quarta-feira, 13 de setembro de 2017

FÁTIMA EM FATOS E FOTOS (XII)

56. Como se deu a quinta aparição de Nossa Senhora?

Na manhã do dia 13 de setembro de 1917, uma enorme multidão se comprimia por todos os caminhos e estradas que interligavam Aljustrel à Fátima e à Cova da Iria, incluindo peregrinos de aldeias próximas e lugares distantes, pessoas doentes, padres e seminaristas, gente do povo e de mais fortuna. As três crianças tiveram grandes dificuldades para fazer o percurso desde Aljustrel até a azinheira das aparições, tantas foram as interrupções durante a caminhada, diante de tanta gente querendo vê-las, falar com elas, fazer-lhes chegar à Nossa Senhora pedidos incessantes de curas e conversões... 

Chegando finalmente ao local das aparições, as três crianças começaram a rezar o terço junto com toda a multidão (estimada em mais de 20.000 pessoas). Perto do meio dia de um dia ensolarado e sem nuvens no céu, o silêncio da Cova da Iria somente era quebrado pelo suave murmúrio da prece comum de uma grande multidão. E, então, as crianças perceberam o mesmo relâmpago e a mesma luz brilhante* das outras vezes e, em seguida, viram Nossa Senhora pousada sobre a pequena azinheira.


* muitas pessoas presentes perceberam claramente o movimento suave de um globo luminoso deslocando-se no espaço, vindo do nascente até o local das aparições (um testemunho formal deste fato foi dado pelo Monsenhor João Quaresma, então vigário geral da diocese de Leiria); muitas outras pessoas, entretanto, não perceberam este evento no local (um deles foi o Cônego Manuel Nunes Formigão, da Catedral de Lisboa e professor do Seminário de Santarém).

57. Como foi o diálogo de Lúcia com Nossa Senhora nesta quinta aparição?

A quinta aparição foi a mais breve de todas; assim que as crianças lhe viram, Nossa Senhora disse à Lúcia:

– Continuem a rezar o terço, para alcançarem o fim da guerra. Em outubro virá também Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores e do Carmo, São José com o Menino Jesus, para abençoarem o mundo. Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que durmais com a corda. Trazei-a só durante o dia.
– Têm-me pedido para lhe pedir muitas coisas; a cura de alguns doentes, de um surdo mudo...
– Sim, alguns curarei, outros não. Em outubro, farei o milagre para que todos acreditem.

E, como das outras aparições, começou a se elevar suavemente até desvanecer-se por completo na distância.

58. Em que consistiram os interrogatórios do Cônego Manuel Nunes Formigão com as crianças?

O Cônego Manuel Nunes Formigão Júnior* estivera presente na Cova da Iria por ocasião da quinta aparição, como enviado do Patriarcado de Lisboa para averiguar a natureza dos acontecimentos que estavam ocorrendo em Fátima e que, então, já haviam se tornado públicos por todo o país. Diante da assertiva da visão do 'globo luminoso' testemunhado por outros sacerdotes presentes à aparição de setembro e da manifesta expectativa de um milagre na aparição seguinte, resolveu investigar mais a fundo os acontecimentos interrogando diretamente os próprios videntes. Neste propósito, em duas ocasiões distintas, 27 de setembro e 11 de outubro de 1917, deslocou-se de Lisboa até Aljustrel, à casa das famílias dos videntes, para interrogá-los diretamente sobre os acontecimentos locais das aparições de Nossa Senhora.


* Nasceu em Tomar a 1 de janeiro de 1883. Foi professor do Seminário e do Liceu de Santarém. Em 1922, foi nomeado bispo de Leiria e membro da Comissão Canônica para o estudo dos acontecimentos de Fátima, sendo o autor do Relatório Final destas investigações. Em 1926, fundou a Congregação das Religiosas Reparadoras de Nossa Senhora Dores de Fátima. Faleceu, em Fátima, a 30 de janeiro de 1958.

59. Como se deu o primeiro interrogatório* do Cônego Manuel Nunes Formigão com as crianças?

O primeiro interrogatório foi feito aos videntes Lúcia, Francisco e Jacinta e também a Maria Rosa, mãe de Lúcia, em 27 de setembro de 1917: 'Eram três horas da tarde quando me apeei do trem que de Torres Novas me conduzira por Vila Nova de Ourém à humilde povoação... À distância de dois quilômetros da igreja paroquial e do presbitério, num insignificante lugarejo chamado Aljustrel, pertencente à freguesia, ficam situadas perto uma da outra, as modestas habitações das famílias dos videntes' [Doc. 10 - Documentação Crítica de Fátima].


