terça-feira, 22 de setembro de 2015

UMA CARTA PROFÉTICA DE SÃO PIO X


Se há um tempo no qual devemos estar vigilantes de uma forma especial é este dos nossos dias, pois o mundo, com espírito diabólico, favorece e ajuda os planos malignos, especialmente aqueles dirigidos contra a Igreja, a fim de provocar sentimentos anti-religiosos e, assim, diminuir o prestígio e a reputação para os homens que a governam, de forma a ressaltar todos os seus defeitos, em todos os níveis da hierarquia, pelo que concluímos com o Apóstolo: Resisti fortes na fé! Permanecei firmes na verdade que só se encontra substancialmente em Jesus Cristo, a quem Deus Pai constituiu pedra angular na construção da Nova Jerusalém - a Igreja Católica - e todo aquele cuja fé esteja fundada em Cristo não será confundido. Fonte da graça para todos os que lhe são fiéis, esta pedra misteriosa converte-se em pedra de escândalo e de ruína para todos os que procuram construir sem colocá-la como base de seus empreendimentos.

Estejais alertas, queridos filhos, e mantendes viva a vossa fé: guardai-vos dos seus inimigos declarados, que deixaram escondidos no passado os segredos dos conchavos mas que, agora, com bandeiras desfraldadas, se esforçam para arrebatar ao povo a sua joia mais valiosa: a fé. E fazem isso usando sutis artimanhas, tentando minar a autoridade da Igreja e dos seus ministros, denunciando-os como perturbadores, passíveis de todas as suspeições e extremistas, até ao ponto em que muitos católicos, ingênuos ou hipócritas, acabam por admitir plenamente todas estas coisas, e creem quando lhes é dito que eles não lutam contra a religião, mas que querem apenas libertá-la dos abusos que nela existem, que querem separar religião e política; que não querem perseguir a Igreja; que há que se saber, dizem eles, que não se pode atuar com certeza absoluta se não se leva em conta o espírito dos tempos. 'Queremos o bem dos povos', assim afirmam, 'pelo que nos empenhamos vivamente pela paz entre todas as nações'.

Resistais fortes na fé contra aqueles cristãos que, conhecendo apenas superficialmente a ciência da Religião, e ainda menos a praticando, pretendem-se colocar como mestres da Igreja, afirmando que ela deve estar adaptada às exigências dos tempos, sacrificando, assim, algum ponto da integridade de suas sagradas leis; que (afirmam equivocadamente) o direito público da cristandade deve tornar-se submisso aos grandes princípios da era moderna, e manifestar essa submissão aos novos valores; que querem acomodar a moral evangélica, tratada como demasiado severa, aos ditames de normas menos rígidas e mais confortáveis. Finalmente (também sob falsas argumentações) que defendem que a disciplina eclesiástica deve dispensar as prescrições molestas à natureza humana, em nome de leis que exaltem uma maior liberdade e o amor.

Resistais fortes na fé contra todos aqueles que pretendem dirigir e guiar a Igreja em favor dos seus próprios interesses e decisões, julgando os seus ensinamentos e rechaçando as suas censuras e condenações; tudo isso constitui um enorme pecado do orgulho e, para não nos tornarmos vítimas de seu grande castigo, tenhamos a coragem de lutar em nossa sociedade contra todos esses inimigos, expondo a malícia de suas idéias perniciosas e a vileza de suas maquinações, e enfrentando as suas ironias e insultos.

Resistais fortes na fé, especialmente aqueles que se gloriam de verdade do nome de católicos, sobretudo para que não vos deixais seduzir pelos falsos apóstolos que, como Satanás, se disfarçam de anjos de luz, e fingem pesares, medos e preocupações com os males advindos contra a Igreja e os perigos que a cercam e, sob as máscaras de uma caridade fingida e de um amor hipócrita, aceitam as estocadas que levam a Igreja a uma situação de risco e de perigo mortal. Embora seja verdade que certos triunfos da iniquidade moderna podem nos escandalizar e por mesmo à prova a nossa fé na Providência Divina, a própria evolução dos acontecimentos é capaz de serenar a inquietude do nosso coração. As Sagradas Escrituras nos advertem assim: 'Ai dos que ao mal chamam bem, que fazem as trevas em luz e a luz por trevas, que tomam por amargo o que é doce e por doce, o que é amargo! Ai dos que se julgam sábios aos seus próprios olhos, e que se acham prudentes ao próprio juízo! Ai dos que são valentes para beber vinho e para misturar licores; que por suborno justificam o ímpio, mas que anseiam impor ao justo a sua própria justiça!' E em outra passagem, diz: 'Ai de vós, Assíria, vara da minha cólera e bastão do meu furor! Eu vos enviei contra um povo ímpio, contra um povo objeto de minha cólera, para que este fosse saqueado e reduzido a despojos, para serem calcados aos pés como a lama das ruas; porém, não tivestes as mesmas intenções e não eram estes os pensamentos do vosso coração, e sim, o desejo de somente destruir e exterminar povos em massa'.

Como estes fatos que ora contemplamos na Igreja são iluminados por estas passagens! Meditai-as, queridos filhos, e aceitai tudo o que nos sucede como uma provação e uma expiação; volvei ao Senhor e respondei prontamente ao chamado paternal de sua misericórdia. Que estes santos dias da Quaresma nos sejam dias de profundo recolhimento e, assim, nos possam tornar mais dignos de celebrar, junto a Nosso Senhor Jesus Cristo, a sua gloriosa Páscoa da Ressurreição!

Cardeal Giuseppe Sarto, Patriarca de Veneza, futuro Papa São Pio X

(Excertos da Carta para meditação dos tempos da Quaresma, de 17 de fevereiro de 1895, tradução do autor do blog)