sábado, 12 de setembro de 2020

ORAÇÃO PELA INTERCESSÃO DOS SANTOS ANJOS


Supplices te rogamus, omnipotens
Deus: iube hæc perferri per manus
sancti Angeli tui in sublime altare tuum,
in conspectu divínæ maiestatis tuæ;
ut, quotquot ex hac altaris participatione
sacrosanctum Filii tui Corpus et
Sanguinem sumpserimus, omni benedictione
cælesti et gratia repleamur.

Humildemente Vos suplicamos, Deus todo-poderoso, 
que esta nossa oferenda seja apresentada
 pelo vosso santo Anjo no altar celeste, 
diante da vossa divina majestade, para que todos nós, 
participando deste altar pela comunhão 
do santíssimo Corpo e Sangue do vosso Filho,
alcancemos a plenitude das bênçãos e graças do céu.

(Oração Eucarística I)

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA (XI)


FALSO TESTEMUNHO

É o depoimento contrário à verdade. É mais grave quando feito em juízo por aquele que jurou dizer a verdade. É sempre proibido. Está escrito na Lei de Deus: 'Contra o teu próximo não dirás falso testemunho'(Ex 20, 16). As testemunhas citadas pelo Juiz têm obrigação de dizer a verdade, e só a verdade, sem atenção aos interesses de ninguém e só aos interesses da Justiça. Uma testemunha falsa fica obrigada a reparar todo o dano que maliciosamente causou ao próximo, ainda que lhe custe igual ou maior dano, e também a retratar-se do testemunho dado, se tanto for necessário para restabelecer a Justiça.

FIEIS 

são todas as pessoas batizadas que praticam a Religião como a Igreja Católica ensina. Todos, qualquer que seja a categoria social, têm deveres para com os sacerdotes, isto é, para com o Papa, os Bispos e os Clérigos em geral. São deveres dos fiéis:
a) Considerar os sacerdotes como embaixadores de Jesus Cristo, cooperadores de Deus, dispensadores dos mistérios de Cristo, como lhes chama São Paulo (I Cor 4, 1; Hb 5, 1-3);
b) Respeitar os sacerdotes, não obstante as suas imperfeições e os seus defeitos, que não destroem o seu caráter sagrado.
c) Amar filialmente os sacerdotes, que são os seus pais espirituais;
d) Obedecer-lhes em tudo o que diz respeito à ordem espiritual, como a Jesus Cristo, que disse aos seus Apóstolos: 'Quem vos ouve, a Mim ouve, quem vos despreza, a Mim despreza' (Lc 19,16).
e) Prestar-lhes assistência temporal, isto é, contribuir para a sua sustentação, não somente porque eles dedicam as suas faculdades, o tempo e a saúde ao bem espiritual dos fieis, mas também por causa da benéfica ação social que exercem na vida das famílias e da sociedade, e ainda porque o seu ministério é incompatível com quaisquer ofícios rendosos: 'Se nós vos semeamos as coisas espirituais, é porventura muito recolhermos as coisas temporais que vos pertencem?' diz o Apóstolo São Paulo (I Cor 9, 11).

FORTALEZA 

É uma virtude pela qual a vontade é de tal modo robustecida que não desiste de fazer o bem, por muito árduo que ele seja, nem por causa das dificuldades, nem pelo perigo de morte. A virtude da fortaleza manifesta-se principalmente na constância em suportar o peso da dor. Muito contribuem para conservar a fortaleza, além da oração, a comparação da fragilidade dos bens terrenos com a grandeza dos bens eternos, a previsão dos males a que estamos sujeitos, o costume de agir decididamente nas coisas pequenas, o fervoroso amor de Deus. São virtudes inseparáveis da fortaleza: a magnanimidade, a paciência e a perseverança.

FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO 

São os efeitos ou produtos dos dons do divino Espírito Santo. São 12: Caridade, dispõe-nos ao amor afetivo e efetivo para com Deus e para com o próximo; Gozo, faz-nos viver sempre contentes com as disposições da divina Providência; Paz, dispõe-nos a viver sempre de acordo com o nosso próximo, ainda que com algum prejuízo de nosso direito; Paciência, torna-nos calmos no meio dos sofrimentos que nos visitam; Benignidade, torna-nos indulgentes e agradáveis para com o próximo; Bondade, leva-nos a prestar serviços aos outros, ainda que à custa de incômodos nossos; Magnanimidade, faz-nos suportar o que não podemos impedir, e esperar a hora favorável para praticarmos o bem e corrigirmos o mal; Mansidão, detém o mau humor e torna amável o caráter; Fidelidade, impede de faltar à palavra dada; Modéstia, acalma a vivacidade nas ações mesmo boas e ensina a refletir antes de operar; Continência, contém nos devidos limites as exigências dos sentidos; Castidade, leva-nos a tomar precauções, a exercer vigilância e a praticar a mortificação, para evitarmos os perigos contra a pureza.

GALHETAS 

São os pequenos vasos de vidro ou de outra matéria, em que se deita o vinho e a água para a Missa. São colocadas num prato onde cai a água do Lavabo. Devem estar sempre muito limpas, como convém ao serviço em que se empregam.

GEENA

Palavra usada na Sagrada Escritura para significar o lugar de tormentos eternos a que os réprobos são condenados. É uma alusão a um vale profundo, onde eram lançadas as imundícies da cidade de Jerusalém, as quais ardiam continuamente sem que o fogo se extinguisse.

GRADUAL 

Era o livro que continha as orações que se cantavam depois da Epístola, à Missa cantada. Agora chama-se Gradual a uns versículos que se leem ou se cantam depois da Epístola.

GULA 

É o desordenado apetite de comer e de beber. É um dos sete pecados capitais, mas só é mortal quando o excesso na comida ou na bebida prejudica gravemente a saúde ou impede o uso da razão. São efeitos da gula: o embrutecimento da inteligência, a imoderação da língua, a propensão para a luxúria, a embriaguez e o alcoolismo. Por isso Jesus Cristo nos advertiu, dizendo: 'Velai sobre vós para que não suceda que os vossos corações se façam pesados com demasias de comer e de beber' (Lc 21, 34). São remédios contra a gula: a consideração do fim porque nos alimentamos; a observação dos efeitos do excesso da comida e da bebida; a mortificação do apetite ao comer e ao beber e a prática dos exercícios de piedade.

HÁBITO ECLESIÁSTICO OU CLERICAL

É o vestuário próprio dos eclesiásticos, os quais devem trazer hábito decente, segundo os costumes legítimos dos lugares e as prescrições do bispo próprio. Sem licença do bispo do lugar, não podem os associados de qualquer confraria, ainda que ereta por religiosos, trazer hábito próprio em procissões ou em outras funções sagradas.

HEREGE 

É aquele que, tendo recebido o sacramento do batismo, embora conservando o nome de cristão, nega ou põe em dúvida, pertinazmente, alguma das verdades da Fé divina e católica, propostas pela Igreja à crença dos cristãos. Se é notoriamente herege, fica separado da união com a Igreja Católica e não pode receber os Sacramentos.

HERESIA 

É o erro voluntário e pertinaz do cristão contra alguma verdade da Fé divina. É pecado gravíssimo, que separa o cristão radicalmente de Deus e do caminho da salvação.

HERESIARCA 

É o autor de uma heresia ou o chefe de uma seita herética.

HETERODOXO 

É aquele que professa doutrina contrária à doutrina Católica.

HIERARQUIA ECLESIÁSTICA 

É, por instituição divina, constituída pelos bispos, presbíteros e ministros, sob a autoridade suprema do papa, Chefe da Igreja universal. Aos Apóstolos, deu Jesus Cristo o poder de ensinar, reger e santificar os fiéis e a Pedro, deu o Primado sobre os outros Apóstolos, dizendo-lhes que estaria com eles até à consumação dos séculos. São Pedro tem como sucessor o Papa; os Apóstolos têm como sucessores os Bispos, os quais têm como auxiliares os Presbíteros e os Ministros ou Clérigos menores. Desta sorte,  a hierarquia instituída por Jesus Cristo se perpetua na Igreja até à consumação dos séculos.

HOMILIA 

É uma breve explicação do evangelho ou de alguma parte da doutrina cristã, feita nas Missas dos Domingos e Dias Santos a que assistam os fieis, quer nas igrejas, nas capelas ou nos oratórios. Não só os párocos, mas também todos os sacerdotes que nesses dias celebram missa a que assistem fieis são obrigados a fazer homilia. Dessa obrigação resulta para os fieis a obrigação de a ouvirem com a intenção de aprender e praticar.