O cônego dirigiu-se primeiro à casa das duas crianças mais novas, mas estas estavam ausentes. Dirigiu-se, então, à casa da Lúcia, que também estava fora, a vindimar numa pequena propriedade de sua família. Alguém se prestou logo a ir chamá-la de ordem da mãe. Neste período, chegaram à casa de Lúcia as duas crianças mais novas, informadas pelos vizinhos da presença do sacerdote. O cônego interrogou primeiro a Francisco e depois a Jacinta e assim descreve as crianças:

'A menina chama-se Jacinta de Jesus, tem sete anos de idade e é filha de Manuel Pedro Marto e de Olímpia de Jesus. Bastante alta para a sua idade, um pouco delgada sem se poder dizer magra, de rosto bem proporcionado, tez morena, modestamente vestida, descendo-lhe a saia até à altura dos artelhos, o seu aspecto é o de uma criança saudável, acusando perfeita normalidade no seu todo físico e moral. Surpreendida com a presença de pessoas estranhas, que me tinham acompanhado e que não esperava encontrar, a princípio mostra um grande embaraço, respondendo, por monossílabos, e num tom de voz quase imperceptível, às perguntas que eu lhe dirijo. O irmão, rapaz de nove anos de idade, entrou com um certo desembaraço no quarto, onde estávamos, conservando o barrete na cabeça, decerto por não se lembrar de que o devia tirar... Convidei-o a sentar-se numa cadeira ao meu lado, obedecendo imediatamente sem nenhuma relutância'. 

Lúcia chegou meia hora depois de terminado o interrogatório de Jacinta de Jesus, e foi interrogada na sequência, sendo descrita pelo sacerdote nos seguintes termos: 'Mais alta e mais nutrida que as outras duas crianças, de tez mais clara, robusta e saudável, apresenta-se diante de mim com um desembaraço que contrasta singularmente com o acanhamento e a timidez excessiva da Jacinta. Singelamente vestida como esta, a sua atitude não denota e o seu rosto não traduz nenhum sentimento de vaidade nem de confusão. Sentando-se, a um aceno meu, numa cadeira, ao meu lado, presta-se da melhor vontade a ser interrogada sobre os acontecimentos de que ela é a principal protagonista, sem embargo de se sentir visivelmente fatigada e abatida, mercê das visitas incessantes que recebe e dos inquéritos repetidos e prolongados a que é submetida'

* a versão completa dos diálogos deste primeiro interrogatório será publicada em postagem independente neste blog.


60. Como se deu o segundo interrogatório* do Cônego Manuel Nunes Formigão com as crianças?

O segundo interrogatório foi aplicado à Lúcia e à sua mãe no dia 11 de outubro de 1917. Outras pessoas foram entrevistadas pelo cônego no sentido de fornecer informações gerais sobre a religiosidade e os costumes das famílias dos videntes: 'Uma charrete me transportou a Vila Nova de Ourém, de onde depois de haver trocado impressões com o Rev. Pároco daquela Vila sobre os acontecimentos que motivavam a minha viagem, segui noutra charrete para a Fátima, onde me apeei às 11 horas da noite, dirigindo-me imediatamente para o lugar de Montelo, a dois quilômetros de distância.•.. No dia seguinte de manhã propus-me ir interrogar novamente os videntes a Aljustrel ... chegado àquele lugar, dirigi-me imediatamente a casa da Lúcia' [Doc. 11 - Documentação Crítica de Fátima].

Nesta altura, o Cônego Formigão já assumia claramente uma posição de firme crença nas aparições de Fátima, a qual já designava como  'a Lourdes ou a La Salette Portuguesa': 'Embora receasse que as crianças fossem vítimas de uma alucinação, hipótese que aliás tudo me fazia repelir, ou que os acontecimentos extraordinários que ali se realizavam fossem provocados pelo espírito das trevas para fins desconhecidos, no meu espírito ia-se radicando cada vez mais a convicção de que a Fátima era o local destinado pela Rainha do Céu, Padroeira de Portugal, para teatro de novos prodígios da sua bondade e misericórdia' [Doc. 11 - Documentação Crítica de Fátima].

 * a versão completa dos diálogos deste segundo interrogatório será publicada em postagem independente neste blog.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

CATECISMO ILUSTRADO DE PIO X

O chamado Catecismo Ilustrado de Pio X é assim conhecido porque foi publicado poucos anos após a encíclica Acerbo Nimis, em que o Papa São Pio X atribuía à ignorância das verdades da fé cristã como sendo a principal fonte dos males que afligiam o seu tempo (e, em escala miseravelmente maior, o nosso tempo!). Neste contexto, o papa recomendava explicitamente: 'Pertence, pois, ao catequista escolher e tratar as verdades relativas à fé ou aos costumes cristãos e pô-las em evidência em todos os seus aspectos. Como, por outro lado, o fim do ensino deve ser a emenda da vida, o catequista estabelecerá uma comparação entre os preceitos; depois, com a ajuda de exemplos apropriados e sabiamente escolhidos nas Sagradas Escrituras, na História Eclesiástica ou na vida dos santos, mostrará aos seus auditores e far-lhe-á como que tocar com o dedo, a regra segundo a qual devem ordenar a sua conduta; terminará exortando-os a detestar e fugir do vício, e a praticar a virtude'. 


