domingo, 29 de dezembro de 2013

DA VIDA ESPIRITUAL (64)

Diante de uma velha fotografia de seus pais, quando jovens:





No coração, Deus também um dia olhou com profundo amor tua fotografia, muitos milênios antes de você nascer, e te escolheu como filho...

SAGRADA FAMÍLIA

Páginas do Evangelho - Festa da Sagrada Família 


Este é o Domingo da Sagrada Família. Deus veio ao mundo por meio da família; eis porque a família é a fonte primária da sociedade, síntese da vida cristã autêntica e a primeira igreja. E que modelo de família cristã Deus legou ao mundo: Jesus, Maria e José: Jesus é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade; Maria, a Virgem Mãe de Deus, e São José, esposo da Virgem Maria e pai adotivo de Jesus. Família sagrada que viveu em plenitude a submissão à perfeição do amor; submissão que se expressa pelos sentimentos de entrega e renúncia em tudo e não pelo servilismo complacente.

Na humilde casa de Nazaré, três pessoas eram pai, mãe e filho, em natureza sobrenatural exatamente inversa à ordem natural: São José, patriarca e pai de família devotado, com direitos naturais legítimos sobre a esposa e o filho, era o menor em perfeição; Nossa Senhora, esposa e mãe, era Mãe de Deus e de todos os homens; Jesus, a criança indefesa e submissa aos pais, é o Deus feito homem para a salvação do mundo. Portentoso mistério que revela a singular santidade da família humana, moldada sobre clara hierarquia divina, moldada por Deus para ser escola de santificação, amor, renúncia e salvação. 

Eis o legado da Sagrada Família às famílias cristãs: a oração cotidiana santifica os pais e os filhos numa obra incomensurável do amor de Deus e a fortalece contra todos as tribulações. Sim, a Sagrada Família também viveu dias de extrema angústia, perseguição, contrariedades, sacrifícios, exílio: 'Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito...porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo' (Mt 2, 14). Quantas não são as tribulações e ataques que as forças do mal promovem contra a família cristã nos dias de hoje. Mais do que nunca, é preciso o heroísmo cristão, a perseverança, a fidelidade a Cristo no ambiente familiar. Isso só é possível na oração em família. Que pais e filhos vivam juntos a plenitude do amor em família! Que construam juntos, tijolo por tijolo, a felicidade que tem Deus por plenitude! Vida de família é, antes de tudo, vida de oração em comum, em perfeita comunhão com Cristo, em perfeita comunhão com a Sagrada Família! E viver em oração não significa rezar simplesmente o tempo todo, mas transformar cada ato, trabalho e pensamento em oração. 

Amar em plenitude é cumprir à risca a santa vontade de Deus. Que bela obra de santificação se constrói a cada dia, no seio de uma família cristã, os pais e os filhos que vivem, na pequenez de suas lidas e esforços humanos, a enorme glória de servir a Deus em todos e em tudo. Em Nazaré, Deus tornou a família modelo e instrumento de santificação; que em nossas casas e em nossas famílias, a Sagrada Família seja o modelo e instrumento para a nossa vida e para nossa santificação de todos os dias!  

sábado, 28 de dezembro de 2013

FILHOS DA IGREJA E FILHOS DE LUTERO

Que os protestantes retalham e conspurcam as Santas Escrituras para atacarem e difamarem a Santa Igreja Católica, é fato conhecido e universal. Que tal se eles usassem estes mesmos critérios para interpretarem as blasfêmias que satanás grunhiu pela boca do pai deles, Martinho Lutero? Tomemos uma delas, uma única delas, como tristíssimo exemplo desse farsante demoníaco:

'Cristo cometeu adultério pela primeira vez com a mulher da fonte [do poço de Jacó] de que nos fala São João. Não se murmurava em torno dele: "Que fez, então, com ela?" Depois, com Madalena, depois, com a mulher adúltera, que ele absolveu tão levianamente. Assim, Cristo, tão piedoso, também teve que fornicar, antes de morrer' (Lutero, Tischredden, Table Talk, Weimar, Vol. II, p. 107, apud Franz Funck Brentano, Martinho Lutero, Ed Vecchi Rio de Janeiro 1956, p. 15).

Que alma, senão dominada por satanás até os vórtices mais inacessíveis, seria capaz de semelhante blasfêmia, de pecado tão mortal? Que cristãos seriam capazes de seguir o exemplo e o modelo de tal aberração? 

