quinta-feira, 27 de outubro de 2022

PALAVRAS ETERNAS (XIII)

Beati pauperes spiritu, quoniam ipsorum est regnum Caelorum

'Bem-aventurados os pobres de espírito
porque deles é o Reino dos Céus!' (Mt 5,3)


Era uma vez um rei que tinha duas filhas: uma delas era de singular formosura, porte esbelto, muito atraente e vivaz; a outra, muito feia e sem atrativos, de semblante pálido e trato qualquer. Esta vendo-se tão inferior à outra, foi chorar junto ao pai, lamentando-se que ninguém a tomaria por esposa. Disse-lhe então o pai: 'Aquieta-te filha, que eu tenho determinado que quem escolher a tua irmã não levará mais dote além da sua formosura e boa conversação; mas quem escolher a ti, levará por dote todo o meu reino'. 

Eis aí a sã doutrina! Este rei é Deus e as duas irmãs são a opulência e a pobreza, filhas do mesmo pai porque Deus fez o pobre e o rico: Dives et pauper obviaverunt sibi: et utriusque operator est Dominus (Pv 22, 2). A opulência é formosa aos olhos do mundo, reluz muito, veste-se muito bem, vive contente e onde quer que vá recebe vivas e agrados. Ao contrário, a pobreza é feia e triste, tende a ser repelida e vive abandonada. Quem se casa com a opulência, porém, não leva mais nada além do dote da glória e do brilho do mundo, que logo passam. E quem recebe a pobreza e com ela vive em paz, promete-lhe Deus o Reino do Céu: beati pauperes spiritu, quoniam ipsorum est regnum Caelorum (Mt 5,3).

(Pe. Manuel Bernardes, em 'Sermões e Práticas').