sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

FRASES DE SENDARIUM (XLVI)


'A virtude mais necessária é o amor. Sim, digo e direi mil vezes: a virtude de que mais se precisa é o amor' 

(Santo Antônio Maria Claret)

Nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8, 38-39).

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

O QUE É PRECISO PARA SE ALCANÇAR A SALVAÇÃO

1. É necessário esforçar-se violentamente: 'o Rei­no dos Céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam', disse Jesus Cristo (Mt 11, 12). Em outro lugar, Ele disse: 'Esforçai-vos por entrar pela porta estreita' (Lc 13, 24). E acrescentou: 'Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz a cada dia e siga-me' (Lc 9, 23).

2. É preciso morrer: 'Quem quiser salvar a sua alma, há de perdê-la', disse Jesus Cristo (Mt 16, 25), ou seja, devemos nos dedicar à prática da mortificação e de todas as virtudes.

3. É preciso avançar sempre: 'Correi de tal maneira que alcanceis o prêmio', disse São Paulo (1Cor 9, 24). 'Todos os atletas se impõem a si muitas privações; e o fazem para alcançar uma coroa corruptível. Nós o fazemos por uma coroa incorruptível. Assim, eu corro, mas não sem rumo certo. Dou golpes, mas não no ar. Ao contrário, castigo o meu corpo e o mantenho em servidão' (1Cor 9, 25-27).

4. Não olhar para trás: 'Qualquer um que põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o reino de Deus', disse Jesus Cristo (Lc 9, 62).

5. Ter temor e tremor: 'É necessário trabalhar para a nossa salvação com temor e tremor', disse o grande apóstolo (Fp 2, 12).

6. Esquecer a terra e pensar no Céu: Disse São Paulo: 'Prossigo o meu curso para alcançar aquilo para o qual fui chamado por Cristo Jesus. Não penso que o tenha alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficam para trás e estendendo-me para as que estão adiante de mim, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus' (Fp 3, 12-14).

7. Aproveitar o tempo favorável, que é o presente: Disse São Paulo: 'Vede agora o tempo aceitável; vede agora o dia da salvação' (2Cor 6, 2).

8. É preciso viver para Jesus Cristo: Disse o grande Apóstolo: 'É necessário viver para aquele que morreu por todos, a fim de que os que vivem não vivam para si mesmos, mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles' (2Cor 5, 15).

9. É necessário lutar pela fé: 'Combate o bom combate da fé. Conquista a vida eterna, para a qual foste chamado', escreveu São Paulo a Timóteo (1Tm 6, 12).

10. É preciso sofrer as provações com paciência: Disse São Paulo: 'Através de muitas tribulações devemos entrar no reino de Deus' (At 14, 21).

11. É necessário fugir, guardar silêncio e retiro: Devemos empregar os meios dados a São Arsênio por um anjo; veja-os aqui: 'Arsênio, fuja, guarde o silêncio e o retiro; estes são os princípios da salvação' (In Vit. Patr.).

12. É preciso ser prudente: 'A alma imprudente perde a sua salvação', dizem os Provérbios (Pv 19, 2). A prudência é o que a Sabedoria chama de 'ciência dos santos' (Sb 9, 10) e o anjo, em São Lucas (Lc 1, 17) de 'sabedoria dos justos'.

13. É preciso ter compaixão da alma e vigiá-la: 'Tem misericórdia de tua alma, tornando-a agradável a Deus, e modera-te', diz o Eclesiástico (Eclo 30, 24).

14. Devemos pensar no juízo: 'Deus' - diz Orígenes - 'confiou e recomendou à vossa alma a sua imagem e semelhança, e deveis devolvê-la tão intacta como Ele a deu, este tão precioso depósito' (In Cant.).

