sexta-feira, 16 de setembro de 2016

ORAÇÃO PELO CLERO BRASILEIRO

Deixai, ó Jesus, que em Vosso Coração Eucarístico depositemos nossas mais ardentes preces pelo nosso clero, e sede propício aos nossos pedidos.

Multiplicai as vocações sacerdotais na nossa Pátria: atraí ao Vosso altar os filhos do nosso Brasil; chamai-os com instância ao Vosso Ministério.

Conservai, na perfeita fidelidade ao Vosso serviço, aqueles a quem já chamastes; afervorai-os, purificai-os, santificai-os, não permitindo que se afastem do espírito da Vossa Igreja.

Não consintais, ó Jesus, nós Vos suplicamos, que debaixo do céu brasileiro, sejam, por mãos indignas, profanados os Vossos mistérios de amor.

Também Vos pedimos com instância: deixai que a misericórdia de Vosso Coração vença a Vossa justiça divina por aqueles que se recusaram a honra da vocação sacerdotal ou desertaram das fileiras sagradas.

Atendei, ó Jesus, a esta nossa insistente oração, vô-lO pedimos por Vossa Mãe, Maria Santíssima, Rainha dos Sacerdotes.

Ó Maria, ao vosso Coração confiamos o nosso clero; guiai-o, protegei-o, salvai-o.

(Cardeal Leme, 1922)

(100 dias de indulgência aos que recitarem esta oração - antes ou depois da comunhão sacramental ou espiritual - Rio de Janeiro, em 27/10/1922)

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

VIDA DE ORAÇÃO (I)

A oração é, para o homem, a origem de todo bem. Daí se infere que saber orar, dar à oração o devido apreço, entregar-nos à sua prática com zelo e fervor é, para o tempo como para a eternidade, um tesouro de valor inestimável. Orar é tudo o que há de mais simples, e a primeira razão disso é a própria necessidade que temos da oração.

Para orar, não é mister talento excepcional, eloquência, dinheiro nem recomendação de espécie alguma. Até a devoção sensível não é necessária; a doçura, a consolação, são coisas acessórias e não dependem de nós. Se Deus no-las der, devemos recebê-las com reconhecimento, porquanto tornam a oração mais agradável. Orar, não obstante a aridez, é sempre orar. Consolados ou não, cumpre fazê-lo. Para isso, basta o conhecimento de Deus e de nós mesmos, saber o que Ele é e o que somos nós, como infinita é sua bondade e quão profunda a nossa miséria.

Para orar, uma única coisa é necessária: a fé, instruída pelo catecismo. As palavras serão ditadas pelas nossas próprias necessidades. Poucas ideias (quanto menos numerosas, melhor será), alguns desejos, e finalmente umas palavras saídas do coração - porque, se assim não for, não há oração propriamente dita - eis tudo o que é preciso. Haverá, por acaso, um homem que não tenha um só pensamento, um único desejo? Pois bem, é apenas disso que precisamos para empreender o nobre trabalho da oração. A graça, Deus no-la dá, de bom grado, a todos e a cada um em particular. Por conseguinte, orar é simplesmente falar com Deus. É conversar com Ele mediante a adoração, o louvor, a súplica. 

[...]

Durante a oração, o nosso proceder deve ser idêntico ao que temos relativamente a um amigo íntimo e querido. A ele confiamos com sinceridade o que nos vai na alma: dissabores ou alegrias, esperanças e receios. Dele recebemos conselhos e avisos, auxílio e conforto. Com ele decidimos os mais importantes negócios, singelamente e quase sempre sem que a sensibilidade se manifeste de forma alguma. E isto não obsta a que tudo seja tratado séria e lealmente. É assim que, na oração, devemos ser para com Deus. Quanto maior for a nossa simplicidade, tanto melhor será ao darmos largas ao coração.

Se muitas vezes a oração nos parece penosa e difícil, é culpa nossa. É porque não sabemos como nos portar, e fazemos dela uma ideia errônea. Manifestemos a Deus os sentimentos de nossa alma; digamos as coisas tais como se apresentam, e a oração será sempre proveitosa. Todo caminho leva a Roma, diz o adágio, e toda ideia abre o seu caminho para chegar a Deus. Só saberemos orar quando o fizermos simplesmente. Que nos adianta dirigir ao Senhor discursos sublimes ou torneados? Se acontecer que nenhuma ideia nos venha à mente, tenhamos a simplicidade de expor essa nossa indigência. E isto ainda é orar, glorificar a Deus e expressamente advogar a nossa causa.

