terça-feira, 30 de junho de 2015

HORA SANTA DE JUNHO

(Hora Santa Especial por Todos que Sofrem)

Nós vos adoramos, ó Deus Sacramentado, nós vos bendizemos, Redentor do mundo; nós vos amamos, Jesus, na formosura do vosso Coração Agonizante. Somente Vós sois grande, somente Vós sois santo na pequenez da Divina Hóstia. Vós sois o Altíssimo no mistério do sacrifício incruento. Glória, pois, a Vós, que sendo o Deus do Céu, viveis no Getsêmani do Santo Tabernáculo! Glória a Vós, Jesus - Eucaristia, nas alturas dos vossos anjos; louvor a Vós, no coração dos homens! Em nome de todos os homens, e, em especial, em nome de todos os homens que sofrem com amor e fé, nós adoramos as lágrimas, a solidão, o abandono, as angústias, todas as amarguras e agonias do Vosso Sagrado Coração! Cremos que Vós sois o Cristo, o Deus - Homem de todos os sofrimentos.

(Ofereça esta Hora Santa ao Coração de Jesus, ferido e agonizante, como um pleito de resignação e amor, em seu próprio nome e de todos os que sofrem)

(Breve pausa )  

(Lento e entrecortado) 

AS ALMAS

Ó Jesus, nós temos sido arrastados pela força irresistível do Vosso amor e de Vossas lágrimas em direção ao abismo do Vosso Coração! Ó quanta beleza do Céu na Vossa tristeza! Um Céu de consolação e de glória para todos nós! Que mistério insondável e que grande consolo é saber que Vós chorastes! Que divina eloquência brota de Vossa palavra de paz que, ao sair dos Vossos lábios, trêmulos de emoção e entre soluços, sobe do mais íntimo da Vossa alma, triste até a morte! E agora, aqui estamos nós, trazendo aos Vossos pés a oferta não só das nossas próprias dores, mas também os sofrimentos de tantas almas infelizes que Vos adoram. Ó Jesus, Vós conheceis bem este oceano de dores, cujas águas amargas submergiram a Vossa santíssima alma.

Em primeiro lugar, adorável Mestre, pedimos por aqueles que padecem na pobreza ou enfermidades. Mesmo aqui, durante esta Hora Santa, Senhor, entre aqueles que vieram para estar Convosco, ou entre os seus entes queridos, talvez haja algum doente; há certamente alguém pobre... Ó com que grande compaixão Vós tendes sempre olhado os enfermos! Com que ternura Vossos olhos buscaram o leproso, o paralítico, os feridos e os cegos, para curar a todos com um sorriso e uma bênção de amor! E se esses inválidos ou aqueles que sofriam não podiam ir a Vós, Vós íeis ao encontro deles! Seja abrindo um caminho no meio da multidão; seja buscando-os à beira das estradas; a uns simplesmente olhando com amor, a outros, tocando com as Vossas mãos ... a todos curando de corpo e de alma!

Mas hoje, há mais pobres do que doentes. Há muitas pessoas que trabalham duramente e padecem grandes privações; muitos estão sem pão, sem abrigo, sem consolo, sem remédios para ter algum alívio. Mas o que podemos Vos dizer que já não conheceis sobre os sofrimentos dos pobres? Vós, que fostes pobre em Nazaré, que padecestes fome e que, mais do que tudo, tivestes de suportar o desprezo arrogante que o mundo tem por aqueles que não têm nem casa, nem terras, nem dinheiro. Não diziam os acusadores: 'O que pode Ele saber? O que pode Ele pleitear em favor de Israel? O que pode alguém de Nazaré pretender ser, não passando de filho de um humilde carpinteiro?'

Recordai nesta noite, Jesus, de tais humilhações e ponde os Vossos olhos sobre tantos pobres e doentes que padecem! Durante esta Hora Santa, ousamos pedir que Vós possais prodigar a eles o dom da Vossa paz e o doce consolo da vossa bênção, que difunde em profusão milagres de ternura. Jesus, dai a eles o mérito e a recompensa pela Vossa resignação! E, se isso for para Vossa maior glória, dignai-Vos conceder alívio para os doentes, os pobres, e os necessitados; Vós que tivestes desvelo pelas flores do campo e pelas aves da montanha, abençoai com especial ternura, desta Hóstia Consagrada, todos os Vossos filhos afligidos, sobre quem Vos pedimos derramar a água viva e as benesses do Vosso Sagrado Coração!


(Pausa) 

(Lento e entrecortado) 

Lembrai-Vos também, amado Mestre, daqueles que padecem contradições e reveses humilhantes. Senhor, com que amorosa e sábia Providência Vós permitis, muitas vezes, que nossos projetos se desvaneçam como fumaça e, para nossa grande surpresa, depois de muito cuidado e trabalho, colhemos apenas espinhos que machucam. Quantos dissabores e decepções nos esperam nossos humanos desejos! Vós conheceis os inúmeros contratempos que constantemente cercam as famílias e Vós não os impedis porque eles são realmente para o nosso bem e, assim, não detendes a torrente que tende a solapar as sagradas fundações do lares, embora violente o Vosso Sagrado Coração. Guardais o silêncio do Sacrário quando somos ameaçados por males que, de um modo misterioso, haverão de trazer a redenção para aqueles que amamos.

Vós nos vede chorar! Ó, sim, Vós compartilhastes todo o nosso desgosto e, embora aparentemente ausente, estais muito perto de nós naquelas horas negras de agonia, horas de Getsêmani, que todos os todos os homens deverão passar, para reviver a Vossa própria agonia, Estais sempre ao nosso redor; e ainda que nem sempre sentimos a Vossa doce presença, sabemos que estamos acolhidos nos Vossos braços. Sim, Jesus, por uma feliz experiência, conhecemos as finezas do Vosso coração; e é por isso que nos prendemos sem hesitação, mesmo diante das mortificações mais amargas de nossas vidas, às doces batidas desse Coração que nos ama! Aceitai, Senhor, por estes sofrimentos, amorosa reparação à mortal desolação que vislumbrastes no Jardim das Oliveiras, e a súplica de acolher em Vosso Coração, os corações de todos os que sofrem...


(Todos em voz alta) 

Acolhei em Vosso Coração todos os que sofrem!


(Breve pausa ) 

Amado Mestre, são tantos os que aguardam em leitos de agonia a visita do Médico Celestial...
Acolhei em Vosso Coração todos os que sofrem!
Muitas crianças doentes, Senhor, perderam as suas mães; muitas pessoas idosas e sem abrigo vão morrer sem nenhum cuidado além do amparo da Vossa infinita misericórdia...
Acolhei em Vosso Coração todos os que sofrem!
Muitos dos Vossos filhos pobres já sofreram durante longos anos sem qualquer ajuda humana, sem qualquer esperança...
Acolhei em Vosso Coração todos os que sofrem!
Visitai, ó Mestre, as choupanas e os casebres onde reina a miséria; e os cortiços onde pobres mães agonizam, sem outras testemunhas senão criancinhas que padecem de fome...
Acolhei em Vosso Coração todos os que sofrem!
Com a doce luz que emana do Vosso Doloroso Coração, ilumine as casas que, em lugar da abundância do passado, hoje padecem em silêncio na miséria...
Acolhei em Vosso Coração todos os que sofrem!
Sejais especialmente misericordioso, Jesus, para com aqueles que sofrem da injustiça humana e com tantos que viram ruir seus projetos de dignidade de vida e de bem estar...
Acolhei em Vosso Coração todos os que sofrem!
Senhor, não ignoreis tantas pessoas e famílias que sofrem de profundas e contínuas incertezas...
Acolhei em Vosso Coração todos os que sofrem!
Na luta contínua entre interesses contraditórios e os inevitáveis reveses causados pelos negócios e pelas naturais aspirações da vida, que nunca se concretizam...
Acolhei em Vosso Coração todos os que sofrem!
Vós que sofrestes, Jesus, a ausência de toda consolação humana, tende piedade de tantos corações pobres, doentes e desiludidos, que clamam um momento, pelo menos, de trégua e de descanso...
Acolhei em Vosso Coração todos os que sofrem!