15. É preciso recomeçar, marchar e ter apenas a Deus como meta: Quando São Carlos Borromeu foi perguntado sobre os melhores meios para agradar a Deus e assegurar a salvação, ele traçou as seguintes regras: (i) é necessário começar cada dia, ou seja, devemos nos esforçar a cada dia em servir a Deus com tanto fervor como se estivéssemos começando de novo; (ii) marchar no momento presente na presença de Deus; (iii) ter somente a Deus como fim em todas e cada uma das ações (In ejus vita).

16. Devemos guardar a alma com solicitude: Como diz o Deuteronômio (Dt 4, 15): 'Guardai diligentemente as vossas almas'.

17. É necessário observar a lei de Deus: 'Se quereis alcançar a vida, guardai os mandamentos', disse Jesus Cristo (Mt 19, 17). 'Quem guarda os mandamentos de Deus, salva a sua alma', dizem os Provérbios (Pv 19, 16). Jesus Cristo disse ainda: 'Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai é que entrará no reino dos céus' (Mt 7, 21).

18. É preciso querer salvar-se e querer com firmeza: Quando São Tomás de Aquino foi perguntado por sua irmã o que ela deveria fazer para se salvar, ele respondeu: 'Querendo, ou seja, você poderá se salvar se quiser eficazmente; pois essa vontade eficaz, que é o fim da salvação, a forçará a adotar com ardor todos os meios necessários para alcançá-la'. E, quando a sua irmã lhe perguntou o que ele mais desejava nesta vida, ele respondeu: 'Morrer bem' (Bene mori. 4. p.q. art. 9).

(Cornélio à Lapide)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

QUESTÕES SOBRE A DOUTRINA DA SALVAÇÃO (VI)

P. 12 - Também os membros da Igreja de Cristo, quando atingem idade suficiente, não são obrigados a examinar se estão no caminho certo ou não, assim como aqueles que foram educados em alguma seita separada da verdadeira Igreja?

Não há nada que a Igreja de Cristo possa desejar com mais ardor do que ver seus filhos totalmente instruídos na sua religião e nos fundamentos dela, na medida em que são capazes. Para esse fim, ela ordena estritamente aos seus pastores que sejam diligentes em instruir o povo desde seus primeiros anos, sabendo bem que quanto mais eles conhecerem a sua religião, mais devem se apegar a ela. A verdadeira Igreja de Cristo é obra de Deus, a doutrina que ela ensina contém as verdades de Deus; agora, quanto mais atentamente a verdade é examinada, mais ilustre ela deve parecer; e Deus Todo-Poderoso deu tal testemunho esplêndido da verdade da sua religião que, quanto mais é examinada com sinceridade, mais ela convence e encanta. Aqui, então, está a diferença: quando um membro da Igreja de Cristo considera sua religião, ele não pode ter qualquer motivo razoável para duvidar dela, e quanto mais ele a examina, mais convencido fica da sua verdade. Mas alguém educado em uma religião falsa, se pensar, não pode deixar de perceber os motivos mais fortes para duvidar; e quanto mais ele examina, mais a falsidade dela deve aparecer, pois a falsidade nunca pode suportar a luz de um exame imparcial e isento.

P. 13 -  Mas como se explica vermos tantos homens bons e eruditos em todas as seitas cristãs, algumas das quais devem ser indiscutivelmente falsas, já que se contradizem e se condenam mutuamente?

Para entender isso, devemos observar que a Palavra de Deus declara que Deus deseja 'que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade' (1Tm 2,4). Como consequência desse sincero desejo, Deus nunca deixa de dar a todos ajuda externa e graça interior que Ele considera suficientes para conduzi-los ao conhecimento da verdade, se eles cooperarem com ela; mas se fecharem os olhos à sua luz; se, pela corrupção de seus corações, não atentarem para as suas graças, então permanecem na ignorância; mas sua ignorância é voluntária em sua causa e uma justa punição por sua própria culpa. 