[...]

A nós, e não a Deus, devemos atribuir a ineficácia de nossas preces. Três são as causas determinantes dessa insuficiência. Ou ela se encontra em nós, ou em nossa oração ou, enfim, no objetivo da mesma. Geralmente a oração deve reunir as seguintes condições:

Primeiramente, cumpre termos uma consciência nítida do que constitui o objeto de nossa prece; isto é, faz-se mister a intenção, a atenção e o recolhimento. O ponto importante é não nos querermos distrair ou não nos entregarmos cientemente às divagações. Como poderá Deus atender-nos, se nós mesmos não temos consciência do que estamos a dizer? Certamente o nosso anjo custódio sentirá pejo de apresentar à Majestade divina semelhante prece. Aliás, o nosso próprio interesse exige que procedamos de modo diverso, porquanto as distrações voluntárias não somente constituem obstáculo às graças divinas, mas acarretam necessariamente um castigo. Quanto às involuntárias, que sobrevêm mau grado nosso, elas não nos privam do mérito nem tiram à oração o seu valor satisfatório. Apenas interceptam o gosto, a doçura que nela poderíamos fruir. Deus conhece nossa fraqueza e tem paciência conosco.

Em segundo lugar, é preciso tomar a oração a sério e empenhar-nos em ser atendidos. Por conseguinte, devemos orar com zelo e fervor. Estes não consistem na multiplicidade das orações, senão na parte que a vontade nelas toma. Não sobe o incenso se o fogo, consumindo-o, não lhe desprende o perfume que se eleva aos céus. O fervor é a alma da prece; Deus escuta a voz do coração, e não as palavras que os lábios proferem. Conversar com Deus é sempre um ato importante; e o que lhe pedimos, algo de grande valia. Eis porque o zelo e o desejo são imprescindíveis. Se, porventura, a confiança na virtude da oração vier a fraquejar em nosso espírito, recorramos à intercessão de outrem, por meio de prece em comum ou pública. Invoquemos os santos e o bendito nome de Jesus, ao qual está particularmente ligada a eficácia da oração (Jo 16, 23).

Em terceiro lugar, importa que a prece seja humilde. Devemos aproximar-nos de Deus como mendigos, e não como credores. Somos réus de pecado e não podemos tratar o Criador de igual a igual. A própria humildade exterior vem muito a propósito. Ela apraz a Deus, O predispõe em nosso favor e excita o zelo em nosso coração.

Em seguida - e esta condição é de suma importância - é preciso orar confiadamente, com segurança. Tudo nos incita a isso. Deus quer que oremos; logo, quer atender-nos. Somos criaturas suas e filhos seus. Esses títulos que nos dão o direito a sermos ouvidos favoravelmente, Ele os conhece e preza mais que nós mesmos. Finalmente, e importa não olvidá-lo, temos que contar unicamente com a infinita misericórdia de Deus, à qual compete tudo decidir.

Se grande deve ser nossa confiança na oração feita em vista de obter bens espirituais, faz-se mister, porém, evitar dois escolhos, quando for questão de favores de ordem temporal: não implorá-los incondicionalmente, porquanto eles nos poderiam ser nocivos ou então pensar que nunca os devemos pedir. Ao contrário, cumpre fazê-lo, porém de modo conveniente. Deus quer que O reconheçamos também como origem e fonte de todos os bens temporais.

(Excertos da obra 'A vida Espiritual - Reduzida a Três Princípios' do Pe. Maurício Meschler)

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

14 DE SETEMBRO - EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ


'Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim' (Jo 12, 32)

A festa da Exaltação da Santa Cruz, tem origem na descoberta do Sagrado Lenho por Santa Helena, mãe do imperador Constantino, e na dedicação de duas basílicas construídas por ele, uma no Calvário e outra no Santo Sepulcro, dedicação esta realizada no dia 14 de setembro de 335. No ano de 629, a celebração tomou grande vulto com a restituição da Santa Cruz pelo imperador Heráclio, retomada dos persas que a haviam furtado. Levada às costas pelo próprio imperador, de Tiberíades até Jerusalém, a Santa Cruz foi entregue, então, ao Patriarca Zacarias de Jerusalém.