HORAS CANÔNICAS 

São o ofício divino ou a reza do Breviário, que a Lei da Igreja impõe aos Clérigos de Ordens maiores, e que devem recitar a determinadas horas.

HORA SANTA 

É um exercício de devoção pedido por Jesus Cristo a santa Margarida Maria, o qual deve durar uma hora passada em oração, recordando a agonia de Jesus no Jardim das Oliveiras. Este exercício pode ser feito em qualquer lugar, e tanto em particular como em comum; mas é preferível fazê-lo diante do Santíssimo Sacramento. Deve ser feito de quinta para sexta-feira, e a qualquer hora desde as 14 horas, mas a hora mais própria é das 23 à meia noite.

HOSANA

É um canto que expressa alegria ou aclamação.

(Verbetes da obra 'Dicionário da Doutrina Católica', do Pe. José Lourenço, 1945)

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

O HEROÍSMO COTIDIANO DA VIDA CRISTÃ

Como nos primeiros séculos do cristianismo, assim nos tempos modernos, nos países do mundo, onde a perseguição religiosa aqui e ali se enfurece, abertas e sutis, mas não menos duras, os mais humildes fieis podem de um momento para outro encontrar-se diante da dramática necessidade de escolher entre a própria fé, que tem o dever de conservar inata, e a liberdade, os meios para sustentar a vida, a própria vida. Mas também nas épocas normais, nas vicissitudes e nas condições ordinárias da família cristã, sucede de vez em quando que as almas se encontrem bruscamente colocadas na alternativa de violar um imprescindível dever ou de expor-se a sacrifícios e riscos dolorosos e duros: na saúde, nos bens, na posição familiar e social, colocadas portanto na necessidade de ser e demonstrar-se heroicas, se querem permanecer fieis às suas obrigações e permanecer na graça de Deus.

Quando os nossos predecessores de veneranda memória, e particularmente o Sumo Pontífice Pio XI na Carta Encíclica Casti Connubii, chamaram a atenção e recordaram as santas e inamovíveis leis da vida matrimonial, ponderavam e tinham perfeitamente consciência de que, em não poucos casos, aos esposos cristãos pede-se um verdadeiro heroísmo para observar inviolavelmente as suas leis. Trata-se de respeitar os fins do matrimônio desejados por Deus ou de resistir aos incentivos ardentes e lisonjeiros das paixões e de solicitações, que a um coração inquieto insinuam que vá procurar fora o que, na legítima união não encontram ou creem não ter encontrado tão plenamente como haviam esperado; ou que, para não quebrar ou diminuir o vínculo das almas e do mútuo amor, sobrevenha a hora de saber perdoar, de esquecer um litígio, uma ofensa, um aborrecimento, talvez grave; quantos dramas íntimos nascem, desenvolvem suas amarguras e peripécias atrás do véu da vida cotidiana! Quantos heroicos sacrifícios escondidos! Quantas angústias do espírito para conviver e manter-se cristãmente constante no próprio dever e no próprio cargo!

E esta mesma vida cotidiana, qual força de alma não pede muitas vezes: quando toda manhã se deve voltar aos mesmos trabalhos, talvez rudes e fastidiosos em sua monotonia; quando é melhor suportar com sorriso nos lábios, amável e alegremente, os defeitos recíprocos, os jamais vencidos contrastes, as pequenas divergências de gosto, de hábitos, de ideias, que a vida em comum traz, quando, em meio de mínimas dificuldades e incidentes, muitas vezes inevitáveis, não deve perturbar-se e diminuir a calma e o bom-humor; quando, em um encontro frio, é urgente saber calar, parar a tempo o lamento, mudar e adoçar a palavra que, lançada fora, daria desafogo aos nervos irritados, mas difundiria uma nuvem opaca na atmosfera das paredes domésticas! Mil particulares ínfimos, mil fugazes momentos da vida cotidiana, cada qual deles é bem pouca coisa, é quase um nada, mas que a continuidade e o adicionar-se terminam tornando tão pesados, e pelos quais, entretanto, por uma tão considerável parte, é entrelaçada e afetada, no mútuo sofrimento, a paz e a alegria de um lar.

