27. VINDE E VEDE
Este fato passou-se em Milão, na Itália. Alguns estudantes riam-se de um de seus colegas que acabara de comungar na igreja de Santo Ambrósio. Diziam que aquilo nao passava de uma superstição, de um costume tolo de velhas e camponeses ignorantes.
O moço católico, sem se zangar, convidou os colegas a comparecerem no domingo seguinte na igreja de Santo Ambrósio, pois poderiam assistir a um fato muito raro, isto é, à comunhão de dois famosíssimos ignorantes.
Chegados à igreja, o moço católico apontou para os bancos da frente e disse:
➖ Estão vendo lá ajoelhados aqueles dois velhinhos?
➖ Sim; quem são? - perguntaram os outros.
➖Aproximai-vos deles para reconheçê-los e perguntai-lhes se a missa vai começar logo.
Os estudantes aproximaram-se dos dois velhos, que rezavam devotamente, e fizeram-lhes a pergunta. Ficaram, porém, mudos e estupefatos. Aqueles dois velhos, que acabavam de comungar, eram Alexandre Manzoni e César Cantu, dois grandes sábios.
28. DUAS PEQUENAS HEROÍNAS
Este fato é contado por um missionário que estava visitando as numerosas ilhas da sua missão na Oceania. Visitada e evangelizada uma ilha, tinha de partir para outra. A despedida era sempre dolorosa porque sabia que, por muito tempo, não poderia voltar e nem rever os seus caros filhos.
Numa dessas excursões, deu a primeira Comunhão a duas meninas, que se tinham preparado com grande fervor e que a custo se separariam do bom missionário. O que mais as afligia era o pensamento de que, por muito tempo, não poderiam mais comungar. nem ouvir a palavra do missionário. Uma tarde, desejosas de receber em seus coraçõezinhos o Hóspede Divino, conceberam um projeto perigosíssimo e logo o puseram em prática. Entraram em sua barquinha de pesca e, encomendando-se à boa Mãe de Jesus, começaram a remar com força, esperando chegar de manhã, para a missa, até a ilha em que se encontrava o missionário.
Aquela noite foi de vento impetuoso, as ondas estavam furiosas e a distância até a ilha era de quinze milhas! Quando arribaram à suspirada ilha, estavam ofegantes, assustadas e num estado que causava dó. Correram à igrejinha improvisada, onde o missionário celebrava o Santo Sacrifício e tomaram parte no banquete dos anjos. Com lágrimas nos olhos, o sacerdote deu a hóstia divina àquelas duas heroínas, bendizendo a Deus por lhe ter reservado tamanha consolação. No dia seguinte, viajando em sua barquinha toda enfeitada de folhagens e flores, as duas meninas chegaram à sua ilhazinha natal, acompanhada de muitas outras embarcações.
29. MUITO BEM, CARO PRÍNCIPE!
Certo dia, estavam à mesa de Frederico, o Grande, numerosos convidados. A conversa versava sobre Jesus Cristo. O rei, cada vez que pronunciava esse nome, acrescentava uma blasfêmia.
O príncipe Carlos de Hesse, neto de Jorge II da Inglaterra, que estava presente, baixou os olhos e permaneceu silencioso. Quando o rei percebeu isso, interpelou-o com vivacidade:
➖ Diga-me, meu caro príncipe, você acredita nessas coisas?
➖ Majestade - replicou o príncipe - estou certo de que Jesus Cristo morreu na cruz como meu Salvador, como estou certo de falar neste momento com Vossa Majestade.
O rei ficou algum tempo absorto em seus pensamentos e depois, abraçando a Carlos, lhe disse:
➖ Muito bem, caro príncipe, você é o primeiro homem inteligente que encontrei nessa ilusão.
➖ Majestade - respondeu o príncipe - mesmo que seja eu o último, morrerei feliz nesta minha crença inabalável!
O resto da refeição decorreu em silêncio. À noite, quando Carlos de Hesse passava por um corredor do castelo, o general Tanenzien, o homem mais corpulento e musculoso do seu tempo, pôs as mãos sobre os seus ombros e, cobrindo-se de lágrimas, exclamou:
➖Bendito seja Deus que me deu vida bastante para ver um homem de coração confessar o Cristo perante o rei.
Carlos de Hesse, que narrou essa passagem, acrescentou: as lágrimas e as felicitações daquele nobre ancião recordam-me um dos mais belos instantes de minha vida. Ó se todos tivessem a fé e a intrepidez desse principe!
30. A CAÇA DO PARAÍSO
O eremita Santo Macedônio foi um dia surpreendido, na sua solidão, por um príncipe que, com um séquito numeroso, andava
caçando na floresta vizinha.
➖ Que fazeis aqui nesta solidão, neste deserto? - perguntou o príncipe ao eremita.
➖ Permiti-me - replicou o eremita - que vos pergunte primeiro: que fazeis vós aqui?
➖ Como vedes, eu vim à caça.
➖ E eu também - disse o eremita - eu também vim à caça. O que eu procuro, porém, é um bem eterno: ando à caça do Paraíso.
O príncipe despediu-se e partiu, meditando seriamente naquelas estranhas palavras do santo eremita: 'ando à caça do Paraíso!'
(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)
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