segunda-feira, 26 de setembro de 2016

QUESTÕES SOBRE A NATUREZA DO DEMÔNIO (III)


QUESTÃO 5: Que paralelismo pode ser feito entre a zoologia e a demonologia?

Poderíamos dizer que existe um certo paralelismo entre a zoologia e a demonologia, uma vez que cada ser angélico deve ser completamente distinto de outro, ao extrapolar a sua forma [ou seja, não possuindo matéria, cada anjo deve tomar uma forma - em sentido filosófico - diferente para se distinguir dos demais]. Não obstante, é possível englobá-los em grandes grupos. De outra forma: se imaginarmos que, de cada espécie de mamífero, existisse um único exemplar; um único cervo, um único gamo, um único cavalo, etc. Cada um deles seria distinto dos demais; porém, num contexto zoológico, poderíamos agrupar esses seres únicos em uma espécie - a dos mamíferos - não porque estes seres vivos sejam iguais entre si, mas porque são mais semelhantes entre si em relação aos [seres vivos] pertencentes às espécies dos dos insetos, dos peixes, etc.

Estes mamíferos seriam distintos entre si, mas poderiam ser agrupados por existir uma maior semelhança entre eles do que entre os demais seres vivos. O mesmo acontece com as naturezas angélicas; cada uma é distinta da outra, mas podem ser reunidas em grandes grupos e, neste caso, em nove grupos, conforme a Bíblia: serafins; querubins; tronos; dominações; virtudes; potestades; principados; arcanjos e anjos. Se as diferenças entre os animais são, às vezes, tão grandes, no mundo angélico, estas são ainda maiores, pois a forma está livre das leis biológicas e físicas. Portanto, se é muito grande a diferença entre uma libélula e uma águia, muito maiores são as diferenças entre as naturezas angélicas. Se é enorme a diferença entre uma joaninha e uma baleia azul, indescritivelmente maior é a diferença entre um anjo da nona hierarquia em relação àqueles da primeira.

QUESTÃO 6: Que paralelismo pode ser feito entre a astronomia e a demonologia?

Existe [também] um certo paralelismo entre a astronomia e a demonologia. Um sistema solar é como uma espécie de parábola [que faz uma analogia] do que são Deus, os anjos e os demônios. Deus seria o Astro-Rei, ao redor do qual orbitam todos os demais corpos celestes do sistema solar, pois Ele é o centro que ilumina a todos. O restante de planetas, asteroides e satélites seriam os santos e os anjos. O sistema de rotação dos satélites em torno dos planetas seria como uma imagem da iluminação de uns seres angélicos sobre os outros. Ainda que os satélites girem em torno de um planeta, também giram em torno do Sol. 

Deus é o centro por mais intermediários que possam existir. Assim, os demônios seriam como aqueles corpos que se deixaram afastar da atração do Sol. O Sol os atrai, não os deixa de atrair nunca, não deixa de iluminar e de dar calor. Entretanto, esses corpos se afastaram tanto (livremente) que [agora] vivem nas trevas exteriores, no frio do vácuo e da escuridão. Deus segue atraindo-os, em cada instante, a cada segundo. Mas eles já estão irremediavelmente fora do alcance de sua atração e de sua luz. O Sol não os priva de sua luz; são eles que preferiram desviar-se em direção oposta.

Muitos homens se perguntam onde está a linha divisória entre a condenação eterna e a salvação. Esta parábola astronômica oferece luz sobre o tema, pois tal linha é como o limite [da ação] da força da gravidade.Um [corpo] pode estar já muito afastado, mas se [ainda] está unido à força da gravidade do Sol, está unido a Ele. Por outro lado, se [um corpo] vaga já completamente livre, alheio por completo à ação da gravidade [do Sol], isso constitui a condenação eterna. Se observarmos esta parábola astronômica desde a superfície da Terra, temos de adotar certas variantes (incluir as estrelas, por exemplo) e incluir outras nuances (incluir a Lua, por exemplo). Deus seria o Sol, a Virgem [Santíssima] seria a Lua e os anjos seriam as estrelas.

A diferença entre a luz do Sol e a das estrelas seria uma imagem análoga da diferença entre o ser de Deus e os dos espíritos angélicos. Os anjos seriam como um pálido e débil pontinho de luz em relação à luz ofuscante e irresistível de Deus. A diferença entre a luz das estrelas e da Lua seria a diferença entre [a luz irradiada] pelos anjos e pela Virgem. Aliás, em muitas passagens das Sagradas Escrituras, fica claro que as estrelas, brilhando luminosas no firmamento, são imagens dos espíritos angélicos (como, por exemplo, em Ap 12, 4 e Is 14, 12-15, entre outros).

QUESTÃO 7: Quais são os nomes dos demônios?

Satã: é o mais belo, inteligente e poderoso dos demônios que se rebelaram. É chamado de Satã ou Satanás no Antigo Testamento. A raiz primitiva do nome significa 'atacar', 'acusar', 'ser adversário', 'resistir' e, assim, Satã significaria 'adversário', 'inimigo', 'opositor'.