(Breve pausa ) 

Voz de Jesus

Falastes a verdade: quando viveis o sofrimento na terra, Eu estou muito perto de vós. A cruz será sempre a ponte manchada de sangue que uniu os vossos corações aflitos e desiludidos ao Meu Coração Agonizante! Eis-me aqui, meus filhos queridos... Ouvi a vossa oração em favor dos doentes, dos pobres e de todos aqueles achacados pela indiferença humana. Neste exato momento, quantas graças foram derramadas para tantos do Meu trono da misericórdia, onde acolho as suas vidas de trabalho e de cansaço. Continuai a Me falar sobre o que vos doi e vos entristece, Meu coração precisa destas confidências porque os vossos sofrimentos me comovem. Aproximai-vos então, meus filhos e, unidos na mesma angústia e no mesmo sofrimento comum, vamos chorar juntos. Achegai-vos a Mim e derramai o pranto de vossas almas no Meu divino Coração!


(Pausa )

As almas

O isolamento do Vosso Cativeiro e o silêncio do Sacrário revelam ao mundo o pecado mais intensamente sentido pelo Vosso Coração - o pecado da ingratidão.


(Entrecortado)

Ó Jesus, amais e não sois amado; abençoais e sois amaldiçoado; cumulais de favores os homens e sois recompensado com esquecimento ou insultos! Eis, doce Salvador, o pão muito amargo do Vosso exílio voluntário no meio de nós, eis o preço do Vosso sublime cativeiro no Sacrário! Desta forma, o Getsêmani é prolongado através da séculos. Em desagravo, queremos compartilhá-lo convosco, ó Jesus que dissestes: 'O discípulo não é maior do que o seu mestre, nem o servo mais do que o seu Senhor'. Por isso é que nós, também, às vezes somos convidados a provar do cálice de ingratidão. Nós o aceitamos, Senhor, por amor a  Vós e somente por Vós, porque esta bebida é mais amarga do que a morte. Tende piedade, bom Mestre, por aqueles que sucumbem neste momento sob o peso de tantos sofrimentos. Tende piedade dos lares onde outrora habitaram os filhos das esperanças e das alegrias da família, mas que agora estão desolados, porque estes se tornaram a cruz, e sim, até mesmo, a coroa de espinhos para os pais.

Tende piedade de tantas esposas infelizes, cansadas de sofrer por tormentos que lhes ferem a alma. Tende piedade de tantos fieis dedicados e das almas humildes que foram traídas em sua amizades, zombadas e enganadas dentro de suas próprias casas e feridos por aqueles que foram cumulados pela sua caridade e pelos seus favores. O mundo paga no início com palavras e sorrisos e depois com deslealdade e traição. Porque Vos amamos, Jesus na Eucaristia, por este amor, Vos oferecemos e agradecemos por este cálice de amargura, e Vos pedimos perdoar aqueles que reabrem a ferida do Vosso Amoroso Coração - a mesma ferida profunda que nós mesmos abrimos com a nossa tão grande ingratidão!

(Breve pausa )  

(Lento e entrecortado) 

Ó bom Jesus, tende piedade dos que sofrem de solidão e abandono! Quantas vezes, amado Mestre, depois de ter pregado as maravilhas do Vosso amor, depois de ter multiplicado os Vossos milagres na presença de tantas multidões extasiadas, Vós presenciastes aquelas multidões se afastarem com desconfiança e indiferença em suas almas. E Vós ficastes sozinho e abandonado como estais hoje aqui neste Sacrário, abandonado por tantos dos Vossos filhos! Somente o Pai conhece a medida deste Vosso sofrimento, desta terrível deserção. Vós sabeis, ó Jesus, que muitos, muitos mesmo, nunca experimentaram um amor generoso; são órfãos da vida, que vagueiam no deserto do mundo, sempre com saudades do que lhes deveria ser um lar. Vivem sem nenhum afeto e com amargura em seus corações!

O Getsêmani e o Calvário Vos fazem recordar, Meu amável Jesus, a angústia da solidão. Ó quão terrível é clamar e gritar e constatar que o nosso brado se perde no silêncio! Chorar, sofrer, implorar, amar... para apenas permanecer sozinho, sempre sozinho! Ninguém conhece tal terrível desolação do que Vós, ó Jesus! Então, das profundezas da alma que assim sofre, eleva-se algo da terrível angústia que Vós, amado Salvador, sentistes na agonia daquela Quinta-feira Santa: o cansaço, a repugnância, a fatiga de viver! Diante disso, desfalece por completo o pobre coração humano!

São órfãos que precisam de Vós, Senhor Jesus, nestes momentos de suprema angústia: eles precisam do Vosso Agonizante Coração! Se Vós não vierdes em seu socorro, suas almas desesperadas clamarão pela morte! Mas Vós havereis de vir a eles como nós viemos a Vós nesta noite, para compartilhar esta hora de agonia solitária, convosco e com todos que um dia poderão vir a padecer da solidão e abandono dos seus próprios irmãos,..

(Todos em voz alta)

Dai-nos a companhia e o refúgio do Vosso Sagrado Coração!

Se Vós nos provais, permitindo que, algumas vezes, os nossos próprios entes queridos se esqueçam de nós...
Dai-nos a companhia e o refúgio do Vosso Sagrado Coração!
Quando a idade e as enfermidades nos deixar isolados, quebrando os laços familiares que acreditávamos ser imutáveis...
Dai-nos a companhia e o refúgio do Vosso Sagrado Coração!
Quando talvez algum dia a pobreza visitar a nossa casa - que é também Vossa - e os amigos nos deixarem sozinhos e somente nos restarem a confiança na Vossa Presença...
Dai-nos a companhia e o refúgio do Vosso Sagrado Coração!
Se os acidentes ou contratempos nos atingirmos e estivermos abandonados por aqueles que amamos..
Dai-nos a companhia e o refúgio do Vosso Sagrado Coração!
Se a injustiça humana, grande como é, nos flagelar, não nos abandoneis Senhor Jesus...
Dai-nos a companhia e o refúgio do Vosso Sagrado Coração!
Se mesmo aqueles que amamos muito, nos abandonar.. nesta hora de cruel ingratidão, vinde, ó Jesus, porque Vós sois a nossa única esperança...
Dai-nos a companhia e o refúgio do Vosso Sagrado Coração!
Se aqueles que receberam o nosso carinho e sacrifícios, nos odiarem algum dia, como Vós mesmo fostes odiado...
Dai-nos a companhia e o refúgio do Vosso Sagrado Coração!
A calúnia dos Vossos inimigos cobriram Vosso divino rosto com opróbrios; quando esta for lançada no nosso rosto e formos humilhados, não nos abandoneis e vinde até nós, Jesus vilipendiado...
Dai-nos a companhia e o refúgio do Vosso Sagrado Coração!
E nas horas de mortal silêncio em que nos encontrarmos sozinhos, submersos pelo esquecimento e pela indiferença cruel das criaturas...
Dai-nos a companhia e o refúgio do Vosso Sagrado Coração!


(Breve pausa )  

Voz do Mestre

Nunca mais, em vossas horas de solidão e de tomento, estareis longe do Meu coração que vos ama. Sim, que vos ama infinitamente porque vós o amais e sofreis por Ele. Se, quando Eu estava sozinho e esquecido, fostes visitar-Me, se Me consolastes quando estava entristecido por aqueles que se diziam Meus filhos, se tendes tantas vezes quebrado o gelo da indiferença que cerca a minha prisão solitária, como Eu poderia preferir, mesmo que fosse o coro dos anjos, ao apelo de vossas almas que sofrem? Vossas almas precisam descansar em Meu coração para encontrar consolo! Eis aqui este Coração, infinitamente compassivo, para com os vossos sofrimentos: tomai-O, Ele é vosso! Eu, e somente Eu, posso vos retribuir com generosidade divina; não tenhais medo! Eu sei como curar as feridas mais profundas. Vinde; não hesiteis; vinde! Só Eu sei até que ponto a solidão e a ingratidão esmagam a alma. Vinde! Vinde chorar junto a Mim e sereis consolados!


(Pausa ) 

As almas

Em nossos altares, Vosso nome, Jesus, se eleva para alentar todas as nossas adversidades; estais ali como Hóstia, Vítima Consagrada...