Não procureis em outros lugares a fonte de tais heroísmos. Nas dificuldades da vida familiar, como em todas as circunstâncias da vida humana, o heroísmo tem sua raiz essencial no sentimento profundo e dominador do dever, daquele dever, com o qual não é possível transigir ou pactuar, que deve prevalecer em tudo e sobre todos: sentimento do dever que, para o cristão, é consciência e reconhecimento do domínio soberano de Deus sobre nós, de sua soberana autoridade, de sua soberana bondade; sentimento que quando se apresenta como a vontade de Deus claramente manifestada, não é passível de discussão, e a todos impõe inclinar-se; sentimento que, além de tudo, nos faz compreender que a vontade divina é a voz de um infinito amor para conosco; sentimento, em uma palavra, não de um dever abstrato ou de uma lei prepotente e inexorável, hostil e esmagadora da liberdade humana, do dever e do agir, mas que corresponde e se inclina às exigências de um amor, de uma amizade infinitamente generosa, transcendente e que rege as multiformes vicissitudes do nosso viver aqui na terra.

(Papa Pio XII)

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

DA VIDA ESPIRITUAL (105)

Você, amigo de longa data, lamentava a pouco o fato de já não ser tão moço e que as tarefas do dia-a-dia lhe pareciam cada vez mais demoradas e mais cansativas... eis o preço que o tempo nos cobre sob a ótica puramente humana: menor vigor físico, maiores limitações para tudo. O avanço do tempo que não pára está diante de todos: as árvores perdem seus frutos e folhas, o sol se põe a cada dia, a morte de um parente ou de um velho conhecido, o limo que cobre as paredes assim como o matagal envolve por completo a velha casa em ruínas... E, ainda na nossa pobre ótica humana, lamentamos a sua passagem como símbolo da nossa própria morte que se aproxima, da perda dos bens e da juventude quase esquecida... Mas o tempo é o caminho que nos leva às eternas latitudes de Deus, às moradas sem fim das bem aventuranças, ao derradeiro aconchego da casa paterna. Como cristãos no mundo, os dias que se vão não são frutos perdidos e nem aves de arribação: são as contas do rosário que Deus perpassa à espera de cada um de nós; os dias que se passaram não são mato seco para ser queimado, mas pedras preciosas que pavimentam caminhos para a eternidade. Os dias que morrem, na verdade não morrem nunca: são simplesmente a certeza definitiva de que ainda somos peregrinos a caminho de casa.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

GLÓRIAS DE MARIA: FESTA DA NATIVIDADE DE MARIA


Com o nascimento de Maria, Deus dá ao mundo a aurora que anuncia a vinda do Messias, o início histórico da obra da Redenção. Maria, 'bendita entre todas as mulheres' e rainha dos anjos, foi privilegiada pelos desígnios da Providência com as graças mais sublimes para ser elevada à excelsa dignidade de Mãe do Nosso Salvador Jesus Cristo, Mãe de Deus. 

'Deus onipotente, antes que o homem caísse, previu a sua queda e decidiu, antes dos séculos, a redenção humana. Decidiu Ele encarnar-se em Maria... Hoje é o dia em que Deus começa a pôr em prática o seu plano eterno, pois era necessário que se construísse a casa, antes que o Rei descesse para habitá-la. Casa linda, porque, se a Sabedoria constrói uma casa com sete colunas trabalhadas, este palácio de Maria está alicerçado nos sete dons do Espírito Santo. Salomão celebrou de modo soleníssimo a inauguração de um templo de pedra. Como celebraremos o nascimento de Maria, templo do Verbo encarnado?'

(Homilia sobre a Natividade de Maria, de São Pedro Damião)

A Festa da Natividade de Maria (celebrada no dia 8 de Setembro, pelo calendário tridentino) era celebrada no Oriente Católico muito antes de ser instituída no Ocidente e tem sua origem provavelmente em Jerusalém, pelos meados do século V. De acordo com a Tradição, Maria nasceu de pais virtuosos e avançados em idade, Joaquim e Ana, que cumpriam fielmente os seus preceitos cristãos em Jerusalém, resignados e pacientes diante a esterilidade do casal. Contemplados com a gravidez tardia, nasceu-lhes pela Divina Providência a filha que seria a Mãe de Deus, evento singular da história da humanidade que não foi objeto nem de profecias e nem de sinais extraordinários antes, durante ou depois da natividade de Maria.

