No comentário sobre o Livro do Gênesis, escrito em 414 d.C, Santo Agostinho baseou-se em observações astronômicas consolidadas para chegar à conclusão de que o Primeiro Relato da Criação do Gênesis deve contemplar uma cosmogonia simbólica e não uma descrição científica pronta e acabada. No relato bíblico, cada 'dia' termina com as palavras 'veio a tarde e seguiu-se a manhã'. Santo Agostinho percebeu que os seis 'dias' não poderiam ter o significado usual de dias de 24 horas, pois era bem sabido que os horários da noite e do dia são diferentes em diferentes partes do mundo:
'Mas se eu disser que [os dias são períodos de vinte e quatro horas], receio que serei ridicularizado por aqueles que sabem isso com certeza... que durante o tempo em que é noite para nós, a presença da luz está iluminando outras partes do mundo, além das quais o sol estará retornando do seu pôr do sol para o seu renascer... Então, vamos realmente colocar Deus em alguma parte [do mundo] onde pode ser noite para ele, enquanto a luz se retira dessa parte para outra?' [St. Augustine, De Genesi ad Litteram].
E Santo Agostinho, inspirado por sua reverência pela sabedoria perfeita de Deus, considerou também desprovida a ideia de atos criativos, separados da parte de Deus, para explicar as origens dos seres vivos ou dos seres humanos. Se Deus é perfeito, seu ato criativo também deve ser perfeito, sem falta de nada, sem necessidade de atos divinos adicionais para completá-lo. Portanto, Santo Agostinho especulou que Deus criou o universo com tudo o que ele precisava para produzir vida. Por exemplo, ele ensinou que todos os seres vivos, incluindo os seres humanos, existiam naturalmente no universo desde o seu primeiro momento, não como organismos reais, mas como rationes seminales - isto é, com 'razões seminais' ou 'princípios similares a sementes' - ocultos na própria natureza ou, por assim dizer, na própria textura dos elementos... [requerendo apenas] a ocasião adequada e propícia para realmente emergir' [St. Augustine, De Trinitate 3.9.16. Cf. De Genesi].
Embora não tivesse noção de descendência comum a partir de um ancestral original, nem de seleção natural e variação genética, a integridade da natureza como fonte da vida, que Darwin defenderia, já era celebrada por este Padre e Doutor da Igreja um milênio e meio antes dele.
(Fonte: Society of Catholic Scientists, artigo de Christopher Baglow)