(Muito lento e entrecortado ) 

Aqui, nesta Hóstia, Vós sois ignorado e esquecido até mesmo pelos Vossos filhos; habitastes entre nós há tantos séculos com o desejo de continuar seguindo conosco em nossas vidas e ainda não Vos compreendemos! Vós sois amado, mas como um hóspede à distância... quase como um estranho no meio dos Vossos filhos. E, por isso, lamentastes junto à Vossa serva Margarida Maria que a maior de Vossas tristezas é não ser reconhecido pelos Vossos filhos em Vossa própria Casa!


(Breve pausa ) 

Nós Vos agradecemos, amado Mestre, quando nos fazeis sentir o gosto amargo do Vosso Cálice; nós Vos agradecemos... Nossos corações são feridos cruelmente, ó Jesus, quando os nossos entes mais queridos nos ferem e, às vezes, nos condenam, em Vosso Nome, por zelo equivocado ou por motivos que julgam sinceros. Ah, é tão humano julgar os outros! Vós, que tudo conheceis, permitis estas coisas para que possamos colocar toda a nossa confiança em Vós. Vós permitis isso para que possamos reparar também, por meio destes reveses dolorosos, a falta de ternura pelo Vosso Sagrado Coração, mesmo por nós, que somos consagrados à Vossa Glória. Nós Vos agradecemos, então, por estas feridas abertas em nossas almas pela Vossa divina e amorosa mão...

Nós Vos agradecemos também por outra provação - a morte inevitável - que há de vergar sem piedade a todos os mortais; fria e inexorável morte, que nos rouba todos aqueles a quem Vós confiastes ao nosso amor. Lembra-Vos da Vossa tristeza, Jesus, à medida em que aproximavas da casa de Betânia, onde o Vosso amigo Lázaro não habitava mais? Felizmente para nós, Jesus, a fonte dessas lágrimas derramadas na morte do Vosso amigo de coração ainda não secou; sim, os Vossos olhos ainda permanecem marejados pelas lágrimas do Homem-Deus que quis amar com ternura, com todas as emoções e fragilidades do nosso coração humano. Esse Jesus sois Vós, o mesmo Jesus presente na Hóstia, a quem adoramos aqui, de joelhos. Olhai para nós desde o Sacrário e olhai por aqueles que nos deixaram ao longo do caminho e que eram como as fibras do nosso coração. Agora eles se foram de nós e nos deixaram... que separação pode ser tão dolorosa como a separação da morte?

Vós chorastes sobre o túmulo de Lázaro embora soubésseis que haveríeis de ressuscitá-lo em breve. Da mesma forma, apesar da fé viva com que aceitamos as cruzes que Vós nos enviais, permitis que nossas almas sejam esmagadas quando vemos nossos entes queridos partir, para nunca mais voltar. Quando o nosso amor é profundo, essas feridas podem ser cicatrizadas mas, como bem o sabeis, ó Jesus, nunca poderão ser curadas completamente! Jesus, vinde preencher o lugar vazio que a morte impiedosa faz abrir, por Vossa permissão, em nossos corações e lares. Vinde dar alento e resignação aos que ficamos, para que possamos rezar sobre o túmulo dos que partiram. Vinde, Senhor, acalentai a nossa oração pelos nossos mortos tão amados. Que a Vossa luz eterna brilhe sobre eles; que eles possam descansar em paz... no Céu do Vosso Coração!


(Pausa ) 

Antes de terminar esta Hora Santa, pedimos a Vós, Jesus, visitar os recessos mais íntimos das nossas almas, as profundezas do abismo de nossas dores e misérias! Só Vós as conheceis, só Vós!  Como um raio de luz do Vosso olhar doce e profundo, penetrai em nossas almas pois, assim, não há de se quebrar o frágil cristal dos nossos pobres corações. Avançai às últimas profundidades do nosso coração, aos abismos onde se escondem as mágoas e as feridas mais secretas. Curai com as Vossas mãos estas feridas, desconhecidas para todos e que sangram sem parar. Ninguém as conhece, e é melhor que sejam secretas, pois ninguém, a não ser Vós, poderia compreendê-las...

É por isso, Salvador adorável que, passando por certos sofrimentos agudos nesta vida, não choramos, para que o mundo não veja as nossas lágrimas, que não pode compreender. Que alívio podermos, então, falar a Vós, falar livremente e somente a Vós que, na vida sacramental, experimenta amarguras infinitas, sem que ninguém seja capaz de realmente compreendê-las. Só Vós, Senhor, podeis saber tudo, tudo... Lançai Vosso olhar às profundezas das nossas almas, mas que seja um olhar de piedade. Foi no Getsêmani, sob violenta tensão, que jorrou esta fonte de lágrimas, que não fluiu como uma torrente, mas que se irrompeu como um suor de sangue.


(Lento e entrecortado ) 

Ficar em silêncio quando se sente morrer no escondimento, em agonia interior... ficar então em silêncio é como morrer duas vezes. Esta tristeza é bem conhecida por Vós, Divino Sofredor do Monte das Oliveiras! As apreensões das mães, a inesperada separação das almas, os medos mais escuros, os temores dos pais... as angústias e decepções, as incertezas dos sacerdotes, as muitas dores que padecem tantas boas almas, mantendo  intacta para Vós, ó Jesus-Hóstia, a virginal beleza de tantos sofrimentos, que fazem parte todos dessas dores misteriosas! A Hora Santa é a hora das confidências e das consolações... se abrimos nossas almas entristecidas para Vós, Jesus, é menos para reclamar do que para Vos oferecer os maiores tesouros de nossas mais secretas dores e aflições, e todas aquelas amarguras que não têm nomes próprios na linguagem do mundo. Aceitai-as, Senhor, pelas mãos da Rainha das Dores, para o triunfo do Vosso amor!


(Todos em voz alta)

Santificai todas as nossas dores, Sagrado Coração!


Sim, Jesus, santificai as contradições que suportamos dos bons e o sofrimento causado a nós pela injustiça frequente dos homens...
Santificai todas as nossas dores, Sagrado Coração!
Aceitai as mortificações que nos imputam aqueles de quem menos as esperamos e que nos causam profundas desilusões...
Santificai todas as nossas dores, Sagrado Coração!
Aceitai, Senhor, qual uma coroa de flores, a lembrança dos nossos falecidos e abençoai-os porque nos deixaram apenas em resposta ao Vosso chamado divino...
Santificai todas as nossas dores, Sagrado Coração!
Aceitai as lágrimas de resignação que temos derramado sobre os túmulos de nossos entes queridos e lembrai-vos particularmente dos pequenos órfãos e das famílias em luto...
Santificai todas as nossas dores, Sagrado Coração!
Vinde, querido Salvador, para compensar a perda dos filhos pródigos que deixaram as suas casas; eles deixaram um lugar vazio que só Vós podeis preencher...
Santificai todas as nossas dores, Sagrado Coração!
Olhai, Senhor, os espinhos escondidos em nossas almas e aceitai estes tantos sofrimentos desconhecidos, que piedade humana alguma saberia consolar...
Santificai todas as nossas dores, Sagrado Coração!
Aceitai as apreensões das mães, o desvelo de tantos pais, os esforços perseverantes e muitas vezes aparentemente estéreis de tantos sacerdotes; vinde, Jesus, tomai sem reservas as nossas almas entristecidas, porque elas são Vossas apenas..
Santificai todas as nossas dores, Sagrado Coração!

(Pausa )  


Voz do Mestre

Filhos do Meu amor, quão doce e consoladora esta hora tem sido, esta hora durante a qual vós tendes mostrado a Mim as mágoas profundas que atormentam as vossas almas, enquanto eu vos deixo penetrar na ferida aberta e ensanguentada do Meu Sagrado Coração. Ah! que semelhança feliz de sofrimento! Como nos assemelhamos uns aos outros, quando estamos de luto no mundo por padecer as amargas aflições da terra! Eis com se vos depara o Getsêmani, assim como foi para Mim um santuário de oração e da redenção perpétua! Amai-vos uns aos outros, como irmãos em sofrimento; amai-vos uns aos outros, Meus amigos, e que os nossos corações possam se encontrar na via dolorosa; amai-vos uns aos outros, Meus filhos, no caminho da Cruz!