'Ó Joaquim e Ana, casal bem-aventurado e verdadeiramente sem mancha! Pelo fruto do vosso seio fostes reconhecidos, segundo a palavra do Senhor: 'Pelos seus frutos os reconhecereis'. A vossa conduta foi agradável a Deus e digna daquela que nasceu de vós. Tendo levado uma vida casta e santa, engendrastes a joia da virgindade, aquela que deveria permanecer Virgem antes, durante e depois do parto, a única sempre Virgem de espírito, de alma e de corpo. Convinha, de fato, que a virgindade saída da castidade produzisse a Luz única e monógena, corporalmente, pela benevolência d’Aquele que A gerou sem corpo – o Ser que não gera, mas que é eternamente gerado, para Quem ser gerado é a única qualidade própria da Sua Pessoa. Ó que maravilhas, e que alianças estão neste menino! Ó Filha da esterilidade, virgindade que engravida, nela se unirão divindade e humanidade, sofrimento e impassibilidade, vida e morte, para que em todas as coisas o menos perfeito seja vencido pelo melhor! E tudo isto para minha salvação, ó Mestre! Amas-me tanto que não realizaste esta salvação nem pelos anjos, nem por nenhuma outra criatura, mas tal como já a minha criação, também a minha regeneração foi Tua obra pessoal. Assim, eu exulto, faço despertar a minha alegria e o meu júbilo, volto à fonte das maravilhas, e embriagado de uma torrente de alegria, toco de novo a cítara do espírito e canto o hino divino da natividade'.

(Homilia sobre a Natividade de Maria, de São João Damasceno)

Nasce Maria, dádiva de Deus, santíssima em sua concepção, santíssima no seio de sua mãe, santíssima desde o primeiro instante de sua vida. Pois não convinha que o santuário de Deus, a mansão da sabedoria, o relicário do Espírito Santo, a urna do maná celestial, tivesse em si a menor mácula. Antes de receber sua alma santíssima, sua carne foi completamente purificada até do menor resíduo de toda mancha, sem a mais ínfima inclinação para o pecado.

'A gloriosa Virgem não apenas foi preservada do pecado original em sua concepção, como foi também adornada da justiça original e confirmada em graça desde o primeiro momento de sua vida, segundo muitos eminentes teólogos, a fim de ser mais digna de conceber e dar à luz o Salvador do mundo. Privilégio que jamais foi concedido à criatura alguma, nem humana nem angélica, pertencendo somente à Mãe do Santo dos Santos, depois de seu Filho Jesus ... Todas as virtudes, com todos os dons e frutos do Espírito Santo, e as oito bem-aventuranças evangélicas se encontram no coração de Maria desde o momento de sua concepção, tomando inteira posse e estabelecendo n'Ela seu trono num grau altíssimo e proporcionado à eminência de sua graça'.

(Homilia, São João Eudes)


Maria Santíssima é a nova Eva, a mãe espiritual dos homens; é Judite que será vitoriosa sobre o inimigo do povo de Deus; é Ester que alcançará misericórdia para o seu povo. Foi Maria que Adão entreviu quando Deus lhe disse que uma mulher esmagaria a cabeça da serpente. Deus a tinha em vista quando prometeu a Abraão, aos patriarcas e a Davi, que o Salvador brotaria da sua estirpe. Ela é o tronco de Jessé que havia de dar a flor escolhida, conforme a profecia de Isaías. 

Genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão: 2Abraão gerou Isaac;Isaac gerou Jacob; Jacob gerou Judá e seus irmãos; 3Judá gerou, de Tamar, Peres e Zera; Peres gerou Hesron; Hesron gerou Rame; 4Rame gerou Aminadab; Aminadab gerou Nachon; Nachon gerou Salmon; 5Salmon gerou, de Raab, Booz; Booz gerou, de Rute, Obed; Obed gerou Jessé;6Jessé gerou o rei David. David, da mulher de Urias, gerou Salomão; 7Salomão gerou Roboão; Roboão gerou Abias; Abias gerou Asa; 8Asa gerou Josafat; Josafat gerou Jorão; Jorão gerou Uzias; 9Uzias gerou Jotam; Jotam gerou Acaz; Acaz gerou Ezequias; 10Ezequias gerou Manassés; Manassés gerou Amon; Amon gerou Josias; 11Josias gerou Jeconias e seus irmãos, na época da deportação para Babilónia.12Depois da deportação para Babilónia, Jeconias gerou Salatiel; Salatiel gerou Zorobabel;13Zorobabel gerou Abiud. Abiud gerou Eliaquim; Eliaquim gerou Azur; 14Azur gerou Sadoc; Sadoc gerou Aquim; Aquim gerou Eliud; 15Eliud gerou Eleázar; Eleázar gerou Matan; Matan gerou Jacob. 16Jacob gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo.18Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava desposada com José; antes de coabitarem, notou-se que tinha concebido pelo poder do Espírito Santo.19José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente.20Andando ele a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: 'José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados'. 22Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: 23Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus conosco.

