto.

Pobre louco que se deixara alucinar e seduzir pelo ouro! Em lugar do que esperava, só encontrou desenganos e a morte. Destes loucos há por aí inúmeros. Para a igreja, para a missa, para a alma, não têm tempo: devem ganhar dinheiro! Até que um dia vem o demônio e lhe diz: 'Basta!'

172. A VOZ DO SANGUE CRISTÃO

O sangue dos mártires dá testemunho da verdade católica. Não foram raros os episódios como o seguinte. Nas catacumbas, no dia de Páscoa, muitíssimos cristãos estavam reunidos e assistiam à missa do Pontífice Caio. Durante a elevação da hóstia, enquanto o povo a adorava, ouviram-se gritos: 'Morte aos Cristãos!' Eram os gritos dos beleguins de Diocleciano que ali penetraram por traição. 

Sem saírem do lugar, a multidão continuava adorando a Cristo na Eucaristia. Os soldados com suas espadas iam ferindo à direita e à esquerda. 'Filhos caríssimos' - exclamou o Pontífice Caio - 'Cristo morreu e ressuscitou por nós. Coragem! Ele quer nos coroar com Ele'. E todos a uma voz gritaram: 'Somos cristãos'. A matança continuou, mas ninguém vacilou. As mães, segurando junto ao peito os seus filhinhos, diziam: 'Vamos para o céu; o Senhor Jesus vem nos buscar'.

O Papa Caio disse por sua vez: 'Sou cristão' e, ao ser decapitado, sua cabeça rolou pelos degraus do altar. Morreram os cristãos, morreu o papa... mas a Igreja não morre! O tempo dos mártires não terminou. Em nossos dias, temos outros mártires gloriosos, cujo sangue faz brilhar a nossa fé, fortalece a nossa confiança e entusiasma o nosso ardor e só faz crescer o nosso amor à Igreja.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XLVII)

RAINHA DOS PATRIARCAS, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

 

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

PALAVRAS ETERNAS (XII)

'Não existiu arrependimento para os anjos depois da queda, como também não existe arrependimento para os homens após a morte'

(S. João Damasceno)

domingo, 11 de setembro de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Vou agora levantar-me, volto à casa do meu pai' (Sl 50)

 11/09/2022 - Vigésimo Quarto Domingo do Tempo Comum 

42. PAI DE MISERICÓRDIA


Neste Domingo, três parábolas de Jesus nos falam do perdão e da misericórdia, numa das páginas mais belas dos Evangelhos, que inclui a parábola do filho pródigo. Que poderia muito bem ser a parábola da verdadeira conversão. Ou, com muito mais correção e sentido espiritual, a parábola do pai de misericórdia. Três personagens: o filho mais velho e o filho mais novo que, em meio às dolorosas experiências da vida humana, se reencontram no grande abraço da misericórdia do pai.

Com a parte da herança que lhe cabe, o 'filho mais novo' opta pelo caminho fácil e tortuoso dos prazeres e vícios humanos, dos instintos insaciados, do vazio do mal. E esbanja, na via dolorosa do pecado, os bens que possuía: a alma pura, o coração sincero, os nobres sentimentos, a fortuna da graça. E, a cada passo, se afunda mais e mais no lodo das paixões humanas desregradas, da vida consumida no nada. Mas, eis que chega o tempo da reflexão madura, da conversão sincera, do caminho de volta ao Pai: 'Pequei contra ti; já não mereço ser chamado teu filho' (Lc 15, 18-19).

O pai nem ouve as palavras do filho pródigo; no abraço da volta, somente ecoa pelos tempos a misericórdia de Deus: 'Haverá maior alegria no Céu por um pecador que fizer penitência que por noventa e nove justos que não necessitem de arrependimento' (Lc 15, 7). Diante do filho que volta, um coração de misericórdia aniquila a justiça da razão: 'Trazei depressa a melhor túnica para vestir o meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés.' (Lc, 15, 22). Como as talhas de água que se tornam vinho, a conversão verdadeira apaga e aniquila o mal desejado e consumido outrora: na reconciliação de agora desfaz-se em pó as misérias passadas de uma vida de pecado.

