terça-feira, 17 de agosto de 2021
segunda-feira, 16 de agosto de 2021
A COVARDIA É UM PECADO?
Qual é o modelo atual de um católico autêntico? Ser equilibrado, tolerante, prudente, tranquilo, ecumênico. Não seria melhor falar claramente para apenas ser covarde? Por que é exatamente esse o modelo que se compra e que se vende do católico formal: ser covarde e manusear essa covardia dissimuladamente em atributos tais como indiferentismo, tolerância, docilidade e mornidão. O problema - gravíssimo problema - é que a covardia é um grande pecado, por se opor radicalmente ao amor e à caridade.
Veio, por fim, o que recebeu só um talento: ‘Senhor, disse-lhe, sabia que és um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. Por isso, tive medo e fui esconder teu talento na terra. Eis aqui, toma o que te pertence’. Respondeu-lhe seu senhor: ‘Servo mau e preguiçoso! Sabias que colho onde não semeei e que recolho onde não espalhei. Devias, pois, levar meu dinheiro ao banco e, à minha volta, eu receberia com os juros o que é meu. Tirai-lhe este talento e dai-o ao que tem dez. Será dado ao que tem e terá em abundância. Mas ao que não tem será tirado mesmo aquilo que julga ter. E a esse servo inútil, jogai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes’ (Mt 25, 24 - 30).
O servo do único talento associou medo e covardia contra aquele que lhe parecia ser 'um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste'. O medo em si não é pecado, o pecado está na covardia que pode alimentar ou ser alimentada pelo medo, particularmente quando isso implica não fazer o bem, por omissão ou por deliberação, tanto mais grave quanto maiores estas consequências. E não pelo medo, mas pela covardia, recebeu do Senhor a dura sentença: 'jogai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes'.
Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: 'Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?' Disse-lhe Jesus: 'Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos'. 'Quais?' – perguntou ele. Jesus respondeu: 'Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo'. Disse-lhe o jovem: 'Tenho observado tudo isso desde a minha infância. Que me falta ainda?' Respondeu Jesus: 'Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!' Ouvindo essas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens. Jesus disse então aos seus discípulos: 'Em verdade vos declaro: é difícil para um rico entrar no Reino dos Céus!' (Mt 19, 16 - 23).
A covardia peca contra o amor, contra a perseverança no amor. A covardia peca contra a caridade. E soma a si padrões de egoísmo, de negligência e de inconstância contra o amor e a caridade. Ao jovem rico dos Evangelhos, a perfeição de amar estava muito acima das suas forças, muito além dos limites do que lhe era aceitável. A sua covardia derivou da sua resistência ao domínio da graça, à perda da audácia de se lançar 'em águas mais profundas' e de atravessar o mar revolto sob a tormenta inesperada: fazer o que era possível bastava e sua tristeza decorreu do desgosto de ouvir de Jesus um desafio que se desfez por completo diante da sua incapacidade de superar seus estreitos limites de santificação pessoal.
A covardia torna-se um pecado monstruoso quando é moldada e tangida pelo indiferentismo religioso, pela mornidão do caráter, pelo ecumenismo parvo, pelo respeito humano bajulador, pela negação explícita aos ditames da Verdade e da Fé. A covardia é irmã siamesa da negligência (Eclo 4,34) e filha órfã da tibieza, cuja destinação é ser a porta de entrada da segunda morte, invocando para si a gravidade extrema desse pecado quase esquecido:
'Os tíbios, os infiéis, os depravados, os homicidas, os impuros, os maléficos, os idólatras e todos os mentirosos terão como quinhão o tanque ardente de fogo e enxofre, a segunda morte' (Ap 21, 8).
São recorrentes os exemplos que demonstram que os homens atuais tendem a ser modelos de mornidão e covardia. Embaraçam-se em meias verdades, fraudam a realidade dos desafios e dos obstáculos cotidianos, moldam-se pela secura dos sentimentos e pela volatilidade das causas fáceis e mais comezinhas. Nada de sofrimento, nada de penitência, nada de sacrifício. Masmorras diante da caridade e do amor. Nestas prisões mortuárias, não podem então ser peregrinos a caminho (estreito caminho) do Reino dos Céus. Porque os Céus definitivamente não afagam os espíritos domados pela covardia.
domingo, 15 de agosto de 2021
EVANGELHO DO DOMINGO
'À vossa direita se encontra a rainha,
com veste esplendente de ouro de Ofir' (Sl 44)
15/08/2021 - SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
38. ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
'O Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor'
Esta efusão de graças segue Maria na Visitação, pois ela é o reflexo da presença e das graças do Espírito Santo que são levadas à sua prima Isabel e à criança em seu ventre. No instante da purificação de São João Batista, o Precursor, Santa Isabel foi arrebatada por inteira pelo Espírito Santo: 'Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo' (Lc 1,41). Por meio de uma extraordinária revelação interior, Santa Isabel confirma em Maria o repositório infinito das graças de Deus: 'Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu' (Lc 1,43).