(Lento e  entrecortado)

Vinde a Mim, todos os que sofrem na pobreza e na doença. Apressai-vos! Trazei sob Meus Pés a carga de todas as vossas aflições: Vinde a Mim ... e Eu vos darei o consolo das profundezas do Meu Sagrado Coração que vos ama tanto!

Vinde a Mim todos os que sofrem as contradições das criaturas, todos que padecem a injustiça dos homens, todos os que experimentaram reveses da fortuna e transtornos em vossas famílias: Vinde a Mim ... e Eu vos darei refúgio no santuário do Meu Sagrado Coração que vos ama tanto!

Vinde a mim todos os que choram a ingratidão dos amigos, e, sim, às vezes, até a ingratidão dos membros de sua própria família. Não tardeis, porque esta dor oprime e congela a alma; vinde a Mim... e Eu vos darei  o calor das chamas do Meu Sagrado Coração que vos ama tanto!

Vinde a mim, vós que arrastais uma existência intolerável e maçante, vós que viveis no tédio e no isolamento; vós, os esquecidos. Vinde a Mim, vós que tendes sentido, desde o alvorecer da vida, o cansaço do exílio, jogai-vos em Meus braços: Vinde a Mim... e Eu vos darei o consolo do Meu Sagrado Coração que vos ama tanto!

Vinde a mim, vós que sois desprezados e mal compreendidos até mesmo por homens bons; vós, que sois acusados por causa dos esforços que empreendem em favor da Minha Glória; vinde a Mim ... e Eu vos darei o cálice refrescante do Meu Sagrado Coração que vos ama tanto! 

Vinde a mim, vós que estais de luto, que chorais a perda de um filho, de uma mãe, de uma esposa, de um irmão; vinde sem demora ao meu Sacrário, vós que padeceis em vossas casas das dores da morte e das lágrimas: vinde a Mim ... e eu vos darei a paz inefável do Meu Sagrado Coração que vos ama tanto!

Vinde a Mim; levantai os vossos corações a Mim, pois o tempo é apenas uma sombra que passa e o Céu é eterno; vinde, vós que tendes sede de amor e de justiça; Eu sou o vosso Deus e é por vós que tenho padecido os horrores da mais cruel agonia; erguei-vos e tomai, com coragem, o Pão vivo, a Minha Eucaristia, para fortalecê-los na luta: vinde a Mim... e Eu vos darei o Paraíso do Meu Sagrado Coração que vos ama tanto!

(Pausa)

As almas

Que tenho eu, Senhor Jesus, que Vós não me destes, incluindo o tesouro das minha lágrimas? 
O que eu sei que Vós não me ensinastes; acima de tudo, a ciência do sofrimento por amor? 
O que posso fazer se Vós não estiveres ao meu lado; de que vale o meu pranto sem a Vossa agonia na Cruz? 
O que eu sou, se eu não estiver unido a Vós nos sofrimentos do Calvário?

Jesus, por causa da Vossa Cruz e das minhas cruzes, perdoai as minhas faltas com que Vos tenho ofendido tanto! Porque me criastes sem eu ter merecido e, apesar da minha indiferença para com a vossa Paixão, me redimistes sem a minha cooperação. 

Muito fizestes ao me criar, muito mais ainda em me redimir e não sereis menos glorioso em perdoar-me; porque o sangue que derramastes e a morte acerba que padecestes não foram pelos anjos que Vos adoram nas alegrias celestes: foram por mim e por tantos outros pecadores como eu, que gemem em expiação dos seus pecados. 

Se eu Vos neguei, deixai-me reconhecer-Vos na beleza da Vossa agonia na Cruz; se eu Vos ofendi, deixai-me servir-Vos no sofrimento, para a maior glória e triunfo do Vosso Sagrado Coração! Que venha a nós o Vosso Reino!

 ATO DE CONSAGRAÇÃO


Divino Agonizante do Getsêmani, Jesus Sacramentado, dignai-vos unir o vosso Precioso Sangue e os vossos sofrimentos às aflições destes filhos do Vosso Coração; dignai-vos aceitar, abençoar, aliviar as nossas cruzes! Obtende delas maior glória para Vós e para a redenção de muitas almas pervertidas pelos prazeres do mundo. Chamai e amai com especial ternura aqueles que ninguém ama; curai as feridas abertas pela indiferença dos filhos ingratos e dos amigos desleais! Vós que conheceis a fonte das nossas lágrimas, tornai-as menos amargas e santificai-as pela virtude milagrosa da vossa Cruz.

Prisioneiro divino do Sacrário, visitai, com um raio da vossa luz, os aflitos, os amargurados pela vida, os seduzidos pelos prazeres ilusórios. Confortai os abandonados, cuja beleza da alma é tantas vezes desconhecida ou desprezada. Ensinai-nos a ciência de sofrer em paz e com fé e concedei-nos o dom bendito e tão raro de saber consolar. Dai aos nossos sofrimentos uma força divina, uma força irresistível que impulsione o nosso coração ferido em direção ao abismo do Vosso Sagrado Coração. Neste Paraíso, queremos viver e sofrer por Vossa causa e pelo Vosso amor, arrancando dele os espinhos para torná-los o diadema de nossa própria glória. 

Sede o Rei do mundo, Vós que sois o Deus-Homem das dores. Dominai vitorioso sobre o mundo e curai as feridas abertas pela falta de piedade e pela injustiça dos homens. Mestre amantíssimo, Jesus, Divino Consolador de todas as lágrimas, vinde ter conosco quando sofremos; apressai-vos, porque as nossas dores não tardam e tornam-se insuportáveis quando choramos longe de Vós! Não afasteis de nós, Jesus de Nazaré, os espinhos da via dolorosa e nem as desolações do deserto, mas não nos recuseis nunca a Vossa presença adorável, o Vosso divino olhar, as bênçãos de vossas mãos ensanguentadas!

Não vos pedimos que envieis um anjo para nos sustentar nas nossas horas de agonia! Pedimos por Vós, Jesus, somente por Vós, porque nos legastes o direito de compartilhar as Vossas lágrimas com as nossas lágrimas. Dai-nos a paz em nossas tribulações, dai-nos força e, se quiseres, dai-nos o consolo do Cálice do Vosso Coração Agonizante! Pela Vossa Cruz e pelas nossas cruzes, que venha a nós o Vosso Reino!

Um Pai Nosso e uma Ave Maria pelos agonizantes e pelos pecadores.
Um Pai Nosso e uma Ave Maria pelo triunfo universal do Sagrado Coração, especialmente pela Comunhão diária, a Hora Santa e a entronização do Sagrado Coração nas famílias.
Um Pai Nosso e uma Ave Maria pelas intenções particulares de todos os presentes.
Um Pai Nosso e uma Ave Maria pelo nosso país.

(5 vezes)

Sagrado Coração de Jesus, venha a nós o Vosso Reino!

(3 vezes)

Imaculado Coração de Maria, rogai por nós!


São José, rogai por nós!
Santa Margarida Maria, rogai por nós!

(Hora Santa de Junho, pelo Pe. Mateo Crawley - Boevey, tradução integral pelo autor do blog)

segunda-feira, 29 de junho de 2015

29 DE JUNHO - FESTA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

FUNDAMENTOS DA IGREJA

São Pedro e São Paulo - Jusepe de Ribera (1591 - 1652)

"Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16,16).

“Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (II Tm 4,7).

Excertos da Homilia do Papa João Paulo II, na Solenidade de São Pedro e São Paulo, em 29/06/2000


Jesus dirige aos discípulos esta pergunta acerca da sua identidade, enquanto se encontra com eles na Alta Galileia. Muitas vezes acontecera que foram eles a interrogar Jesus; agora é Ele quem os interpela. A sua pergunta é específica e espera uma resposta. Simão Pedro toma a palavra em nome de todos:  "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo" (Mt 16, 16). A resposta é extraordinariamente lúcida. Nela se reflete de modo perfeito a fé da Igreja. Nela nos refletimos também nós. De modo particular, reflete-se nas palavras de Pedro o Bispo de Roma, por vontade divina, seu indigno sucessor.

2. "Tu és o Cristo!". À confissão de Pedro, Jesus replica:  "És feliz, Simão, filho  de  Jonas,  porque  não  foram  a carne nem o sangue quem to revelou, mas  o  Meu  Pai  que  está  nos  céus" (Mt 16, 17).