Agora, embora muitos daqueles que são educados em uma religião falsa possam viver boas vidas quanto à honestidade moral aos olhos do mundo, ainda assim podem ser muito culpáveis diante de Deus e, por suas paixões secretas e apegos às coisas desta vida, podem colocar um obstáculo eficaz ao seu plano misericordioso de levá-los ao conhecimento da sua verdade. O orgulhoso fariseu era um homem justo aos olhos do mundo, e ainda assim foi condenado por Deus Todo-Poderoso devido ao orgulho secreto de seu coração. E quanto aos homens de aprendizado que se encontram em uma religião falsa, seu conhecimento não os isenta de orgulho e paixão; ao contrário, a Palavra de Deus nos assegura que 'o conhecimento enfraquece' (1Cor 8,1) e, em geral, onde não há verdadeira humildade e amor a Deus, quanto mais aprendizado há, mais orgulho, auto-suficiência, desejo de glória e obstinação de coração, e consequentemente mais oposição à fé; pois Jesus Cristo, em sua própria palavra, disse aos judeus, cujos corações endurecidos resistiam a todas as evidências da sua doutrina e milagres: 'Como podeis crer, vós que recebeis glória uns dos outros, e a glória que vem de Deus só não buscais?' (Jo 5,44). 

Não há dúvida de que havia muitos eruditos, tanto entre os judeus quanto entre os gentios, quando o Evangelho foi inicialmente pregado pelos apóstolos, e ainda assim, apesar dos inúmeros milagres realizados para provar que ele vinha de Deus, São Paulo nos diz explicitamente que isso era 'para os judeus um tropeço, e para os gentios loucura' (1Cor 1,23); porque, apesar de todo o seu aprendizado, seu orgulho, paixões e preconceitos cegavam suas mentes de tal forma que a luz do Evangelho brilhou sobre eles em vão. Portanto, não é uma surpresa ver eruditos em uma religião falsa, especialmente porque seu aprendizado é geralmente de um tipo mundano, pois a fé é um dom de Deus; e não é o conhecimento da mente, mas a humildade e a sinceridade do coração, que dispõem a alma a receber esse dom dEle; sim, Cristo diz expressamente que 'Deus esconde essas coisas dos sábios e prudentes, e as revela aos pequeninos' (Mt 11,25). Devemos concluir, então, que entre aqueles que são educados em uma religião falsa e separados da Igreja de Cristo, mas que sabem que há uma Igreja que se declara como a única verdadeira Igreja de Cristo, que têm a oportunidade de ouvir falar dela e se familiarizar com aqueles de sua comunhão, é altamente improvável que haja lugar para uma ignorância invencível. Mas ainda que algum deles for encontrado invencivelmente ignorante, seu estado será o mesmo de pessoas que nunca tiveram a oportunidade de conhecer qualquer outra religião além da falsa em que se encontram.

(Excertos da obra 'The Sincere Christian', V.2, do bispo escocês George Hay, 1871, tradução do autor do blog)

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

GLÓRIAS DE MARIA - NOSSA SENHORA DE LOURDES

Em Lourdes, Nossa Senhora apareceu a Bernadette Soubirous, para confirmar o dogma de sua imaculada conceição e para ratificar os valores incomensuráveis da oração, da penitência e da verdadeira vida de devoção a Deus. Nas palavras da própria vidente, eis o relato da primeira de um total de 18 aparições:

'A primeira vez que fui à gruta, era quinta-feira, 11 de fevereiro [quinta-feira anterior à quarta-feira de cinzas]. Após o jantar, saí para recolher galhos secos [a lenha para aquecer a casa simples de sua família havia acabado, durante um período de tempo particularmente frio] com a minha irmã Toinette e uma vizinha chamada Jeanne Abadie. Após procurarmos lenha em outros lugares sem sucesso, nos deparamos com o canal do moinho. Perguntei, então a elas se queriam ver onde a água do canal se encontrava com o Gave [rio Gave]. Elas me responderam que sim. Seguimos o canal do moinho até que nos encontramos diante de uma gruta [gruta de Massabielle], não podendo mais prosseguir.