O imperador Constantino e sua mãe, Santa Helena, veneram a Santa Cruz 

Conta-se, então, que o imperador Heráclio, coberto de ornamentos de ouro e pedrarias, não conseguia passar com a cruz pela porta que conduzia até o Calvário; quanto mais se esforçava nesse sentido, mais parecia ficar retido no mesmo lugar. Zacarias, diante desse fato, ponderou ao imperador que a sua ornamentação luxuosa não refletia a humildade de Cristo. Despojado, então, da vestimenta, e com pés descalços, o imperador completou sem dificuldades o trajeto final, encimando no lugar próprio a Cruz no Calvário, de onde tinha sido retirada pelos persas.

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo converteu a Cruz de um objeto de infâmia e repulsa na glória maior da fé cristã. A Festa da Exaltação da Cruz celebra, portanto, o triunfo de Jesus Cristo sobre o mundo e a imprimação do Evangelho no coração de toda a humanidade.

SALVE CRUX SANCTA

Salve, crux sancta, salve mundi gloria,
vera spes nostra, vera ferens gaudia,
signum salutis, salus in periculis,
vitale lignum vitam portans omnium.

Te adorandam, te crucem vivificam,
in te redempti, dulce decus sæculi,
semper laudamus, semper tibi canimus,
per lignum servi, per te, lignum, liberi.

Originale crimen necans in cruce
nos a privatis Christe, munda maculis, 
humanitatem miseratus fragilem 
per crucem sanctam lapsis dona veniam.

Protege salva benedic sanctifica 
populum cunctum crucis per signaculum, 
morbos averte corporis et animae 
hoc contra signum nullum stet periculum.

Sit Deo Patri laus in cruce filii 
sit coequalis laus sancto spiritui, 
civibus summis gaudium et angelis 
honor sit mundo crucis exaltatio. Amen.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

REFUTAÇÃO A TRÊS HERESIAS CONTRA A SANTÍSSIMA TRINDADE


Não é somente necessário crer que existe um só Deus, e que Ele é criador do céu, da terra e de todas as coisas, mas também que Deus é Pai e Jesus Cristo é seu verdadeiro Filho. O próprio Jesus Cristo muitas vezes chama a Deus como seu Pai e, também, denomina-se Filho de Deus. Os Apóstolos e os Santos Padres colocaram entre os artigos de fé que Jesus Cristo é Filho de Deus quando definiram o segundo artigo do Creio: 'E em Jesus Cristo seu Filho', isto é, Filho de Deus. Mas existiram alguns heréticos que acreditaram de um modo perverso nessa verdade de fé. Três deles são:

1. Fotino declarou que Cristo não é filho de Deus senão como os outros homens o são, os quais, por viverem bem, merecem ser chamados filhos de Deus por adoção, enquanto fazem a vontade de Deus. Do mesmo modo, segundo ele, Cristo, que viveu bem fazendo a vontade de Deus, mereceu ser chamado filho de Deus. Daí que Cristo não existiria antes da Virgem Maria, mas que só começou a existir quando foi concebido, como sucede com todos outros homens.

Cometeu Fotino dois erros: um, porque não disse que Ele era Filho de Deus segundo a natureza; outro porque disse que Ele começou a existir no certo momento, enquanto nossa fé afirma que Ele é por natureza Filho de Deus e eterno. Contra o primeiro erro, declara a Escritura que Jesus Cristo não só é Filho de Deus, mas também Filho Unigênito: 'O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou' (Jo 1,18). Contra o segundo, lê-se: 'Antes de Abraão existir, eu já existia' (Jo 8, 58). Ora, é certo que Abraão existiu antes de Maria. Por este motivo, os Santos Padres acrescentaram no Credo Niceno-Constantinopolitano contra o primeiro erro 'Filho de Deus Unigênito' e, contra o segundo, 'gerado do Pai antes de todos os séculos'.