Infelizmente, milhares de almas, confundidas e confusas em dezenas de seitas protestantes, que se opõem e difamam a santa Igreja Católica como escarnecedores da verdade. Os errados, os condenados, os heréticos são os pobres católicos 'adoradores de imagens' que substituíram o Senhor por uma Senhora, que construíram a farsa da Tradição, quando a única verdade está contida integralmente na bíblia (evidentemente, a 'bíblia protestante', interpretada, organizada e divulgada por pastores e pastoras, pessoas certamente tão preparadas e extraordinárias quanto Lutero).

Assim, numa penada só, desaparece todo o extraordinário acervo da historiografia cristã pelos séculos antes da Reforma Protestante, tornam-se inúteis, ou pior, heréticos, os escritos de santos como Tomás de Aquino, Agostinho ou Luís Grignion de Montfort. As igrejas, as Cruzadas, as Missões, os mártires cristãos, os Concílios, a própria construção da civilização cristã, tudo é tragado nesta concepção diabólica de se negar a Verdadeira Igreja de Cristo. 

Se ela não é a Igreja de Cristo, todos os seus frutos são maus, tudo nela é condenável, e é preciso demonstrar isso aos novos seguidores para que encontrem o verdadeiro caminho da salvação (uma inconsistência, portanto, que Deus tenha permitido que Lutero nascesse apenas no século XV, para garantir-lhes, então, a salvação daí em diante). Mas isso contraria o que o próprio Cristo estabeleceu como premissa (e isso está na Bíblia Católica e na versão protestante): 'Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo' (Mt 28, 20).

Nos tempos atuais, essa ação diabólica nascida da boca de Lutero ampliou-se de tal forma e com tanta veemência que as seitas protestantes se multiplicam e se reproduzem numa demência coletiva, cuja magnitude e proporção só são passíveis de entendimento e compreensão se movidos por forças malignas de cunho universal. E se, aparentemente, é a Igreja Católica que parece vacilar e se fragilizar, não há nada a temer, pois foi o próprio Cristo que preparou a sua Igreja para estes tempos finais: 'Quando o Filho do Homem voltar, encontrará ainda a fé sobre a terra?' (Lc 18,8). Um 'pequeno resto' certamente a manterá incólume. E muitos outros, incluindo muitos que pregaram inclusive em seu Santo Nome, serão condenados, porque escolheram a porta larga dos falsos profetas e das árvores más que só dão maus frutos (Mt 12, 13 - 27):

13. Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram.

14. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram.

15. Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores.

16. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinhos e figos dos abrolhos?

17. Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos.

18. Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má, bons frutos.

19. Toda árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo.

20. Pelos seus frutos os conhecereis.

21. Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.

22. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres?

23. E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!

24. Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha.

25. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha.

26. Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia.

27. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

VÍDEOS CATÓLICOS

Diferentes ícones antigos, reproduzindo a face de Cristo, confrontados com a imagem de Jesus gravada no Sudário de Turim. 

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

OS ÚLTIMOS TEMPOS E A ERA DO ESPÍRITO SANTO

'Existe um tesouro escondido, uma riqueza que não foi explorada nem é apreciada pelo seu verdadeiro valor, e que é, contudo, o que tem maior valor no céu e na terra: o Espírito Santo. Nem o próprio mundo das almas o conhece devidamente. Ele é a Luz das inteligências e o fogo que abrasa os corações. Se há tibieza, se há frio ou fragilidade, e tantos outros males que afligem o mundo espiritual, e mesmo a minha Igreja, é porque não se recorre ao Espírito Santo.

A sua missão no céu, a sua Vida, o seu Ser, é o Amor. Na terra, a sua missão consiste em encaminhar as almas para esse lar do Amor que é Deus. Com Ele, possui-se tudo o que se pode desejar. Se há tristeza, é porque não se recorre a este Divino Consolador, Ele que é a alegria espiritual perfeita. Se há fragilidade, é porque não se apoiam sobre Aquele que é a Força Invencível. Se existem erros, é porque desprezam Aquele que é a Luz. A fé apaga-se por ausência do Espírito Santo. 

Em cada coração e na Igreja inteira, não se rende ao Espírito Santo o culto que lhe é devido. A maior parte dos males que se deplora na Igreja e nas próprias almas vem de que não se dá ao Espírito Santo a primazia que Eu dei a esta Terceira Pessoa da Trindade, que teve uma parte tão ativa na Incarnação do Verbo e na fundação da Igreja. Amam-no com tibieza, invocam-no sem fervor e em muitos corações, mesmo entre os meus, nem mesmo dEle se lembram. Tudo isso aflige profundamente o meu coração'.