Jeanne e minha irmã tiraram rapidamente os seus tamancos e atravessaram o fluxo que não era intenso. Após atravessarem o canal, começaram a esfregar os pés, dizendo que a água estava gelada. Isso aumentou a minha preocupação [Bernadette sofria de asma e não podia se expor à friagem]. Chegou a pedir a Jeanne [maior e mais forte que ela] para levá-la nos ombros, no que não foi atendida: 'Se você não consegue vir, fique aí então!' Apanhando galhos secos ali perto, as duas se afastaram e eu as perdi de vista. Tentei ainda buscar uma passagem mais embaixo sem ter que tirar os sapatos, colocando pedras no canal, mas não consegui passar. 

(gruta à época das aparições; em primeiro plano, o canal que Bernadette não conseguiu atravessar)

Então, regressei diante da gruta e comecei a tirar os sapatos, para fazer a travessia como elas fizeram. Tinha acabado de tirar a primeira meia, quando ouvi um barulho como de uma ventania. Então girei a cabeça para um lado e para o outro e não vi nada, nem nenhum movimento das folhas das árvores. Continuei a tirar os sapatos e nisso ouvi, mais uma vez, o mesmo barulho. Olhando em direção à gruta, vi um arbusto - um único arbusto encravado nas aberturas da rocha - balançando fortemente. Quase no mesmo tempo, saiu do interior da gruta uma nuvem de cor dourada e, logo depois, uma senhora, jovem e muito bonita, como eu nunca tinha visto antes, veio e se colocou na entrada da abertura, suspensa sobre uma roseira [mais tarde, instada a descrever a aparição, Bernadette a descreveu assim: 'Ela tinha a aparência de uma jovem de dezesseis ou dezessete anos e estava vestida com uma túnica branca, um véu também branco, uma cinta azul e os pés desnudos e ornados com uma rosa dourada em cada pé, ambos encobertos pelas últimas dobras do seu manto. Ela segurava na mão direita  um rosário de contas brancas com uma corrente de ouro brilhando como as duas rosas em seus pés]. 


Sorrindo para mim, fez um sinal para que eu me aproximasse. Eu pensei estar sendo vítima de uma ilusão. Esfreguei os olhos; porém, ao olhar outra vez, ela continuava ali e, sorrindo, me deu a entender que eu não estava enganada. Tirei o meu terço do bolso e, caindo de joelhos, tentei rezá-lo. Queria fazer o sinal da cruz, mas não conseguia sequer levar a mão à testa. A senhora fez com a cabeça um sinal de aprovação e, tomando o seu próprio terço, começou a oração e, somente então, pude fazer o mesmo. Assim que fiz o sinal da cruz, desapareceu o grande medo que sentia e fiquei tranquila. Deixou-me rezar o terço sozinha, somente acompanhando as contas com os dedos, em silêncio; somente rezando oralmente o Gloria  comigo, ao final de cada dezena. Ao final da recitação do terço, a senhora voltou ao interior da gruta e a nuvem dourada desapareceu com ela.

Assim que a senhora desapareceu, Jeanne e a minha irmã regressaram, encontrando-me de joelhos no mesmo lugar onde tinham me deixado, fazendo troça da minha covardia. Mergulhei os pés no canal e a água estava bem aquecida e elas aparentemente não se importaram com isso. Perguntei às duas se não haviam visto algo na gruta: 'Não'. Me disseram, então: 'Por que nos pergunta isso?' 'Ó, por nada, por nada', respondi tentando mostrar indiferença. Pensava sem parar em tudo o que tinha acabado de ver. No retorno à casa, diante da grande insistência delas, contei-lhes tudo o que acontecera, pedindo que não dissessem nada a ninguém.