2. Sabélio, embora tivesse dito que Cristo existiu antes da Virgem Maria, afirmou que a pessoa do Filho era também a figura do Pai e que o próprio Pai se encarnou. Isso é um erro porque destrói a ideia da Santíssima Trindade. Contra este erro, temos as palavras do próprio Cristo: 'Eu não sou Eu só, sou Eu e o Pai que me enviou' (Jo 8, 16). É evidente que ninguém pode ser enviado por si mesmo. Eis porque Sabélio errou. Acrescentou-se por isso, no Credo: 'Deus de Deus, luz de luz', isto é Deus Filho de Deus Pai; Filho que é luz, luz que procede do Pai, que também é luz. 

3. Ário, embora tivesse afirmado que Cristo existira antes da Virgem Maria e que era uma a Pessoa do Pai, outra a do Filho, cometeu três erros ao falar de Cristo: primeiro, que Cristo foi criatura; segundo, que Ele foi feito por Deus como a mais nobre das criaturas quando concebido, não existindo desde a eternidade; terceiro, que não havia uma só natureza de Deus Filho com Deus Pai e, por esse motivo, Cristo não era verdadeiro Deus. 

Lê-se no Evangelho de São João: 'Eu e o Pai somos um' (Jo 10, 30), isto é, pela natureza. Ora, como o Pai sempre existiu, do mesmo modo Cristo sempre existiu; como o Pai é verdadeiro Deus, o Filho também é verdadeiro Deus. Em oposição às afirmações de Ário, está acrescentado no Credo 'gerado, não feito' e 'consubstancial com o Pai'.

('Sermão sobre o Credo', de São Tomás de Aquino)

O CÉU É AQUI...

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

GLÓRIAS DE MARIA: O SANTÍSSIMO NOME DE MARIA


A Festa do Santíssimo Nome de Maria é celebrada pela Igreja Católica no dia 12 de setembro. Inicialmente a festa do Santíssimo Nome de Maria era apenas realizada em Cuenca, na Espanha, comemorada no dia 15 de setembro, quando foi instituída em 1513. Posteriormente, em 1671, a festa foi estendida para toda a Espanha. Após a vitória dos cristãos sobre os turcos na Batalha de Viena em 1683, a festa foi estendida a toda a cristandade pelo Papa Inocêncio XI. 

A origem etimológica do nome Maria é incerta, podendo ter raiz no vocábulo egípcio mry que significa 'amada', na palavra siríaca que designa 'senhora' ou, mais provavelmente, da raiz hebraica מִרְיָם (Miryam), que se traduz como 'excelsa', entre vários outros significados, e que deu origem aos nomes gregos Μαριαμ (Mariam) e Μαρια (Maria) - ambas as grafias são equivalentes - transcritas no Novo Testamento. Ao ser incorporado à Mãe de Deus, porém, deixou de ser apenas um nome, e passou a ser o mais bendito dos nomes e o nome de todas as virtudes. Quando tudo o mais parecer perdido, invoque, proclame, suplique o santo nome de Maria.

Na dor,
na adversidade,
nos perigos,
nos contratempos,
na angústia,
na doença,
nas aflições,
no sofrimento,
no medo,
nas dúvidas,
nas tribulações,
na amargura,
na ansiedade,
no abandono,
no desespero,

chame, invoque, proclame o BENDITO NOME DE MARIA.


**********

O NOME DA VIRGEM ERA MARIA

Maria. O anjo Gabriel, ao saudar Nossa Senhora, não a chama imediatamente pelo nome, evidentemente temendo surpreender por tamanha familiaridade vinda de um visitante desconhecido. Contudo em seguida diz: 'Não temas, Maria' (Lc 1, 30). São Lucas não espera o fim do diálogo para informar, o evangelista parece impaciente em fornecer seu nome, logo no início diz: 'o nome da virgem era Maria' (Lc 1, 27).

Quem não fica feliz em repetir com frequência o nome de um ente querido? Recordar o nome provoca um sentimento de presença da pessoa ausente. É muita estu­pidez criticar os católicos por venerar o nome de Maria. A Igreja aprovou tal prática; no século XVI instituiu uma festa em honra deste nome bendito. O costume é muito antigo, anterior ao Cristianismo. No Antigo Testamento, era habi­tual usar nome para se referir à própria pessoa e nos salmos encontramos muitos exemplos. Nosso Senhor ensinou a rezar: 'Santificado seja o teu nome'. O apóstolo São Pedro proclama que o nome de Jesus é o único que pode salvar: 'Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu ­nhum outro nome foi dado aos homens' (At 4,12). Eviden­temente que se refere à pessoa do Salvador.