E é ainda nesta plenitude de comunhão com o Espírito Santo, que Maria vai proclamar o seu Magnificat: 'A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre' (Lc 1, 46-55).
Mãe da humildade, mãe da obediência, mãe da fé, mãe do amor. Mãe de todas as graças e de todos os privilégios, Maria foi contemplada com o dogma de fé divina e católica da assunção, em corpo e alma, à Glória Celeste. Dentre as tantas glórias e honras a Maria, a Igreja celebra neste domingo a Serva do Senhor como Nossa Senhora da Assunção.
sábado, 14 de agosto de 2021
GLÓRIAS DE MARIA: ASSUNÇÃO AO CÉU
A Assunção de Maria - Palma Vecchio (1512 - 1514)
"Pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma de revelação divina que a Imaculada Mãe de Deus sempre Virgem Maria, cumprido o curso de sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à Glória celeste”.
(Papa Pio XII, na Constituição Dogmática Munificentissimus Deus, de 1º de novembro de 1950)
A solenidade da Assunção da Virgem Maria (celebrada pela Igreja no dia 15 de agosto) existe desde os primórdios do catolicismo e, desde então, tem sido transmitida pela tradição oral e escrita da Igreja. Trata-se de um dos grandes e dos maiores mistérios de Deus, envolto por acontecimentos tão extraordinários que desafiam toda interpretação humana:
1. Nossa Senhora NÃO PRECISAVA morrer, uma vez que era isenta do pecado original;
2. Nossa senhora QUIS MORRER para se assemelhar em tudo ao seu Filho, pela aceitação de sua condição humana mortal e para mostrar que a morte cristã é apenas uma passagem para a Vida Eterna;
3. Nossa Senhora NÃO PODIA passar pela podridão natural da carne tendo sido o Sacrário Vivo do próprio Deus;
4. A morte de Nossa Senhora foi breve (é chamada de 'Dormição') e ela foi assunta ao Céu em corpo e alma;
5. Aquela que gerou em si a vida terrena do Filho de Deus foi recebida por Ele na glória eterna;
6. Nossa Senhora foi assunta ao Céu pelo poder de Deus; a ASSUNÇÃO difere assim da ASCENSÃO de Jesus, uma vez que Nosso Senhor subiu ao Céu pelo seu próprio poder.
Louvor a Ti, Filha de Deus Pai,
Louvor a Ti, Mãe do Filho de Deus,
Louvor a Ti, Esposa do Espírito Santo,
Louvor a Ti, Maria, Tabernáculo da Santíssima Trindade!
Louvor a Ti, Mãe do Filho de Deus,
Louvor a Ti, Esposa do Espírito Santo,
Louvor a Ti, Maria, Tabernáculo da Santíssima Trindade!
15 DE AGOSTO - NOSSA SENHORA DO PILAR
A devoção a Nossa Senhora do Pilar tem origem na Espanha. Segundo a Tradição, o apóstolo São Tiago Maior, enviado à Espanha para anunciar o Evangelho, estava frustrado pelos resultados limitados de sua atuação, quando teve uma visão da Virgem incentivando-o no cumprimento de sua missão. Nossa Senhora lhe apareceu encimando uma coluna (pilar), às margens do Rio Ebro, na região de Saragoza. Nossa Senhora do Pilar é invocada como sendo o Refúgio dos Pecadores e a Consoladora dos Aflitos. Na Espanha e nos países ibéricos, a festa é comemorada em 12 de outubro.
Nossa Senhora do Pilar é Padroeira da cidade de Ouro Preto/MG, maior acervo arquitetônico barroco do Brasil e patrimônio cultural da humanidade. A festa de Nossa Senhora do Pilar em Ouro Preto é comemorada em 15 de agosto, data de sua entronização. Eu visitei e conheço bem a Igreja do Pilar, a mais imponente e mais rica de Minas Gerais. Recentemente (2012), a Paróquia do Pilar em Ouro Preto comemorou 300 anos como comunidade paroquial (1712 - 2012), 300 anos com Maria, a Senhora do Pilar. À cidade histórica mais importante do Brasil, a minha homenagem nestes versos à sua Padroeira.