À noite, em casa, durante a oração familiar, fiquei tão perturbada que comecei a chorar. Minha mãe me perguntou qual era o problema. Minha irmã começou a responder por mim e eu fui obrigada a contar os acontecimentos daquele dia. 'São ilusões' - respondeu minha mãe - 'tire essas coisas da cabeça e não volte mais à Massabielle'. Fui dormir, mas eu não conseguia tirar da memória o rosto e o sorriso doce da senhora. Era impossível acreditar que eu podia estar enganada'.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS (402/404)


CONTOS DE FANTASIA (LENDAS)

402. TOMA ESTE CÁLICE... ENCHE-O DE ÁGUA

Meninos, ouvi! Sabemos que era um jovem e que cometera pecados horríveis. Mas tinha fé e, às vezes, punha-se a pensar na hora da morte e na eternidade e então aquele jovem sentia que o desespero o arrastava à condenação eterna. De vez em quando sentia um desejo ardente de voltar ao bom caminho, de converter-se a Deus, de fazer penitência. Entretanto, do fundo da alma parecia que uma voz lhe gritava:
➖ Não há perdão para ti.

Ao passar um dia por uma igreja, não pôde vencer o desejo de entrar. Qualquer coisa o atraía. E se viu então diante do Cristo Crucificado. Rezou e com os olhos rasos de lágrimas, disse:
➖ Senhor, haverá ainda misericórdia para mim?
E ouviu uma voz que lhe dizia:
➖ Teus pecados serão perdoados, quando tiveres chorado muito.
➖ Senhor - replicou o jovem - chorarei toda vida; mas quisera ter certeza de que chorei bastante e de que me perdoaste.
Então o divino Crucificado, estendendo a mão, entregou-lhe um cálice e disse:
➖ Toma-o. Quando o encheres de água, será sinal de que teus pecados te foram perdoados.

Tremendo de comoção tomou o penitente o precioso cálice. Pouco distante dali havia uma grande pedra. Das entranhas daquela rocha brotava uma fonte.
➖ Na água dessa fonte encherei o meu cálice.
Subiu ao alto do morro. Acercou-se da rocha. Encostou o cálice à água, mas... a fonte secou.
➖ Secou-se a fonte - disse consigo o pecador - mas não secará a torrente que corre atrás daquelas montanhas.

E subiu aos montes e desceu aos vales e, por fim, chegou à suspirada torrente. Mas, quando quis encher o cálice... a torrente secou.
➖ Secou-se a fonte e secou-se a torrente - murmurou o jovem; certamente quer Deus que eu faça penitência e busque com trabalhos e suores a água do perdão. Detrás daqueles montes, do outro lado destas terras, está o mar. Secou-se a fonte secou-se a torrente, mas não secará o mar. Nas águas salgadas do mar encherei o meu cálice.

E pôs-se a caminho. Andou muito através de campos, montes e vales e, finalmente, do alto da gigantesca serra contemplou o mar distante. O' mar - exclamou - és a minha esperança; em tuas águas inesgotáveis encherei o meu cálice.
E desceu e correu ansiosamente. Já estavam muito perto as praias do mar. Dá um grito de alegria e avança com o cálice na mão para enchê-lo nas ondas que vinham beijar-lhe os pés. Mas, de repente, vê com horror que as ondas se afastam e fogem e o mar retroce diante dele... Cai de joelhos o pobre jovem e não se atreve a erguer os olhos ao céu; inclina a cabeça e rompe em copioso pranto de arrependimento. Chorou muito e sem parar. Quando voltou a si, quando quis enxugar a última lágrima dos seus olhos inflamados, viu que o cálice estava cheio de água, da água de suas lágrimas. Aí está: essa é a água que lava as nossas almas e nos obtém o perdão.