(Evangelho: Mateus, 1, 1-16.18-23)

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

O VALOR DA SANTA MISSA PARA AS ALMAS DO PURGATÓRIO

Não podendo compreender, durante esta vida, o rigor das chamas do purgatório; virá, porém, o dia em que o experimentaremos. Meditemos, enquanto podemos, a doutrina dos Santos e Doutores da Igreja.

Santo Agostinho diz: 'O eleito e o condenado são atormentados pelo fogo, cuja ação é mais violenta que tudo quanto, sobre a terra, se pode imaginar, ver e sentir' (Sermão 41). Fosse este testemunho o único, e bastaria para espantar-nos, porque os males de que a terra está cheia, são incalculáveis, e nossa capacidade de sofrer é um abismo de que ninguém sondou a fundo. Pensa nas terríveis doenças que corrompem o corpo; lê, no martirológio, as torturas espantosas, a que foram submetidos os confessores da fé, e persuadir-te-ás de que tudo isto é apenas uma pálida imagem do que te espera, segundo a afirmação de São Cirilo: 'Todas as penas e torturas', diz ele, 'todos os tormentos desta vida, comparados à menor pena do purgatório, parecem ainda uma consolação'. São Tomás de Aquino afirma também: 'A menor faísca desse fogo é mais cruel que todos os males desta vida'.

Meu Deus! Como minha alma suportará essas dores terríveis? Ora, é quase certo que não chegará ao céu sem passar por essas chamas purificadoras, porque, longe de ser bastante perfeita para evitá-las, está repleta de manchas e de más inclinações. Há vários meios eficazes de aliviar as almas do purgatório; porém, o mais salutar, declara o Concílio de Trento, é o santo Sacrifício da Missa: 'As almas do purgatório são aliviadas pelas orações e sufrágios dos fiéis, principalmente pelo sacrifício do Altar' (Concílio de Trento, Sessão 25). Dois séculos antes, São Tomás de Aquino já dizia: 'Segundo o uso geral, a Igreja sacrifica e ora pelos defuntos e, assim, liberta-os, prontamente, do purgatório'.

A razão é porque, na santa Missa, o sacerdote e os assistentes não somente pedem misericórdia, mas oferecem também a Deus um resgate preciosíssimo. As almas do purgatório não estão fora dos favores de Deus, visto que, por sua contrição e confissão, reconciliaram-se com Ele, porém ficam prisioneiras, para se purificarem das chamas. Por conseguinte, se cheio de compaixão, orares por elas, cedendo-lhes teus méritos, contribuís para saldar uma parte desta dívida de que o Juiz supremo diz: 'Toma cuidado para que não sejas lançado na prisão, donde não sairás sem ter pago o último ceitil' (Mt 5, 25-26). Entretanto, se assistes, ou fazes celebrar a santa Missa por uma destas almas, satisfarás grande parte de sua dívida.

Ignora-se em que medida são remidas as penas do purgatório pelo santo Sacrifício. Em todo o caso, fica certo que uma missa celebrada, ou ouvida durante a tua vida, serve-te mais do que outra oferecida em tua intenção depois da morte, segundo a palavra de Santo Anselmo: 'Uma única missa assistida por uma pessoa durante a vida, lhe é mais vantajosa do que muitas oferecidas, em sua intenção, depois da morte'. Eis o porquê. Se estiveres em estado de graça, quando ouvires, ou mandares celebrar a santa Missa por ti, obterás um aumento de glória para o paraíso; vantagem que, mesmo cem missas, celebradas depois de teu falecimento, não poderiam merecer-te, visto que o tempo de merecimento acabou.