O método exigia um conhecimento integrado dos fundamentos da vida cristã, dos sacramentos, dos mandamentos da Lei de Deus e da Igreja, dos Novíssimos do homem, tudo isso temperado pelos ensinamentos das Sagradas Escrituras, da História da Igreja e de exemplos da vida dos santos. O Catecismo Ilustrado foi proposto exatamente para fornecer este conhecimento integrado, mediante textos divididos em tópicos específicos, numa sequência estruturada e, principalmente, associados a belíssimas imagens que ilustravam os principais aspectos de cada tema abordado. Além de uma Introdução, o Catecismo Ilustrado é dividido em 4 partes: O Símbolo dos Apóstolos, Os Sacramentos, Os Mandamentos de Deus e da Igreja e Diversos (compreendendo 4 divisões de tópicos: Oração - Os Últimos Fins do Homem - Os Pecados - As Virtudes e as Obras de Misericórdia), comportando um total de 68 textos e imagens.


Neste blog, todos os 68 textos e imagens foram apresentados ao longo de 32 postagens, desde setembro/2014 até fevereiro/2016 (no marcador Breviário Digital), rearranjados numa formatação especial que buscou reproduzir a impressão original do Catecismo. Agora todo o Catecismo Ilustrado, em formatação especial, foi estruturado numa único documento, que passa a ficar disponível para consulta livre e contínua dos leitores na Biblioteca Digital deste blog.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

CATEDRAIS MEDIEVAIS!

Na catedral inteira sente-se a certeza e a fé; em nenhum lugar a dúvida. Esta impressão de serenidade, a catedral ainda hoje no-la transmite, por pouco que queiramos prestar atenção. Esqueçamos por um momento nossas inquietações, nossos sistemas. Vamos a ela. De longe, com seus transeptos, suas flechas e suas torres, ela nos parece uma nau possante, partindo para uma longa viagem. Toda a cidade pode embarcar sem temor em seus robustos flancos.

Catedral de Notre Dame / França

Aproximemo-nos. No pórtico, encontramos logo Jesus Cristo, como o encontra todo homem que vem a este mundo. Ele é a chave do enigma da vida. Em torno d’Ele está escrita uma resposta a todas as nossas questões. Ficamos sabendo como o mundo começou e como terminará; as estátuas, das quais cada uma é símbolo de uma idade do mundo, nos dão a medida de sua duração. Todos os homens cuja história nos importa conhecer, nós os temos diante dos olhos — são aqueles que na Antiga ou na Nova Lei foram símbolos de Jesus Cristo — pois os homens só existem na medida em que participam da natureza do Salvador. Os outros — reis, conquistadores, filósofos — são apenas sombras vãs. Assim o mundo e a história do mundo se nos tornam claros.
 Catedral de Reims / França

Mas nossa própria história vem escrita ao lado da história desse vasto universo. Nós aí aprendemos que nossa vida deve ser um combate: luta contra a natureza a cada estação do ano, luta contra nós mesmos a todos os instantes, eterna psicomaquia. Àqueles que bem combateram, os anjos, do alto do Céu, estendem coroas. Há lugar aqui para uma dúvida, ou para uma mera inquietação de espírito?
  
Catedral de Salisbury / Inglaterra

Penetremos na catedral. A sublimidade das grandes linhas verticais atua logo de início sobre a alma. É impossível entrar nel sem se sentir purificado. Unicamente por sua beleza, ela age como um sacramento. Ali também encontramos um espelho do mundo. Assim como a planície, como a floresta, ela tem sua atmosfera, seu perfume, sua luz, seu claro-obscuro, suas sombras. [...] Mas é um mundo transfigurado, no qual a luz é mais brilhante que a da realidade, e no qual as sombras são mais misteriosas. Sentimo-nos no seio da Jerusalém celeste, da cidade futura. Saboreamos a paz profunda; o ruído da vida quebra-se nos muros do santuário e torna-se um rumor longínquo: eis aí a arca indestrutível, contra a qual as tempestades não prevalecerão. Nenhum lugar no mundo pôde comunicar aos homens um sentimento de segurança mais profundo.

Catedral de York / Inglaterra

Isto que nós sentimos ainda hoje, quão mais vivamente o sentiram os homens da Idade Média! A catedral foi para eles a revelação total. Palavra, música, drama vivo dos Mistérios, drama imóvel das imagens, todas as artes ali se harmonizavam. Era algo além da arte, era a pura luz, antes que ela se tivesse diversificado em fachos múltiplos pelo prisma. O homem confinado numa classe social, numa profissão, disperso, esmagado pelo trabalho de todos os dias e pela vida, nela retomava o sentimento de unidade da sua natureza; ele ali encontrava o equilíbrio e a harmonia. A multidão, reunida para as grandes festas, sentia que ela era a própria unidade viva; ela tornava-se o corpo místico de Cristo, cuja alma se confundia com sua alma. Os fiéis eram a humanidade, a catedral era o mundo, o espírito de Deus pairava ao mesmo tempo sobre o homem e a criação. A palavra de São Paulo tornava-se uma realidade: vivia-se e movia-se em Deus. Eis o que sentia confusamente o homem da Idade Média, no belo dia de Natal ou de Páscoa, quando os ombros se tocavam, quando a cidade inteira lotava a imensa igreja.
Catedral de Burgos / Espanha

Símbolo de fé, a catedral foi também um símbolo de amor. Todos para ela trabalharam. O povo ofereceu o que tinha: seus braços robustos. Ele se atrelava aos carros, carregava as pedras nas costas, tinha a boa vontade do gigante São Cristóvão. O burguês deu seu dinheiro, o barão sua terra, o artista seu gênio. Durante mais de dois séculos, todas as forças vivas da França colaboraram: daí vem a vida possante que se irradia dessas obras. Até os mortos associavam-se aos vivos: a catedral era pavimentada de pedras tumulares; as gerações antigas, com as mãos juntas sobre suas lápides mortuárias, continuavam a rezar na velha igreja. Nela, o passado e o presente uniam-se num mesmo sentimento de amor... A catedral pode substituir todos os livros.