403. A CRUZ DO ROSÁRIO

Sobre São Pedro, o chaveiro do céu, há várias lendas, sendo a seguinte bastante interessante e instrutiva. Dizem que, um belo dia, São Pedro fechou a porta do céu por fora e veio dar umas voltas pelo mundo para ver como andavam as coisas por aqui. Parecia-lhe que estava chegando pouca gente ao céu e era preciso conhecer a causa dessa triste situação. Terminado o seu inquérito, e achando mais prudente não conceder entrevista aos jornais bisbilhoteiros, dirigiu seus apressados passos lá para cima. Aconteceu, porém, que, ao chegar à porta do paraíso, meteu a mão nos bolsos e - ai! - não encontrou mais a chave. Perdera-a e não sabia nem onde nem como. O que fazer em tamanha aflição?
➖ Descerei de novo à terra, disse, e procurarei um bom serralheiro que me faça uma nova chave.

De fato, não custou a encontrar um muito entendido e, disse-lhe:
➖ Olhe, eu preciso com urgência de uma chave para abrir a porta do céu. Você pode fazê-la?
➖Perfeitamente; mas custará mais, porque há de ser uma chave extraordinária.
➖ Que homens! - disse consigo S. Pedro - nem para o céu fazem uma chave de graça! Que seja! Não há dúvida; vamos lá para cima.

Subiu o serralheiro ao céu e, orgulhoso de sua arte, examinou o modelo, tirou as medidas e voltou à terra. Tomou dos instrumentos, talhou a chave, limou-a, poliu-a e, triunfante, apresentou-se à porta do céu. Mas - ai! - a chave entrava no buraco da fechadura, dava voltas, mas nada! Não abria a porta.
➖ Que venha outro serralheiro, mas depressa - disse São Pedro.
Chegou outro, mais presumido que o primeiro, fez as mesmas manobras e nada! A chave não abria.
Assim foram fracassando, uns após outros, todos os serralheiros.

Entretanto, as almas que vinham chegando, dos quatro cantos do mundo, começavam a impacientar-se, porque demorava muito a entrada no céu. São Pedro suava frio pois, por seu descuido, já ninguém podia entrar na glória. Por fim, uma humilde velhinha se ofereceu para abrir a porta.
➖ Bem. Experimente, vamos ver - disse São Pedro.
E a velhinha,que, na terra, fôra devotíssima de Nossa Senhora, meteu a cruz de seu rosário na fechadura, deu meia volta à chave improvisada e a porta se abriu.
➖ Bravo! Bravo! exclamaram todos, é o rosário de Nossa Senhora que nos abre a porta do Céu! E lá entraram cheios de alegria e contentamento

404. POBREZA FELIZ

Corre entre os russos a seguinte história. O czar (imperador) caiu gravemente enfermo. Não encontrando remédio, disse:
➖ Darei a metade de meu reino a quem me curar.
Reuniram-se então todos os sábios para uma consulta, cujo tema era: 'Como havemos de curar o imperador?' Depois de muito discutirem, disse um:
➖ Procurai um homem feliz, tirai-lhe a camisa e levai-a ao czar e, vestindo-a, ele vai se curar.
Mensagiros percorriam todo o império à procura do homem feliz, mas não o encontravam, porque um era rico, mas sempre doente; outro era são, mas pobre; este, são e rico, mas sem filhos; aquêle são, rico e com filhos, mas atribulado; todos, enfim, tinham do que lamentar-se.

Um dia, o filho do czar aproximou-se à noitinha de uma cabana, parou e ouviu que dentro um homem falava assim:
➖ Graças a Deus, trabalhei, comi e vou para a cama contente de ter cumprido o meu dever. Nada me falta, sou feliz. O filho do czar não cabia em si de contente, pois encontrara afinal o homem feliz e estava disposto a dar-lhe quanto dinheiro quisesse pela camisa, que levaria imediatamente ao czar, seu pai. Bateu à porta, entrou, pôs-se diante do homem feliz para comprar-lhe a cobiçada camisa, mas...o que ele viu? O homem feliz não possuía nem uma camisa! Bem-aventurados os pobres...

