quarta-feira, 6 de junho de 2018

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XIII)

IX

DOS DONS, COMPLEMENTOS DAS VIRTUDES

É suficiente que o homem possua as virtudes de que temos falado, para que possa alcançar a eterna Bem-aventurança?
Não, Senhor; necessita além disso dos dons do Espírito Santo (LXVIII)*.

Que se entende por dons do Espírito Santo?
Certas disposições habituais e infusas que fazem o homem dócil e submisso às inspirações e movimentos interiores com que o Espírito de Deus o guia e encaminha para a felicidade eterna (LXVIII, 1, 2, 3).

Por que, além das virtudes, necessita o homem dos dons do Espírito Santo?
Porque está elevado, como dissemos, à vida da graça, e para que as suas ações alcancem nesta ordem a perfeição precisa, é necessário um auxílio direto e especial de Deus, com que se leve a bom termo o que, com o exercício das virtudes, só se pode iniciar; pois os dons do Espírito Santo preparam e dispõem para receber esta ação de Deus (LXVIII, 2).

Quantos são os dons do Espírito Santo?
São sete (LXVIII, 4).

Quais são?
Sabedoria, entendimento, ciência, conselho, piedade, fortaleza e temor de Deus (Ibid).

X

DAS BEM-AVENTURANÇAS E FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO, RESULTANTES DOS DONS E VIRTUDES

Possui o homem, adornado com as virtudes e dons do Espírito Santo, tudo o que de sua parte necessita para levar uma vida perfeita na ordem sobrenatural?
Sim, Senhor.

Podemos dizer que a sua vida, neste caso, é na terra já o começo da que depois há de levar no céu?
Sim, Senhor; e em atenção a isso falamos, neste mundo das bem-aventuranças e dos frutos do Espírito Santo.

Que entendeis por bem-aventuranças?
Os atos das virtudes e dos dons, conforme as enumerou Jesus Cristo, como consta do Evangelho, que, por sua presença na alma, ou pelos merecimentos que em sua virtude entesoura, são como uma antecipação e um penhor da vida eterna (LXIX, 1).

Que entendeis por frutos do Espírito Santo?
As boas ações de ordem sobrenatural que, realizadas sob a inspiração do Espírito Santo, têm a virtude de produzir prazer e alegria quando se praticam (LXX, 2).

São distintas das bem-aventuranças?
Distingamos: enquanto significam o bem supremo do homem, não, Senhor, porque neste sentido se confundem com o fruto por excelência, que é a bem-aventurança celestial. Pela mesma razão, podem identificar-se com as bem-aventuranças aqui na terra. Porém, distinguem-se em que as bem-aventuranças são obras excelentes e perfeitas, e ao fruto lhe basta a razão de obra boa, sem ser perfeita (LXX, 2).

Quais são as bem-aventuranças e qual a sua recompensa?
São as seguintes: Bem-aventurados os pobres de Espírito, porque deles é o reino do céu; bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra; bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados; bem-aventurados os que têm fome e sede de Justiça, porque serão fartos; bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia; bem-aventurados os limpos do coração, porque verão a Deus. bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus (LXIX, 2-4).

Quais são os frutos do Espírito Santo?
Caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, longanimidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência e castidade (LXX, 3).

Donde consta a sua existência?
Da Epístola de São Paulo aos Gálatas (V, 22, 23).

Onde se enumeram as bem-aventuranças?
A enumeração completa lê-se em São Mateus (Mt 5, 3-13). Encontra-se outra, se bem que incompleta, em São Lucas (LC 6, 20-22).

Consigna São Mateus e reproduz São Lucas outra bem-aventurança, que seria a oitava?
Sim, Senhor; e é a bem-aventurança dos que sofrem perseguição por amor à Justiça, porém, se põe a modo de resumo e conclusão das sete anteriores, nas quais está incluída (LXXXIX, 3 ad 5).

Há, neste mundo, alguma coisa mais proveitosa para o homem do que o exercício assíduo dos dons e virtudes conducentes às bem-aventuranças e frutos do Espírito Santo?
Não, Senhor.

XI

DOS VÍCIOS, FONTE E ORIGEM DOS ATOS PECAMINOSOS

Há. neste mundo, algum método de vida oposto ao que acabamos de descrever?
Sim, Senhor; a vida do vício e do pecado (LXXI-LXXIX).

Que entendeis por vício?
O estado do homem que vive em pecado (LXXI, 1-6).

Que entendeis por pecado?
Um ato ou omissão voluntária em matéria ilícita (Ibid).

Quando devemos dizer que um ato ou omissão voluntária é pecaminoso?
Quando é contrário ao bem de Deus, ao bem próprio ou ao do nosso próximo (LXXII, 4).

Como é possível que possa o homem querer coisas opostas ao bem de Deus, ao seu próprio bem e ao do seu próximo?
Porque pode querer um bem incompatível com aqueles bens (LXXI, 2).

Que bens podem ser estes incompatíveis com o de Deus, o próprio e o do próximo?
Os que deleitam os sentidos ou lisonjeiam a ambição e o orgulho (LXXII, 2, 3; LXXVII, 5).

Por que pode o homem querer semelhantes bens?
Porque os sentidos têm a faculdade de inclinar-se para o que proporciona prazeres, antecipando-se ao exercício da inteligência e da vontade, ou arrastando estas duas faculdades para o seu partido, se elas não se opõem, podendo e devendo fazê-lo (LXXIII, 2 ad 3).

Qual é, por conseguinte, a raiz, a origem, e, em certo modo, a razão de todos os pecados humanos?
A prossecução desatenta dos bens sensíveis e temporais.

Como se chama o estado que inclina o homem a procurar sem razão, nem medida, os bens sensíveis?
Chama-se cobiça ou concupiscência (LXXVII, 1-5).

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular).