quinta-feira, 5 de novembro de 2015

ORÁCULO DAS ALMAS DO PURGATÓRIO (VII)

Monsenhor Louvet, na sua obra 'Le purgatoire d’ápres les revélations des Saints', narra um fato prodigioso da proteção das almas aos que a elas socor­rem com sufrágios.

Um padre italiano, Luiz Monaci, religioso dos Clérigos Menores, era um fervoroso devoto das al­mas. Em toda parte e em todas as ocasiões procura­va meios de ajudar as benditas almas sofredoras. Em uma noite teve de viajar e atravessar sozinho uma planície deserta e perigosa, porque infestada de bandidos e salteadores, os quais já haviam tirado a vida a muita gente para roubar. 

Pelo caminho, o bom pa­dre não perdia tempo: ia recitando piedosamente o rosário de Maria pelas almas do purgatório. Ao avis­tar de longe o pobre sacerdote sozinho e desprovido de armas, um grupo de bandidos preparou-se para o assaltar e puseram-se de emboscada. Qual não foi o espanto de todos quando ouviram o soar de trombetas e um grupo de soldados que marchava armado aos lados do padre. Aterrorizados, esconderam-se os bandidos; pensando que os soldados tinham vindo para prendê-los. 

Viam, entretanto o padre muito tranquilo a caminhar, recitando o rosário. Saindo dessa região, o padre entrou em uma hospedaria para cear. Enquanto ceava, dois dos bandidos se aproximaram dele e perguntaram curiosos: 'Que padre é este que anda acompanha­do pelas estradas de soldados que o protegem?' — 'Aqui não chegou soldado algum e este padre aqui nunca andou assim em viagem'.

Os bandidos, furiosos, procuraram entrar em pa­lestra com o sacerdote e perguntaram-lhe do bata­lhão que o escoltava — 'Meus filhos, eu ando sozinho pelos caminhos. Só tenho um companheiro, o meu rosário, que recito sempre pelas santas almas do purgatório para que elas me protejam. — 'Pois bem, meu padr'e, confessa um bandido, 'estas almas vos salvaram. Somos bandidos e estávamos na estrada prontos para vos despojar e matar. E só não o fizemos porque um batalhão vos seguia pela estrada, e, aterrorizados, fugimos e viemos aqui curiosos saber do que se tratava. Cremos que as almas das quais sois tão devoto vos salvaram da morte. Tocados pela graça, ali mesmo os bandidos de joelhos pediram perdão dos pecados e confessaram-se humildemente.

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Um príncipe polonês, incrédulo e muito conhe­cido pelo seu materialismo, havia escrito um livro contra a imortalidade da alma. Estava já pronto o livro e prestes a entrar no prelo, quando ao passear pelo jardim veio-lhe ao encontro uma pobre mulher e banhada em lágrimas lançou-se aos seus pés, dizen­do: 'Meu caro senhor, meu marido morreu. A sua alma deve estar no purgatório e há de sofrer muito. Eu sou muito pobre, não tenho dinheiro para a es­pórtula de uma Missa por sua alma. Tenha a carida­de de me dar uma esmola para mandar celebrar uma Santa Missa pela alma de meu marido'.

O incrédulo príncipe teve pena da pobre mulher, e embora não acreditasse na imortalidade da alma e combatesse toda crença, levou a mão ao bolso e en­controu uma moeda de ouro. Deu-a logo à mulher. A pobrezinha, radiante de alegria, foi logo à primeira igreja e encomendou diversas missas pela alma do sau­doso esposo. 

Cinco dias depois, o príncipe relia os manuscritos do seu livro já em vésperas de ser pu­blicado — o terrível livro contra a imortalidade da alma. De repente, levantando a cabeça, deu com os olhos num homem misterioso que lhe parou em frente à mesa de trabalho do escritório. Era um camponês. 'Príncipe', disse o desconhecido, 'venho agra­decer-lhe. Sou o marido daquela pobre senhora que há poucos dias pediu a Vossa Alteza uma esmola para mandar celebrar missas pela alma do esposo falecido, pela minha alma. A caridade de Vossa Alteza foi tão bem aceita de Deus, que me foi permitido vir até vós para agra­decer tão grande benefício'.

Diante disto o príncipe, comovido, logo se converteu, rasgou os originais do livro ímpio que havia escrito, lançando-o ao fogo e tornou-se um bom cristão até a morte.

(Excertos da obra 'Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!' de Monsenhor Ascânio Brandão, 1948)