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

domingo, 9 de fevereiro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Vou  cantar-vos, ante os anjos, ó Senhor, e ante o vosso templo vou prostrar-me!' (Sl 137)

Primeira Leitura (Is 6,1-2a.3-8) - Segunda Leitura (1Cor 15,1-11) -  Evangelho (Lc 5,1-11)

  09/02/2025 - QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM 

'AVANÇA PARA ÁGUAS MAIS PROFUNDAS!'


'Avança para águas mais profundas' (Lc 5,4). A orientação imperativa de Jesus aos pescadores, às margens do Lago de Genesaré, é um clamor que reverbera a todos os homens de todos os tempos. Que os filhos de Deus manifestem, além dos horizontes estreitos de sua religiosidade comum, a vocação de autênticos apóstolos, movidos na plenitude do amor e da generosidade de corações verdadeiramente cristãos. Não nos basta sermos artífices da graça de Deus em nós; neste quinto domingo do Tempo Comum, Jesus nos convoca a sermos missionários das graças de Deus para a salvação de muitos.

Após uma noite de duro trabalho totalmente infrutífero, os pescadores exaustos sabiam e tinham razões mais do que suficientes para julgar que o pedido de Jesus seria inútil. Com toda a experiência acumulada de anos de pesca naquelas águas, da pescaria mais adequada sob a luz noturna, voltar às águas à luz da manhã parecia um despropósito completo. Pedro, no entanto, abre mão do seu conhecimento especializado e do seu juízo dos fatos, em obediência e em generosa confiança às palavras do Mestre: 'Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes' (Lc 5, 5). Naquele pescador de lida bruta, Jesus divisou a alma do verdadeiro apóstolo! E o milagre dos peixes antecipou o milagre da salvação dos homens.

Quanto trabalho e esforço em vão dispensaram tantos pescadores naquela noite sem resultados... E, certamente, eles eram os mais preparados e os mais qualificados para a tarefa. Não são assim as práticas daqueles que se vêem em suas obras? Que partilham com os outros sua diligência e disponibilidade como senhores dos seus dons? E, por mais que julguemos tais obras meritórias do ponto de vista das concepções humanas, são apenas trabalho e esforço vão de pescadores qualificados e disponíveis. Porque foi o próprio Cristo quem nos alertou: 'Sem mim, nada podeis fazer' (Jo, 15,5). E nada é nada mesmo. Sem a reparação infinita por Jesus Cristo, qualquer atitude nossa, por maior que seja sua relevância e excepcionalidade, torna-se meramente figurativa e essencialmente insignificante, porque moldada na superficialidade dos valores humanos.

Eis porque se impõe o avanço confiante às águas mais profundas, para ir ao encontro de tantos que estão perdidos no submundo das drogas, do aborto e do hedonismo, nas trevas do pecado, submersos no emaranhado de tantas consciências afastadas de Deus, na miséria do ateísmo e da indiferença religiosa. Em águas profundas, com Cristo, por Cristo e em Cristo, um nosso ato de generosidade confiante é capaz de produzir prodígios, um nosso ato de amor tem o poder de operar milagres! E, feitos apóstolos dos nossos dias, como Pedro e os homens à beira do Lago de Genesaré, poderemos ser também pescadores de homens! E, como eles, seremos aqueles outros que 'levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus' (Lc 5,11).

sábado, 8 de fevereiro de 2025

08 DE FEVEREIRO - SANTA JOSEFINA BAKHITA

   


A primeira santa africana nasceu numa aldeia próxima a Dardur, no Sudão, por volta de 1869 – ela mesma não sabia a data precisa. Raptada por traficantes de escravos aos nove anos de idade, foi trancada inicialmente em um quarto escuro e miserável, depois espancada barbaramente e vendida cinco vezes nos mercados do Sudão, padecendo todo tipo de humilhação e selvageria nas mãos dos seus senhores. Este martírio atroz desde tenra idade roubou-lhe o próprio nome; o nome Bakhita - 'afortunada' em árabe -  foi-lhe dado pelos próprios traficantes.

Mas o pior dos tormentos ainda estava por vir. Comprada por um general turco, foi submetida a sofrimentos inimagináveis a serviço da mãe e da esposa deste homem, que incluíram dezenas de tatuagens no seu corpo abertas por navalha e que lhe legaram 144 cicatrizes e um leve defeito ao caminhar. A descrição destes tormentos foi assim exposta nas palavras da santa:

'Uma mulher habilidosa nesta arte cruel [tatuagem] veio à casa principal... nossa patroa colocou-se atrás de nós, com o chicote nas mãos. A mulher trazia uma vasilha com farinha branca, uma vasilha com sal e uma navalha. Quando terminou de desenhar com a farinha, a mulher pegou da navalha e começou a fazer cortes seguindo o padrão desenhado. O sal foi aplicado em cada ferida... Meu rosto foi poupado, mas 6 desenhos foram feitos em meus seios, e mais 60 em minha barriga e braços. Pensei que fosse morrer, principalmente quando o sal era aplicado nas feridas... foi por milagre de Deus que não morri. Ele havia me destinado para coisas melhores'.

Em 1882, com o retorno do general à Turquia, Bakhita foi comprada pelo cônsul italiano Calixto Legnani que a tratou como serviçal e não como escrava, sem humilhações e castigos. Diante de uma revolução nacionalista no Sudão, o cônsul retornou à itália levando Bakhita consigo, que foi cedida então a amigos do cônsul, o casal Michieli, em cuja casa começou a morar na região do Veneto, tendo por encargo especial os cuidados da filha do casal, a pequena Mimina. Foi nesta família católica que Bakhita conheceu a revelação de Jesus Cristo, sua flagelação e sua morte de cruz. O caminho de Bakhita estava traçado: da conversão à santidade pela via da caridade e do perdão. 

Em 9 de janeiro de 1890, foi batizada e crismada com o nome de Josefina e recebeu a Sagrada Comunhão das mãos do Patriarca de Veneza. Pouco depois, solicitou seu ingresso no Instituto das Filhas da Caridade, fundado por Santa Madalena de Canossa. Em 8 de dezembro de 1896, em Verona, pronunciou os votos finais de religiosa da congregação. A partir de então, por mais de 50 anos, sua vida foi um ato constante de amor a Deus e à caridade para com todos. Além de operosa nos serviços simples como na sacristia e na portaria do convento, realizou várias viagens através da Itália para difundir a sua missão: a libertação dada a ela pelo encontro com Cristo deveria ser compartilhada com o maior número possível de pessoas; a redenção que experimentara não podia ser guardada como posse, mas levada como sinal de esperança para todos.


Em 8 de fevereiro de 1947, após muito sofrimento de doenças como bronquites e pneumonias, a Irmã Josefina faleceu no convento canossiano de Schio, com a idade de 78 anos. Na hora da sua morte, seu semblante pareceu iluminar-se e exclamou com alegria suas últimas palavras 'Como estou contente! Nossa Senhora, Nossa Senhora!' A Irmã Moretta - a Irmã Morena - como era carinhosamente conhecida entregava serenamente a sua alma ao Senhor, rodeada pela comunidade em pranto e em oração. Seu corpo foi enterrado originalmente na capela de uma família de Schio, para um sepultamento definitivo posterior no Templo da Sagrada Família. Quando isso foi finalmente preparado, verificou-se que o corpo de Bakhita estava incorrupto, sendo o mesmo sepultado então sob o altar da igreja do mesmo convento. Em 17 de maio de 1992 foi beatificada e, em 1º de outubro de 2000, foi elevada à honra dos altares e declarada santa pelo Papa João Paulo II.