És feliz, Pedro! Feliz, porque esta verdade, que é central na fé da Igreja, não podia emergir na tua consciência de homem, senão por obra de Deus. "Ninguém, disse Jesus, conhece o Filho senão o Pai, como ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar" (Mt 11, 27). Reflitamos sobre esta página evangélica particularmente densa:  o Verbo encarnado revelara o Pai aos seus discípulos; agora é o momento em que o próprio Pai lhes revela o seu Filho unigênito. Pedro acolhe a iluminação interior e proclama com coragem:  "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo"!

Estas palavras nos lábios de Pedro provêm do profundo do mistério de Deus. Revelam a verdade íntima, a própria vida de Deus. E Pedro, sob a ação do Espírito divino, torna-se testemunha e confessor desta soberana verdade. A sua profissão de fé constitui assim a sólida base da fé da Igreja:  "Sobre ti edificarei a minha Igreja" (Mt 16, 18). Sobre a fé e a fidelidade de Pedro está edificada a Igreja de Cristo.

3. "O Senhor assistiu-me e deu-me forças a fim de que a palavra fosse anunciada por mim e os gentios a ouvissem" (2 Tm 4, 17). São palavras de Paulo ao fiel discípulo Timóteo:  escutamo-las na Segunda Leitura. Elas dão testemunho da obra nele realizada pelo Senhor, que o tinha escolhido como ministro do Evangelho, "alcançando-o" na via de Damasco (cf. Fl 3, 12). Envolvido numa luz fulgurante, o Senhor se lhe havia apresentado, dizendo:  "Saulo, Saulo, por que Me persegues?" (Act 9, 4), enquanto uma força misteriosa o lançava por terra (cf. ibid., v. 5).

"Quem és Tu, Senhor?", perguntara Saulo. "Eu sou Jesus, a quem tu persegues!" (ibid.). Foi esta a resposta de Cristo. Saulo perseguia os seguidores de Jesus e Jesus fez-lhe tomar consciência de que era Ele mesmo a ser perseguido neles. Ele, Jesus de Nazaré, o Crucificado, que os cristãos afirmavam ter ressuscitado. De Damasco, Paulo iniciará o seu itinerário apostólico, que o levará a defender o Evangelho em tantas partes do mundo então conhecido. O seu impulso missionário contribuirá assim para a realização do mandato de Cristo aos Apóstolos:  "Ide, pois, ensinai todas as nações..." (Mt 28, 19).

4. Caríssimos Irmãos no Episcopado vindos para receber o Pálio, a vossa presença põe em eloquente ressalto a dimensão universal da Igreja, que derivou do mandato do Senhor:  "Ide... ensinai todas as nações" (Mt 28, 19). Todas as vezes que vestirdes estes Pálios, recordai, Irmãos caríssimos que, como Pastores, somos chamados a salvaguardar a pureza do Evangelho e a unidade da Igreja de Cristo, fundada sobre a "rocha" da fé de Pedro. A isto nos chama o Senhor; esta é a nossa irrenunciável missão de guias previdentes do rebanho que o Senhor nos confiou.

5. A plena unidade da Igreja! Sinto ressoar em mim a recomendação de Cristo. Deus nos conceda chegarmos quanto antes à plena unidade de todos os crentes em Cristo. Obtenhamos este dom dos Apóstolos Pedro e Paulo, que a Igreja de Roma recorda neste dia, no qual se faz memória do seu martírio e, por isso, do seu nascimento para a vida em Deus. Por causa do Evangelho, eles aceitaram sofrer e morrer e se tornaram partícipes da ressurreição do Senhor. A sua fé, confirmada pelo martírio, é a mesma fé de Maria, a Mãe dos crentes, dos Apóstolos,  dos Santos  e Santas  de  todos  os séculos.

Hoje a Igreja proclama de novo a sua fé. É a nossa fé, a imutável fé da Igreja em Jesus, único Salvador do mundo; em Cristo, o Filho de Deus vivo, morto e ressuscitado por nós e para a humanidade inteira.

São Pedro e São Paulo, rogai por nós!

domingo, 28 de junho de 2015

AS COLUNAS DA IGREJA

Páginas do Evangelho - Décimo Terceiro Domingo do Tempo Comum

 SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO


Neste domingo, a liturgia católica celebra a Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, primícias da fé, fundamentos da Igreja. 'Naquele tempo', as mensagens e as pregações públicas de Jesus estavam consolidadas; os milagres e os poderes sobrenaturais do Senhor eram de conhecimento generalizado; multidões acorriam para ver e ouvir o Mestre, dominados pela falsa expectativa de encontrar um personagem mítico e um Messias dominador do mundo. Na oração profunda, Jesus afasta-se do júbilo fácil do mundo e das multidões errantes, que O tomam por João Batista, por Elias, por um dos antigos profetas. Jesus, então, reúne os seus discípulos e lhes pede o testemunho próprio:  'E vós, quem dizeis que eu sou?' (Mt 16, 15). Por inspiração divina, a resposta de Pedro é uma confissão extremada da fé humana: 'Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo' (Mt 16, 16).

E, diante tal testemunho do Apóstolo, Jesus impõe a ele as primícias do papado e da Igreja: 'Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la' (Mt 16, 18). Esta será a Igreja Militante, a Igreja Temporal, A Igreja da terra, obra temporária a caminho da Igreja Eterna do Céu. Mas ligada a Pedro e aos sucessores de Pedro, sumos pontífices herdeiros da glória, poder e realeza de Cristo.

(Cristo entrega as chaves a São Pedro - Basílica de Paray-le-Monial, França)

E Jesus vai declarar, em seguida e sem condicionantes, o poder universal e sobrenatural da Santa Igreja Católica Apostólica e Romana: 'Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus' (Mt 16, 19). Ligado ou desligado. Poder absoluto, domínio universal, primado da verdade, Cátedra de Pedro. Na terra árida de algum ermo qualquer da 'Cesareia de Felipe', erigiu-se naquele dia, pela Vontade Divina, nas sementeiras da humanidade pecadora, a Santa Igreja, a Videira Eterna.

Com São Paulo, a Igreja que nasce, nasce com um gigante do apostolado e se afirma como escola de salvação universal. Eis aí a síntese do espírito cristão levado à plenitude da graça: Paulo se fez 'outro Cristo' em Roma, na Grécia, entre os gentios do mundo. No apostolado cristão de São Paulo, está o apostolado cristão de todos os tempos; a síntese da cristandade nasceu, cresceu e se moldou nos acordes pautados em suas epístolas singulares proferidas aos Tessalonicenses, em Éfeso ou em Corinto. Síntese de fé, que será expressa pelas próprias palavras de São Paulo: 'Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé' (2Tm 4,7).

(São Paulo Apóstolo - Basílica de Alba, Itália)

São Pedro foi o patriarca dos bispos de Roma, São Paulo foi o patriarca do apostolado cristão. Homens de fé e coragem extremadas, foram as colunas da Igreja. São Pedro morreu na cruz, São Paulo morreu por decapitação pela espada. Mártires, percorreram ambos os mesmos passos da Paixão do Senhor. E se ergueram juntos na Glória de Deus pela Ressurreição de Cristo.

sábado, 27 de junho de 2015

TRÊS ORAÇÕES A SANTAS MÁRTIRES DA IGREJA

ORAÇÃO A SANTA CECÍLIA PELA SALVAÇÃO ETERNA

Ó, gloriosa Santa Cecília, apóstola da caridade, espelho da pureza e modelo de esposa cristã! Por aquela fé esclarecida, com que afrontastes os enganosos deleites do mundo pagão, alcançai-nos o amoroso conhecimento das verdades cristãs, para que conformemos a nossa vida à santa lei de Deus e da sua Igreja. Revesti-nos da inviolável confiança na misericórdia de Deus, pelos merecimentos infinitos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Dilatai o nosso coração para que, abrasados pelo amor de Deus, não nos desviemos jamais da salvação eterna. Gloriosa Padroeira nossa, que os vossos exemplos de fé e de virtude sejam para todos nós, um brado de alerta para que estejamos sempre atentos à vontade de Deus, tanto na prosperidade como nas provações, no caminho do céu e da salvação eterna. Amém.

ORAÇÃO A SANTA BÁRBARA CONTRA UMA MORTE IMPREVISTA

Gloriosa Santa Bárbara, virgem e mártir, ajudai-nos sempre com a vossa valiosa proteção, junto ao trono do Vosso Divino Esposo, Jesus Cristo, para que vivamos e morramos sem pecado mortal. Alcançai-nos a graça de não morrermos de repente mas fazei que, antes do dia da nossa morte, fortalecidos pelo sacramento do corpo e do sangue do Senhor e pela Unção dos Enfermos, sejamos preservados de todos os males e depois conduzidos ao Reino do Céu. Amém.  

ORAÇÃO A SANTA CATARINA CONTRA RISCOS DE ACIDENTES

Ó Santa Catarina, vós que quebrastes a roda da engrenagem das mãos dos torturadores e, por isto, sois invocada como protetora contra os acidentes, protegei-me de todo e qualquer acidente que possa colocar em risco a minha vida ou a minha integridade física. Protegei ainda mais a minha alma contra todo e qualquer perigo espiritual que possa oferecer risco à perda eterna da minha alma. Amém.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

26 DE JUNHO - SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ


São Josemaria Escrivá de Balaguer nasceu em 09 de janeiro de 1902 em Barbastro, Espanha. Em 02 de outubro de 1928, durante um retiro espiritual em Madrid, concebeu e fundou o OPUS DEI, atualmente prelazia pessoal da Igreja Católica. A missão específica do Opus Dei é promover, entre homens e mulheres de todo o âmbito da sociedade, um compromisso pessoal de seguir a Cristo, de amor a Deus e ao próximo e de procura da santidade na vida cotidiana. Faleceu em Roma em 26 de junho de 1975. Foi beatificado em 17 de maio de 1992 e canonizado, pelo Papa João Paulo II na Praça de São Pedro, em 06 de outubro de 2002. Sua obra mais conhecida é Caminho, escrita como orientações espirituais em diferentes parágrafos. Outras obras do autor são ForjaSulco e É Cristo que Passa.

A CRUZ NÃO É UM CONSOLO FÁCIL

'A doutrina cristã sobre a dor não é um programa de fáceis consolações. Começa logo por ser uma doutrina de aceitação do sofrimento, inseparável de toda a vida humana. Não vos posso esconder - e com alegria pois sempre preguei e procurei viver a verdade de que, onde está a Cruz, está Cristo, o Amor - que a dor apareceu muitas vezes na minha vida; e mais de uma vez tive vontade de chorar. Noutras ocasiões, senti crescer em mim o desgosto pela injustiça e pelo mal. E soube o que era a mágoa de ver que nada podia fazer, que, apesar dos meus desejos e dos meus esforços, não conseguia melhorar aquelas situações iníquas.

Quando vos falo de dor, não vos falo apenas de teorias. Nem me limito a recolher uma experiência de outros, quando vos confirmo que, se sentis, diante da realidade do sofrimento, que a vossa alma vacila algumas vezes, o remédio que tendes é olhar para Cristo. A cena do Calvário proclama a todos que as aflições hão-de ser santificadas, se vivermos unidos à Cruz.

Porque as nossas tribulações, cristãmente vividas, se convertem em reparação, em desagravo, em participação no destino e na vida de Jesus, que voluntariamente experimentou, por amor aos homens, toda a espécie de dores, todo o gênero de tormentos. Nasceu, viveu e morreu pobre; foi atacado, insultado, difamado, caluniado e condenado injustamente; conheceu a traição e o abandono dos discípulos; experimentou a solidão e as amarguras do suplício e da morte. Ainda agora, Cristo continua a sofrer nos seus membros, na Humanidade inteira que povoa a Terra e da qual Ele é Cabeça, Primogênito e Redentor'.
                                                                                                                      (É Cristo que Passa)

O CÉU É AQUI...

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O MILAGRE DA VIRGEM DO PILAR

INTRODUÇÃO

A tradição nos informa que no dia 2 de janeiro do ano 40, a Virgem teria, não aparecido, mas vindo à Saragoça 'em carne mortal', para reconfortar o apóstolo São Tiago e os primeiros cristãos ibéricos. Nesta data ela não tinha ainda subido ao Céu, mas permanecia em Jerusalém, ao lado do apóstolo São João. Já se tinham passado 10 anos desde a Ascensão de Jesus Cristo, e parece que o apóstolo São Tiago tinha muita dificuldade em implantar a nova fé nas terras ibéricas. 

Nesta data de 2 de janeiro do ano 40, o apóstolo reuniu os poucos batizados – oito, diz a tradição – às margens do rio Ebro. Desencorajado pelo insucesso de sua pregação, ele estava para lhes anunciar o seu próximo retorno à Palestina. Mas eis que, de repente, a noite se iluminou e uma multidão de anjos lhes apareceu. Eles cantavam e transportavam a Virgem Maria sobre uma coluna. Chegados perto de São Tiago e de seus oito companheiros, os anjos fixaram a coluna no solo. A Virgem Maria então se dirigiu ao apóstolo nestes termos, que a tradição transmitiu:

'É aqui, meu filho, o lugar marcado com um sinal, e destinado a me honrar. Aqui, graças a ti e em memória de mim, minha igreja deve ser construída. Tome conta desta coluna sobre a qual me encontro, pois, esteja certo, foi o meu Filho, teu Mestre, que a enviou do Céu pelo ministério dos anjos... Neste lugar, pelas minhas orações e pela minha intercessão, a força do Altíssimo realizará prodígios e maravilhas admiráveis para os que me invocarem em qualquer necessidade'.

Esta coluna, símbolo da força e da tenacidade da fé e sinal de um lugar de graça é uma simples coluna cilíndrica de jaspe, de 1,77 cm de altura e 24 cm de diâmetro, preciosamente revestida de prata e bronze. Sobre a coluna está uma imagem da Virgem com o Menino Jesus [Nossa Senhora do Pilar] em madeira negra, que data provavelmente do século XIV ou XV, já que a original desapareceu. É interessante notar que essa coluna jamais foi deslocada, apesar das vicissitudes da história e das sucessivas reconstruções do santuário; ela continua no lugar onde os anjos a colocaram. 

O PERSONAGEM

Miguel Juan Pellicer, filho de modestos agricultores, nasceu em 1617 no povoado de Calanda, próximo a Saragoça, na Espanha. Quando tinha 19 ou 20 anos, deixou a casa dos pais e se instalou na região de  Castellón de la Plana. Aí, no final de julho de 1637, sofreu um grave acidente, quando teve a perna direita, logo abaixo do joelho, transpassada por uma pesada charrete de carga, o que lhe custou a amputação do membro.  Na transcrição formal dos fatos, este evento é assim descrito:

'Em meados do mês de outubro, o professor Juan de Estanga e o mestre cirurgião Millaruelo se encarregaram da amputação, cortando a perna direita "4 dedos abaixo do joelho", procedendo em seguida à cauterização. Para atenuar o quanto possível os sofrimentos atrozes desta operação praticada com a serra e o escalpelo, e depois com ferro incandescente, só se podia administrar ao doente uma bebida alcoólica e narcótica usada na época: seria necessário esperar mais dois séculos para se ver a aparição dos primeiros anestésicos eficazes (éter e clorofórmio). Antes e durante a operação, 'no seu tormento, o jovem invocava sem cessar e com fervor a Virgem do Pilar'.

Os dois cirurgiões eram assistidos por um estudante em cirurgia, Juan Lorenzo Garcia, que se ocupou de recolher a perna cortada e colocá-la na capela onde são reunidos os corpos dos pacientes mortos. Mais tarde, ajudado por um colega, enterrou a perna numa parte do cemitério do hospital reservada para isto, "num buraco de mais ou menos vinte e um centímetros". O respeito cristão para com o corpo destinado à ressurreição impunha, nesses tempos de fé, que mesmo os restos de partes do corpo fossem tratados com piedade, de modo que era considerado vergonhoso jogá-los fora como lixo'.

Inválido, com uma perna de madeira e privado de trabalho, Miguel deixou o hospital na primavera de 1638 e passou a viver como mendigo na capela de Nossa Senhora da Esperança em Saragoça, onde a pequena imagem da Virgem com o Menino permanece em cima da coluna de pedra - 'El Pilar'. Aí assistia devotamente a santa missa a cada manhã e periodicamente ungia o coto da perna amputada com o óleo das lamparinas do altar da capela. Cerca de dois anos depois, retornou à casa dos pais em Calanda, em março de 1640. Poucos dias depois, Miguel vai ser personagem de um milagre extraordinário.

O MILAGRE

'Era o dia 29 de março de 1640, quinta-feira da Semana da Paixão que precede a Semana Santa. Faltavam portanto nove dias para o Domingo da Páscoa... Este ano de 1640 foi bem particular do ponto de vista religioso: faziam exatamente 16 séculos que a Virgem tinha 'vindo em carne mortal', nas margens do Rio Ebro. Ora, neste 29 de março de 1640, Miguel não partiu como de costume para pedir esmolas, mas se esforçou para ajudar os seus, não pedindo esmolas, mas com os seus braços. Ele foi, montado no asno da família, trabalhar num campo que pertencia a seu pai, perto do vilarejo, e encheu de esterco 9 vezes os cestos transportados pelo animal. 

É provável que ele não tenha partido para mendigar por causa da necessidade que se tinha do animal para esse trabalho. Cada uma das nove vezes, o asno foi levado ao pátio da casa por uma das irmãs mais novas de Miguel, Jusepa ou Valeria. O pai e Bartolomé, o pequeno empregado, descarregaram o animal e o mandaram de novo ao campo onde o jovem inválido esperava, equilibrando-se com dificuldade na perna de madeira e nas muletas.

De tardinha, cansado, e com o coto da perna doendo mais que de costume, Miguel (que tem então 23 anos e 3 dias), voltou para casa. Uma surpresa desagradável o esperava: por ordem do governo, os Pellicer deveriam acolher naquela noite um soldado da cavalaria real. Duas companhias de cavalaria ligeira marchavam em direção da fronteira da França: estávamos na guerra dos Trinta Anos, e a França tinha atacado a Espanha. Este soldado, confiado à hospitalidade dos Pellicer, partirá de novo de madrugada, depois da noite do prodígio, e chegará com o resto da companhia em Caspe, uma pequena cidade às margens do rio Ebro. E lá ele procurará um capuchinho a fim de se confessar, coisa que ele não fazia desde 10 anos.

A presença do hóspede imprevisto obrigou Miguel a ceder sua cama, e sua mãe, Maria, preparou então para seu filho inválido um colchão improvisado ao lado da cama de casal: tratava-se de um colchão de crina de cavalo posto sobre uma peça de couro para proteger da umidade do solo, e um lençol. A coberta foi emprestada ao militar, e só havia a capa de seu pai para proteger do frio, mas esta era muito pequena para cobrir todo o seu corpo. Às dez horas, depois de um jantar frugal, Miguel deu boa noite aos seus pais, ao soldado, ao empregado e a dois vizinhos, Miguel Barrachina e sua mulher, Ursula Means, que tinham vindo como de costume conversar com seus amigos, os Pellicer. Os dois serão as duas primeiras pessoas fora da família (junto com o militar, despertado logo depois), que constatarão, espantadas, o acontecimento.

Durante a conversação, o jovem tinha se queixado, mais que de costume, das dores na perna cortada, dores que tinham aumentado por causa dos esforços no trabalho, e ele mantinha descoberta a ferida cicatrizada, que todos os presentes podiam ver e tocar. Miguel deixou sobre uma cadeira da cozinha a perna de madeira, e também as tiras de lã que ele utilizava para fixá-la ao que lhe restava da perna. As muletas foram postas no mesmo lugar. Apoiando-se à parede para se manter de pé, dirigiu-se, saltando com o pé esquerdo, para o quarto de seus pais, ao lado da cozinha. Pouco depois, os esposos Barrachina, Miguel e Ursula, se despediram e voltaram para a casa vizinha.

Entre dez horas e dez e meia, a mãe de Miguel entrou no quarto com uma lamparina, percebendo logo 'um perfume, um odor suave' desconhecido para ela, 'um perfume vindo do Paraíso, diferente de todos os perfumes da terra' e que permanecerá por vários dias, impregnando não somente o quarto, mas também todos os objetos que lá se encontravam. Espantada com este perfume, ela levantou a sua lamparina e se aproximou do colchão improvisado para ver como seu filho estava. Ele dormia profundamente. Mas ela percebeu também, pensando estar enganada por causa da pouca luz, que não somente um pé ultrapassava a capa de seu pai, mas dois, 'um sobre o outro, cruzados'.

Maria se aproximou com cuidado, constatando que ela de forma nenhuma se havia enganado, e pensou então que tinha havido um mal entendido, que o lugar reservado a seu filho estivesse ocupado pelo soldado. Chamou então seu marido, que ficou na cozinha, para esclarecer a situação. O pai de Miguel chegou apressado, levantou a coberta, e os dois esposos descobriram o impensável: tratava-se de seu filho. Tirando completamente a coberta, espantados, confirmaram que os dois pés cruzados eram mesmo os do jovem Miguel. E viram que estes dois pés estavam unidos à perna, como no dia em que, há mais de três anos, tinham visto seu segundo filho partir, cheio de vigor e esperança, a buscar fortuna, pela estrada de Castellón de la Plana.

Maravilhados e estupefatos diante de uma maravilha tão inaudita, os pais sacodem seu filho, gritando para o despertar. Com os gritos, o rapazinho empregado acorreu da cozinha, onde ele se aprontava para dormir no seu lugar habitual. Os pais tiveram muita dificuldade para despertar Miguel, pois este tinha um sono extremamente profundo, como se estivesse num coma ligeiro. Foi preciso para o despertar 'mais tempo que a duração de dois Credos'. Quando, depois de muito esforço, Miguel abriu os olhos e tomou consciência, a primeira coisa que lhe disseram foi de 'olhar, pois há duas pernas de novo'. O rapaz ficou 'maravilhado', e sua reação imediata é a de pedir a seu pai de 'lhe dar a mão' em sinal de perdão pelas ofensas que tenha feito contra ele. 

Quando lhe perguntaram, com emoção, se ele 'tinha alguma ideia de como isto ocorreu', o jovem respondeu que ele nada sabia. Mas declarou que, quando estava para acordar 'sonhava que ele se encontrava na santa capela de Nossa Senhora do Pilar, e que ele ungia sua perna cortada com o óleo de uma lâmpada, conforme tinha o costume de fazer quando estava no santuário'. Acrescentou que, nessa mesma noite, antes de se deitar, recomendou-se a Nossa Senhora do Pilar com muito fervor, como de costume. Tinha certeza de que 'fora Nossa Senhora do Pilar que lhe devolvera a perna cortada'.

Passada a primeira emoção, o jovem começou a “mover e apalpar sua perna, pois lhe parecia que isto não podia ser verdade. Mas ele mesmo e seus parentes, à luz da lâmpada, examinaram o membro e logo descobriram as marcas que não deixam lugar a nenhuma confusão. Pois eram as marcas que se encontravam outrora sobre a perna amputada. A mais importante, a mais visível, era a cicatriz deixada pela roda da charrete que tinha fraturado a tíbia no acidente de Castellón de la Plana. Também podia-se ver outra cicatriz, menor, provocada pela extração, quando Miguel ainda era menino, de um grande quisto, na parte inferior e interior da perna. E depois, dois arranhões profundos causados por uma planta espinhosa. Finalmente, os traços de uma mordida de cachorro, na panturrilha. 

Além dos parentes e do miraculado, outras testemunhas se lembrarão dos traços visíveis na perna direita do seu jovem concidadão antes que ela fosse cortada, já que a roupa usada pelos camponeses aragoneses deixava ver a panturrilha, a calça só descia um pouco abaixo do joelho. Miguel e seus parentes adquiriram logo a certeza de que 'a Virgem do Pilar obteve de Deus Nosso Senhor que a perna que tinha sido enterrada há mais de dois anos lhe fosse devolvida'. Efetivamente, pesquisas foram efetuadas no cemitério do hospital de Saragoça. Mas não se encontrou nenhum vestígio da perna enterrada na parte reservada aos membros amputados. Só havia um buraco vazio na terra. Portanto, não houve criação, mas antes uma espantosa restauração; não uma expulsão, mas uma união. 