O 'filho mais velho' não se move por igual misericórdia e se atém aos limites difusos da justiça humana. Na impossibilidade absoluta de compreender o júbilo do pai com o filho que volta, faz-se vítima e refém da soberba e do orgulho humano: 'tu nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos' (Lc, 15,29). O filho mais novo, que estava tão longe, está lá dentro outra vez. E o filho mais velho, que sempre lá esteve, recusa-se agora a entrar na casa do pai. Tal como no caso do primeiro filho, o pai de misericórdia vem, mais uma vez, buscar a ovelha desgarrada no filho mais velho que está fora e não quer entrar. Porque Deus, pura misericórdia, quer salvar a todos os seus pobres filhos afastados de casa e espera, com paciência e amor infinitos, a volta dos filhos pródigos e a volta dos seus filhos que creem apenas na justiça dos homens.

sábado, 10 de setembro de 2022

SOBRE EVITAR AS OCASIÕES DE PECADO

Um certo Tróquilo, discípulo do filósofo grego Platão (+ 347 a. C.), tendo visto um dia o mar calmo, disse: 'Darei um belo passeio no mar' e, subindo num barquinho, foi para o seu dia de prazer. Mas eis que de repente se levantou uma furiosa borrasca; por isso o barco ficou todo à deriva e o pobre filósofo esteve por um fio de afogar-se. Contudo, por um grande milagre, conseguiu salvar-se. Chegando em casa tomado de pavor, sabeis qual foi a primeira coisa que fez? Fez logo murar duas janelas de seu palácio, que davam para o mar. Mas por quê? Bem sabia ele o porquê. Era para não olhar mais além daquelas janelas: assim não lhe vinham as tentações de se meter mais no mar com o risco de ali morrer.

O que fez Tróquilo também vós deveis fazer, depois de escapar do naufrágio do pecado com a confissão: deveis, pois, fugir às ocasiões perigosas. Tróquilo disse: 'No mar nunca mais, pois corro o risco de perder a vida'. Ao recitardes o ato de dor, assim o terminais: 'Proponho fugir às ocasiões de pecado'. Portanto, deveis manter a promessa que fazeis a Deus.

Denomina-se ocasião de pecado qualquer coisa ou circunstância que induz facilmente o homem a pecar; ou então o incita, o puxa, e o coloca no perigo de cometer o mal. Quereis saber quais são as principais ocasiões? Ei-las:

● os maus companheiros – que têm conversas maldosas ou procuram induzir a ações ilícitas.
● Os livros e jornais – que falam mal da religião ou tratam de coisas desonestas
● as figuras inconvenientes – que também se veem nas vitrines de certos negócios
● os espetáculos, os jogos e divertimentos – que são poucos honestos
● o ócio – que é denominado o pai dos vícios e dos pecados
● a excessiva curiosidade – que facilmente leva os jovens a pensamentos, desejos e atos maldosos

E assim por diante... Tudo aquilo, em suma, que induz ao mal e se procura voluntariamente, se diz ocasião próxima do pecado. Há a obrigação de fugir às ocasiões? Certamente que há essa obrigação. O Espírito Santo adverte que é preciso fugir ao pecado como se foge diante de uma serpente: quasi a facie colubri fuge peccata (Eclo 21, 2). Ora, do mesmo modo que evitamos não só a picada das serpentes, como até procuramos não tocá-las, também devemos fugir não apenas ao pecado, mas até das ocasiões de pecado.

Jesus Cristo no Evangelho diz: 'Se tua mão, ou teu pé te servem de escândalo, corta-os fora e joga-os longe de ti' (Mt 18, 8). E depois ainda: 'Se teu olho te é ocasião de pecado, tira-o, e joga-o longe de ti' (ibid. 9). E por quê? Porque, responde Jesus, é melhor com um só olho, uma única mão e um só pé ir ao Paraíso, do que com dois olhos, duas mãos e dois pés precipitar-se no inferno.

Que quer dizer Jesus Cristo com isso? Que devemos mesmo arrancar os olhos, cortar as mãos e os pés? Não! Mas nos quer fazer compreender que devemos afastar-nos, separar-nos, subtrair-nos das coisas, dos lugares, das pessoas que nos sejam grave perigo para a alma e próxima ocasião de pecar. E é preciso fugir a tais coisas mesmo que nos sejam queridas como os olhos e necessárias como os pés e as mãos. Por isso insiste ainda o Senhor, dizendo: 'Quem está longe dos laços (quer dizer, das ocasiões e dos perigos de pecar), andará salvo estará seguro' - qui cavet laqueos, securus erit (Pv 11,15). Entretanto, 'quem ama o perigo (isto é, quem o procura voluntariamente), nele perecerá' - qui amat periculum, in illo peribit' (Eclo 3,27).

(Excertos da obra 'A Palavra de Deus em Exemplos', de G. Montarino)