Nossa Senhora do Pilar
Estão abertas as portas da Igreja do Pilar.
Entro. E logo nos meus primeiros passos,
meu olhar encontra no mais alto do altar
a Santa Virgem com Jesus nos braços.
Hesito. Diante da bela imagem da Senhora,
de repente, imensa inquietude me possui:
pois o homem que inda sou traz lá de fora
o pobre pecador que eu sempre fui.
Mas, do Vosso olhar materno não viceja
revolta alguma, nada de condenação:
Este caminho que atravessa a igreja
É uma via crucis que só tem perdão!
Sob o Vosso olhar de Mãe na minha fronte,
avanço sem medo a tão grande tesouro:
Sois Porta da terra, aberta para o horizonte,
Sois Pilar do Céu, entronizada em ouro.
Se inda há algo em mim que me pertença,
por mais louvável, quanto mais profano,
que seja apenas o tênue fio da presença,
do amor que pulsa no meu peito humano.
que seja apenas o tênue fio da presença,
do amor que pulsa no meu peito humano.

E, assim, diante do Vosso altar, prostrado,
Padroeira de Ouro Preto, ouso suplicar:
que eu seja por Vosso Filho muito amado,
como eu Vos amo, ó Senhora do Pilar!
(Arcos de Pilares)
CALENDÁRIO DOS SANTOS
14 DE AGOSTO - SÃO MAXIMILIANO MARIA KOLBE
(acessar links dos santos do mês, já abordados em postagens específicas em SENDARIUM, na aba Calendário dos Santos, situada na barra lateral direita do blog)
sexta-feira, 13 de agosto de 2021
O SÍNODO DO CADÁVER
Um dos episódios mais bizarros da história da Igreja consistiu na pantomina de um julgamento realizado sobre o cadáver de um papa. Sim, o ódio diabólico e a vingança brutal podem atingir os limites do imponderável. O papa Formoso I (891 - 896) foi o pontífice da Igreja num período crítico, marcado por desordens políticas de toda ordem no continente europeu e, mais particularmente, por uma disputa acirrada entre Roma e Constantinopla sobre qual deveria ser efetivamente a sede da Igreja Ocidental.
Neste contexto político de polarização absurda, o papa Formoso faleceu em outubro de 896. O seu sucessor - Bonifácio VI - faleceu apenas duas semanas após ocupar a cátedra de Pedro, sendo sucedido por Estêvão VI (896 - 897), que promoveu, então, o chamado 'sínodo do cadáver' (synodus horrenda), amparado por um preciosismo técnico de um farsante: Formoso I seria um papa inválido porque não poderia ser bispo de Roma (premissa do papado) por ser bispo de outra diocese (diocese do Porto) e, mais ainda, sendo condenado e destituído de todas as suas prerrogativas, os atos do papa Formoso seriam anulados, o que incluiria a consagração do próprio papa Estêvão VI como bispo que havia sido feita por Formoso I, livrando, assim, o sucessor da mesma penalização que estava sendo então atribuída a Formoso (ou seja, Estêvão VI também era papa sem ser bispo de Roma, por impedimento devido ao fato de também ser bispo de outra diocese, indicado e consagrado à época pelo papa Formoso I).
O sínodo foi realizado como um teatro de horror. O cadáver de Formoso I foi exumado e conduzido à Basílica de São João de Latrão, em Roma. O cadáver foi adornado com todos os adereços papais e posicionado sobre um trono para, presencialmente e ainda que morto, Formoso I pudesse ser julgado por ter usurpado ilegalmente o papado por já ser bispo na época em que foi eleito.
O julgamento resultou na condenação formal do papa Formoso I e a consequente anulação de todas as suas medidas, atos e decisões como papa, que foram declaradas inválidas. A pantomina trágica se consumou com medidas adicionais: as vestes papais foram arrancadas do cadáver, três dedos foram cortados de sua mão direita (utilizados nas consagrações que havia feito) e o corpo foi enterrado em um cemitério destinado a indigentes, para ser removido poucos dias depois para ser jogado no rio Tibre.
A revolta pública contra esse espetáculo macabro levou à destituição de Estêvão VI. Seu sucessor, Teodoro II (897) convocou um outro sínodo, em novembro de 897, que anulou o 'sínodo do cadáver', reabilitou a figura do papa Formoso I cujo corpo, que havia sido recuperado das águas do rio Tibre e reenterrado, foi exumado mais uma vez e enterrado definitivamente, agora com os devidos paramentos pontifícios, na Basílica de São Pedro, em Roma.
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