'É tempo que o Espírito Santo reine!' dizia-me o Senhor como que comovido, 'e não de um reino longínquo, como uma coisa altíssima, se bem que o seja e não haja nada Maior do que Ele, pois que é Deus, unido e consubstancial com Pai e com o Verbo. Mas é preciso que Ele reine, perto, bem perto, em cada alma e em cada coração, em todas as estruturas da minha Igreja. No dia em que o Espírito Santo ser incorporado em cada pastor, em cada padre, como sangue bem íntimo, serão então renovadas as virtudes teologais, agora lânguidas, mesmo nos ministros da minha Igreja, devido à ausência do Espírito Santo. Então o mundo mudará, pois todos os males de que se lamentam hoje têm por causa o afastamento do Espírito Santo, que é o seu único remédio. 

Que os ministros da minha Igreja reajam, por intermédio do Espírito Santo e, assim, todo o mundo das almas será divinizado. Ele é o eixo à volta de quem giram as virtudes. Não há virtude verdadeira sem o Espírito Santo. O impulso decisivo para levantar a minha Igreja do estado de prostração onde jaz, está em que se ative o culto ao Espírito Santo. Que se lhe dê o seu lugar, isto é, o primeiro lugar nas inteligências e nas vontades! A ninguém lhe faltará nada com esta riqueza celeste. O Pai e o Verbo, que sou Eu, desejamos uma renovação palpitante, vivificante do seu reino na Igreja'.

- 'Senhor, mas o Espírito Santo reina na Igreja, por que te queixas?'

- 'Ai dela, se assim não fosse! O Espírito Santo é, sem dúvida, a alma desta Igreja tão amada!'

'Mas aquilo de que me queixo é não se dar conta deste dom do céu, de não lhe darem a importância devida. A devoção ao Espírito Santo nos corações tornou-se rotineira, é cada vez mais lânguida, morna e secundária. Isso arrasta consigo males sem conta tanto na Igreja como em todas as almas. Eis porque as Obras da Cruz vêm renovar a sua devoção e estendê-la a toda a terra. Que o Espírito Santo reine nas almas, e o Verbo será conhecido e honrado, tomando a Cruz um impulso novo nas almas espiritualizadas pelo Amor Divino.

À medida que reinar o Espírito Santo, o sensualismo, que hoje invade a terra, desaparecerá. Jamais a Cruz criará raízes se o terreno não tiver sido antes preparado pelo Espírito Santo. Eis por que Ele te apareceu primeiro antes mesmo da visão da Cruz. Tal é a razão porque ele está no alto da Cruz do Apostolado.'

... 'As almas creem que o Espírito Santo está muito longe, num plano superior, em lugar inatingível. Na realidade, é a Pessoa divina que mais assiste à criatura. Acompanha-a por todo o lado, impregna-a de si mesmo, chama-a, zela por ela, cobre-a com a sua proteção, faz dela o seu templo vivo, defende-a, ajuda-a, guarda-a de todos os seus inimigos. Está mais perto da alma do que ela própria. 

Todo o bem que uma alma executa, fá-lo por força da sua inspiração, da sua luz, da sua graça e do seu auxílio. E no entanto não é invocado, não é agradecido pela sua ação imediata e tão íntima em cada alma. Se invocas o Pai, se o amas, é pela ação do Espírito Santo. Se Me amas com ardor, se Me conheces, se Me serves, se Me copias, se te unes aos meus quereres e ao meu coração, é pelo Espírito Santo.

Consideram-no inacessível, e na realidade assim o é, mas também não existe nada de mais sensitivo, mais próximo e que mais socorre a criatura de que este Ser de uma transcendência suprema, este Espírito tão santo que reflete e que constitui uma mesma santidade com o Pai e o Filho. Os séculos passaram e Ele permanece sempre o Princípio de todas as coisas. Ele grava a sua marca nas almas e o caráter no sacerdote. Ele comunica a luz da fé e de todas as virtudes. Ele irriga e fecunda todo o campo da igreja. Apesar disso não o apreciam, não o conhecem, não o agradecem pela sua ação tão perpetuamente santificadora. Se acaso há ingratidão para Comigo, para com o Espírito Santo essa ingratidão é ainda maior.