(voando com um drone pela Catedral de Amiens) 

(Texto - Excertos traduzidos da obra 'L'Art Religieux du XIIIe Siécle', de Émile Mâle, publicado originalmente na Revista Catolicismo)

domingo, 10 de setembro de 2017

A VIRTUDE DA CORREÇÃO FRATERNA

Páginas do Evangelho - Vigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum


O Evangelho deste domingo é um tributo sobre o dever da correção fraterna. Reconhecer o erro e assumir o ônus da responsabilidade pelo erro cometido, são os atributos básicos do perdão. Mas o erro reverbera além daquele que o pratica e é dever - dever cristão - a sua pronta caracterização, a sua expressa condenação, o seu combate efetivo, a sua oportuna ou inoportuna contenção. A correção do erro é uma virtude cristã por excelência, quando praticada e vivida sob os ditames do reto juízo, da prudência caritativa, do verdadeiro amor fraterno: 'Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo!' (Mt 18, 15).

Jesus nos adverte sobre a insensatez da omissão, do menosprezo, da condenação exaltada e pública do pecador que nos ofendeu: 'a sós contigo!' é uma proposição enfática e contundente pela correção fraterna, emanada pelo zelo apostólico e pela prudência cristã. Corrigir o erro para não se omitir em defesa da verdade; corrigir o erro sem destruir as pontes e as passagens que possam fazer o pecador retomar o caminho da verdade: 'Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão' (Mt 18, 15). Benditos aqueles que levarem consigo para Deus os que puderam fazer o caminho de volta!

A correção fraterna é oportuna e inoportuna, porque a salvação de uma alma tem valor infinitamente maior que todos os nossos queixumes ou sentimentos desprezados. Não basta a correção, é preciso insistir nela mais uma vez, e outra vez, e outra ainda. A insistência moldada pelo zelo extremado na salvação da alma do próximo é o cimento que agrega as pedras frouxas de nossa própria caminhada para Deus. 

Esse ardor de correção perpassa por terceiros e se encerra na própria vida da Igreja, Corpo Místico de Cristo, pois a perseverança da graça atrai graças em profusão e frutos extremos de conversão, piedade e misericórdia: 'se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois, onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles' (Mt 18, 19 - 20). Porém, a obstinação determinada no erro tem natureza diabólica e, portanto, não é mais passível da graça. Aqueles que optam pelo desvario do mal e se afastam dos ensinamentos da Igreja, tornam-se, então, réus de delitos eternos: 'tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu' (Mt 18, 18).

sábado, 9 de setembro de 2017

QUESTÕES SOBRE A ORAÇÃO MENTAL

➧ O que é a oração mental?
A oração mental é a que se faz no interior da alma, sem se pronunciar as fórmulas das orações.

➧ Qual é a excelência da oração mental?
Ela é o fundamento de toda oração, consistindo principalmente no desejo da alma, sem o qual não há nenhuma oração.

➧ Como se chama essa oração interior que é toda da alma?
É chamada algumas vezes de meditação e outras vezes simplesmente oração.

➧ O que quer dizer a palavra meditação?
A palavra meditação significa o trabalho do espírito que considera, aprofunda avalia, por assim dizer, um assunto, em todos os sentidos, para achar os motivos para fugir do mal, procurar o bem e chegar a Deus.

➧ O que quer dizer a palavra oração?
É a palavra que designa todo tipo de prece e que nos faz compreender que ela seja vocal ou mental, é uma obra da alma que aplica sua inteligência para conhecer o bem e a sua vontade para procurá-lo.

➧ O que ensina São Francisco de Sales sobre a oração mental?
Ele diz: 'A oração pondo nosso entendimento na claridade e na luz divina, expondo nossa vontade ao calor do amor celeste, nada há que purgue tanto o nosso entendimento de suas ignorâncias, e a nossa vontade de suas afeições depravadas'.

➧ O que é que o Santo chama de nosso entendimento?
O entendimento é a mesma coisa que a inteligência ou a faculdade que nossa alma possui de conhecer a verdade, de entender a verdade, de ler na verdade.

➧ E nossa vontade?
É a faculdade que a alma possui pela qual procura a verdade para amá-la e dela fazer a regra de sua conduta.

➧ E isso não é, então, toda a alma?
Certamente, pois nossa alma não é outra coisa que a inteligência ou entendimento e a vontade ou amor.

➧ Assim, a oração mental toma toda a alma?
Sim, toda a alma, se bem que às vezes a oração se faça mais na inteligência que na meditação; outras vezes mais na vontade que goza, saboreia, abraça a verdade que medita.