A leitura da Bíblia leva a uma outra consideração. Observa­mos que os nomes também indicam características das pes­soas. Eva significa mãe dos viventes; Deus muda o nome de Jacó para Israel, que significa mais forte que Deus. Por ordem divina, o precursor do Senhor deverá receber o nome de João, que significa Deus foi favorável. José recebe a ordem de colocar no menino o nome de Jesus, que significa Deus salva.

Joaquim e Ana escolheram chamar a filha de Mariam, nome muito comum naquele tempo. Pela providência podemos acreditar que o nome escolhido foi de inspiração divina. Um excelente autor espiritual escreveu: 'Somente Deus podia escolher um nome para sua mãe. Como no batismo, quando a criança é nomeada em voz alta é gerada para a vida da graça, assim também aconte­ceu no instante em que Deus criou a alma da Virgem San­tíssima, a augusta Trindade nomeou Maria em voz alta diante do coro dos anjos. Deus já havia nomeado-a desde a eternidade. Para Deus, conceber ou nomear é a mesma coisa'. O padre Broise concorda com a ideia: 'Vemos muitos exemplos na Escritura em que Deus nomeia seus servidores, então podemos piamente acreditar que o nome de sua mãe não foi escolhido aleatoriamente ou por vontade humana'

O nome é pouco utilizado na história antiga de Israel. Na forma mais primitiva o nome Myriam é encontrado ape­nas na irmã de Moisés. Seria de origem egípcia, e significaria Amada de Deus. Na pronúncia Mariam, tanto no aramaico como no sírio tem vários significados. Um sábio jesuíta ale­mão recorreu pacientemente a todas as etimologias que se derivaram da palavra e encontrou 67 variações. As inter­pretações comumente aceitas harmonizam-se com a mis­são da Santíssima Virgem. 

No aramaico primitivo Mariam significa a iluminadora, que procede do invisível. Mariam evoca também a ideia de amargura. O sentido seria: amar­go, mirra. A tradução proposta por São Jerônimo teve muita receptividade: gota do mar. Depois Stilla marís (gota do mar) se transformou em Stella maris (estrela do mar) por um erro de copista ou porque os camponeses romanos pronunciavam as vezes desta forma. A ligeira confusão valeu um dos títulos mais clássicos da piedade mariana e um dos hinos mais belos Ave maris stella, composto por São Bernardo.

Outra tradução seria soberana, princesa, senhora. Este último é o mais utilizado pela tradição cristã. Jesus é Nosso Senhor, Maria é Nossa Senhora. As explicações do nome de Mariam correspondem aos mistérios do Rosário, colocando em destaque as três principais funções que Deus confiou a Maria. Nos cinco mistérios gozosos, Maria aparece como a iluminadora de uma terra pecadora. Nela, o Verbo, luz dos homens, se encarnou; através dela santifica João Batista; então, no meio da noite, a luz se levanta sobre o mundo; depois, Maria apresenta no Templo aquele que deve ilu­minar todos os povos. A primeira parte da missão esta concluída: Jesus agora deve dedicar-se aos assuntos do Pai. Passam-se os anos. Voltamos a encontrar Maria traspassada pela espada da dor, associando-se ao sacrifício de Nosso Redentor. A dor é a gota mais amarga do cálice que Jesus recebe no Getsêmani e que oferece na cruz pela redenção da humanidade.

Porém seu Filho não podia permanecer cativo da morte. Na Igreja nascente, que canta a glória do ressus­citado, Nossa Senhora reza com os discípulos, que aguar­dam a descida do Espírito Santo. Então, devolve a Deus o Filho que havia lhe sido confiado; em breve, como Rainha do Céu, compartilhará ao seu lado o triunfo, intercedendo por cada um de nós. Ave Maria. Que seu nome seja nossa luz quando a dúvida envolve e a tentação ataca! Que a recordação da paixão do calvário alivie as dores, quando estamos deses­perados! Devemos invocar o nome de Maria em nossas an­gústias, porque ela é nossa soberana protetora. No caminhar de cada dia, elevemos o olhar para a Estrela do Mar.