Diabo: é como Satã é chamado no Novo Testamento. Diabo vem do verbo grego diaballo, 'acusar'. Nós empregamos as palavras diabo e demônio como sinônimos, mas a Bíblia não. A Bíblia sempre utiliza o nome Diabo no singular para referir-se ao mais poderoso de todos os demônios. As Sagradas Escrituras também o chama de 'Acusador', 'o Inimigo', 'o Tentador', 'o Maligno', 'o Homicida desde o princípio', 'o Pai da Mentira', 'Príncipe deste mundo' e 'a Serpente'.

Belzebu: nome utilizado comumente como sinônimo de Diabo; provém de Baal-zebul que significa 'senhor das moscas' (citado em 2 Re 1,2).

Lilith: citado em Is 34,14, é considerado pela tradição judaica um ser demoníaco. Na mitologia mesopotâmica, é representado como um gênio com cabeça e corpo de mulher, mas com asas e extremidades inferiores de pássaro. 

Asmodeu: citado no Livro de Tobias, este nome provém do persa aesma daeva, que significa 'espírito de cólera'.

Seirim: citado em Is 13,21; Lev 17,7 e em Bar 4,35, sendo traduzido como 'os peludos'. O nome deriva do hebraico sa’ir que significa 'peludo' ou “bode'. 

Demônio: do grego daimon que significa 'gênio'; na mitologia greco-romana, não se tratava necessariamente de uma entidade maléfica. No Novo Testamento, porém, é um termo sempre usado para designar seres espirituais malignos.

Belial ou Beliar: da raiz baal, que significa 'senhor'; é citado, por exemplo, em  2 Cor 6, 15.

Apollyon: que significa 'destruidor', citado em Ap 9, 11. Diz-se que o nome hebraico equivalente é Abaddon, que significa 'perdição', 'destruição'.

Lúcifer: é um nome extra-bíblico que significa 'estrela da manhã' ou 'o que leva a luz'. O nome dado a ele por Deus nos dá a conhecer sobre a beleza deste anjo e nos recorda a enorme punição que mereceu. [Por outro lado] nos revela que foi um anjo especialmente privilegiado em sua natureza nos firmamentos angélicos, antes de se rebelar e de se deformar. A imensa maioria dos textos eclesiásticos utiliza o nome de Lúcifer como sinônimo de Diabo. Entretanto, o Pe. Gabriele Amorth considera este o nome próprio do demônio em segundo lugar na hierarquia demoníaca. Compartilho inteiramente da mesma opinião e o que conhecemos dos exorcismos nos confirma que Lúcifer é alguém distinto de Satã.

Como curiosidade, posso dizer que, em um exorcismo, um demônio revelou que os cinco demônios mais poderosos dos infernos seriam, nesta ordem: Satã, Lúcifer, Belzebu, Belial e Meridiano. É verossímil esta hierarquia? Somente Deus o sabe! O que é certo, e o sabemos pelas Sagradas Escrituras e pelos exorcismos, é que cada demônio possui um nome. Um nome dado por Deus que expressa a natureza do seu pecado. Diferentes nomes de demônios revelados por eles em exorcismos são: Perversão, Morte, Porta, Morada, etc. Outros, entretanto, revelam nomes que não sabemos o que significam: ElisedeiQuobad, JansenEishelij, etc. 

Em alguns livros de magia e bruxaria, encontram-se extensas listas de nomes [de demônios]. Estas listas enormes são tão enfadonhas quanto inventadas.  Não têm outro valor que não o da imaginação [fértil] de seus autores. Pois alguns oferecem não apenas as listas de nomes, mas inclusive o número de demônios que povoam o inferno. Essas descrições detalhadas das legiões infernais são essencialmente inventadas. Avançar além dos parcos dados [disponíveis] nas Sagradas Escrituras supõe adentrar no mundo da literatura [fantástica], abandonando o terreno firme da Palavra de Deus.

A Teologia pode nos dizer muitas coisas relativas aos demônios, mas sempre num contexto geral, trabalhando com conceitos. Ao trabalhar na essência [do tema], nada pode dizer sobre um dado demônio concretamente.  O autor de uma certa lista de demônios (tão exaustiva quanto inventada) afirma acerca de um deles, chamado Xaphan, que ele teria sugerido a Satã atear fogo no Céu, mas que teriam sido lançados no inferno antes de cometer o ato hediondo. Diz [ainda] que este demônio está encarregado eternamente de manter acesas as chamas do inferno. É desnecessário dizer que aconselho a este inventor de mitos que leia este livro, onde descobrirá que não há como atear fogo ao Céu, nem maneira de manter acesas as chamas do inferno.

(Excertos da obra 'Summa Daemoniaca', do Pe. Jose Antonio Fortea, tradução do autor do blog)