➧ Explique essa palavra de São Francisco: 'A oração pondo nosso entendimento na claridade e na luz divina...'
Isso significa que para rezar mentalmente é necessário que o nosso espírito se alimente com alguma verdade da fé, como uma lâmpada se alimenta do óleo para clarear.

➧ Como se chama essa verdade?
É chamada de assunto ou tema da oração.

➧ Quais são as operações do espírito em torno desse tema?
O espírito o considera, examina, mede, como já dissemos, a fim de o compreender tanto quanto possível em toda sua extensão, para dele recolher os frutos.

➧ Quais são esses frutos?
Quando a luz aumenta na inteligência, a alma se compraz na claridade e luz divina, e daí é levada mais facilmente a fugir do mal e a procurar o bem.

➧ Por exemplo?
Se eu medito na bondade, na doçura e na suavidade de Deus, vai ser mais fácil amá-lo e chegar até ele.

➧ O que diz São Francisco sobre isso?
Ele diz que a oração expõe nossa vontade ao calor do amor celeste.

➧ A oração mental é composta de muitos atos?
Assim como a oração vocal se compõe de muitas palavras sucessivas, assim como o Pai Nosso é formado de sete pedidos, a oração mental se compõe de vários atos da alma, que se seguem e se encadeiam para formar um todo cheio de harmonia.

➧ Quais são esses atos?
Há os atos preliminares ou a preparação, os atos essenciais que fazem como um corpo ou melhor o coração da oração, enfim há os atos de conclusão nos quais se recolhe os frutos da oração.

➧ Assim se distingue três partes na oração mental?
Sim, as chamamos de preparação, corpo da oração e conclusão.

➧ O que deve fazer uma alma para se preparar para a oração mental?
Primeiramente, deve se recolher, quer dizer, deve concentrar todas as suas potências a fim de estar inteiramente voltada para a obra santa que se propõe fazer.

➧ E depois?
A alma deve se colocar atentamente na presença de Deus: quer dizer, se lembrar do que a fé nos ensina sobre a imensidade de Deus presente em toda parte, de seu amor infinito por nós, e sobretudo da assistência misericordiosa que nos dá quando rezamos.

➧ Não há algum outro modo que seja muito útil para pôr-se na presença de Deus?
Será utilíssimo nos lembrar que Deus está não somente em toda parte mas que está presente dentro de nós, nos dando, como diz são Paulo, o ser, o movimento e a vida, nos dando sobretudo a graça de rezar e nos ajudar particularmente nessa obra tão doce e tão salutar.

➧ Essa é toda a preparação necessária?
Não, é preciso ainda implorar o socorro divino, a misericórdia de Nosso Senhor, a assistência do Espírito Santo, a proteção da Santíssima Virgem e dos Santos Anjos.

➧ Quais são os atos essenciais da oração mental?
Alguns são atos da inteligência, outros atos da vontade.

➧ Quais são os atos da inteligência?
É preciso primeiro penetrar profundamente na verdade que deve formar o fundo da oração, seja um artigo da fé, um mistério de Nosso Senhor, um ato da Santíssima Virgem ou de um santo.

➧ E para se penetrar bem no assunto que se deve fazer?
É o que se chama considerações. Por exemplo: quando se vai estudar um grande e belo monumento, se leva em conta seu conjunto e suas partes, a harmonia das linhas, a beleza da decoração, etc. Do mesmo modo, diante de um assunto de oração, considera-se o que Deus fez por nós, o amor com que fez, o bem que nos preparou; diante disso o espírito será arrebatado de alegria em Deus seu Salvador.

➧ É preciso fazer muitas considerações?
Depende da necessidade da alma, e da atração da graça que nos faz rezar. Pode-se fazer apenas uma consideração que alimenta a alma durante muito tempo, e então é inútil procurar outra coisa. De outras vezes será preciso multiplicar as considerações até que a alma se sinta vivamente tocada e que possa dizer como Davi: 'Encontrei meu coração para fazer minha oração para meu Deus' (II Sm 7, 27).

➧ Qual a faculdade da alma que principalmente age nas considerações?
É a inteligência, que se compraz 'na claridade e na luz divina', como nos dizia são Francisco de Sales.

➧ Quais os atos que resultam desses atos da inteligência na oração mental?
São os atos da vontade.

➧ Quais são esses atos da vontade?
Podem se resumir em quatro: atos de amor, de ódio, de confiança ou de temor.

➧ Como se compreende esses atos?
Dissemos que são a consequência dos atos de inteligência: se considero a infinita bondade de Deus, serei levado a fazer atos de amor e de confiança; se meço a enormidade do pecado, farei atos de ódio, de detestação, de contrição; à vista do inferno e dos temíveis julgamentos de Deus, farei atos de temor; é assim que os atos da vontade são comandados pelos atos da inteligência.

➧ Quais são os mais saudáveis desses atos da vontade?
São os que nos fazem detestar o pecado e amar a Deus.

➧ Como se deve terminar a oração mental?
Sempre com alguma salutar resolução inspirada pelo desejo de nos afastar do pecado e de nos unirmos a Deus.

➧ Essa não é uma resolução muito geral?
Certamente, a essa devemos juntar uma resolução de evitar determinado pecado, ou fazer um determinado bem em conformidade com a resolução geral.