Eis por que Eu quero que, no fim dos tempos, se manifeste a sua glória... Uma das dores interiores mais cruéis para o meu coração foi esta ingratidão de todos os tempos, a da idolatria, outrora dos ídolos, e hoje na adoração do homem em si mesmo, esquecendo-se do Espírito Santo. Nestes últimos tempos, a sensualidade estabeleceu o seu reinado no mundo; esta vida sensual ofusca e apaga a luz da fé nas almas. Por isso, torna-se necessário, mais do que nunca, que o Espírito Santo venha destruir e aniquilar satanás que, sob esta forma, se vai introduzindo até no seio da Igreja. '

Excertos do Diário de Conchita - Revelações feitas por Nosso Senhor Jesus Cristo a Concepción Cabrera de Armida (1862 - 1937), vidente mexicana, fundadora das 'Obras da Cruz'.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

FELIZ E SANTO NATAL EM CRISTO!


Desejo a todos os nossos amigos visitantes um Santo e Feliz Natal. 
Deseo a todos los amigos y visitantes Felices Navidades. 
I wish to our friends' visitors an happy and Holy Christmas. 
Je désire à tous nos amis un heureux et joyeux Noel. 
Auguro a tutti gli amici uno Santo ed Felice Natale. 
Ich wunshe to unsere Freude eine Wundabar und Stille Nacht.


IGREJA CATÓLICA: ALMA DO NATAL

(clicar na imagem para o vídeo)

AS MAIS BELAS CANÇÕES DE NATAL


(clicar na imagem para o vídeo)

NATAL

Jesus nasceu! e na pequena estrebaria
José apressa-se em fazer a manjedoura
ajunta palha e feno, mudo de alegria,
enquanto a Mãe em êxtase se entesoura

Os animais se aproximam cautelosos
inebriados diante a luz que transfigura
e os pastores de joelhos, jubilosos,
louvam o Criador agora criatura!

Há uma paz imensa nesta noite fria
todos os anjos cantam a doce melodia
que une céu e terra em amor profundo;

É Natal, a Mãe embala seu pequeno filho
e a luz que inunda a gruta tem o brilho
da salvação que libertou o mundo!

                                                                              (Arcos de Pilares)

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

HISTÓRIAS QUE OUVI CONTAR (XI)

Era véspera de Natal. Eu havia prometido à minha esposa que, naquele ano, pelo menos naquele ano, eu estaria com ela na Missa de Natal. Nem me lembro da última vez que isso tinha acontecido. Na verdade, eu não ligava muito para as Festas e estava sempre disposto a cobrir os outros colegas nesta época para as entregas de fim de ano, para viagens de última hora, para atender os pedidos 'em cima da hora', tudo para ganhar um adicional sempre mais fácil e generoso. 

Mas, nesse ano não, eu não ficaria de plantão no Natal, eu estaria fora das viagens não programadas, dos bônus polpudos. Tudo por causa da Missa de Natal em família. Era um bom propósito, não? Mas, atender aquela entrega num sítio tão próximo, tipo entrega rápida bate-e-volta, pareceu-me viável e confortável. Dava pra ganhar um troco e chegar em casa com tempo de sobra. Por que não?

Era uma entrega tão simples. Uma caixa. Um presente de Natal para alguém do tal sítio. Tinham me passado até um esquema do trajeto. Simples, fácil, maneiro. Mas não tinha encontrado sítio algum e estava tentando vir embora. E, agora, lá estava eu perdido no meio do mundo, sem eira nem beira, com o carro seminovo atolado no barro até o meio das rodas. Que ideia ir em um sítio por estradas de terra nesta época de chuvas colossais! Chuva, chuva, chuva... Um mar de barro, chuva sob chuva, pouco abaixo da estrada um riacho tinha virado rio e parecia que ia arrebentar por sobre as margens, que vacilo, meu Deus! E a missa?

O celular não pegava. O tempo não se consumia. O mesmo ar parado, gélido, as pancadas de chuva seguidas pela chuvinha miúda, o barulho da enchente do rio, o silêncio da passarada escondida. Não achava nenhuma pedra grande nas proximidades para servir de apoio às rodas, nenhum galho, nada. 'Como é que pode uma coisa dessas!' No riachão, devia ter muita pedra, mas... Impotente, ligava o motor apenas para fazer as rodas enlameadas deslizarem ainda mais em frenesi, fazendo meandros no barro mole e encharcado da estrada vazia.