'Quando se levantam os ventos das tentações, quando se tropeça nas pedras da tribulação, olhe para a estrela e chame por Maria. Quando se agitam as ondas da soberba, da ambição e da inveja, olhe para a estrela e chame por Maria. Quando a ira, a avareza e a impureza assaltam violentamente a alma, olhe para Maria. Quando perturbado pela memória dos pecados, confuso pela fealdade da consciência, temeroso pela ideia do Juízo, mergulhado no abismo do desespero, pense em Maria, invoque Maria. Nunca afaste Maria dos lábios e do coração; nunca se afaste dos exemplos e das virtudes de Nossa Senhora. Não se extravia quem a segue, não se desespera quem pede sua ajuda, não se perde quem pensa nela. Ninguém cai quando está segurando a mão de Maria. Quando se está sob a proteção da Virgem Santíssima, nada se pode temer. Não se cansa quem a tem por guia; quem é amparado por ela chega felizmente ao porto seguro. Assim se compreende pela própria experiência o que foi escrito: o nome da virgem era Maria' (São Bernardo de Claraval)

(Excertos da obra ' Ave Maria: história e meditação', de Georges Chevrot)

domingo, 11 de setembro de 2016

PAI DE MISERICÓRDIA

Páginas do Evangelho - Vigésimo Quarto Domingo do Tempo Comum 


Neste Domingo, três parábolas de Jesus nos falam do perdão e da misericórdia, numa das páginas mais belas dos Evangelhos, que inclui a parábola do filho pródigo. Que poderia muito bem ser a parábola da verdadeira conversão. Ou, com muito mais correção e sentido espiritual, a parábola do pai de misericórdia. Três personagens: o filho mais velho e o filho mais novo que, em meio às dolorosas experiências da vida humana, se reencontram no grande abraço da misericórdia do pai.

Com a parte da herança que lhe cabe, o 'filho mais novo' opta pelo caminho fácil e tortuoso dos prazeres e vícios humanos, dos instintos insaciados, do vazio do mal. E esbanja, na via dolorosa do pecado, os bens que possuía: a alma pura, o coração sincero, os nobres sentimentos, a fortuna da graça. E, a cada passo, se afunda mais e mais no lodo das paixões humanas desregradas, da vida consumida no nada. Mas, eis que chega o tempo da reflexão madura, da conversão sincera, do caminho de volta ao Pai: 'Pequei contra ti; já não mereço ser chamado teu filho' (Lc 15, 18-19). 

O pai nem ouve as palavras do filho pródigo; no abraço da volta, somente ecoa pelos tempos a misericórdia de Deus: 'Haverá maior alegria no Céu por um pecador que fizer penitência que por noventa e nove justos que não necessitem de arrependimento' (Lc 15, 7). Diante do filho que volta, um coração de misericórdia aniquila a justiça da razão: 'Trazei depressa a melhor túnica para vestir o meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés.' (Lc, 15, 22). Como as talhas de água que se tornam vinho, a conversão verdadeira apaga e aniquila o mal desejado e consumido outrora: na reconciliação de agora desfaz-se em pó as misérias passadas de uma vida de pecado.

O 'filho mais velho' não se move por igual misericórdia e se atém aos limites difusos da justiça humana. Na impossibilidade absoluta de compreender o júbilo do pai com o filho que volta, faz-se vítima e refém da soberba e do orgulho humano: 'tu nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos' (Lc, 15,29). O filho mais novo, que estava tão longe, está lá dentro outra vez. E o filho mais velho, que sempre lá esteve, recusa-se agora a entrar na casa do pai. Tal como no caso do primeiro filho, o pai de misericórdia vem, mais uma vez, buscar a ovelha desgarrada no filho mais velho que está fora e não quer entrar. Porque Deus, pura misericórdia, quer salvar a todos os seus pobres filhos afastados de casa e espera, com paciência e amor infinitos, a volta dos filhos pródigos e a volta dos seus filhos que creem apenas na justiça dos homens.