➧ Qual deve ser o caráter da resolução particular?
Que ela seja prática, e imediatamente prática, nos ajudando a vencer o defeito dominante ou a adquirir a virtude de que temos mais necessidade.

➧ Como é preciso terminar a oração mental?
Por um movimento piedoso e cordial de agradecimento para com Deus, o inspirador de toda oração e a única fonte de nossos bens.

➧ E como terminar essa lição?
Com o compromisso de rezar mentalmente, ao menos alguns instantes todas as manhãs e sobretudo antes da santa comunhão. Que Deus nos dê essa graça.

➧ Há quem se queixe algumas vezes das dificuldades da oração mental?
Algumas vezes; mas, na verdade, a oração mental não é mais difícil do que qualquer outra forma de oração.

➧ E o que dizer das distrações?
As distrações são uma miséria da qual não podemos escapar. Somente no céu há quem reze sem distrações.

➧ Essa miséria não é muito miserável?
Ela é miserável, sem dúvida, mas se vem sem nos darmos conta, é preciso ficarmos em paz, deixá-la passar sem nada lhe dizer e continuar sua oração como se nada tivesse acontecido. É inofensiva como uma mosca que passa.

➧ Mas não há distrações nocivas?
Há, e muito nocivas: são as que nós mesmos provocamos quando não é hora de rezar.

➧ O que é a oração para a alma do cristão?
A oração é para a alma o que a respiração é para o corpo: como um corpo não poderia continuar vivo se não respirasse a todo instante, assim a alma não poderia permanecer na graça, se não rezar ao menos de tempos em tempos.

➧ Como a alma é levada a rezar assim?
O corpo é levado a respirar por uma necessidade incessante e pelo movimento natural de sua conservação; a alma é levada a rezar por um movimento sobrenatural, obra da graça de Nosso Senhor.

➧ Como se chama esse movimento sobrenatural na alma cristã?
Chama-se 'espírito de oração'. Deus disse em Zacarias: 'Estenderei sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém, o espírito de graça e de oração': Spiritum gratiæ et precum (Zc 12,10).

➧ O que é o espírito de oração?
É o espírito que faz rezar, é a graça da oração distribuída pelo Espírito Santo aos corações dos filhos de Deus.

➧ O que produz nas almas o espírito de oração?
Ensina interiormente a necessidade que a alma tem de rezar; move eficazmente a alma para a oração, onde encontra um gosto sobrenatural na própria oração.

➧ E então o que faz a alma sob a ação desse espírito?
Então a alma aspira realizar essa palavra adorável, esse mandamento sagrado de nosso amável Salvador: 'É preciso rezar sempre, rezar sem cessar': Oportet semper orare et numquam deficere (Lc 18,1).

➧ Como compreender esse mandamento?
É como se Nosso Senhor nos dissesse: é preciso sempre amar a Deus, é preciso sempre se conservar em estado de graça, é preciso sempre evitar o pecado.

➧ Como podemos realizar esse mandamento?
Nunca o realizaremos perfeitamente aqui em baixo; mas devemos fazer tudo para o realizarmos o melhor possível.

➧ Como obedecer bem a esse mandamento de Nosso Senhor?
Primeiro é preciso querer realizá-lo; ora, essa vontade implica para nós o dever de nos afastarmos de todo pecado e de nos orientarmos sempre ao que agrada a Deus.

➧ E depois?
Depois prestar atenção para não perder as boas ocasiões de rezar.

➧ Quais são elas?
Antes de tudo, a hora das orações da manhã e a hora das orações da noite; a hora do Ângelus, as orações antes e depois das refeições, são circunstâncias em que o católico não deixa nunca de elevar seu coração a Deus, de respirar sua divina graça e de rezar.

➧ Como é preciso rezar ao levantar?
Dando graças a Deus por nos ter guardado durante o sono, lhe oferecer o primeiro pensamento de nosso espírito, a primeira batida de nosso coração, e oferecer nosso dia.

➧ Como é preciso rezar antes de adormecer?
Não adormecer jamais com um pecado mortal na consciência, mas ao contrário, ter a consciência em paz e adormecer sob o olhar de Deus, nos recomendando à Santíssima Virgem e a nosso anjo da Guarda.

➧ Será que poderemos rezar ainda em outros momentos?
Sim, certamente: a qualquer momento podemos dirigir a Deus alguma oração jaculatória.

➧ O que são orações jaculatórias?
Uma oração muito curta, mas, o mais ardente possível, que dirigimos a Deus.

➧ Porque se chama jaculatória?
Porque parece um jato (jaculum, em latim quer dizer 'jato'); um jato que lançamos para Deus do fundo de nosso coração.

➧ O que devemos dizer a Deus nessas orações?
Tudo o que nos pode inspirar a fé, a esperança, a caridade e a contrição.

➧ Haverá uma oração jaculatória que gostaria de nos ensinar?
Entre outras gostamos dessa: 'Jesus, meu Deus, eu Vos amo acima de tudo'.