Foi então que eu o vi. O menino franzino, mal vestido, caminhando em minha direção, com um boné meio de lado, com botas de borracha salpicando barro a cada passo. Encharcado até os ossos. Sorridente, perguntou de longe:

- Tem corrente não?

Não, eu não tinha corrente. Não tinha nada. Não tinha ideia de nada.

- Não. Você mora aqui?

- Lá - apontando para algum lugar em direção a um morrote distante - escutei o barulho do carro...

- Tem alguém lá que possa me ajudar?

- Num tem não. Meu pai e meu irmão mais velho saíram e não tem mais ninguém em casa. E ninguém mais mora por estas bandas.

Devo ter pensado 'Como alguém pode morar aqui?' num lugar tão ermo e tão distante de tudo. Pensei em chamá-lo para entrar no carro, mas ia encharcar o banco. E uma nova pancada de chuva grossa desabou sobre aquele mundo de dois personagens. Procurei dentro do carro, mais uma vez, algum pedaço de pano ou de jornal para limpar o rosto. 

- Qual é o lugar mais próximo que eu posso pedir ajuda?

Na chuva pesada, ele pareceu não ouvir minha pergunta. Mas eu ouvi claramente o que ele disse:

- Você tem correntes...

- Como? Não, eu disse que não tenho correntes, nem pensei nisso.

Ele apontou para o carro. Eu não estava entendendo nada. Mas ele continuou:

- Você tem correntes...na caixa.

A caixa! Era para ele, para o pai dele? Ela era pesada mesmo. Seriam correntes para serem usadas num lugar daquele, numa chuva daquelas. Fazia sentido. Seria um belo presente de Natal... para eles e para mim também! Peguei a caixa, rasguei o papel e a abri: milagre! Eram duas correntes, mais valiosas que ouro naquela ocasião, exatamente para serem colocadas em pneus em épocas de chuvas. 

- Isso vai resolver, o senhor vai ...

Mais rápido do que qualquer coisa, o menino pegou as correntes da caixa e, com uma habilidade incrível, as colocou sobre cada uma das rodas traseiras. E ordenou, em seguida:

- Vamo lá, liga o carro, que agora ele vai...

Num movimento automático, sem questionamento algum, coloquei um tapete traseiro sobre o banco do motorista, sentei de imediato e girei a chave. O carro fez menção de girar como das outras vezes mas, de repente, quase que por outro milagre, desandou a avançar em linha reta para a frente como amparado por mãos invisíveis sobre aquela montanha de barro mole. 

Quando parei, o chão era duro e pedregoso. Aquele menino tinha caído do céu. A chuva agora parecia um dilúvio e uma espessa neblina branca cobria toda a paisagem e era impossível divisar coisa alguma. Tomei a iniciativa de tirar, então, as correntes dos pneus traseiros mas, para a minha estupefação geral, não havia mais corrente alguma. Elas deveriam ter caído em algum lugar lá atrás, mas, graças a Deus, me permitiram sair da barreira.

Voltei correndo até o lugar em que havia deixado o menino, procurando as correntes perdidas. E, quanto mais corria, mais percebia que a distância percorrida estava fora de qualquer lógica. 'Eu não havia andado de carro tal distância!' E mais, o caminho lamacento não mostrava nenhum sinal das rodas do meu carro... Avancei mais cem, duzentos, trezentos metros... nada das correntes, nada da marca dos pneus, nada do menino. Somente a chuva torrencial inundando o mundo.

Voltei para o carro, e fiquei tentando apreender todos aqueles estranhos acontecimentos. E, mais do que nunca, precisava me apressar para assistir a Missa de Natal. Suspirei fundo e agradeci ao menino em pensamento. Volvi os olhos para a neblina branca que me blindava daquele passado recente e gritei, o mais alto que pude:

- Feliz Natal! Obrigado, menino. Feliz Natal!

Entrei no carro e dei a partida. E recomecei uma longa viagem para um encontro comigo mesmo. A chuva cessara de vez e a paisagem exalava a quietude das horas. E, à medida que o carro avançava pela estrada agora tão límpida e segura à minha frente, eu tinha a certeza absoluta de ter descoberto algo maior, bem maior, que o meu caminho de volta...

('Histórias que Ouvi Contar' são crônicas do autor deste blog)