Três dias ainda foram necessários para que o calor natural penetrasse progressivamente na perna e no pé direitos. Os dedos, antes recurvados, se endireitaram, a pele retomou a sua cor normal, e desapareceram as estrias arroxeadas que a sulcavam. Pouco a pouco, o pé reencontrou a sua flexibilidade, e todo vestígio de coloração anormal desapareceu. O fato de que a cura total não tenha sido instantânea, não diminui a grandeza do prodígio. Como observará o arcebispo de Saragoça, é preciso distinguir entre o que a natureza é capaz e o que lhe é impossível. Somente a restituição de uma perna a uma pessoa que foi dela privada durante vários anos é que constitui propriamente o caráter prodigioso do acontecimento.

Alertado pelos clamores dos esposos Pellicer e prevenido pelo jovem empregado, acorreram o vizinho Miguel Barrachina, companheiro da conversação, e que pouco antes tinha visto Miguel com a sua única perna. Viu o que tinha acontecido e logo chamou da rua sua esposa Úrsula, já deitada, para que ela também viesse. Os clamores de seu marido eram de tal modo ininteligíveis, e as palavras deformadas pela emoção, que ela se enganou sobre o que era dito. Perto da cama de Miguel, Úrsula encontrou todas as pessoas como fora de si mesmas, cantando em altas voz hinos de louvor e ação de graças à Virgem do Pilar e a Jesus Cristo.

Logo chegaram outras pessoas, entre as quais a avó materna do miraculado. Quando o sol nasce nesse dia 30 de março – sexta-feira da Semana da Paixão - a incrível notícia se espalhou em todo o vilarejo e Dom Jusepe dirigiu-se à casa dos Pellicer, seguido de muita gente. Entre elas, os notáveis de Calanda, o prefeito, Miguel Escobedo, e seu adjunto, Martín Galindo. E ainda o notário real, Lázaro Macário Gómez. O prefeito declarou mais tarde que, não conseguindo compreender como uma coisa tão extraordinária pudesse se produzir, ele tinha 'apalpado a perna e feito cócegas na planta do pé'. Também ali estava o juiz de paz, que deveria assegurar a ordem pública, Martín Corellano. Este redigiu o primeiro relato dos acontecimentos que deveria ser enviado às autoridades de Saragoça, no dia seguinte aos fatos. Este documento foi entregue pela mesma família Pellicer quando, algumas semanas depois, ela se dirigiu em peregrinação de ação de graças ao santuário do Pilar. Na capital aragonesa, a coisa foi considerada tão extraordinária, que se julgou necessário informar logo as autoridades supremas do reino. Assim, este primeiro documento de um obscuro funcionário de Calanda foi enviado a Madrid pelo correio e chegou às mãos do rei Filipe IV.

No meio da multidão, que se reuniu em torno da casa dos Pellicer, se achavam também dois médicos de Calanda. Uma espécie de procissão se formou para acompanhar o jovem até a igreja paroquial, onde o resto dos habitantes o esperava. Todos, dizem os documentos, 'ficaram estupefatos vendo-o de novo com a sua perna direita, pois eles tinham-no visto antes com uma só perna até o dia anterior de tarde'. Na igreja, o vigário, depois de ter confessado o miraculado, celebrou uma missa de ação de graças, durante a qual Miguel comungou.

O PROCESSO CANÔNICO

Foi a municipalidade de Saragoça que pediu a abertura do processo, a fim de que o acontecimento fosse completamente esclarecido. O primeiro signatário desse pedido de investigação sobre o que verdadeiramente tinha se passado no vilarejo do reino de Aragão foi o prefeito de Saragoça, Lupercio Diaz de Contamina. Depois de ter recebido a autorização do arcebispado, as autoridades civis nomearam três pessoas que foram incumbidas de representá-los no júri. 

No dia 5 de junho, os três representantes de Saragoça se apresentaram diante do vigário geral da diocese, D. Juan Perat, e o processo canônico foi oficialmente aberto. Para que houvesse uma maior transparência, ele seria público e não a portas fechadas. As minutas, com todos os interrogatórios, as objeções, as deduções e as contra-deduções, seriam integralmente e imediatamente publicadas e postas à disposição de todos aqueles que quisessem as consultar, tanto mais que se quis deixá-las em castelhano, a língua do povo. Somente a sentença solene do arcebispado será redigida em latim – mas ela será também, logo traduzida. 

As regras estabelecidas na 25° sessão do Concílio de Trento e claramente enunciadas no decreto sobre a veneração dos santos e de suas relíquias e sobre o reconhecimento dos 'novos milagres', foram rigorosamente seguidas. A organização formal do processo foi confiada ao vigário-geral. D. Perat. Mas foi o arcebispo de Saragoça em pessoa, D. Pedro Apaolaza Ramirez, que se constituiu juiz e presidente do tribunal, assistindo a todo o desfilar de testemunhas e ao seu minucioso interrogatório. O arcebispo era um pastor de grande experiência (tinha 74 anos), sábio autor de trabalhos de teologia apreciados. Cumpriu seu cargo episcopal com zelo e severidade na aplicação dos decretos conciliares, ao ponto de atrair para si ressentimentos. Em conformidade às regras do Concílio de Trento, um colégio de nove teólogos e canonistas (entre os quais um leigo, professor universitário), se assentou ao lado do arcebispo. Todos assinaram com ele a sentença definitiva.

Uma confirmação suplementar do rigor jurídico e teológico deste processo veio de que ele se desenrolou sob o olhar atento e desconfiado da Inquisição que, todavia, não interferiu diretamente. No apogeu de sua organização e de seu poder em Aragão, a Inquisição velava com autoridade pelo respeito estrito da ortodoxia católica, intervindo de maneira inexorável em todos os casos onde ela acreditava detectar novidades perigosas ou traços de superstição. Contrariamente ao que nos queria fazer crer a 'Lenda Negra' da Espanha, o tribunal da Inquisição gozava de um apoio total e convencido da parte de todas as classes sociais, a começar pelo povo. O fato de que o tribunal da Inquisição não tenha exigido de proceder por ela mesma à investigação do impressionante prodígio é uma garantia da objetividade e da regularidade do trabalho jurídico feito pelo tribunal constituído.

Este tribunal não se contentará em buscar as provas a fim de estabelecer a verdade sobre o objeto do processo, pela audição das vinte e quatro testemunhas oculares. Depois deles, durante cinco audiências, foram outras nove testemunhas de 'credibilidade' que compareceram diante dos juízes. Estes foram chamados a ser avalistas dos testemunhos precedentes, para confirmá-los sob juramento de credibilidade. No total, as minutas do processo mencionam 102 nomes, ilustres ou obscuros: juízes, escrivães, procuradores, meirinhos, testemunhas oculares ou 'de credibilidade', médicos, enfermeiros, eclesiásticos, donos de albergue, camponeses, carreteiros... Um jurista moderno e leigo, depois de uma análise dos procedimentos e do desenrolar do processo, podia falar de um 'excesso de garantias' e de uma 'prudência quase impertinente na verificação'.

A decisão do arcebispado declarando o acontecimento de Calanda autenticamente miraculoso foi pronunciada no dia 27 de abril de 1641, ou seja, depois de onze meses de trabalho e catorze sessões públicas e plenárias, menos de treze meses depois dos fatos. Num latim solene, o arcebispo concluía nestes termos a sentença que selava o fim de um longo e complexo processo:

'Por isto, tendo considerado os argumentos ditos acima e muitos outros, com o conselho dos ilustres doutores em Sagrada Teologia e em Direito Canônico nomeados acima, nós afirmamos, pronunciamos e declaramos que a Miguel Juan Pellicer, nascido em Calanda, que foi objeto deste processo, lhe foi devolvida milagrosamente sua perna direita, que lhe tinha sido anteriormente amputada; que não se tratou de um fato natural mas de uma obra admirável e miraculosa; e que se deve julgar que se trata de um milagre, todas as condições requeridas pelo Direito tendo sido reunidas para que, no caso aqui examinado, se possa falar de um autêntico prodígio. E assim devemos inscrevê-lo no número dos milagres, e nós o aprovamos, declaramos e autorizamos como tal'.

(Excertos de artigo publicado na revista Sel de la Terre, n. 49, pelo Pe. Philippe Nahan)