(Pe. Emmanuel-André; excertos de texto publicado originalmente no site permanencia.org.br)

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

GLÓRIAS DE MARIA: FESTA DA NATIVIDADE DE MARIA


Com o nascimento de Maria, Deus dá ao mundo a aurora que anuncia a vinda do Messias, o início histórico da obra da Redenção. Maria, 'bendita entre todas as mulheres' e rainha dos anjos, foi privilegiada pelos desígnios da Providência com as graças mais sublimes para ser elevada à excelsa dignidade de Mãe do Nosso Salvador Jesus Cristo, Mãe de Deus. 

'Deus onipotente, antes que o homem caísse, previu a sua queda e decidiu, antes dos séculos, a redenção humana. Decidiu Ele encarnar-se em Maria... Hoje é o dia em que Deus começa a pôr em prática o seu plano eterno, pois era necessário que se construísse a casa, antes que o Rei descesse para habitá-la. Casa linda, porque, se a Sabedoria constrói uma casa com sete colunas trabalhadas, este palácio de Maria está alicerçado nos sete dons do Espírito Santo. Salomão celebrou de modo soleníssimo a inauguração de um templo de pedra. Como celebraremos o nascimento de Maria, templo do Verbo encarnado?'

(Homilia sobre a Natividade de Maria, de São Pedro Damião)

A Festa da Natividade de Maria (celebrada no dia 8 de Setembro, pelo calendário tridentino) era celebrada no Oriente Católico muito antes de ser instituída no Ocidente e tem sua origem provavelmente em Jerusalém, pelos meados do século V. De acordo com a Tradição, Maria nasceu de pais virtuosos e avançados em idade, Joaquim e Ana, que cumpriam fielmente os seus preceitos cristãos em Jerusalém, resignados e pacientes diante a esterilidade do casal. Contemplados com a gravidez tardia, nasceu-lhes pela Divina Providência a filha que seria a Mãe de Deus, evento singular da história da humanidade que não foi objeto nem de profecias e nem de sinais extraordinários antes, durante ou depois da natividade de Maria.

'Ó Joaquim e Ana, casal bem-aventurado e verdadeiramente sem mancha! Pelo fruto do vosso seio fostes reconhecidos, segundo a palavra do Senhor: 'Pelos seus frutos os reconhecereis'. A vossa conduta foi agradável a Deus e digna daquela que nasceu de vós. Tendo levado uma vida casta e santa, engendrastes a joia da virgindade, aquela que deveria permanecer Virgem antes, durante e depois do parto, a única sempre Virgem de espírito, de alma e de corpo. Convinha, de fato, que a virgindade saída da castidade produzisse a Luz única e monógena, corporalmente, pela benevolência d’Aquele que A gerou sem corpo – o Ser que não gera, mas que é eternamente gerado, para Quem ser gerado é a única qualidade própria da Sua Pessoa. Ó que maravilhas, e que alianças estão neste menino! Ó Filha da esterilidade, virgindade que engravida, nela se unirão divindade e humanidade, sofrimento e impassibilidade, vida e morte, para que em todas as coisas o menos perfeito seja vencido pelo melhor! E tudo isto para minha salvação, ó Mestre! Amas-me tanto que não realizaste esta salvação nem pelos anjos, nem por nenhuma outra criatura, mas tal como já a minha criação, também a minha regeneração foi Tua obra pessoal. Assim, eu exulto, faço despertar a minha alegria e o meu júbilo, volto à fonte das maravilhas, e embriagado de uma torrente de alegria, toco de novo a cítara do espírito e canto o hino divino da natividade'.

(Homilia sobre a Natividade de Maria, de São João Damasceno)

Nasce Maria, dádiva de Deus, santíssima em sua concepção, santíssima no seio de sua mãe, santíssima desde o primeiro instante de sua vida. Pois não convinha que o santuário de Deus, a mansão da sabedoria, o relicário do Espírito Santo, a urna do maná celestial, tivesse em si a menor mácula. Antes de receber sua alma santíssima, sua carne foi completamente purificada até do menor resíduo de toda mancha, sem a mais ínfima inclinação para o pecado.

'A gloriosa Virgem não apenas foi preservada do pecado original em sua concepção, como foi também adornada da justiça original e confirmada em graça desde o primeiro momento de sua vida, segundo muitos eminentes teólogos, a fim de ser mais digna de conceber e dar à luz o Salvador do mundo. Privilégio que jamais foi concedido à criatura alguma, nem humana nem angélica, pertencendo somente à Mãe do Santo dos Santos, depois de seu Filho Jesus ... Todas as virtudes, com todos os dons e frutos do Espírito Santo, e as oito bem-aventuranças evangélicas se encontram no coração de Maria desde o momento de sua concepção, tomando inteira posse e estabelecendo n'Ela seu trono num grau altíssimo e proporcionado à eminência de sua graça'.

(Homilia, São João Eudes)


Maria Santíssima é a nova Eva, a mãe espiritual dos homens; é Judite que será vitoriosa sobre o inimigo do povo de Deus; é Ester que alcançará misericórdia para o seu povo. Foi Maria que Adão entreviu quando Deus lhe disse que uma mulher esmagaria a cabeça da serpente. Deus a tinha em vista quando prometeu a Abraão, aos patriarcas e a Davi, que o Salvador brotaria da sua estirpe. Ela é o tronco de Jessé que havia de dar a flor escolhida, conforme a profecia de Isaías. 

Genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão: 2Abraão gerou Isaac;Isaac gerou Jacob; Jacob gerou Judá e seus irmãos; 3Judá gerou, de Tamar, Peres e Zera; Peres gerou Hesron; Hesron gerou Rame; 4Rame gerou Aminadab; Aminadab gerou Nachon; Nachon gerou Salmon; 5Salmon gerou, de Raab, Booz; Booz gerou, de Rute, Obed; Obed gerou Jessé;6Jessé gerou o rei David. David, da mulher de Urias, gerou Salomão; 7Salomão gerou Roboão; Roboão gerou Abias; Abias gerou Asa; 8Asa gerou Josafat; Josafat gerou Jorão; Jorão gerou Uzias; 9Uzias gerou Jotam; Jotam gerou Acaz; Acaz gerou Ezequias; 10Ezequias gerou Manassés; Manassés gerou Amon; Amon gerou Josias; 11Josias gerou Jeconias e seus irmãos, na época da deportação para Babilónia.12Depois da deportação para Babilónia, Jeconias gerou Salatiel; Salatiel gerou Zorobabel;13Zorobabel gerou Abiud. Abiud gerou Eliaquim; Eliaquim gerou Azur; 14Azur gerou Sadoc; Sadoc gerou Aquim; Aquim gerou Eliud; 15Eliud gerou Eleázar; Eleázar gerou Matan; Matan gerou Jacob. 16Jacob gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo.18Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava desposada com José; antes de coabitarem, notou-se que tinha concebido pelo poder do Espírito Santo.19José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente.20Andando ele a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: 'José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados'. 22Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: 23Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus conosco.


(Evangelho: Mateus, 1, 1-16.18-23)

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

VERSUS: ANJOS DA GUARDA X ALMA HUMANA

São Jerônimo: 'ó como é grande a dignidade das almas confiadas, desde o primeiro instante do seu nascimento, a um anjo, especialmente delegado para guardá-la!' Como é grande a sua dignidade e como é grande a sua preciosidade! Pela dignidade e posição da guarda se pode avaliar a preciosidade do objeto guardado... A ti, jovem cristão, cabe aproveitar dessas precauções e ajudar-te desses auxílios. Não ignoras quanto é preciosa a tua alma. Pois bem, se por ti só não podes salvá-la, salvá-la-ás se quiseres aproveitar dos meios que Deus te oferece para isto. Dentre estes, um dos mais sólidos e profícuos é a devoção ao teu anjo da guarda, que sabes estar constantemente junto de ti. 


São Bernardo: 'os nossos anjos da guarda são fiéis, são prudentes, são poderosos'. Ou, melhor, são fidelíssimos, prudentíssimos, poderosíssimos. É necessário ainda insistir sobre isto? Não basta, para disto nos convencermos recordar o que já dissemos sobre a natureza angélica, o seu amor para conosco, a solicitude com que nos guardam, o amor que têm a Deus, de quem somos criaturas e imagens? Nas jornadas perigosas, um bom pai só entrega o seu filho ao melhor, ao mais prudente, ao mais poderoso dos guardas. Assim o Pai celeste. Os perigos desta vida terrena exigiam de seu paterno Coração um guarda tal que de fato nos valesse, nos defendesse, nos dirigisse. Confiou-nos então ao Santo Anjo da Guarda.


São Pedro Damião: 'todos os dias, e de muitas maneiras, ofendemos aos nossos Anjos da Guarda e à ofensa, acrescentamos muitas vezes, a negligência em arrepender-nos. Eles, porém, ainda que frequentemente sofram de nós tantas injúrias, toleram-nos, não obstante, e de nós se compadecem'. O médico paciente sabe tolerar as injúrias do doente que não se quer deixar tratar, e a ele volta muitas vezes, apesar das afrontas, até vê-lo de todo curado. Assim procede para conosco o santo Anjo da Guarda: assiste-nos, exorta-nos, move-nos interiormente, e jamais se aparta do nosso lado, agenciando diante de Deus a nossa salvação: 'ó prodígio de caridade', exclama o mesmo São Pedro Damião, 'prodígio de todo inaudito entre os homens!…'


Santo Agostinho: 'os Santos Anjos nos amam por três motivos ou causas: por causa de Deus, por nossa causa, e por causa de si próprios. Por causa de Deus, porque Deus nos ama também, e com tais extremos; por nossa causa, porque lhes somos semelhantes na natureza racional; por causa deles próprios, porque nos querem sentados naqueles tronos supernos dos Anjos que prevaricaram'. A estas razões do seu amor, ainda outras lhes podemos juntar. Amam-nos, porque é grande a aversão que sentem pelos demônios, capitais inimigos da natureza humana; amam-nos porque nos veem tão amados por Maria Santíssima, Rainha dos Anjos; amam-nos, porque intensamente nos ama Jesus, nosso Redentor e Salvador.

(Excertos da obra 'Os Santos Anjos da Guarda' do Pe. Augusto Ferretti)