Se estiveres em estado de pecado mortal, a santa Missa te atrairá, pela infinita misericórdia de Deus, com a luz necessária para reconhecer os pecados e a dor de havê-los cometidos, dor que te põe em graça com ele, coisa impossível depois da morte. Se, em vida, já estás marcado com o selo da reprovação, a santa Missa pode ainda deter-te na beira do abismo infernal e conceder-te o inestimável benefício de morreres na graça de Deus. Missas ouvidas ou celebradas te esperam além do túmulo, onde, como outros tantos advogados eloquentes, solicitarão, para ti, o perdão no tribunal da Justiça divina. Se não te preservam inteiramente do purgatório, abreviar-lhe-ão a duração e diminuir-lhe-ão a intensidade. Apesar de Deus aplicar-te todo o fruto de uma missa após tua morte, seria ainda mister que fosse celebrada, e deverias esperá-la.

Supõe que morras à tarde e devas permanecer nas chamas do purgatório somente até a hora da Missa do dia imediato: ó como seria longa esta única noite! Supõe mesmo o caso mais favorável em que tua pena duraria o tempo de uma missa; caro leitor, esta meia hora te pareceria ainda uma eternidade. Se te obrigassem a ter a mão em fogo vivo durante o tempo em que se pode celebrar uma santa missa, quanto não darias para escapar a uma prova tão cruel? Entretanto, não atingiria senão a um membro de teu corpo, e não se pode comparar à pena muito mais intensa que tem sede na alma. Poderíamos ter menos compaixão de nossa alma que do nosso corpo? Em todo caso, é melhor que as missas nos esperem na outra vida do que termos que esperá-las. Amontoemos, pois, tesouros no céu, pela piedosa assistência à santa missa, porque a noite virá, e quem trabalhará então por nós?

A esmola que consagras para fazer celebrar a santa missa é um dom espontâneo, voluntário, muito agradável a Deus, ao passo que, depois de tua morte, não será mais dado por ti, mas por teus herdeiros. Não vemos, todos os dias, como demoram a satisfazer os piedosos desejos dos moribundos? Acredita-nos, é mais conveniente assegurar o futuro, desde a vida presente, enquanto podes dispor de teus bens. Enfim, não esqueçamos que o tempo presente é o tempo da misericórdia, e o tempo futuro, o da justiça. São Boaventura diz: 'Assim como uma palheta de ouro é mais preciosa do que um pedaço de chumbo, também uma pequena penitência, a que nos submetemos, voluntariamente, nesta vida, é mais agradável aos olhos de Deus do que uma grande penitência feita na outra.

Ah, se pudesses contemplar, com teus olhos mortais, os rios de graças que, do altar, se derramam sobre o purgatório, com que pressa procurarias, para as almas exiladas, este divino benefício! Não objetes tua pobreza. É verdade, a pobreza pode privar-te do prazer de mandar celebrar os divinos Mistérios; porém, não te explicamos que a simples audição da santa Missa é, por si, muito meritória? Pede a teus amigos que ouçam também uma ou mais missas na intenção das almas do purgatório.

Era o conselho de um homem de Deus a uma pobre viúva que lamentava não poder mandar celebrar missas por seu defunto marido: 'Assisti, frequentemente, ao Santo Sacrifício por ele; deste modo será mais prontamente libertado do que por uma ou duas missas celebradas em sua intenção'. Este excelente conselho o damos, de bom grado, aos pobres; não que seja menos vantajoso fazer celebrar a missa, quando se pode, porém, é uma consolação para a alma do purgatório ver-te oferecer, por ela, nosso Senhor ao seu Pai. Então o precioso Sangue inunda-a como orvalho celeste. Jamais um doente devorado pela febre foi tão aliviado por um copo d'água fresca, como nossos caros defuntos, quando na santa missa, derramamos, misticamente, sobre eles algumas gotas deste Sangue divino.

(Excertos da obra 'Explicação da Santa Missa', do Venerável Pe. Martinho de Cochem)

domingo, 6 de setembro de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Irmãos: não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo está cumprindo a Lei. De fato, os mandamentos: “Não cometerás adultério”, “não matarás”, “não roubarás”, “não cobiçarás”, e qualquer outro mandamento, se resumem neste: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei' (Rm 13, 8-10)